quarta-feira, 1 de junho de 2016

O PAPA ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY



5 - O PAPA ASPECTOS DO DOGMA em ELIPHAS LEVI
O Pentagrama
GEBURAH - Ecce
Até agora expusemos o dogma mágico no que tem de mais árido e mais abstrato; aqui começam os
encantamentos; aqui podemos anunciar os prodígios e revelar as coisas ocultas.
O pentagrama exprime a dominação do Espírito sobre os elementos, e é por este signo que encadeamos os Silfos do ar, as salamandras do fogo, as Ondinas da água e os Gnomos da terra.
Armado deste signo e convenientemente disposto, podeis ver o infinito através daquela faculdade
que é como que o olho de vossa alma, e vós vos fareis servir por legiões de anjos e colunas de
demônios.



E, primeiramente, estabeleçamos princípios:
Não há mundo invisível, há somente vários graus de perfeição nos órgãos.
O corpo é a representação grosseira e como que a casca passageira da alma.
A alma pode perceber de si mesma e sem intermédio dos órgãos corporais, por meio da sua
sensibilidade e do seu diáfano, as coisas quer espirituais, quer corporais, que existem no universo.
Espiritual e corporal são palavras que somente exprimem os graus de tenuidade ou densidade da
substância. 
O que se chama, em nós, imaginação, não é mais que propriedade inerente à nossa alma de se
assimilar as imagens e os reflexos contidos na luz viva, que é o grande agente magnético.
Estas imagens e estes reflexos são revelações, quando a ciência intervém para nos revelar o seu
corpo ou a sua luz. O homem de gênio difere do sonhador e do louco somente nisto: as suas criações
são análogas à verdade, ao passo que a dos sonhadores e loucos são reflexos perdidos e imagens
desviadas.
Assim, para o sábio, imaginar é ver, como, para o mago, falar é criar.
Podem-se, pois, ver realmente e em verdade os demônios, as almas, etc., por meio da imaginação;
mas a imaginação do adepto é diáfana, ao passo que a do vulgo é opaca; a luz de verdade atravessa
uma como por janela esplêndida, e se refrata na outra como uma massa vítrea cheia de escórias e
corpos estranhos.
O que contribui mais para os erros do vulgo e as extravagâncias da loucura são os reflexos das
imaginações depravadas umas nas outras.
Mas o vidente sabe, com certeza, que as coisas imaginadas por ele são verdadeiras, e a experiência
sempre confirma as suas visões.
Dizemos, no Ritual, por que processo se adquire esta lucidez.
É por meio desta luz que os visionários extáticos se põem em comunicação com todos os mundos,
como isso acontecia tão frequentemente a Emanuel Swedenborg, que, não obstante, não era
perfeitamente lúcido, pois que não discernia os reflexos dos raios e misturava, às vezes, ilusões aos
seus mais admiráveis sonhos.
Dizemos sonhos, porque o sonho é o resultado de um êxtase natural e periódico que se chama sono.
Estar em êxtase é dormir; o sonambulismo magnético é uma reprodução do êxtase.
Os erros do sonambulismo são ocasionados pelos reflexos do diáfano das pessoas acordadas, e
principalmente do magnetizador.
O sonho é a visão produzida pela refração de um raio de verdade; a ilusão é a alucinação ocasionada
por uma reflexão.
A tentação de Santo Antonio, com seus pesadelos e monstros, representa a confusão dos reflexos
com os raios diretos. Enquanto a alma luta, ela é razoável; quando sucumbe a esta espécie de
embebedamento invasor, é louca.
Distinguir o raio direto e o separar do reflexo, tal é a obra do iniciado.
Agora, digamos alto que esta obra sempre foi realizada por alguns homens de “elite” no mundo; que
a revelação por intuição é, assim, permanente, e que não há barreira intransponível que separe as
almas, porque na natureza não há nem interrupções repentinas nem muralhas abruptas que possam separar os espíritos. Tudo é transição e matizes e, se supusermos a perfectibilidade, se não infinita,
ao menos indefinida das faculdades humanas, veremos que todo homem pode chegar a tudo ver, e,
por conseguinte, a tudo saber, ao menos num círculo que pode alargar indefinidamente.
Não há vácuo na natureza, tudo é povoado. Não há morte real na natureza, tudo está vivo.
"Vedes esta estrela?" - dizia Napoleão ao cardeal Fresch. - "Não, Senhor" -"Pois bem, eu a vejo!”
E, certamente, ele a via.
É por isso que acusam os grandes homens de terem sido supersticiosos: é que eles viram o que o
vulgo não vê.
Os homens de gênio diferem dos simples videntes pela faculdade que possuem de fazer sentir aos
outros homens o que vêem e de se fazer crer por entusiasmo e simpatia.
São os médiuns do Verbo divino.
Digamos, agora, como se opera a visão. Todas as formas correspondem a idéias, e não há idéia que
não tenha sua forma própria e particular.
A luz primordial, veículo de todas as idéias, é a mãe de todas as formas, e transmite-as de emanação
em emanação, apenas diminuídas ou alteradas por causa da densidade dos meios.
As formas secundárias são reflexos que voltam ao foco da luz emanada.
As formas dos objetos, sendo uma modificação da luz, ficam na luz onde o reflexo as envia. Por
isso, a luz astral ou o fluido terrestre, que chamamos o grande agente mágico, está saturado de
imagens ou reflexos de toda espécie os quais a nossa alma pode evocar e submeter ao seu diáfano, como falam os cabalistas. Estas imagens sempre nos estão presentes e somente se acham apagadas
pelas impressões mais fortes da realidade durante a vigília, ou pelas preocupações do nosso
pensamento, que deixa a nossa imaginação desatenta ao panorama móvel da luz astral. Quando dormimos, este espetáculo se apresenta por si mesmo a nós, e é assim que se produzem os sonhos: sonhos incoerentes e vagos, se alguma vontade dominante não fica ativa no sono e não dá, mesmo contra a vontade da nossa inteligência, uma direção ao sonho, que, então, se transforma em visão.
O magnetismo animal não é nada mais do que um sono artificial produzido pela união, quer
voluntária, quer forçada, de duas almas, uma das quais está acordada, enquanto a outra dorme, isto
é, uma das quais dirige a outra na escolha dos reflexos para mudar os sonhos em visões e saber a
verdade por meio das imagens. Assim, as sonâmbulas não vão realmente aos lugares aonde o
magnetizador as manda; elas evocam as suas imagens na luz astral, e nada podem ver do que não
existe nesta luz.
A luz astral tem uma ação direta sobre os nervos, que são os condutores, na economia animal, e que
a levam ao cérebro; por isso, no estado de sonambulismo, pode-se ver pelos nervos, e sem mesmo
ter necessidade da luz irradiante, o fluido astral sendo uma luz latente, como a física reconheceu que
existe um calórico latente.
O magnetismo entre dois é, sem dúvida, uma descoberta maravilhosa; mas o magnetismo de um só,
dirigindo-se a si mesmo, ficando lúcido à vontade, é a perfeição da arte mágica; e o segredo desta
grande obra não está para ser achado: foi conhecido e praticado por um grande número de iniciados,
e principalmente pelo célebre Apolônio de Thyana, que deixou dele uma teoria, como veremos no
nosso Ritual.
O segredo da lucidez magnética e da direção dos fenômenos do magnetismo provém de duas coisas:
da harmonia das inteligências e da união perfeita das vontades numa direção possível e determinada
pela ciência; isto é, para o magnetismo operado entre diversos. O magnetismo solitário exige
preparações de que falamos no nosso primeiro capítulo, quando enumeramos e fizemos ver, em toda
a sua dificuldade, as qualidades exigidas para ser um verdadeiro adepto.
Esclareceremos cada vez mais este ponto importante e fundamental nos capítulos que vão seguir.
Este império da vontade sobre a luz astral, que é a alma física dos quatro elementos, é figurado em magia, pelo pentagrama, cuja figura colocamos no frontispício deste capítulo.
Assim, os espíritos elementais são submissos a este signo, quando é empregado com inteligência, e pode-se, colocando-o no círculo ou na mesa das evocações, fazê-los dóceis, o que, em magia se
chama prendê-los.
Expliquemos, em poucas palavras, esta maravilha. Todos os espíritos criados comunicam entre si
por sinais e aderem a um certo número de verdades expressas por certas formas determinadas.
A perfeição das formas aumenta em razão do desembaraço dos espíritos, e os que não estão presos pelas cadeias da matéria reconhecem, à primeira intuição, se um signo é a expressão de um poder
real ou de uma vontade temerária.
A inteligência do sábio dá, pois, valor ao seu pantáculo, como a sua ciência dá peso à sua vontade, e
os espíritos compreendem imediatamente este poder.
Assim, com o pentagrama, pode-se forçar os espíritos a aparecerem em sonho, quer durante a
vigília, quer durante o sono, trazendo eles mesmos, diante do nosso diáfano, o seu reflexo, que
existe na luz astral, se viveram, ou um reflexo análogo ao seu verbo espiritual, se não viveram na
terra. Isto explica todas as visões e demonstra, principalmente, por que os mortos aparecem sempre
aos videntes, quer como eram na terra, quer como estão ainda no túmulo, nunca como estão numa
existência que escapa às percepções do nosso organismo atual.
As mulheres grávidas estão, mais que os outros, sob a influência da luz astral, que concorre para a
formação dos seus filhos, e que lhes apresenta, sem cessar, as reminiscências de formas de que está
cheia. É assim que as mulheres muito virtuosas enganam por semelhanças equívocas a malignidade
dos observadores. Elas imprimem, muitas vezes, ao fruto do seu casamento uma imagem que as comoveu em sonho, e é assim que as mesmas fisionomias se perpetuam, de século em século.
O uso cabalístico do pentagrama pode, pois, determinar a figura dos filhos a nascer, e uma mulher
iniciada pode dar a seu filho as feições de Nereu ou de Aquiles, como as de Luiz XIV ou de Napoleão. Nós indicamos no nosso Ritual o modo de o fazer.
O pentagrama é o que se chama, em Cabala, o signo do microcosmo, o signo cujo poder Goethe
exalta no belo monólogo do Fausto:
"Ah! como a esta vista todos meus sentidos estremeceram! Sinto a juvenil e santa volúpia da vida
ferver nos meus nervos e nas minhas veias. Será um Deus aquele que traçou este signo que acalma a
vertigem de minh’alma, enche de alegria meu pobre coração, e, numa impulsão misteriosa, desvenda ao redor de mim as forças da natureza? Sou um Deus? Tudo se torna tão claro para mim;
vejo, nestes simples traços, a natureza ativa se revelar à minh’alma. Agora, pela primeira vez,
reconheço a verdade desta palavra do sábio: - O mundo dos espíritos não está fechado! Teu sentido
está obtuso, teu coração está morto. Levanta-te! Banha, ó adepto da ciência, o teu peito, ainda
envolto de um véu terrestre, nos esplendores do dia nascente!" - (Fausto, 1 parte, cena 1).
Foi em 24 de Julho de 1854 que o autor deste livro, Eliphas Levi, fez em Londres a experiência da
evocação pelo pentagrama, depois de se ter preparado, para isso, por todas as cerimônias que estão
marcadas no Ritual. O sucesso desta experiência, cujas razões e detalhes damos no 13º capítulo do
Dogma e as Cerimônias no 13º capítulo do Ritual, estabelecem um novo fato patológico que os
homens de verdadeira ciência admitirão sem dificuldade. A experiência, reiterada até três vezes, deu
resultados verdadeiramente extraordinários, mas positivos e sem mistura alguma de alucinação.
Convidamos os incrédulos a fazerem um ensaio consciencioso e razoável, antes de levantar os
ombros e sorrir.
A figura do Pentagrama, aperfeiçoada conforme a ciência e que serviu ao autor para esta prova, é a
que está no começo deste capítulo e que não se acha tão completa nem nas clavículas de Salomão,
nem nos calendários mágicos de Tycho-Brahé e Duchenteau.
Observemos somente que o uso do pentagrama é muito perigoso para os operadores que não tem
completa e perfeita inteligência dele. A direção das pontas da estrela não é arbitrária, e pode mudar
o caráter de toda operação, como explicaremos no Ritual.
Paracelso, este inovador em magia, que sobrepujou todos os outros iniciados pelos sucessos de
realização obtidos por ele só, afirma que todas as figuras mágicas e todos os signos cabalísticos dos pantáculos aos quais os espíritos obedecem, se reduzem a dois, que são a síntese de todos os outros;
o signo do macrocosmo ou do selo de Salomão, cuja figura já demos e reproduzimos na página
seguinte, e o do microcosmo, ainda mais poderoso que o primeiro, isto é, o pentagrama, do qual dá,
na sua filosofia oculta, uma minuciosa descrição.
Se perguntarem como um signo pode ter tanto poder sobre os espíritos elementais, perguntaremos,
por nossa vez: por que o mundo cristão se prosternou diante do sinal da cruz? O sinal por si mesmo
nada é, e só tem força pelo dogma de que é resumo e verbo. Ora, um signo que resume, exprimindo
as, todas as forças ocultas da natureza, um signo que sempre manifestou aos espíritos elementares e
outros um poder superior à sua natureza, naturalmente os enche de respeito e temor e os força a
obedecer, pelo império da ciência e da vontade sobre a ignorância e a fraqueza.
É também pelo pentagrama que se medem as proporções exatas do grande e único athanor
necessário à confecção da pedra filosofal e à realização da grande obra. O alambique mais perfeito
que possa elaborar a quintessência é conforme esta figura, e a própria quintessência é figurada pelo signo do pentagrama.


