quinta-feira, 5 de maio de 2016

O MAGO ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEI E CROWLEY



O Mago - Beth - a flecha - O Mago do Poder
O propósito da Criação: uma morada para Deus neste mundo inferior
Mercúrio - Terra
Está acima detodas as aflições e de todos os temores.
DOGMA

O RECIPIENDÁRIO
DISCIPLINA – ENSOPH - KETHER
Quando um filósofo tomou para base de uma nova revelação da sabedoria humana este raciocínio:
“Penso, logo existo”, ele mudou de algum modo e à sua vontade, conforme a revelação cristã, a
noção antiga do Ente supremo. Moisés faz dizer ao Ente dos entes: “Eu sou quem sou”. Descartes
faz dizer ao Ente dos entes: “Eu sou aquele que pensa”, e como pensar é falar interiormente, o
homem de Descartes pode dizer como o Deus de São João Evangelista: “Eu sou aquele em quem
está e por quem se manifesta o Verbo”. In principio erat verbum.
Que é um princípio? É uma base de palavra, é uma razão de ser do verbo. A essência do verbo está
no princípio: o princípio é o que é; a inteligência é um princípio que fala.
Que é a luz intelectual? É a palavra. Que é a revelação? É a palavra; o ente é o princípio, a palavra é
o meio e a plenitude ou o desenvolvimento, e a perfeição do ente é o fim: falar é criar.
Porém, dizer: "Eu penso, logo existo", é concluir da conseqüência ao princípio, e recentes
contradições levantadas por um grande escritor provaram suficientemente a imperfeição filosófica
deste método. Eu sou, logo existe alguma coisa, nos parece uma base mais primitiva e mais simples
da filosofia experimental.
Eu sou, logo o ente existe. Ego sum qui sum: eis aí a revelação primária de Deus no homem e do
homem no mundo, e é também o primeiro axioma da filosofia oculta.