5 - O PAPA ASPECTOS DO RITUAL em ELIPHAS LEVI
CAPÍTULO V

O PENTAGRAMA FLAMEJANTE
Chegamos à explicação e à consagração do santo e misterioso pentagrama.
Que o ignorante e o supersticioso fechem o livro aqui: pois só verão nele trevas ou ficarão
escandalizados.
O pentagrama, que é chamado, nas escolas gnósticas, a estrela flamejante, é o sinal da onipotência e
da autocracia intelectuais.
É a estrela dos magos; é o sinal do Verbo feito carne; e, conforme a direção dos seus raios, este
símbolo absoluto em magia representa o bem ou o mal, a ordem ou a desordem, o cordeiro de
Ormuz e de São João, ou o bode maldito de Mendes.
É a iniciação ou a profanação; é Lúcifer ou Vésper, a estrela da manhã ou da tarde.
É Maria ou Lilith; é a vitória ou a morte, é a luz ou à noite.
O pentagrama elevando ao ar duas das suas pontas representa Satã ou o bode do Sabbat, e representa o Salvador quando eleva ao ar um só dos seus raios.
O pentagrama é a figura do corpo humano com quatro membros e uma ponta única que deve
representar a cabeça.
Uma figura humana com a cabeça para baixo representa naturalmente um demônio, isto é,a
subversão intelectual, a desordem ou a loucura.
Ora, se a magia é uma realidade, se esta ciência oculta é a lei verdadeira dos três mundos, este signo
absoluto, este signo tão antigo como a história e até mais que a história, deve exercer, com efeito,
uma influência incalculável sobre os espíritos desembaraçados dos seus envoltórios materiais.
O signo do pentagrama chama-se também o signo do microcosmo, e representa o que os cabalistas
do livro de Zohar chamam o microprósopo.
A interpretação completa do pentagrama é a chave dos dois mundos. É a filosofia e a ciência natural
absolutas.
O signo do pentagrama deve ser composto dos sete metais ou, ao menos, ser traçado em ouro puro
no mármore branco.
Pode-se também desenhá-lo, com vermelhão, numa pele de cordeiro sem defeitos e sem manchas,
símbolo de integridade e luz.
O mármore deve ser virgem, isto é, nunca ter servido a outro uso; a pele de carneiro deve ser
preparada sob os auspícios do sol.
O carneiro deve ter sido degolado no tempo da Páscoa, com uma faca nova, e a pele deve ter sido
salgada com o sal consagrado pelas operações mágicas.
A negligência de uma única destas cerimônias difíceis e, em aparência, arbitrárias, faz abortar todo
o sucesso das grandes obras da ciência.
Consagramos o pentagrama com os quatro elementos; sopramos cinco vezes sobre a figura mágica;
e aspergimo-lo com a água consagrada; secamo-lo com a fumaça dos cinco perfumes, que são o
incenso, a mirra, os aloés, o enxofre e a cânfora, aos quais podemos ajuntar um pouco de resina
branca e âmbar-pardo; sopramos cinco vezes, pronunciando o nome dos cinco gênios, que são:
Gabriel, Rafael, Anael, Samael e Orifiel; depois pomos o pantáculo no chão, alternativamente ao
norte, ao sul, ao oriente, ao ocidente e no centro a cruz astronômica e pronunciamos, uma após
outra, as letras do tetragrama sagrado; depois dizemos, em voz baixa, os nomes de Aleph e do Thau
misterioso, reunidos no nome cabalístico de Azoth.
O pentagrama deve ser colocado no altar dos perfumes e sobre a trípode das evocações. O operador
deve também trazer consigo a figura com a do macrocosmo, isto é, a da estrela de seus raios,
composta de dois triângulos cruzados e superpostos.

INSTRUMENTOS MÁGICOS
A Lâmpada, a Baqueta, a Espada e a Foice
Quando evocamos um espírito de luz, é preciso virar a cabeça da estrela, isto é, uma das suas pontas
para a trípode da evocação, e as duas pontas inferiores do lado do altar dos perfumes. É o contrário se se tratar de um espírito das trevas; mas então é preciso que o operador tenha o cuidado de
conservar a ponta da baqueta ou da espada sobre a cabeça do pentagrama.
Dissemos que os signos são o verbo ativo da vontade. Ora, a vontade deve dar seu verbo completo
para transformá-lo em ação; e uma única negligência, representando uma palavra ociosa ou uma
dúvida, imprime em toda a operação o cunho da mentira e da importância, e volta contra o operador
todas as forças gastas em vão.
É, pois, preciso abster-se absolutamente das cerimônias mágicas, ou realizar escrupulosa e
exatamente todas!
O pentagrama traçado, em linhas luminosas, no vidro, por meio da máquina elétrica, exerce também
uma grande influência sobre os espíritos e aterroriza os fantasmas.
Os antigos magos traçavam o signo do pentagrama no batente da sua porta, para impedir aos maus
espíritos de entrar e aos bons de sair. Este constrangimento resulta da direção dos raios da estrela.
Duas pontas para fora, afastavam os maus espíritos; duas pontas para dentro, os retinha prisioneiros; uma só ponta para dentro, cativava os bons espíritos.
Todas estas teorias mágicas, baseadas no dogma único de Hermes e nas induções analógicas da
ciência, sempre foram confirmadas pelas visões dos extáticos e pelas convulsões dos catalépticos,
ditos possessos dos espíritos.
O G no qual os franco-maçons colocam no meio da estrela flamejante significa Gnosis e Geração,
duas palavras sagradas da antiga Cabala. Quer dizer também Grande Arquiteto, porque o
pentagrama, de qualquer lado que o olhemos, representa um A.
Dispondo-o de modo que duas das suas pontas estejam em cima e uma só ponta embaixo, podemos
ver nele os chifres, as orelhas e a barba do bode hierático de Mendes e torna-se o signo das
evocações infernais.
A estrela alegórica dos magos não é outra coisa senão o misterioso pentagrama; e estes três reis,
filhos de Zoroastro, guiados pela estrela flamejante ao berço do Deus microcósmico, seriam
suficientes para provar as origens inteiramente cabalísticas e verdadeiramente mágicas do dogma
cristão. Um destes reis é branco, outro é preto e o terceiro é moreno. O branco oferece ouro,
símbolo da vida e da luz; o preto oferece mirra, imagem da morte e da noite; o moreno apresenta o
incenso, emblema da divindade do dogma conciliador dos dois princípios; depois, voltam a seu país
por um outro caminho, para mostrar que um culto novo é simplesmente um novo caminho, para
levar a humanidade à religião única. A do ternário sagrado e do irradiante pentagrama, o único
catolicismo eterno.
No Apocalipse, São João vê esta mesma estrela cair do céu na terra. Ela se chama, então, absíntio ou
amargura, e todas as águas ficam amargas. É uma imagem clara da materialização do dogma que
produz fanatismo e as amarguras das controvérsias. É ao próprio cristianismo que podemos, então,
dirigir estas palavras de Isaías: “Como caíste do céu, estrela brilhante, que eras tão esplêndida em
tua manhã?”
Mas o pentagrama, profanado pelos homens, brilha sempre sem sombra na mão direita do Verbo de
verdade, e a voz inspiradora promete àquele que vencer dar-lhe a posse da estrela da manhã;
reabilitação solene prometida ao astro de Lúcifer.
Como vemos, todos os mistérios da magia, todos os símbolos da Gnosis, todas as figuras do ocultismo, todas as chaves cabalísticas da profecia, se resumem no signo do pentagrama, que
Paracelso proclama o maior e mais poderoso de todos os signos.
Será para se admirar, depois disso, da confiança dos magistas e da influência real exercida por este
signo sobre os espíritos de todas as hierarquias? Os que desprezam o sinal da cruz tremem ao
aspecto da estrela do microcosmo. O mago, pelo contrário, quando sente enfraquecer-se a sua
vontade, leva os olhos para o símbolo, toma-o na mão direita e sente-se armado da onipotência
intelectual, contanto que seja verdadeiramente um rei digno de ser guiado pela estrela ao berço da realização divina; contanto que saiba, que ouse, que queira, e que se cale; contanto que conheça o
emprego do pantáculo, do copo, da baqueta e da espada; enfim, contanto que os olhares intrépidos
de sua alma correspondam a este dois olhos que a ponta superior do nosso pentagrama lhe apresenta
sempre abertos.



V.  O HIEROFANTE  - por Crowley
Esta carta se refere à letra Vau, que significa prego, sendo que nove pregos aparecem no alto da carta, os quais servem para fixar o oriel atrás da principal figura da carta.  
A carta é referida a Touro, de sorte que o trono do Hierofante é circundando por elefantes, que participam da natureza de Touro, estando o Hierofante realmente sentado sobre um touro. Ao redor dele estão as quatro bestas ou  Kerubs, uma em cada canto da carta, visto que estes são os guardiões de todo santuário. Mas a principal referência é ao arcano particular que constitui o negócio maior, o essencial, de todo trabalho mágico: a união do microcosmo ao macrocosmo. Conseqüentemente, o oriel é diáfano. Diante do manifestador do Mistério há um hexagrama representando o macrocosmo e no centro deste um pentagrama, contendo e representando uma criança do sexo masculino dançando. Isto simboliza a lei do novo Aeon da criança Hórus, o qual suplantou o Aeon do deus que morre, que governou o mundo por dois mil anos. Também diante do Hierofante está a mulher com a espada à cintura, que representa a Mulher Escarlate na  hierarquia do novo Aeon. Este simbolismo é adicionalmente efetivado no oriel, onde, por trás da cobertura fálica de cabeça, a rosa de cinco pétalas desabrocha.  
O simbolismo da serpente e da pomba faz alusão a este versículo de O Livro da Lei (cap. I, v. 57) : “... pois existe amor e amor. Existe a pomba, e existe a serpente.” 
Este símbolo reaparece no trunfo de número XVI.  
O fundo da carta toda é o azul escuro da noite estrelada de Nuit, de cujo útero nascem todos os fenômenos.  
Touro, o signo do zodíaco representado por esta carta, é ele mesmo o Kerub-Touro, ou seja, a Terra sob sua forma mais forte e mais equilibrada. 
O regente desse signo é Vênus, que é representado pela mulher em pé diante do hierofante.  
No capítulo III de O Livro da Lei, versículo xi, se lê:  
“Que a mulher seja cingida com uma espada diante de mim”. Esta mulher representa Vênus como ela agora está neste novo Aeon, não mais o mero veículo de seu correlativo masculino, mas armada e militante.  
Neste signo a Lua é “exaltada”; sua influência é representada não só pela mulher como também pelos nove pregos.  
É impossível na atualidade explicar esta carta na sua inteireza pois somente o curso dos eventos poderá mostrar como a nova corrente de iniciação funcionará.  
É o Aeon de Hórus, da criança. Embora o rosto do Hierofante pareça benigno e sorridente e a própria criança pareça alegre com desregrada inocência, é difícil negar que na expressão do iniciador  há algo misterioso, mesmo sinistro. Ele parece estar gozando uma piada muito secreta às custas de alguém. Há um aspecto distintamente sádico nesta carta, e naturalmente, considerando-se que ela provém da lenda de Pasiphae, o protótipo de todas as lendas dos deuses-Discos. Estas ainda persistem em religiões como o  saivismo  e (depois de múltiplas degradações)  no próprio cristianismo. 
O simbolismo do bastão é peculiar; os três anéis entrelaçados que o encimam podem ser tomados como representativos dos três Aeons de Ísis, Osíris e Hórus com suas fórmulas mágicas que se entrosam. O anel superior está marcado de escarlate para Hórus, os dois inferiores de verde para Ísis e amarelo pálido para Osíris, respectivamente. Todos estes estão baseados no azul escuro, a cor de Saturno, O Senhor do Tempo, pois o ritmo do Hierofante é tal, que ele se move apenas a intervalos de 2.000 anos. 



quarta-feira, 25 de maio de 2016

O IMPERADOR ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY

O IMPERADOR abordada como Dogma por Eliphas Levi

O Tetragrama
GEBURAH CHESED - PORTALIBRORUM - ELEMENTA
Há, na natureza, duas forças que produzem um equilíbrio, e os três são simplesmente uma única lei.
Eis o ternário resumindo-se na unidade, e, ajuntando a ideia à unidade à do ternário, chega-se ao quaternário, primeiro número quadrado e perfeito, fonte de todas as combinações numéricas e princípio de todas as formas.
Afirmação, negação, discussão, solução, tais são as quatro operações filosóficas do espírito humano.
A discussão concilia a negação com a afirmação, fazendo-as necessárias uma à outra. É assim que o ternário filosófico, produzindo-se do binário antagônico se completa pelo quaternário, base quadrada de toda verdade. Em Deus, conforme o dogma consagrado, há três pessoas, e estas três
pessoas são um só Deus. Três e um, dão a ideia de quatro, porque a unidade é necessária para explicar os três.
Por isso, em quase todas as línguas, o nome de Deus é de quatro letras, e, em hebreu, estas quatro letras fazem três, porque há uma delas que se repete duas vezes: a que exprime o Verbo e a criação o Verbo.
Duas afirmações tornam possíveis ou necessárias duas negações correspondentes. O ente é
significado, o nada não o é. A afirmação, como Verbo, e cada uma destas afirmações corresponde à
negação do seu contrário.
É assim que, conforme o dizer dos cabalistas, o nome do demônio ou do mal se compõe das letras
invertidas do próprio nome de Deus ou do bem.
Este mal é o reflexo perdido ou a miragem imperfeita da luz na sombra.
Mas tudo o que existe, quer em bem, quer em mal, quer na luz, quer na sombra, existe e se revela
pelo quaternário.
A afirmação da unidade supõe o número quatro, se esta afirmação volta à unidade como num círculo vicioso. Por isso, o ternário, como já observamos, se explica pelo binário e se resolve pelo quaternário, que é a unidade quadrada dos números pares e a base quadrangular do cubo, unidade de
construção, de solidez e de medida.
O tetragrama cabalístico: Jodhéva, exprime Deus na humanidade e a humanidade em Deus. Os
quatro pontos cardeais astronômicos são, relativamente a nós, o sim e o não da luz: o oriente e o
ocidente, e o sim e o não do calor: o sul e o norte.
O que está na natureza visível revela, como já o sabemos, conforme o dogma único da Cabala, o
que está no domínio da natureza invisível, ou das causas segundas, todas proporcionais e análogas
às manifestações da causa primeira.
Por isso, esta causa primeira sempre se revelou pela cruz: a cruz, esta unidade composta de dois, que se dividem um ao outro, para formar quatro; a cruz, esta chave dos mistérios da Índia e do
Egito, o Tau dos patriarcas, o signo divino de Osíris, o Stauros dos gnósticos, a chave de arco do
templo, o símbolo da maçonaria oculta; a cruz, este ponto central da junção dos ângulos retos de
dois triângulos infinitos; a cruz que, na língua nacional, parece ser a raiz primitiva e o substantivo
fundamental do verbo crer e do verbo crescer, reunindo, assim, as idéias de ciência, religião e
progresso.
O grande agente mágico se revela por quatro espécies de fenômenos, e foi classificado, pelas
experiências das ciências profanas sob quatro nomes: calórico, luz, eletricidade, magnetismo.
Deram-lhe também os nomes de tetragrama, inri, azoth, éter, od, fluido magnético, alma da terra,
serpente, lúcifer, etc.
O grande agente mágico é a quarta emanação da vida-princípio de que o sol é a terceira forma (ver
os iniciados da escola de Alexandria e o dogma de Hermes Trismegisto).
De modo que o olho do mundo (como o chamavam os antigos) é a miragem do reflexo de Deus e a
alma da terra é um olhar permanente do sol que a terra recebe e guarda por impregnação.
A lua concorre para esta impregnação da terra, repelindo para ela uma imagem solar durante a noite,
de sorte que Hermes teve razão de dizer, falando do grande agente: “O sol é seu pai, a lua é sua
mãe”. Depois, acrescenta: "O vento o trouxe no seu ventre, porque a atmosfera é o recipiente e como que o cadinho dos raios solares, por meio dos quais se forma esta imagem viva do sol que penetra a terra inteira, vivifica-a, fecunda-a e determina tudo o que se produz na sua superfície, por
seus eflúvios e suas correntes contínuas, análogas às do próprio sol”.
Este agente solar é vivente por duas forças contrárias: uma força de atração e uma forma de
projeção, o que faz Hermes dizer que ele sempre sobe e desce.
A força de atração se fixa sempre no centro dos corpos, e a forma de projeção nos seus contornos ou
na sua superfície.
É por esta dupla força que tudo é criado e tudo subsiste.
Seu movimento é um enrolamento e um desenrolamento sucessivos e indefinidos, ou antes
simultâneos e perpétuos, por espirais de movimentos contrários que nunca se encontram.
É o mesmo movimento que o sol, que atrai e repele, ao mesmo tempo, todos os astros do seu
sistema.
Conhecer o movimento deste sol terrestre, de modo a poder aproveitar das suas correntes e dirigi
las, é ter realizado a grande obra, e é ser senhor do mundo.
Armado de uma tal força, podeis vos fazer adorar e o vulgo vos julgará Deus.
O segredo absoluto desta direção foi possuído por alguns homens, e pode ainda ser achado. É o
grande arcano mágico; depende de um axioma incomunicável e de um instrumento que é o grande e
único athanor dos hermetistas do mais alto grau.
O axioma incomunicável está contido cabalisticamente nas quatro letras do tetragrama, dispostas do
modo como está representado na página seguinte, nas letras das palavras Azoth e Inri, escritas
cabalisticamente, e no monograma do Cristo, tal como estava bordado no lábaro, e que o cabalista
Postello interpreta pela palavra Rota, da qual os adeptos formaram o seu Tarô ou Tarot, repetindo
duas vezes a primeira letra, para indicar o círculo e fazer compreender que a palavra está invertida.
Toda a ciência mágica consiste no conhecimento deste segredo. Conhecê-lo e ousar servir-se dele é
a onipotência humana; mas revelá-lo a um profano é perdê-lo; revelá-lo até a um discípulo é abdicar
em favor desse discípulo, que, a partir desse momento, tem direito de vida e morte sobre o seu
iniciador (fá-lo no ponto de vista mágico), e o matará certamente, temendo a si próprio a morte.
(Isto nada tem de comum com os atos qualificados de assassinato em legislação criminal, desde que
a filosofia prática, que serve de base e ponto de partida às nossas leis não admite os fatos de
enfeitiçamento e influências ocultas).
Nós entramos, aqui, em revelações estranhas, e nos preparamos para todas as incredulidades e todos
os desprezos do fanatismo incrédulo; porque a religião de voltariana tem também seus fanáticos,
muito embora contra a vontade das grandes sombras que devem amuar-se, agora, de um modo
lastimoso, nas carneiras do Pantheon, enquanto catolicismo, sempre forte com suas práticas e seu
prestígio, canta o ofício sobre suas cabeças.
A palavra perfeita, aquela que é adequada ao pensamento que exprime, contém sempre virtualmente
ou supõe um quaternário: a idéia e suas três formas necessárias e correlativas, depois também a
imagem da coisa expressa com os três termos do juízo que a qualifica. Quando digo: “O ente
existe", afirmo implicitamente que o nada não existe.
Uma altura, uma largura que a altura divide geometricamente em dois, e uma profundidade separada
da altura pela intersecção da largura, eis o quaternário natural composto de duas linhas que se
cruzam. Há também, na natureza, quatro movimentos produzidos por duas forças que se sustêm
uma à outra por sua tendência contrária. Ora, a lei que rege os corpos é análoga e proporcional
àquela que governa os espíritos, e a que governa os espíritos é a própria manifestação do segredo de
Deus, isto é, do mistério da criação. Suponde um relógio de duas molas paralelas, com uma
endentação que as faça mover em sentido contrário, de modo que, uma afrouxando-se, aperte a
outra: assim, o relógio se dará corda por si mesmo, e tereis achado o movimento perpétuo. Esta
endentação deve ser para dois fins e de grande precisão. Será impossível de se achar? Não o cremos.
Mas quando um homem a tiver descoberto, este homem poderá compreender, por analogia, todos os
segredos da natureza: o progresso em razão direta da resistência.
O movimento absoluto da vida é, assim, o resultado perpétuo de duas tendências contrárias que
nunca são opostas. Quando uma das duas parece ceder à outra, é uma mola que recebe corda, e
podeis esperar uma reação de que é muito possível prever o momento e determinar o caráter; é
assim que, na época do maio fervor do cristianismo, o reino do Anticristo foi conhecido e predito.
Mas o Anticristo preparará e determinará a nova vinda e o triunfo definitivo do Homem-Deus.
Ainda isto é uma conclusão rigorosa e cabalística contida nas premissas evangélicas.
Assim, a profecia cristã contém uma quádrupla revelação:
1ª - a queda do mundo antigo e o triunfo do Evangelho sob a primeira vinda;
2ª - grande apostasia e vinda de Anticristo;
3ª -queda do Anticristo e volta às idéias cristãs;
4ª - triunfo definitivo do Evangelho ou segunda vinda, designada sob o nome de juízo final.
Esta quádrupla profecia contém, como se pode ver, duas afirmações e duas negações, a idéia de duas
ruínas ou mortes universais e de dois renascimentos; porque a toda idéia que aparece no horizonte social se pode assinar, sem temor de erro, um oriente e um ocidente, um zênite e um nadir. É assim
que a cruz filosófica é a chave da profecia, e que se podem abrir todas as portas de ciência com o
pantáculo de Ezequiel, cujo centro é uma estrela formada pelo cruzamento de duas cruzes.
 