RITUAL
A maioria dos rituais mágicos conhecidos são mistificações ou enigmas, e vamos rasgar, pela
primeira vez, depois de tantos séculos, o véu do santuário oculto. Revelar a santidade dos mistérios
é remediar a sua profanação. Tal é o pensamento que sustenta a nossa coragem e nos faz afrontar
todos os perigos desta obra, a mais ousada talvez que tenha sido dado ao espírito humano conceber
e realizar.
As operações mágicas são o exercício de um poder natural, mas superior às forças ordinárias da
natureza. São o resultado de uma ciência e de um hábito, que exaltam a vontade humana acima dos
seus limites habituais.
O sobrenatural é simplesmente o natural extraordinário ou natural exaltado: um milagre é um
fenômeno que impressiona a multidão, porque é inesperado; o maravilhoso e o que admira são
efeitos que surpreendem os que ignoram suas causas ou lhes atribuem causas não proporcionais a
semelhantes resultados. Só há milagres para os ignorantes; mas como não existe ciência absoluta
entre os homens, o milagre ainda pode existir, e existe para todos.
Comecemos por dizer que cremos em todos os milagres, porque estamos convencidos e certos, até
pela nossa própria experiência, da sua inteira probabilidade.
Existem os que não explicamos, mas que nem por isso deixamos de considerar como explicáveis.
De o mais ao menos e do menos ao mais, as consequências são identicamente as mesmas e as
proporções progressivamente rigorosas.
Mas, para fazer milagres, é preciso estar fora das condições comuns da humanidade; é preciso estar
ou abstraído pela sabedoria, ou exaltou pela loucura, acima de todas as paixões, ou fora das paixões,
pelo êxtase ou frenesi. Tal é a primeira e mais indispensável das preparações do operador.
Assim, por uma lei providencial ou fatal, o mago só pode exercer a onipotência na razão inversa do
seu interesse material; o alquimista faz tanto mais ouro, quanto mais se resigna às privações e
estima a pobreza, protetora dos segredos da grande obra.
Só o adepto de coração sem paixão disporá do amor ou ódio daqueles que quiser fazer de
instrumentos da sua ciência: o mito do Gênese é eternamente verdadeiro, e Deus só permite que se
aproximem da árvore da ciência os homens tão abstinentes e tão fortes para não cobiçar os frutos.
Vós, pois, que procurais na magia o meio de satisfazer vossas paixões, parai nesse caminho funesto;
só achareis nele a loucura ou a morte. É o que exprimiam outrora por esta tradição vulgar: que o
diabo acabava, mais cedo ou mais tarde, por torcer o pescoço dos feiticeiros.
O magista deve, pois, ser impassível, sóbrio e casto, desinteressado, impenetrável e inacessível a
toda espécie de preconceitos ou terror. Deve ser sem defeitos corporais e estar à prova de todas as
contradições e de todos os sofrimentos. A primeira e mais importante das obras mágicas é chegar a
esta rara superioridade.
Dissemos que o êxtase apaixonado pode produzir os mesmos resultados que a superioridade absoluta, e isto é verdade no que diz respeito ao sucesso, mas não no que se refere ao governo das
operações mágicas.
A paixão projeta com força a luz vital e imprime movimentos imprevistos no agente universal: mas
não pode reter tão facilmente como lançou, e o seu destino é, então, semelhante ao de Hipólito
arrastado pelos seus próprios cavalos, ou ao de Phalaris experimentando o próprio instrumento de
suplícios que inventara para outros.
A vontade humana realizada pela ação é semelhante à bala de canhão que nunca recua diante do
obstáculo. Ela o atravessa, ou entra e perde-se nele, quando é lançada com violência; mas, se
caminhar com paciência e perseverança, nunca se perde, e é como a onda que sempre volta e acaba
por corroer o ferro.
O homem pode ser modificado pelo hábito, que, conforme o provérbio, nele se torna uma segunda natureza. Por meio uma ginástica perseverante e graduada, as forças e a agilidade do corpo se desenvolvem ou se criam numa proporção que admira. O mesmo se dá com as forças da alma.
Quereis vós reinar sobre vós mesmos e os outros? Aprendei a querer.
Como se pode aprender a querer? Aqui está o primeiro arcano da iniciação mágica, e é para fazer
compreender a própria essência deste arcano que os antigos, depositários da arte sacerdotal
rodeavam os acessos do santuário de tantos terrores e prestígios. Só davam crédito a uma vontade, quando tinha dado suas provas, e tinham razão. A força só pode afirmar-se por vitórias.
A preguiça e o esquecimento são os inimigos da vontade, e é por isso que todas as religiões
multiplicaram as práticas e tornaram minucioso e difícil o seu culto. Quanto mais a pessoa se
preocupa por uma idéia, tanto mais adquire força no sentido dessa idéia.
As mães mão preferem os filhos que lhes causaram mais dores e lhes custaram mais cuidados? Por
isso, a força das religiões está inteiramente na inflexível vontade dos que a praticam. Enquanto
houver um fiel crente do santo sacrifício da missa, haverá um padre para dizê-la, e enquanto houver
um padre que reze todos os dias o seu breviário, haverá um papa no mundo.
As práticas mais insignificantes em aparência e mais estranhas em si mesmas, ao fim que nos
propomos, levam, não obstante, a esse fim pela educação e o exercício da vontade. Um camponês
que se levantasse todas as manhãs, às duas ou três horas, e que fosse bem longe colher, todos os
dias, um ramo da mesma erva, antes do levantar do sol, poderia, levando consigo a erva, operar um
grande número de prodígios. Esta erva seria o sinal da sua vontade e tornar-se-ia, para esta própria vontade, tudo o que ele quisesse que se tornasse no interesse dos seus desejos.
Para poder é preciso crer que se pode, e esta fé deve traduzir-se imediatamente em atos. Quando
uma criança diz: “Não posso”, sua mãe lhe responde: “experimenta”. A fé nem mesmo experimenta;
ela começa com a certeza de acabar, e trabalha com calma, como tendo a onipotência às suas ordens
e a eternidade diante de si.
Vós, pois, que vos apresentais diante da ciência dos magos, que lhes pedis? Ousai formular vosso
desejo, seja qual for, depois ponde-vos imediatamente à obra, e não cesseis mais de agir no mesmo
sentido e para o mesmo fim; o que quereis será feito, e já está começado para vós e por vós.
Sixto V, apascentando suas ovelhas, tinha dito: “Quero ser papa”.
Sois pedinte e quereis fazer ouro: ponde-vos à obra e não cesseis mais. Eu vos prometo, em nome
da ciência, todos os tesouros de Flamel e Raimundo Lullo.
Que é preciso fazer primeiramente? – É preciso crer que podeis, e, depois, agir. – Agir como? –
Levantar-vos todos os dias à mesma hora e cedo; lavar-vos, em qualquer estação, antes do dia, numa
fonte; nunca trazer roupas sujas, e, para isso, lavá-las vós mesmos, se for preciso; exercer-vos às
privações voluntárias, para melhor suportar as involuntárias; depois impor silêncio a todo desejo
que não seja o da realização da grande obra. – Como? Lavando-me todos os dias, numa fonte, farei
ouro? – Trabalhareis para fazê-lo. – É uma zombaria! – Não, é um arcano. – Como posso servir-me
de um arcano que não sei compreender? – Crede e fazei; compreendereis depois.
Uma pessoa me disse um dia: - Queria ser um fervoroso católico, mas sou um volteriano. Quanto
não daria para ter a fé! – Pois bem, lhe respondi, não digais mais: Queria; dizei: Quero, e fazeis as
obras da fé; eu vos asseguro que acreditareis. Vós sois voltaireano, dizeis, e entre os diferentes
modos de entender a fé, o dos jesuítas vos é o mais antipático, e vos parece, entretanto, o mais
desejável e forte... Fazei, e recomeçai, sem vos desanimar, os exercícios de Santo Inácio, e ficareis
crentes como um jesuíta. O resultado é infalível, e, se então tiverdes a ingenuidade de crer que é um
milagre, vós já vos enganais, crendo-vos voltaireano.
Um preguiçoso nunca será mago. A magia é um exercício de todas as horas e de todos os instantes. É preciso que o operador das grandes obras seja senhor absoluto de si mesmo; que saiba vencer as
atrações do prazer, o apetite e o sono; que seja insensível ao sucesso como à afronta. A sua vida
deve ser uma vontade dirigida por um pensamento e servida pela natureza inteira, que terá
subordinada ao espírito nos seus próprios órgãos e por simpatia em todas as forças universais que
lhe são correspondentes.
Todas as faculdades e todos os sentidos devem tomar parte na obra, e nada no sacerdote de Hermes
tem direito de estar ocioso; é preciso formular a inteligência por signos e resumi-la por caracteres ou
pantáculos; é preciso determinar a vontade por palavras e realizar as palavras por atos; é preciso
traduzir a idéia mágica em luz para os olhos, em harmonia para os ouvidos, em perfumes para o
olfato, em sabores para a boca, e em formas para o tato; é preciso, numa palavra, que o operador realize na sua vida inteira o que quer realizar fora de si no mundo; é preciso que se torne um imã
para atrair a coisa desejada; e, quando estiver suficientemente imantado, saiba que a coisa virá sem
que ele pense por si mesma.
É importante que o mago saiba os segredos da ciência; mas pode conhecê-los por intuição e sem os
ter aprendido. Os solitários que vivem na contemplação habitual da natureza, adivinham, muitas
vezes, as suas harmonias e são mais instruídos, no seu simples bom senso, do que os doutores, cujo
sentido natural é falseado pelo sofismas das escolas. Os verdadeiros magos práticos se acham quase
sempre no sertão e são, muitas vezes, pessoas sem instrução ou simples pastores.
Existem também certas organizações físicas mais dispostas do que outras às revelações do mundo
oculto; existem naturezas sensitivas e simpáticas às quais a intuição na luz astral é, por assim dizer,
inata; certos desgostos e doenças podem modificar o sistema nervoso, e fazer dele, sem o concurso
da vontade, um aparelho de adivinhação mais ou menos perfeito; mas estes fenômenos são
excepcionais, e geralmente o poder mágico deve e pode ser adquirido pela perseverança e o
trabalho.
Existem também substâncias que produzem êxtase e dispõem ao sono magnético; existem as que
põem ao serviço da imaginação todos os reflexos mais vivos e coloridos da luz elementar; mas o
uso dessas substâncias é perigoso, porque, em geral, produzem a estupefação e a embriaguez.
Todavia, empregamo-las, mas em proporções rigorosamente calculadas e em circunstâncias
excepcionais.
Aquele que quer entregar-se seriamente às obras mágicas, depois de ter firmado o seu espírito
contra qualquer perigo de alucinação e temor, deve purificar-se, exterior e interiormente, durante
quarenta dias. O número quarenta é sagrado, e até a sua figura é mágica. Em algarismos árabes,
compõem-se do círculo, imagem do infinito, e do 4, que resume o ternário pela unidade. Em
algarismos romanos, dispostos do modo seguinte, representa o signo do dogma fundamental de
Hermes e o caráter do selo de Salomão:
A purificação do mago deve consistir na abstinência das voluptuosidades brutais, num regime
vegetariano e brando, na supressão dos licores fortes e na regularidade das horas de sono. Esta
preparação foi indicada e representada, em todos os cultos, por um tempo de penitência e privações que precede as festas simbólicas da renovação da vida.
É preciso, como já dissemos, observar, para o exterior, a limpeza mais escrupulosa: o mais pobre
pode achar água nas fontes. É preciso também lavar ou mandar lavar com cuidado as roupas, os
móveis e os vasos que se usam. Toda sujidade atesta uma negligência, e, em magia, a negligência é
mortal.
É preciso purificar o ar, ao levantar-se e deitar-se, com um perfume composto de seiva de louro, sal,
cânfora, resina branca e enxofre, e recitar, ao mesmo tempo, as quatro palavras sagradas, voltando
se para as quatro partes do mundo.
Não devemos falar a ninguém das obras que realizamos; e, como dissemos bastante no Dogma, o
mistério é a condição rigorosa e indispensável de todas as operações da ciência. É preciso desviar os
curiosos, alegando outras ocupações e investigações, como experiências químicas para resultados
industriais, prescrições higiênicas, a investigação de alguns segredos naturais, etc.; mas a palavra
proibida de magia nunca deve ser pronunciada.
O mago deve isolar-se, no começo, e mostrar-se muito difícil em relações, para concentrar em si a
sua força e escolher os pontos de contato; mas quanto mais for selvagem e inacessível nos primeiros
tempos, tanto mais vê-lo-ão, mais tarde, rodeado e popular, quando tiver imantado a sua cadeia e
escolhido o seu lugar numa corrente de idéias de luz.
Uma vida trabalhosa e pobre é de tal modo favorável à iniciação pela prática, que os maiores
mestres a procuraram, até quando podiam dispor das riquezas do mundo. É então que Satã, isto é, o
espírito de ignorância, que ri, duvida e odeia a ciência, porque a teme, vem tentar o futuro senhor do
mundo, dizendo-lhe: “Se és o filho de Deus, faz com que estas pedras se tornem pães”. As pessoas
de dinheiro procuram, então, humilhar o príncipe da ciência, obstando, desapreciando ou
explorando miseravelmente o seu trabalho; partem em dez pedaços, para que estenda a mão dez
vezes, o pedaço de pão de que parece ter necessidade. O mago nem mesmo se digna sorrir desta
inépcia, e prossegue na sua obra com acalma.
É preciso evitar, tanto quanto possível, a vista das coisas horrendas e das pessoas feias; não comer em casa de pessoas que não se estimam, evitar todos os excessos e viver do mudo mais uniforme e
organizado.
Ter o maior respeito por si mesmo e considerar-se como um soberano desconhecido que assim faz
para reconquistar a sua coroa. Ser dócil e digno com todos; mas, nas relações sociais, nunca deixar se absorver e retirar-se dos círculos em que não haja nenhuma iniciativa.
Podemos, enfim, e mesmo devemos fazer as obrigações e praticar os ritos do culto a que
pertencemos. Ora, de todos os cultos, o mais mágico é aquele que realiza mais milagres, que apoia,
nas mais sábias razões, os mais inconcebíveis mistérios, que tem luzes iguais às suas sombras, que
populariza os milagres e encarna Deus nos homens pela fé. Esta religião sempre existiu, e sempre
houve no mundo, sob diversos: é a religião única e dominante. Agora, ela tem, entre os povos da
terra, três formas em aparência hostis umas às outras, que se reunirão logo numa única para
constituir uma Igreja universal. Quero falar da ortodoxia russa, do catolicismo romano e de uma
última transfiguração da religião de Buda.
Cremos ter feito compreender bem, pelo que precede, que a nossa magia é oposta à dos goécios e
necromantes. A nossa magia é, ao mesmo tempo, uma ciência e uma religião absoluta, que deve não
destruir e absorver todas as opiniões e todos os cultos, mas regenerá-los e dirigi-los, reconstituindo
o círculo dos iniciados, e dando, assim, às massas cegas, condutores sábios e clarividentes.
Vivemos num século em que não há nada para destruir; mas tudo está para refazer, porque tudo está destruído. – Refazer o quê? O passado? –Não se refaz o passado. – Reconstruir o quê? Um templo e um trono? - Para que, se os antigos caíram? – É como se dissésseis: A minha casa acaba de cair de
velhice; para que serve construir uma outra? – Mas a casa que ides construir será semelhante à que
caiu? – Não; aquela que caiu era velha, e esta será nova. – Mas, enfim, será sempre uma casa? –
Que queríeis, pois, que fosse?