A vida humana também não é formada destas quatro fases ou transformações sucessivas:
nascimento, vida, morte, imortalidade? E notai que a imortalidade da alma, necessitada como
complemento do quaternário, é cabalisticamente provada pela analogia, que é o dogma único da
religião verdadeiramente universal, como é a chave da ciência e a lei inviolável da natureza.
A morte, com efeito, não pode ser um fim absoluto, do mesmo modo que o nascimento não é um
começo real. O nascimento prova a preexistência do ente humano, pois que nada se produz do nada,
e a morte prova a imortalidade, porque o ente não pode cessar de existir, do mesmo modo que o
nada não pode cessar de não existir. Ente e nada são duas idéias absolutamente inconciliáveis, com
esta diferença: que a idéia do nada (idéia inteiramente negativa) sai da própria idéia do ente, de que
o nada nem mesmo pode ser compreendido como uma negação absoluta, ao passo que a idéia do
ente nem mesmo pode ser aproximada do nada, e ainda menos sair dele.
Dizer que o mundo saiu do nada é proferir um monstruoso absurdo. Tudo o que existe procede do
que existia; por conseguinte, tudo que existe nunca poderá não existir mais. A sucessão das formas é
produzida pelas alternativas do movimento: são fenômenos da vida que se substituem uns aos
outros, sem de destruírem. Tudo muda, porém nada perece. O sol não está morto quando desaparece
no horizonte; até as formas mais móveis são imortais e sempre substituem na permanência da sua
razão de ser, que é a combinação da luz com os poderes agregativos das moléculas da substância
prima. Por isso, elas se conservam no fluido astral, e podem ser evocadas e reproduzidas conforme a
vontade do sábio, como o veremos ao tratar da Segunda vista e da evocação das lembranças na
necromancia e noutras operações mágicas.
Voltaremos a tratar do grande agente mágico no quarto capítulo do Ritual, onde acabaremos de
indicar os caracteres do grande arcano e os meios de prender este formidável poder.
Digamos, aqui, duas palavras dos quatro elementos mágicos e dos espíritos elementares.
Os elementos mágicos são: em alquimia, o sal, o mercúrio, o enxofre, e o azoth; em Cabala, o
macrocosmo, o microcosmo e as duas mães; em hieróglifos, o homem, o águia, o leão e o touro; em
física antiga, conforme os termos e as ideias vulgares, o ar, a água, a terra e o fogo.
Em magia, sabe-se que a água não é a água ordinária; que o fogo não é simplesmente fogo, etc.
Estas expressões ocultam um sentido mais elevado. A ciência moderna decompôs os quatro
elementos dos antigos e encontrou neles muitos corpos considerados simples. O que é simples é a substância prima e propriamente dita; só há, pois, um elemento material e este elemento se
manifesta sempre pelo quaternário, nas suas formas. Conservaremos, pois, a sábia distinção das
aparências elementares, admitida pelos antigos, e reconheceremos o ar, o fogo, a terra e a água pelos
quatro elementos positivos e visíveis da magia.
O sutil e o espesso, o dissolvente rápido e o dissolvente lento, ou os instrumentos do calor e do frio,
formam, em física oculta, os dois princípios positivos e os dois princípios negativos do quaternário,
e devem ser figurados assim:
O Azoth
A Águia
O Ar
O Enxofre A Água
O Fogo O Homem
O Leão O Mercúrio
O Sal
O Touro
A Terra

O ar e a terra representam, assim, o princípio masculino, o fogo e a água se referem ao princípio
feminino, pois que a cruz filosófica dos pantáculos é, como já dissemos, um hieróglifo primitivo e
elementar do lingham dos ginosofistas.
A estas quatro formas elementares correspondem as quatro idéias filosóficas seguintes:
O Espírito
A Matéria
O Movimento
O Repouso

A ciência inteira, com efeito, está na inteligência destas quatro coisas, que a alquimia reduzia a três:
O Absoluto
O Fixo
O Volátil

e que a Cabala refere à própria idéia de Deus, que é razão absoluta, necessidade e liberdade, tríplice
noção expressa nos livros ocultos dos Hebreus.
Sob os nomes de Kether, Hocmah e Binah para o mundo divino, de Tiphereth, Hesed e Geburah no
mundo moral, e, enfim, de Yesod, Hod e Netsah no mundo físico, que, com o mundo moral, está
contido na idéia do reino ou Malkuth, explicaremos, no décimo capítulo deste livro, esta teogonia,
tão racional quanto sublime.
Ora, os espíritos criados, sendo chamados à emancipação pela prova, são colocados, desde o seu
nascimento, entre estas quatro forças, duas positivas e duas negativas, e são postos em condições de
afirmar ou negar o bem, de escolher a vida ou a morte. Achar o ponto fixo, isto é, o centro moral da
cruz, é o primeiro problema que lhe é dado para resolverem; a sua primeira conquista deve ser a da
sua própria liberdade.
Começam, pois, por ser arrastados uns ao norte, outros ao sul; uns à direita, outros à esquerda, e,
enquanto não são livres, não podem ter o uso da razão, nem se encarnarão a não ser em formas
animais. Estes espíritos não emancipados, escravos dos quatro elementos, são o que os cabalistas
chamam os demônios elementares, e povoam os elementos que correspondem ao seu estado de
servidão. Existem, pois, realmente silfos, ondinas, gnomos e salamandras, uns errantes e procurando
encarnarem-se, outros encarnados e vivendo na terra. Estes são os homens viciosos e imperfeitos.
Voltaremos a este assunto no décimo quinto capítulo, que trata dos encantamentos e dos demônios.
É também uma tradição de física oculta que fez ser admitida, pelos antigos, a existência das quatro idades do mundo; somente que não se dizia ao vulgo que essas quatro idades deviam ser sucessivas,
como as quatro estações do ano e renovar-se também. Assim, a idade de ouro passou e ainda está para vir. Mas isto se refere ao espírito de profecia, e falaremos disso no capítulo nono, que trata do
iniciado e do vidente.
Ajuntaremos, agora, a unidade ao quaternário, e teremos conjunta e separadamente as idéias da síntese e da análise divinas, o deus dos iniciados e dos profanos. Aqui o dogma se populariza e
torna-se menos abstrato; o grande hierofante intervém.