O MAGO por Crowley
I.  O PRESTIDIGITADOR * 
* Ainda neste mesmo ensaio e na própria carta por ele mesmo concebida, Crowley optará pelo título “O Mago”, em lugar de  “O Prestidigitador” (NT).  
Esta carta se refere à letra  Beth, que significa casa, e é atribuída ao planeta  Mercúrio.
As ideias ligadas a este símbolo são tão complexas e tão multifárias que parece melhor vincular a esta descrição geral certos documentos que sustentam diferentes aspectos desta carta. O todo formará então uma base adequada para a interpretação plena da carta mediante estudo, meditação e uso.  
O título francês desta carta no baralho medieval é Le Bateleur, o portador do bâton. ** Mercúrio é preeminentemente o portador do bastão: energia emitida.
Esta carta representa, portanto, a Sabedoria, a Vontade, a Palavra, o Logos pelos quais os mundos foram criados (ver o Evangelho segundo São João, capítulo I). Representa a Vontade. Em suma, ele é o Filho, a manifestação em ato da ideia do Pai. Ele é o correlativo masculino d’A Alta Sacerdotisa. Que não haja confusão aqui por conta da doutrina fundamental do Sol e a Lua como a Segunda Harmonia para o lingam e o yoni, pois, como se perceberá na citação de The Paris Working, *** (ver apêndice) o criativo Mercúrio tem a natureza do Sol. Entretanto, Mercúrio é o caminho conduzindo de Kether a Binah, a Compreensão e assim ele é o mensageiro dos deuses, representando precisamente esse lingam, a Palavra de criação cujo discurso é silêncio.  
** Variante: Le Pagad, de origem desconhecida. Sugestões de possíveis origens:               (1) PChD, terror (esp. pânico), um título de Geburah; também coxa, isto é, membro viril; por analogia                     com o árabe, PAChD, causador de terror: valor  93 !! 
              (2) Pagode, um memorial fálico: similar e igualmente apropriado.  *** A Operação de Paris (NT).  
Mercúrio, contudo, representa ação em todas as formas e fases. Ele é a base fluídica de toda transmissão de atividade e na teoria dinâmica do universo é, ele mesmo, a substância do universo. Ele é, na linguagem da moderna física, aquela carga elétrica que é a primeira manifestação do anel de dez ideias indefiníveis, como explicado anteriormente. Ele é assim criação contínua.  
Logicamente também, sendo a Palavra, ele é a lei da razão ou da necessidade ou acaso, que é o significado secreto da Palavra, que é a essência da Palavra e a condição de seu pronunciamento. Sendo assim, e especialmente porque ele é dualidade, ele representa tanto  verdade quanto  falsidade, tanto sabedoria quanto loucura. Sendo o inesperado, ele desestabelece qualquer idéia estabelecida e portanto é enganador. Ele não tem consciência, sendo criativo. Se não consegue atingir seus fins através de meios limpos, ele usa meios sujos. As lendas do jovem Mercúrio são portanto lendas da astúcia. Ele não pode ser compreendido porque ele é a Vontade Inconsciente. Sua posição na Árvore da Vida mostra a terceira Sephira, Binah (Compreensão) como ainda por ser formulada; ainda menos a falsa Sephira, Da’ath, conhecimento.  
Do exposto acima parecerá que esta carta é a segunda emanação da Coroa, e portanto, num certo sentido, a forma adulta da primeira emanação, O Louco, cuja letra é Aleph, a unidade. Estas idéias são tão sutis e tão tênues nestes planos exaltados do pensamento que a definição é impossível. Na verdade, não é sequer desejável, porque é da natureza dessas idéias fluírem  uma para a outra. Tudo que se pode fazer é dizer que qualquer dado hieróglifo representa uma ligeira insistência sobre alguma forma particular de uma idéia pantomorfa. Nesta carta, a ênfase é sobre o caráter criativo e dualístico do caminho de Beth.  
Na carta tradicional, o disfarce é o de um prestidigitador.  
Esta representação do Prestidigitador é uma das mais grosseiras e menos satisfatórias do baralho medieval. Ele é usualmente representado com uma cobertura de cabeça de forma semelhante ao sinal do infinito em matemática (mostrado minuciosamente na carta chamada dois de Discos). Segura um bastão com uma saliência arredondada em cada extremidade, o que se ligava provavelmente à polaridade dupla da eletricidade; mas é também o bastão oco de Prometeu que traz fogo do céu. Sobre uma mesa ou altar, atrás do qual ele está de pé, estão as três outras armas elementares. 
“Com a baqueta, Ele cria.   Com a Taça, Ele preserva.   Com a Adaga, Ele destrói.   Com a Moeda, Ele redime.                                         Liber Magi  vv. 7-10.
” 
A carta que apresentamos aqui foi desenhada principalmente com base na tradição grecoegípcia, pois a compreensão dessa idéia foi certamente mais avançada quando essas filosofias modificaram-se reciprocamente do que em outra parte em qualquer época.  
A concepção hindu de Mercúrio, Hanuman, o deus-macaco, é abominavelmente degradada. Nenhum dos aspectos mais elevados do símbolo é encontrado em seu culto. A meta de seus adeptos parece principalmente ter sido a produção de uma encarnação temporária do deus enviando as mulheres da tribo todo ano ao interior da selva. Tampouco localizamos qualquer lenda de alguma profundidade ou espiritualidade. Hanuman é seguramente pouco mais que o macaco de Thoth. 

A principal característica de Tahuti ou Thoth, o Mercúrio egípcio, é em primeiro lugar ter a cabeça da íbis. A íbis é o símbolo da concentração porque se supunha que esta ave permanecia continuamente sobre uma perna, imóvel. Trata-se muito evidentemente de um símbolo do espírito meditativo. Pode ter havido também alguma referência ao mistério central do Aeon de Osíris, o segredo guardado tão cuidadosamente do profano, que a intervenção do macho era necessária para a produção de filhos. Nesta forma de Thoth, ele é visto portando o bastão da fênix, simbolizando ressurreição mediante o processo generativo. Em sua mão esquerda está  Ankh, que representa uma correia de sandália, ou seja, o meio de progresso através dos mundos, que é a marca distintiva da divindade. Mas, por sua forma, este Ankh (crux ansata) é realmente uma outra forma da Rosacruz, não sendo este fato talvez tal acidente como  modernos egiptólogos, preocupados com sua tentada refutação da escola fálica de arqueologia, nos fariam supor.  
A outra forma de Thoth o representa primariamente como Sabedoria e Palavra. Ele segura na mão direita o estilo, na esquerda o papiro. Ele é o mensageiro dos deuses; transmite a vontade deles por meio de hieróglifos inteligíveis ao iniciado e registra os atos deles. Mas foi notado desde tempos remotos que o uso do discurso, ou escrita significou a introdução da ambigüidade na melhor das hipóteses e da falsidade na pior; representaram, portanto, Thoth seguido por um macaco, o cinocéfalo, cuja função era distorcer a Palavra do deus, arremedar, simular e ludibriar. Na linguagem filosófica, pode-se dizer: a manifestação implica na ilusão. Esta doutrina é encontrada  na filosofia hindu, onde o aspecto do Tahuti de que estamos falando é chamado de Maya. Esta doutrina também é encontrada na imagem central e típica da escola Mahayana do budismo (realmente idêntica à doutrina de Shiva e Shakti). Uma  visão dessa imagem será achada no documento intitulado  O Senhor da  
A presente carta se empenha em representar todas as concepções acima expostas. E, contudo, nenhuma imagem verdadeira é possível de modo algum pois, primeiro, todas as imagens são necessariamente falsas como tais, e segundo, sendo o movimento perpétuo e sua taxa aquela do limite, c, o grau de velocidade de luz, qualquer êxtase contradiz a idéia da carta: esta figura é, portanto, dificilmente mais do que apontamentos mnemônicos. Muitas das idéias expressas no desenho estão bem expostas nos extratos de  The Paris Working (ver  Apêndice).  