O IMPERADOR abordada como Ritual por Eliphas Levi

A CONJURAÇÃO DOS QUATRO
As quatro formas elementais separam e especificam, por uma espécie de esboço, os espíritos criados que o movimento universal desembaraça do fogo central. Em toda parte, o espírito elabora e fecunda a matéria pela vida; toda matéria é animada; o pensamento e a alma estão em toda parte.
Apoderando-se do pensamento, que produz as diversas formas, a pessoa se torna senhora das formas e as faz servir ao seu uso.
A luz astral está saturada de almas, que desprende na geração incessante dos seres. As almas têm vontades imperfeitas que podem ser dominadas e empregadas por vontades mais poderosas; então formam, então, grandes correntes invisíveis e podem ocasionar ou determinar grandes comoções elementares.
Os fenômenos observados nos processos de magia, e, muito recentemente, pelo Senhor Eudes de Mirville, não têm outras causas.
Os espíritos elementais são como as crianças: atormentam mais os que se ocupam deles, a não ser que sejam dominados por uma elevada razão e uma grande severidade.
São estes espíritos que designamos sob o nome de elementos ocultos. São eles, muitas vezes, que
determinam para nós os sonhos inquietantes ou bizarros; são eles que produzem os movimentos da
baqueta adivinhatória e os golpes dados nas paredes ou nos móveis; mas nunca podem manifestar outro pensamento que não seja o nosso, e se não pensamos, nos falam com toda a incoerência dos
sonhos.
Reproduzem indiferentemente o bem e o mal, porque não têm livre-arbítrio e, por conseguinte, não
têm responsabilidade; mostram-se aos extáticos e sonâmbulos sob formas incompletas e fugitivas. É
o que deu lugar aos pesadelos de Santo Antonio e, muito provavelmente, às visões de Swedenborg;
não são condenados nem culpados; são curiosos e inocentes. Podemos usar ou abusar deles como dos animais e das crianças. Por isso, o magista que emprega o seu concurso assume sobre si uma
responsabilidade terrível, porque deverá expiar todo o mal que lhes fizer praticar, e a grandeza dos
seus tormentos será proporcionada à extensão do poder que tiver exercido por meio deles.
Para dominar os espíritos elementais e tornar-se, assim, rei dos elementos ocultos, é preciso ter
primeiramente sofrido as quatro provas das antigas iniciações e, como estas iniciações não existem
mais, é necessário substituí-las por ações análogas, como: expor-se, sem temor, num incêndio;
atravessa um abismo sobre um tronco de árvore ou sobre uma tábua; subir ao cimo de uma
montanha durante um tempestade; passar a nado uma cascata ou redemoinho perigoso. O homem
que tem medo da água nunca reinará sobre as ondinas; aquele que teme o fogo nada pode ordenar às
salamandras; enquanto podemos sentir vertigem é preciso deixarmos em paz os silfos e não irritarmos os gnomos, porque os espíritos inferiores só obedecem a um poder que lhes provamos,
mostrando-nos seus senhores até no seu próprio elemento.
Quando tivermos adquirido, pela ousadia e o exercício, este poder incontestável, é preciso
impormos aos elementos o verbo da nossa vontade, por consagrações especiais do ar, do fogo, da
água e da terra, e é este o começo indispensável de todas as operações mágicas.
Exorcizamos o ar, soprando para os quatro pontos cardeais dizendo:
Spiritus deiferebátur súper áquas, et inspirávit in fáciem hóminis spiráculum vitae. Sit Michael dux
meus, et Sabtabiel sérvus meus in luce et per lucem.
Fiat verbum hálitus meus; et imperábo spiritibus áeris hujus, et refroenábo équos solis voluntáte
cordis méis, et cogitatóne mentis meae et nutu óculi déxtri
Exorciso ígitur te, creatúra deris, Pentagrámmaton et in nómine Tetragrámmaton, in quibus sunt
volúntas firma et fides recta. Sela Fiat.
Que assim seja.
Recita-se, em seguida, a oração dos silfos, depois de ter traçado no ar o seu signo com uma pena de
águia.
ORAÇÃO DOS SILFOS
“Espírito de sabedoria, cujo sopro dá e retoma a forma de todas as coisas; tu, diante de quem a vida
dos seres é uma sombra que muda a um vapor que passa; tu, que sobres às nuvens e que caminhas
nas asas dos ventos; tu, que expiras, e os espaços sem fim são povoados; tu, que aspiras, e tudo o
que de tivem a ti volta: movimento sem fim na estabilidade eterna, sê eternamente bendito. Nós te
louvamos e te bendizemos no império móvel da luz criada, das sombras, dos reflexos e das imagens,
e aspiramos incessantemente à tua imutável e imperecível claridade. Deixa penetrar até nós o raio
da tua inteligência e o calor do teu amor: então o que é móvel ficará fixo, a sombra será um corpo, o
espírito do ar será uma alma, o sonho será um pensamento. E nós não seremos mais arrastados pela
tempestade, porém seguraremos as rédeas dos cavalos alados da manhã e dirigiremos o curso dos
ventos da tarde, para voarmos diante de ti. Ó espírito dos espíritos, ó alma eterna das almas, ó sopro
imperecível de vida, ó suspiro criador, ó boca que aspiras e expiras a existência de todos os entes,
no fluxo e refluxo da tua eterna palavra, que é o oceano divino do movimento e da verdade.
Amém”.
Exorcizamos a água pela imposição das mãos, pelo sopro e pela palavra, misturando-lhe o sal
consagrado com um pouco de cinza que fica na caixinha de perfumes. O aspersório se faz com
ramos de verbena, pervinca, salsa, hortelã, valeriana, freixo e manjericão, ligados por um fio tirado
das colunas do leito de uma virgem, com um cabo de amendoeiro que ainda não tenha dado frutos, e
no qual gravareis, com a pinça mágica, os caracteres dos sete espíritos. Benzereis e consagrareis
separadamente o sal e a cinza dos perfumes, dizendo:

SOBRE O SAL
In isto sale sit sapiéntia, et ómne corruptióne sérvet mentes nostras et corpora nostra, per
Hochmael et in virtúte Ruach-Hochmael, recédant ab isto phantásmata hylae ut sit sal coeléstis, sal
térrae et térra salis, ut nutriéturbos tritúrans et áddat spei nostrae córnua tauri volántis. Amen”.

SOBRE A CINZA
“Revértátur cinis adfóntem aquárium vivéntium, e fiat térra fructificans, et germinet árborem vitae
per tria nómina, quae sunt Netsah et Yesod, in principio et in fine, per Alpha et Omega qui sunt in
spiritu AZOTH. Amen”.

MISTURANDO A ÁGUA, O SAL E A CINZA
“In sale sapientiae aeternae, et in áqua regeneratiónis, et cínere germinante térram novam, ómnia
fíant per Elohim, Gabriel, Raphael et Uriel, in saecula et aeónas. Amen”.
EXORCISMO DA ÁGUA
“Fiat firmaméntum in médio aquárium et sepáret áquas ab aquis, quae supérius sicut inférius, et
quae inférius sicut quae supérius, ad perpetránda mirácula rei uníus. Sol ejus pater est, luna máter
et ventus hanc gestávit in útero suo, ascéndit a térra ad coelum et rúrsus a coelo in térram
descéndit. Exórciso te, creatúra áquae, ut sis mihi spéculum Dei vivi in opéribus ejus, etfons vitae,
et ablútio peccatórum. Amen”.

ORAÇÃO DAS ONDINAS
“Rei terrível do mar, vós que tendes as chaves das cataratas do céu e que encerrais as águas
subterrâneas nas cavernas da terra; rei do dilúvio e das chuvas da primavera, a vós que abris as
nascentes dos rios e das fontes, a vós que ordenais à umidade, que é como que o sangue da terra, de
tornar-se seiva das plantas, nós vos adoramos e vos invocamos. A nós, vossas móveis e variáveis
criaturas, falai-nos nas grandes comoções do mar, e tremeremos diante de vós; falai-nos também no
murmúrio de límpidas águas, e desejaremos o vosso amor. Ó imensidade na qual vão perder-se
todos os rios do ser, que sempre renascem em vós! Ó oceano das perfeições infinitas! Altura que
vos mirais na profundidade; profundidade que exalais na altura, levai-nos à verdadeira vida pela
inteligência e pelo amor! Levai-nos à imortalidade pelo sacrifício, a fim de que sejamos
considerados dignos de vos oferecer, um dia, a água, o sangue e as lágrimas, para remissão dos
erros. Amém”.
Exorcizamos o fogo, pondo nele sal, incenso, resina branca, cânfora e enxofre, e pronunciando três
vezes os três nomes dos gênios do fogo: Michael, rei do sol e do raio; Samael, rei dos vulcões, e
Anael, príncipe da luz astral; depois recitando a oração das salamandras.
Oração das Salamandras
“Imortal, eterno, inefável e incriado pai de todas as coisas, que és levado no carro sem cessar
rodante dos mundos que giram sempre; dominador das imensidades etéreas, onde está ereto o trono
do teu poder, e cima do qual teus olhos formidáveis descobrem tudo e teus belos e santos ouvidos
escutam tudo, atende aos teus filhos, que amaste desde o nascimento dos séculos; porque a tua
dourada, grande e eterna majestade resplandeça acima do mundo e do céu das estrelas; estás elevado
acima delas, ó fogo faiscante; aí, tu te acendes e te conservas a ti mesmo pelo teu próprio esplendor,
e saem da tua essência regatos inesgotáveis de luz, que nutrem teu espírito infinito. Este espírito
infinito alimenta todas as coisas e faz este tesouro inesgotável de substância sempre pronta à
geração que elabora e que se apropria das formas de que a impregnaste desde o princípio. Deste
espírito tiram também sua origem estes reis mui santos que estão ao redor do teu trono e que
compõem a tua corte, ó pai universal! Ó único! Ó pai dos felizes mortais e imortais.
“Criaste, em particular, potências que são maravilhosamente semelhantes ao teu eterno pensamento
e à tua essência adorável; tu as estabeleceste superiores aos anjos, que anunciam ao mundo as tuas
vontades; enfim, nos criaste na terceira ordem no nosso império elementar. Aqui, o nosso contínuo
exercício é louvar e adorar os teus desejos; aqui, ardemos incessantemente aspirando a possuir-te. Ó
pai! Ó mãe! Ó mais terna das mães! Ó arquétipo admirável da maternidade e do puro amor! Ó filho,
flor dos filhos! Ó forma de todas as formas, alma, espírito, harmonia e número de todas as coisas!
Amém”.
Exorcizamos a terra pela aspersão da água, pelo enxofre e pelo fogo, com os perfumes próprios para
cada dia, e proferimos a oração dos gnomos.