domingo, 17 de abril de 2016

Eliphas Levy - Dogmas e Rituais de Alta Magia - PARTE II - RITUAL


...Existe na natureza uma força que não morre, e esta força transforma continuamente os seres para os
conservar. Ela é a razão ou o verbo da natureza.
Existe também no homem uma força análoga à da natureza, e esta força é a razão ou o verbo do
homem. O verbo do homem é a expressão da sua vontade dirigida pela razão.
Este verbo é onipotente quando é razoável, porque então é análogo ao próprio verbo de Deus.
Pelo verbo da sua razão, o homem faz-se conquistador da vida e pode triunfar da morte.
A vida inteira do homem é somente parturição ou abortamento do seu verbo. Os entes humanos que
morrem sem ter entendido e sem ter formulado a palavra de razão, morrem sem esperança eterna.
Para lutar com vantagem contra o fantasma da morte é preciso ter-se o homem identificado com as
realidades da vida...
Eliphas Levy


Capítulo
Arcano correspondente
Cap. I – As Preparações
I O MAGO - BETH
Cap. II – O Equilíbrio Mágico
II A SACERDOTISA - GIMEL
Cap. III – O Triângulo de Pantáculos
III A IMPERATRIZ - DALETH
Cap. IV – A Conjuração dos Quatro
IV O IMPERADOR - HEH
Cap. V – O Pentagrama Flamejante
V O PAPA - VAU
Cap. VI – O Médium e o Mediador
VI OS ENAMORADOS -
Cap. VII – O Setenário dos Talismãs
VII O CARRO - A CHETH
Cap. VIII–Aviso aos Imprudentes
VIII A JUSTIÇA - TETH
Cap. IX – O Cerimonial dos Iniciados
IX O EREMITA - YOD
Cap. X – A Chave do Ocultismo
X A RODA DA FORTUNA - KAPH
Cap. XI– A Tríplice Cadeia
XI A FORÇA - LAMED
Cap. XII – A Grande Obra
XII O PENDURADO - Mem
Cap. XIII – A Necromancia
XIII A MORTE - NUN -
Cap. XIV – As Transmutações
XIV A TEMPERANÇA - SAMEKH
Cap. XV – O “Sabbat” dos Feiticeiros
XV O DIABO - AYIN
Cap. XVI – Os Enfeitiçamentos e as Sortes
XVI A TORRE - PEH
Cap. XVII – A Escritura das Estrelas
XVII A ESTRELA - TZADDI
Cap. XVIII – Filtros e Magnetismo
XVII A LUA - QOPH
Cap. XIX – O Magistério do Sol
XIX EL SOL - RESH
Cap. XX – A Taumaturgia
XX O JULGAMENTO - SHIN
Cap. XXI – A Ciência dos Profetas
XXI O LOUCO - O COMEÇO - ÁLEF
Cap. XXII – O Livro de Hermes
 XXII O MUNDO - TAU


quarta-feira, 13 de abril de 2016

ELIPHAS LEVI - Dogmas e Rituais de Alta Magia - Parte I - Magia ALEPH / THAU







São dois Volumes apresentados em 22 Capítulos, correspondentes aos ensinamentos de cada um do Arcanos Maiores do Tarot.
Exido ao Vivo, gravado e mantido aqui neste artigo para que apreciem estes estudos à qualquer momento.

 Parte I Volume I MAGIA
Introdução

Capítulo
Arcano correspondente
I - O Recipiendário
I O MAGO - BETH
II - As Colunas do Templo
II A SACERDOTISA - GIMEL
III – O Triângulo de Salomão
III A IMPERATRIZ - DALETH
IV – O Tetragrama
IV O IMPERADOR - HEH
V – O Pentagrama
V O PAPA - VAU
VI – O Equilíbrio Mágico
VI OS ENAMORADOS -
VII – A Espada Flamejante
VII O CARRO - A CHETH
VIII – A Realização
VIII A JUSTIÇA - TETH
IX – A Iniciação
IX O EREMITA - YOD
X – A Cabala
X A RODA DA FORTUNA - KAPH
XI – A Cadeia Mágica
XI A FORÇA - LAMED
XII – A Grande Obra
XII O PENDURADO - Mem
XIII – A Necromancia
XIII A MORTE - A TRANSMUTAÇÃO - NUN -
XIV – As Transmutações
XIV A TEMPERANÇA - SAMEKH
XV – A Magia Negra
XV O DIABO - AYIN
XVI – Os Enfeitiçamentos
XVI A TORRE - PEH
XVII – A Astrologia
XVII A ESTRELA - TZADDI
XVIII – Os Filtros e as Sortes
XVII A LUA - QOPH
XIX – A Pedra dos Filósofos
XIX EL SOL - RESH
XX – A Medicina Universal
XX O JULGAMENTO - SHIN
XXI – A Adivinhação
XXI O LOUCO ÁLEF
XXII – Resumo e Chave Geral das Quatro Ciências Ocultas
XXII  O MUNDO - TAU