ORAÇÃO DOS GNOMOS
“Rei invisível, que tomastes a terra para apoio e que cavastes os seus abismo para enchê-los com a
vossa onipotência; vós, cujo nome faz tremerem as abóbadas do mundo, vós que fazeis correr os
sete metais nas veias das pedras, monarca das sete luzes, remunerador dos operários subterrâneos,
levai-nos ao ar desejável e ao reino da claridade. Velamos e trabalhamos sem descanso, procuramos
e esperamos, pelas doze pedras da cidade santa, pelos talismãs que estão escondidos, pelo cravo de
ímã que atravessa o centro do mundo. Senhor, Senhor, Senhor, tende piedade dos que sofrem,
desabafai os nossos peitos, desembaraçai e elevai as nossas cabeças, engrandecei-nos. Ó
estabilidade e movimento, ó dia envolto de noite, ó obscuridade coberta de luz! Ó senhor, que nunca
retendes convosco o salário dos vossos trabalhadores! Ó brancura Argentina, ó esplendor dourado!
ó coroa de diamantes vivos e melodiosos! Vós que levais o céu no vosso dedo, com um anel de
safira, vós que escondeis em baixo da terra, o reino das pedrarias, a semente maravilhosa das
estrelas, vivei, reinai e sede o eterno dispensador das riquezas de que nos fizestes guardas. Amém”.
É preciso observar que o reino especial dos gnomos é ao norte, o das salamandras ao sul, o dos
silfos ao oriente e o das ondinas ao ocidente. Eles influem sobre os quatro temperamentos do
homem, isto é, os gnomos sobre os melancólicos, as salamandras sobre os sangüíneos, as ondinas
sobre os fleumáticos e os silfos sobre os biliosos. Os seus signos são: os hieróglifos do touro para os
gnomos, e os governamos com a espada; do leão para as salamandras, e os dirigimos com a baqueta
bifurcada ou o tridente mágico; da águia para os silfos, e os mandamos com os santos pantáculos;
enfim, do aquário para as ondinas, e as evocamos com o copo de libações. Os seus soberanos
respectivos são: Gob para os gnomos, Djîn para as salamandras, Paralda para os silfos e Nicksa para
as ondinas.
Quando um espírito elemental vem atormentar ou ao menos inquietar os habitantes deste mundo, é
preciso conjurá-lo pelo ar, pela água, pelo fogo e pela terra, soprando, aspergindo, queimando
perfumes e traçando no chão a estrela de Salomão e o pentagrama sagrado. Estas figuras devem ser
perfeitamente regulares e feitas, quer com carvão do fogo consagrado, quer com um caniço,
molhado em tinta de diversas cores, misturadas com ímã pulverizado. Depois, tendo na mão o
pantáculo de Salomão e tomando, cada qual por sua vez, a espada, a baqueta e o copo, pronunciaremos nestes termos em voz alta a conjuração dos quatro:
“Caput mórtuum imperet tibi Dóminus per vivum et devótum serpentem”.
“Cherub, imperet tibi Dóminus per Adam Iotchavah”!
“Quila érrans, imperet tibi Dóminus per alas Tauri. Serpens, imperet tibi”.
“Dóminus tetrámmaton per ángelum et leónem”! “Michael, Gabriel, Raphael, Anael”!
“FLÚAT ÚDOR perspiritum ELOHIM”.
“MÁNEAT TERRA per Adam IOT-CHAVAH”.
“FIAT FIRMAMÉNTUM per IAHUVEHU-ZEBAOTH”.
“FIAT JUDÍCIUM per ígnem in virtude MICHAEL”.

“Anjo de olhos mortos, obedece, ou escorre-te com está água santa”.
“Touro alado, trabalha ou volta à terra, se não queres que te aguilhoe com esta espada”.
“Águia acorrentada, obedece a este signo, ou retira-te diante deste sopro”. “Serpente móvel, arrasta-te a meus pés ou sê atormentada pelo fogo sagrado e evapora-te com os
perfumes que queimo nele”.
“Que a água volte à água; que o fogo queime; que o ar circule; que a terra caia na terra, que a
virtude do pentagrama, que é a estrela da manhã, e em nome do tetragrama, que está escrito no
centro da cruz luminosa. Amém”.
O sinal da cruz adotado pelos cristãos não lhes pertence exclusivamente. É também cabalístico e
representa as oposições e o equilíbrio quaternário dos elementos. Vemos, pelo versículo oculto do
Pater que assinalamos no nosso Dogma, que, primitivamente, havia duas maneiras de o fazer ou, ao
menos, duas fórmulas bem diferentes para o caracterizar; uma reservada aos padres e iniciados; a
outra oferecida aos neófitos e profanos. Assim, por exemplo, o iniciado, levando a mão à sua testa,
dizia:
A ti; depois acrescentava: pertencem; e continuava, levando a mão ao peito: o reino; depois, ao
ombro esquerdo: a justiça; ao ombro direito: e a misericórdia. Depois ajuntava as duas mãos,
acrescentando: nos ciclos geradores. Tibi sunt Malchut et Geburah et Chesed per aeonas. Sinal da
cruz absoluta e magnificamente cabalístico, que as profanações do gnosticismo fizeram a Igreja
militante e oficial perder completamente.
Este sinal, feito deste modo, deve preceder e terminar a conjuração dos quatro.
Para dominar e submeter os espíritos elementais é preciso nunca se abandonar aos defeitos que os
caracterizam. Assim, nunca um espírito leviano e caprichoso governará os silfos. Nunca uma
natureza débil, fria e inconstante será senhora das ondinas; a cólera irrita aas salamandras e a
grosseria cupida faz dos que domina joguetes dos gnomos.
Porém, é preciso ser pronto e ativo como os silfos; flexível e atento às imagens como as ondinas;
enérgico e forte como as salamandras, laborioso e paciente, como os gnomos; numa palavra, é preciso vencê-los nas suas forças, sem nunca se deixar subjugar pelas suas fraquezas. Quando
estiver bem firme nesta disposição, o mundo inteiro estará a serviço do sábio operador. Ele passará
durante a tempestade, e a chuva não tocará na sua cabeça; o vento nem mesmo desarranjará uma
dobra do seu vestuário; atravessará o fogo sem ser queimado; caminhará sobre a água, e verá os
diamantes através da espessura da terra. Estas promessas, que podem parecer hiperbólicas, são-no somente na inteligência do vulgo, porque, se o sábio não faz material e exatamente as coisas que
estas palavras exprimem, fará outras muito maiores e mais admiráveis. Todavia é indubitável que
podemos, pela vontade, dirigir os elementos numa certa medida, e mudar ou fazer parar realmente
os seus efeitos.
Por que, por exemplo, se foi verificado que pessoas, no estado de êxtase, perdem momentaneamente o seu peso, não se poderia andar ou deslizar sobre a água? Os convulsionários de Saint-Medard não
sentiam nem o fogo nem o ferro, e solicitavam, como alívio, os golpes mais violentos e as torturas
mais incríveis. As estranhas ascensões e o equilíbrio prodigioso de certos sonâmbulos, não são uma
revelação destas forças ocultas da natureza? Mas vivemos num século em que ninguém tem coragem de confessar os milagres de que é testemunha, e se alguém vem dizer: “Vi ou fiz por mim
mesmo as coisas que vos conto”, dir-lhe-ão: “Quereis divertir-vos à nossa custa, ou estais doente”.
É melhor calar-se e agir.
Os metais correspondentes às quatro formas elementais são o ouro e a prata para o ar, o mercúrio
para a água, o ferro e o cobre para o fogo, e o chumbo para a terra. Compõem-se com eles talismãs
relativos às forças que representam e aos efeitos que nos propusermos obter delas.
A adivinhação pelas quatro formas elementares, que chamamos aeromancia, hidromancia, piromancia e geomancia, se faz de diversas maneiras, a quais dependem todas da vontade e do
translúcido ou da imaginação do operador.
Com efeito, os quatro elementos são simplesmente instrumentos para ajudar a segunda vista.
A segunda vista é a faculdade de ver na luz astral.
Esta segunda vista é natural como a primeira vista ou vista sensível e ordinária; porém, ela só pode
operar-se pela abstração dos sentidos. Os sonâmbulos e extáticos gozam naturalmente da segunda
vista; mas esta vista é mais lúcida quando a abstração é mais completa.
A abstração produz-se pela embriaguez astral, isto é, por uma superabundância de luz que satura
completamente e, por conseguinte, deixa inerte o instrumento nervoso.
Os temperamentos sanguíneos são mais dispostos a aeromancia, os biliosos a piromania, os
pituitosos a hidromancia, e os melancólicos a geomancia.
A aeromancia confirma-se pela oniromancia ou adivinhação por sonhos; supre-se a piromania pelo
magnetismo, a hidromancia pela cristalomancia, e a geomancia pela cartomancia. São transposições
e aperfeiçoamentos de métodos.
Mas a adivinhação, de qualquer modo que a operemos, é perigosa ou, ao menos, inútil, porque
desanima a vontade e embaraça, por conseguinte, a liberdade e fatiga o sistema nervoso.