Esoterismo Sacerdotal pequeno trecho:

 Através do véu de todas as alegorias hieráticas e místicas dos antigos dogmas, através das trevas e provas bizarras de todas as iniciações, sob o selo de todas as escrituras sagradas, nas ruínas de Nínive ou Tebas, sobre as pedras carcomidas dos antigos templos e a face escurecida das esfinges da Assíria e do Egito, nas pinturas monstruosas ou maravilhosas que produzem para o crente da Índia e as páginas sagradas dos Vedas, nos emblemas estranhos dos nossos velhos livros de alquimia, nas cerimônias de recepção praticadas por todas as sociedades misteriosas, encontram-se os traços de uma doutrina em toda parte a mesma e em toda parte escondida cuidadosamente.
A filosofia oculta parece ter sido a nutriz ou matriz de todas as forças intelectuais, a chave de todas as obscuridades divinas, e a rainha absoluta da sociedade, nos tempos em que era exclusivamente reservada à educação dos padres e dos reis.
Ela reinava na Pérsia com os magos, que um dia pereceram como perecem os senhores do mundo, por terem abusado do seu poder; ela dotara a Índia das tradições mais maravilhosas e de um incrível luxo de poesia, graça e terror nos seus emblemas; ela civilizara a Grécia aos sons da lira de Orfeu; ela escondia o princípio de todas as ciências e de todos os progressos do espírito humano nos cálculos audaciosos de Pitágoras; a fábula estava cheia dos seus milagres, e a história, quando procurava ajuizar sobre esta potência incógnita, se confundia com a fábula; ela abalava ou fortalecia os impérios pelos seus oráculos, fazia empalidecerem os tiranos nos seus tronos e dominava todos os espíritos pela curiosidade ou pelo temor. ....
...Tudo está contido numa palavra e numa palavra de quatro letras: é o Tetragrama dos Hebreus, e o Azot dos alquimistas, é o Thot dos Boêmios e o Tarô do Cabalistas. Esta palavra expressa de tantos modos, quer dizer Deus para os profanos, significa o homem para os filósofos, e dá aos adeptos a  última palavra às ciências humanas e a chave do poder divino; mas só sabe servir-se dela aquele que compreende a necessidade de a não revelar nunca. Se Édipo, em lugar de fazer morrer a esfinge, a tivesse dominado e atrelado ao seu carro para entrar em Tebas, teria sido o rei sem incesto, sem calamidade e sem exílio. Se Psique, à força de submissão e carícias, tivesse induzido o Amor a revelar a si próprio, ela nunca o teria perdido. 
O Amor é uma das imagens mitológicas do grande segredo e do grande agente, porque exprime, ao mesmo tempo, uma ação e uma paixão, um vácuo e uma plenitude, uma flecha e uma ferida. Os iniciados devem compreender-me, e, por causa dos profanos, não devo dizer muito......




 Aleph - Vê Deus face a face, sem morrer, e conversa familiarmente com o sete gênios que
mandam em Toda a milícia celeste.
Beth - Está acima de todas as aflições e de todos os temores.
Ghimel - Reina com o céu inteiro e se faz servir por todo o inferno.
Daleth - Dispõe da sua saúde e da sua vida e pode também dispor das dos outros.
Hê - Não pode ser surpreendido pelo infortúnio, nem atormentado pelos desastres, nem vencido pelos inimigos.
 Vav - Sabe a razão do passado, do presente e do futuro.
 Zain - Tem o segredo da ressurreição dos mortos e a chave da imortalidade.
 

São estes os sete grandes privilégios. Eis os que seguem depois:
Cheth - Achar a pedra filosofal.
Teth - Ter a medicina universal.
yIod - Conhecer as leis do movimento perpétuo e poder demonstrar a quadratura do círculo.
Caph - Mudar em ouro não só todos os metais, mas também a própria terra, e até as imundícies terra.
Lamed - Dominar os animais mais ferozes, e saber dizer palavras que adormecem e encantam serpentes.
Mem - Possuir a arte notória que dá a ciência universal.
Nun - Falar sabiamente sobre todas as coisas, sem preparação e sem estudo.
Eis aqui, enfim, os sete menores poderes do mago:
Samech - Conhecer à primeira vista e fundo da alma dos homens e os mistérios do coração das mulheres.
Hain - Forçar, quando lhe apraz, a natureza a manifestar-se.
Phe - Prever todos os acontecimentos futuros que não dependam em um livre-arbítrio superior ou de uma causa incompreensível.
Tsade - Dar de momento a todos as consolações mais eficazes e os conselhos mais salutares.
Coph - Triunfar das adversidades.
Resch - Dominar o amor e o ódio.
Schin - Ter o segredo das riquezas, serem sempre seu senhor e nunca o escravo. Saber gozar mesmo da pobreza e jamais cair na abjeção nem na miséria.
Thau - Acrescentaremos a estes setenários, que o sábio governa os elementos, faz cessar as tempestades, cura os doentes, tocando-os, e ressuscita os mortos!
 

Este Arcano foi utilizado como exemplo durante nosso encontro ao vivo para refletirmos sobre esta obra Marcante para o Tarot.