O IMPERADOR   por Crowley
Esta carta é atribuída à letra  Tzaddi e se refere ao signo de Áries no zodíaco. Este signo é regido por Marte e aí o Sol é exaltado. Este signo é assim uma combinação de energia em sua forma mais material com a ideia de autoridade. O sinal TZ ou TS sugere isso na forma original, onomatopaica da linguagem. É derivado de raízes do sânscrito significando cabeça e idade e é encontrado hoje em palavras como Caesar, Tsar, Sirdar, Senate, Senior, Signor, Señor, Seigneur.  
A carta representa uma figura masculina coroada, de vestes e insígnias da dignidade imperial. Está sentado no trono cujos remates de coluna são as cabeças do carneiro selvagem do Himalaia, já que Áries significa carneiro. Aos seus pés, deitado com a cabeça levantada está o cordeiro com  o estandarte para confirmar essa atribuição no plano inferior, pois o carneiro, por natureza, é um animal selvagem e corajoso se solitário em sítios solitários, enquanto que quando domesticado e forçado a repousar em pastos verdes, é reduzido a um animal dócil, covarde, gregário e suculento. Esta é a teoria do governo.  
O Imperador é também uma das mais importantes cartas alquímicas, constituindo com o Atu II e III a tríade: Enxofre, Mercúrio, Sal. Seus braços e cabeça formam um triângulo ereto; abaixo, as pernas cruzadas representam a  cruz. Esta figura é o símbolo alquímico do Enxofre (ver Atu X ). O Enxofre é a energia ígnea masculina do universo, o Rajas da filosofia hindu. Esta é a energia criativa ágil, a iniciativa de todo o Ser. O poder do Imperador é uma generalização do poder paterno, daí tais símbolos como a abelha e a  flor-de-lis, exibidos nesta carta. Com referência à qualidade desse poder, é forçoso notar que ele representa atividade súbita, violenta, porém não pertinente. Se persistir tempo
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demais, queima e destrói. Trata-se de energia distinta da energia criativa de  Aleph e Beth: esta carta está abaixo do Abismo.  
O Imperador porta um cetro (encimado pela cabeça de um carneiro pelas razões já expostas) e uma esfera encimada por uma cruz de Malta, que significa que sua energia atingiu uma emissão bem sucedida, que seu governo foi estabelecido.  
Há ainda um outro símbolo importante. Seu escudo representa a águia bicéfala coroada por uma disco carmesim. Isto representa a tintura vermelha do alquimista, da natureza do ouro, como a águia branca mostrada no Atu III pertence à sua consorte, a Imperatriz, e é lunar, de prata.  
Deve-se finalmente observar que a luz branca que desce sobre ele indica a posição desta carta na Árvore da Vida. A autoridade do Imperador provém de Chokmah, a sabedoria criativa, a Palavra, e é exercida sobre Tiphareth, o homem organizado. 


quinta-feira, 19 de maio de 2016

O Tarot e as Clavículas do Rei Salomão

Eliphas Levi em seu clássico Livro Dogmas e Rituais de Alta Magia faz profundos estudos sobre a relação do alfabeto hebraico e as Sephirats nesses estudos que eleva o Oráculo do Tarot à Livro Vivo de Conhecimento Sagrado.

Vamos citar o trecho da Introdução, ao qual se refere nosso tema de estudos proposto, e, à seguir, apresentar um resumo didático desta relação.

...Que é que se passa, pois, no mundo, e por que os padres e reis tremeram? Que poder secreto ameaça as tiaras e coroas? Eis aqui alguns loucos que correm de país em país, e que escondem, dizem eles, a
pedra filosofal sob os restos da sua miséria. Podem mudar a terra em ouro e falta-lhes asilo e pão! A
sua fronte é cingida por uma auréola de glória e um reflexo de ignomínia! Um achou a ciência
universal, e não sabe como morrer para escapar às torturas do seu triunfo: é o Majorcano Raimundo
Lullo. Outro cura com remédios fantásticos as doenças imaginárias e dá adiantadamente um
desmentido formal ao provérbio que estabelece a ineficácia de um cautério numa perna de pau: é o
maravilhoso Paracelso, sempre bêbado e sempre lúcido como os heróis de Rabelais. Aqui, é Guilherme Postello, que escreveu ingenuamente aos padres do concílio de Trento, porque achou a
doutrina absoluta, escondida desde o começo do mundo, e que ele demora em fazer-lhes participar. O concílio nem mesmo se inquieta do louco, não se digna condená-lo, e passa ao exame das graves
questões da graça eficaz e da graça suficiente. Aquele que vemos morrer pobre e abandonado é Cornélio Agrippa, o menos mágico de todos, e aquele que o vulgo se obstina em tomar pelo mais
feiticeiro, porque, às vezes, era satírico e mistificador. Que segredo, pois, todos estes homens levam
ao seu túmulo? Por que os admiram, sem os conhecer? E por que são eles iniciados nessas terríveis
ciências ocultas de que a Igreja e a sociedade têm medo? Por que sabem o que os outros homens
ignoram? Por que dissimulam o que cada qual tem desejo ardente de saber? Por que estão investidos
de um terrível e desconhecido poder? As ciências ocultas! A magia! Eis aí duas palavras que vos
dizem tudo o que podem vos fazer pensar ainda mais! De omni rescibili et quibusdam aliis.
Que era, pois, a magia? Qual era, pois, o poder destes homens tão perseguidos e tão altivos? Por que, se eram tão fortes, não foram vencedores dos seus inimigos? Por que, se eram insensatos e
fracos, lhes faziam a honra de os temer tanto? Existe uma magia, existe uma ciência oculta que seja
verdadeiramente um poder e que opere prodígios capazes de fazer concorrência aos milagres das
religiões autorizadas?
A estas duas perguntas principais responderemos com uma palavra e por um livro. O livro será a
justificação da palavra, e esta palavra ei-la: sim, existiu e existe ainda uma magia poderosa e real;
sim, tudo o que as lendas disseram era verdade; somente que aqui, e ao contrário do que de ordinário acontece, as exagerações populares não só estavam afastadas, como também abaixo da
verdade.
Sim, existe um segredo formidável, cuja revelação já derrubou um mundo, como o atestam as
tradições religiosas do Egito, resumidas simbolicamente por Moisés, no começo do Gênese. Este
segredo constitui a ciência fatal do bem e do mal, e o seu resultado, quando é divulgado, é a morte.
Moisés o representa sob a figura de uma árvore que está no centro do Paraíso terrestre, e que está
perto, e até ligada pelas suas raízes à árvore da vida; os quatro rios misteriosos têm a sua fonte ao pé
desta árvore, que é guardada pela espada de fogo e pelas quatro formas da esfinge bíblica, o
Querubim de Ezequiel... Aqui devo parar; temo já ter falado demais.
Sim, existe um dogma único, universal e imperecível, forte como a razão humana, simples como
tudo o que é grande, inteligível como tudo o que é universal e absolutamente verdadeiro, e este
dogma foi o pai de todos os outros.
Sim, existe uma ciência que confere ao homem prerrogativas em aparência sobre-humanas; ei-las tal
como as acho enumeradas num manuscrito hebreu do século XVI:
"Eis aqui, agora, quais são os privilégios e poderes daquele que tem na sua mão direita as clavículas
de Salomão e na esquerda o ramo de amendoeira florida:”.

Mandam em Toda a milícia celeste.
 Beth - Está acima de todas as aflições e de todos os temores.
Ghimel - Reina com o céu inteiro e se faz servir por todo o inferno.
 Daleth - Dispõe da sua saúde e da sua vida e pode também dispor das dos outros.

Aleph - Vê Deus face a face, sem morrer, e conversa familiarmente com o sete gênios que
Hê - Não pode ser surpreendido pelo infortúnio, nem atormentado pelos desastres, nem vencido
pelos inimigos.
 Vav - Sabe a razão do passado, do presente e do futuro.
 Zain - Tem o segredo da ressurreição dos mortos e a chave da imortalidade.

São estes os sete grandes privilégios. Eis os que seguem depois:
 Cheth - Achar a pedra filosofal.
 Teth - Ter a medicina universal.
Iod - Conhecer as leis do movimento perpétuo e poder demonstrar a quadratura do círculo.
Caph - Mudar em ouro não só todos os metais, mas também a própria terra, e até as imundícies
terra.
 Lamed - Dominar os animais mais ferozes, e saber dizer palavras que adormecem e encantam
serpentes.
Mem - Possuir a arte notória que dá a ciência universal.
Nun - Falar sabiamente sobre todas as coisas, sem preparação e sem estudo.

Eis aqui, enfim, os sete menores poderes do mago:
Samech - Conhecer à primeira vista e fundo da alma dos homens e os mistérios do coração das
mulheres.
Hain - Forçar, quando lhe apraz, a natureza a manifestar-se.
Phe - Prever todos os acontecimentos futuros que não dependam em um livre-arbítrio superior ou
de uma causa incompreensível.
Tsade - Dar de momento a todos as consolações mais eficazes e os conselhos mais salutares.
Coph - Triunfar das adversidades.
Resch - Dominar o amor e o ódio.
 Schin - Ter o segredo das riquezas, serem sempre seu senhor e nunca o escravo. Saber gozar
mesmo da pobreza e jamais cair na abjeção nem na miséria.
Thau - Acrescentaremos a estes setenários, que o sábio governa os elementos, faz cessar as
tempestades, cura os doentes, tocando-os, e ressuscita os mortos!

Mas há coisas que Salomão selou com o seu tríplice selo. Os iniciados sabem, basta. Quanto aos
outros, que riam, creiam, duvidem, ameacem ou tenham medo, que importa à ciência e que nos
importa? .....



Resumo proposto aplicado ao Tarot, lembrando que a ordem apresentada dos Arcanos Maiores por Eliphas Levi insere o O Louco como penúltima Lámina, aqui está aplicada na ordem convencional.