 A Magia Negra
Samael – Auxiliator




Entramos na magia negra. Vamos afrontar, até no seu santuário, o deus negro do Sabbat, o bode formidável de Mendes. Aqui, os que têm medo devem fechar o livro, e as pessoas sujeitas às impressões nervosas farão bem em distrair-se ou abster-se; mas nós nos impusemos uma tarefa e havemos de acabá-la.
Penetremos franca e ousadamente na questão: - Existe um diabo? - Que é o diabo?
À primeira pergunta, a ciência cala-se; a filosofia nega ao acaso, e só a religião responde
afirmativamente.
À segunda, a religião diz que o diabo é o anjo caído; a filosofia oculta aceita e explica esta definição.
Não voltaremos a tratar do que já dissemos sobre isto, mas acrescentaremos aqui uma revelação nova:
O diabo, em magia negra, é o grande agente mágico empregado para o mal por uma vontade perversa.
A antiga serpente da lenda nada mais é do que o agente universal, é o fogo eterno da vida terrestre, é a alma da terra, e o fogo vivo do inferno.
Dissemos que a luz astral é o receptáculo das formas. Evocadas pela razão, estas formas se produzem com harmonia; evocadas pela loucura, elas vêm desordenadas e monstruosas: tal é o berço dos pesadelos de Santo Antonio e dos fantasmas do Sabbat.
As evocações de goecia e demonomancia têm, pois, um resultado incontestável e mais terrível do que os que podem contar as lendas:
Quando uma pessoa chama o diabo com as cerimônias consagradas, o diabo vem e ela o vê. Para não morrer fulminado a esta vista, para não ficar cataléptico ou idiota, é preciso já ser louco.
Grandier era libertino por indevoção e, talvez, já por ceticismo; Girard foi depravado e depravador por entusiasmo, como conseqüência dos desvios do ascetismo e da cegueira da fé.
Daremos, no décimo quinto capítulo do nosso Ritual, todas as evocações diabólicas e as práticas da magia negra, não para que os leitores se sirvam dela, mas para que a conheçam, a julguem e se preservem para sempre de semelhantes aberrações.
O senhor Eudes que Mirville, cujo livro sobre as mesas giratórias fez ultimamente muito sucesso, pode ficar, ao mesmo tempo, contente e descontente da solução que aqui damos aos problemas da magia negra. Com efeito, sustentamos, como ele, a realidade e a maravilha dos efeitos; nós, como ele, as damos por causa da antiga serpente, o príncipe oculto deste mundo; mas não estamos de acordo sobre a natureza deste agente cego, que é, ao mesmo tempo, mas sob direções diferentes, o instrumento de todo bem e de todo mal, o servidor dos profetas e o inspirador das pitonisas. 

Numa palavra, o diabo, para nós, é a força posta, por um tempo, ao serviço do erro, como o pecado mortal é, a nosso ver, a persistência da vontade no absurdo. Logo, o senhor De Mirville tem mil vezes razão, mas uma vez - e uma grande vez – não tem razão.
O que se deve excluir do reino dos seres é o arbitrário. Nada acontece nem pelo acaso nem pela autocracia de uma vontade boa ou má. Há duas câmaras no céu, e o tribunal de Satã é contido nos seus desvios pelo senado da sabedoria divina.

por ELIPHAS LEVI - Dogmas e Rituais de Alta Magia - Parte I  

No entanto, não finalizarei este artigo com este exemplo tão temido. Sempre devemos iniciar e encerrar uma fase de estudos com a Luz.
Invocando as definições e estudos do Arcano O CARRO.Trazendo outra maravilhosa ilustração de Eliphas Levi e uma brilhante explanação de seu significado profundo.


A Espada Flamejante
Netsah - Glaudius

O setenário é o número sagrado em todas as teogonias e em todos os símbolos, porque é composto
do ternário e do quaternário. O número sete representa o poder mágico em toda a sua força; é o
espírito protegido por tidas as potências elementares; é a alma servida pela natureza; é o sanctum
regnum de que falam as Clavículas de Salomão, e que é representado, no Tarô, por um guerreiro
coroado, trazendo um triângulo na sua couraça, e de pé, em cima de um cubo, ao qual estão
atreladas duas esfinges, uma branca e outra preta, que puxam em sentido contrário e voltam a
cabeça, olhando uma à outra. Este guerreiro está armado com uma espada flamejante, e tem, na
outra mão, um cetro rematado por um triângulo e uma bola.
O cubo é a pedra filosofal. As esfinges são as duas forças do grande agente, correspondentes a Jakin
e Bohas, que são as duas colunas do templo; a couraça é a ciência das coisas divinas, que faz o sábio
invulnerável aos golpes humanos; o cetro é a baqueta mágica; a espada flamejante é o sinal da
vitória sobre os vícios, que são em número de sete, como as virtudes; as idéias dessas virtudes e
desses vícios eram figuradas, pelos antigos, pelos símbolos dos sete planetas então conhecidos.
Assim, a fé, esta aspiração ao infinito, esta nobre confiança em si mesmo, sustentada pela crença em
todas as virtudes, a fé, que, nas naturezas fracas, pode degenerar em orgulho, era representada pelo
Sol; a esperança, inimiga da avareza, pela Lua; caridade, oposta à luxúria, por Vênus, a brilhante
estrela da manhã e da tarde; a força, superior à cólera, por Marte; a prudência, oposta à preguiça, por Mercúrio; a temperança, oposta à gula, por Saturno, a quem se dá uma pedra para comer ao invés de
seus filhos; e a justiça, enfim, oposta à inveja, por Júpiter, vencedor dos Titãs. Tais são os símbolos
que a astrologia tira do culto helênico. Na Cabala dos Hebreus, o Sol representa o anjo de luz; a
Lua, o anjo das aspirações e dos sonhos; Marte, o anjo exterminador; Vênus, o anjo dos amores;
Mercúrio, o anjo civilizador; Júpiter, o anjo do poder; Saturno, o anjo das solidões. Chamam-nos
também: Mikael, Gabriel, Samael, Anael, Rafael, Zacariel e Orifiel. Estas potências dominadoras
das almas partilham a vida humana por períodos, que os astrólogos mediam sobre as revoluções dos
planetas correspondentes.
Porém, não se deve confundir a astrologia cabalística com a astrologia judiciária. Explicaremos esta
distinção. A infância é votada ao Sol, a adolescência à Lua, a juventude a Marte e Vênus, a
virilidade a Mercúrio, a idade madura a Júpiter e a velhice a Saturno. Ora, a humanidade inteira vive
sob leis de desenvolvimento análogas às da vida individual. É sobre esta base que Trithemo estabelece a sua clavícula profética dos sete espíritos de que falamos alhures, e por meio da qual se
pode, seguindo as proporções analógicas dos acontecimentos sucessivos, predizer com certeza os
grandes acontecimentos futuros, e fixar adiantadamente, de período em período, os destinos dos
povos e do mundo.
São João, depositário da doutrina secreta do Cristo, consignou esta doutrina no livro cabalístico do
Apocalipse, que ele representa fechado com sete selos. Acham-se aí os sete gênios das mitologias
antigas, com as copas e espadas do Tarô. O dogma escondido sob estes emblemas é a pura Cabala, já perdida pelos fariseus, na época da volta do Salvador; os quadros que se sucedem nesta
maravilhosa epopéia profética são tantos pantáculos que o ternário, o quaternário, o setenário e o
duodenário são as chaves. As suas figuras hieroglíficas são análogas às do livro de Hermes ou da Gênese de Enoque, para nos servir de arriscado título que exprime somente a opinião pessoal do
sábio Guilherme Postello.
O querubim ou touro simbólico que Moisés coloca à porta do mundo edênico, e que tem na mão
uma espada flamejante, é uma esfinge, tendo um corpo de touro e uma cabeça humana; é a antiga
esfinge assíria, de que o combate e a vitória de Mitra eram a análise hieroglífica. Esta esfinge
armada representa a lei do mistério que vigia à porta da iniciação para desviar dela os profanos.
Voltaire, que nada sabia de tudo isso, riu muito de ver um boi armado de espada. Que teria ele dito
se tivesse visitado as ruínas de Mênfis e Tebas, e que teria a responder aos seus insignificantes
sarcasmos, tão apreciados em França, este eco dos séculos, que dorme nos sepulcros de Psammético
e Ramsés?
O querubim de Moisés representa também o grande mistério mágico, de que o setenário exprime
todos os elementos, sem, todavia, dar a sua última palavra. Este verbum inenarrabile dos sábios da
escola de Alexandria, esta palavra que os cabalistas hebreus escrevem h w h y e traduzem por a t
yr a r a, exprimindo, assim, a triplicidade do princípio secundário, o dualismo dos meios e a
unidade tanto do primeiro princípio como do fim, depois também a aliança do ternário com o
quaternário numa palavra composta de quatro letras, que formam sete, por meio de uma tríplice e
uma dupla repetição; esta palavra se pronuncia Ararita.
A virtude do setenário é absoluta em magia, porque o número é decisivo em todas as coisas; por
isso, as religiões o consagraram nos seus ritos. O sétimo ano, entre os Judeus, era jubilar; o sétimo
dia é consagrado ao repouso e à prece, há sete sacramentos, etc.
As sete cores do prisma, as sete notas da música, correspondem também aos sete planetas dos
antigos, isto é, às sete cordas da lira humana. O céu espiritual nunca mudou, e a astrologia ficou
mais invariável que a astronomia. Os sete planetas, com efeito, não são mais do que símbolos
hieroglíficos dos laços de nossas afeições. Fazer talismãs do Sol, da Lua ou de Saturno, é prender
magneticamente a vontade a signos que correspondem aos principais poderes da alma; consagrar
alguma coisa a Vênus ou a Mercúrio é magnetizar esta coisa numa intenção direta, quer de prazer,
quer de ciência ou proveito. Os metais, animais, plantas ou perfumes análogos são, nisso, nossos
auxiliares. Os animais mágicos são: entre os pássaros, correspondentes ao mundo divino, o cisne, a
coruja, o gavião, a pomba, a cegonha, a águia e a poupa; entre os peixes, correspondentes ao mundo
espiritual ou científico, a foca, o celerus, o lúcio, o timalo, o mugem, o delfim, e a siba; entre os
quadrúpedes, correspondentes ao mundo natural, o leão, o gato, o lobo, o bode, o macaco, o veado e
a toupeira. O sangue, a gordura, o fígado e o fel destes animais servem para os encantamentos; o seu
cérebro se combina com os perfumes dos planetas, e é reconhecido, pela prática dos antigos, que
possuem virtudes magnéticas correspondentes às sete influências planetárias.
Os talismãs dos sete espíritos se fazem, quer em pedras preciosas, tais como o carbúnculo, o cristal,
o diamante, a esmeralda, a ágata, a safira e o ônix, quer nos metais, como o ouro, a prata, o ferro, o
cobre, o mercúrio fixo, o estanho e o chumbo. Os símbolos cabalísticos dos sete espíritos são: para
o Sol, uma serpente, com cabeça do leão; para a Lua, um globo ocupado por dois crescentes; para
Marte, um dragão mordendo o cabo de uma espada; para Vênus, um lingam; para Mercúrio, o
caduceu hermético e o cinocéfalo; para Júpiter, o pentagrama flamejante nas garras ou no bico de
uma águia; para Saturno, um velho coxo uma serpente enlaçada ao redor da pedra helíaca. Todos estes signos se acham nas pedras gravadas dos antigos, e particularmente nos talismãs das épocas
gnósticas, conhecidos sob o nome de Abraxas. Na coleção dos talismãs de Paracelso, Júpiter é
representado por um padre com hábito eclesiástico, e no Tarô é figurado por um grande hierofante
vestido com a tiara de três diamantes, tendo na mão a cruz de três braços, formando o triângulo
mágico e representando, ao mesmo tempo, o cetro e a chave dos três mundos.
Resumindo tudo o que dissemos da união do ternário e do quaternário, teremos tudo o que nos
restaria a dizer do setenário, esta grande e completa unidade mágica, composta de 4 e 3.
por ELIPHAS LEVI - Dogmas e Rituais de Alta Magia - Parte I - Magia




Trechos do Livro de Eliphas Levi - Dogmas e Rituais de Alta Magia