0 O LOUCO - O COMEÇO - ÁLEF - O Espírito Divino - ainda selado
I O MAGO - BETH - O Mago do Poder
II A SACERDOTISA - GIMEL - A Sacerdotisa da Estrela de Prata
III A IMPERATRIZ - DALETH - A Filha dos Poderosos
IV O IMPERADOR - HEH - Filho da Manhã, o principal entre os poderosos
V O PAPA - VAU - O Mago da Eternidade
VI OS ENAMORADOS- ZAIN - A Voz da Crianças, os oráculos dos deuses poderosos.
VII O CARRO - A CHETH - A Criança dos Poderes da Águas, O Senhor do Triunfo da Luz
VIII A JUSTIÇA - TETH - A Filha da Espada Flamejante
IX O EREMITA - YOD - O Mago da Voz Poderosa, O Profeta do Eterno
X A RODA da FORTUNA - KAPH - O Senhor das Forças da Vida
XI A FORÇA - LAMED - A Filha dos Senhores da Verdade: quem governa o equilíbrio
XII O PENDURADO - Mem - O INVERTIDO - O Espírito das Águas Poderosas
XIII A MORTE - A TRANSMUTAÇÃO - NUN - Filho dos Grandes Transformadores - Senhor dos Portais da Morte
XIV A TEMPERANÇA - SAMEKH - Filha dos Reconciliadores - Portadora da Vida
XV O DIABO - AYIN - Senhor dos Portais da Matéria; Filho das Forças Do Tempo
XVI A TORRE - PEH - Senhor das Hostes do Poderoso
XVII A ESTRELA - TZADDI - Filha do Firmamento - Habitante Entre As Águas
XVII A LUA - QOPH - Regente do Fluxo E Refluxo - Filhos dosPoderosos
XIX EL SOL - RESH - Senhor do Mundo
XX O JULGAMENTO - SHIN - Espírito Primário
XXI O MUNDO - TAU - A Grande Noite dos Tempos



0 O Louco - O Começo - Álef
Inspirem e Sintam as propriedades do Ar
Pensem no princípio de tudo, o selo Divino no ser humano
- Invocamos o Espírito Divino - ainda selado para inspirar nossos estudos:
Vê Deus face a face, sem morrer, e conversa familiarmente com os sete gênios que mandam em Toda a milícia celeste.

I O Mago - Beth - a flecha - O Mago do Poder
O propósito da Criação: uma morada para Deus neste mundo inferior
Mercúrio - Terra
Está acima detodas as aflições e de todos os temores.

II A Sacerdotisa - Gimel - ao arco - A Sacerdotisa da Estrela de Prata
Lua - Agua
A busca de recompensa e punição no contexto do mundo físico
Reina como céu inteiro e se faz servir por todo o inferno.

III A Imperatriz - Daleth - a porta - princípio feminino - A Filha dos Poderosos
Venus - Agua
Venus se conecta a signos da Terra Touro e do Ar Libra
A anulação do "eu" que acompanha qualquer mudança básica na orientação existencial de alguém
Dispõe dasuasaúdee dasuavida epodetambémdispor das dos outros.

IV O Imperador - Heh - Aspiração - Ideias - Filho da Manhã, o principal entre os Poderosos
Áries - Fogo
A capacidade de auto-expressão através do pensamento, palavra e ação.
Não pode ser surpreendido pelo infortúnio, nem atormentado pelos desastres, nem vencido pelos inimigos.

V O Papa - Vau - União e Serviço - Unidos para Servir - O Mago da Eternidade
Touro - Fogo
O poder de conectar e correlacionar todos os elementos dentro da Criação
Sabe a razão do passado, do presente e do futuro.

VI Os Enamorados - Zain - Deus é Amor - As Crianças da Voz, os oráculos dos deuses poderosos.
Signo: Gêmeos
Elemento: Ar
 O poder de "or chozer" (luz Divina refletida rumo ao Alto pela Criação) para ascender além de seu próprio ponto de origem
Tem o segredo da ressurreição dos mortos e a chave da imortalidade.

VII O Carro - a Cheth - a ordem o controle - A Criança dos Poderes das Águas, o Senhor do Triunfo da Luz
Signo: Câncer
Elemento: Água
A dialética de "ir e vir" entre a unidade absoluta de Deus e a aparente pluralidade da Criação
Achar a pedra filosofal

VIII A Justiça - Teth - A Filha da Espada Flamejante
Signo: Libra
Elemento: Ar do Éter
A "inversão," ou ocultamento, da benevolência de Deus neste mundo
Ter a medicina universal.

IX O Eremita - Yod - O Mago da Voz Poderosa, o Profeta do Eterno
Signo: Virgem
Elemento: Terra
A concentração do infinito dentro do finito.
Conheceras leis do movimento perpétuo e poder demonstrar a quadratura do círculo.

X A Roda da Fortuna - Kaph - O Senhor das Forças da Vida
Planeta: Júpiter
Elemento: Ar da Água
A capacidade de alguém realizar seu potencial.
Mudar em ouro não so todos os metais, mas também a própria terra, e até as imundícies terra.

XI A Força - Lamed - A Filha dos Senhores da Verdade: Quem governa o equilíbrio
Signo: Leão
Elemento: Fogo
A ânsia do coração para interiorizar o conhecimento.
Dominar os animais mais ferozes, e saber dizer palavras que adormecem e encantam serpentes.

XII O Pendurado - O Invertido  Mem - O Espírito das Águas Poderosas
Elemento: Água
O brotar da sabedoria na fonte do supraconsciente.
Possuir a arte notória que dá a ciência universal.

XIII A Morte - A Transmutação - Nun - Filho dos Grandes Transformadores - Senhor dos Portais da Morte
Signo: Escorpião
Elemento: Água
A queda do altruísmo até a autoconscientização
Falar sabiamente sobre todas as coisas, sem preparação e sem estudo.

XIV A Temperança - Samekh - Filha dos Reconciliadores - Portadora da Vida
Signo: Sagitário
Elemento: Fogo
A natureza cíclica da experiência, e a equanimidade que ela traz.
Conhecer à primeira vista e fundo da alma dos homens e os mistérios do coração das mulheres

XV O Diabo - Ayin - Manifestação das Ideias - Senhor dos Portais da Matéria; Filho das Forças do Tempo
Signo: Capricórnio
Elemento: Terra do Éter
A constante vigilância de Deus sobre todo elemento da Criação
Forçar, quando lhe apraz, a natureza a manifestar-se.

XVI A Torre - Peh - Senhor das Hostes do Poderoso
Planeta: Marte
Elemento: Fogo
Comunicação oral do conhecimento.
Prever todos os acontecimentos futuros que não dependam em um livre-arbítrio superior ou de uma causa incompreensível.

XVII A Estrela - Tzaddi - Filha do Firmamento - Habitante entre as Águas
Signo: Aquário
Elemento: Ar
A fé dos justos
Dar de momentoa todos as consolações mais eficazes e os conselhos mais salutares.

XVIII A Lua - Qoph - Regente do Fluxo e Refluxo - Filhos dos Poderosos
Signo: Peixes
Elemento: Água
O paradoxo da santidade: a expropriação da força de vida Divina transcendente pelo reino material.
Triunfar das adversidades.

XIX El Sol - Resh - Senhor do Mundo
Planeta: Sol
Elemento: Fogo
A capacidade de iniciar o processo de aperfeiçoar a Criação.
Dominar o amor e o ódio.

XX O Julgamento - Shin - Espírito Primário
Elemento: Fogo
O mistério de como a inconstância de todas as coisas emana de uma Fonte eterna e invariável
Ter o segredo das riquezas, serem sempre seu senhor e nunca o escravo. Saber gozar mesmo da pobreza e jamais cair na abjeção nem na miséria

XXI O Mundo - Tau - A Grande Noite dos Tempos
Planeta: Saturno
Elemento: Éter
A impressão de que a fé na onipresença de Deus faz sobre experiência da realidade no supraconsciente da pessoa.
Acrescentaremos a estes setenários, que o sábio governa os elementos, faz cessar as tempestades, cura os doentes, tocando-os, e ressuscita os mortos!

etérico - se refere além do ar tudo que é volátil e se dissolve

éter - Fluido sutil, segundo os antigos, preenche os espaços situados além da atmosfera terrestre.
Fluido hipotético, imponderável, elástico, que se considerava como o agente de transmissão da luz e da eletricidade.


terça-feira, 17 de maio de 2016

A IMPERATRIZ ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY

A IMPERATRIZ abordada como Dogma por Eliphas Levi
O Triangulo de Salomão
PLENITUDO VOCIS – BINAH - PHYSIS
O verbo perfeito é o ternário, porque supõe um princípio inteligente, um princípio que fala e um princípio falado.
O absoluto, que se revela pela palavra, dá a esta palavra um sentido igual a si mesmo, e cria um terceiro sentido na inteligência desta palavra.
É assim que o sol se manifesta pela sua luz e prova esta manifestação ou a torna eficaz pelo seu calor.
O ternário está traçado no espaço pela ponta culminante do céu., o infinito em altura, que se une por outras linhas retas e divergentes ao oriente e ao ocidente.
Mas a esse triângulo visível, a razão compara um outro triângulo invisível, que ela afirma ser igual ao primeiro: é o que tem por cimo a profundeza e cuja base virada é paralela à linha horizontal que
vai do oriente ao ocidente.
Estes dois triângulos, reunidos numa só figura, que é a de uma estrela de seis raios, formam o signo
sagrado do selo de Salomão, a estrela brilhante do macrocosmo.

A idéia do infinito e do absoluto é expressa por este signo, que é o pantáculo, isto é, o mais simples
e o mais completo resumo da ciência de todas as coisas.A própria gramática atribui três pessoas ao verbo. A primeira é a que fala, a segunda é aquela a quem se fala, a terceira é aquela de quem se fala.
O princípio infinito, ao criar, fala de si mesmo a si mesmo.
Eis a explicação do ternário e a origem do dogma da Trindade.
O dogma mágico também é um em três e três em um.
O que está em cima assemelha-se ou é igual ao que está em baixo.
Assim, duas coisas que se assemelham e o verbo que exprime a sua semelhança, fazem três.
O ternário é o dogma universal.
Em magia, princípio, realização, adaptação; em alquimia, azoth, incorporação, transmutação; em
teologia, Deus, encarnação, redenção; na alma humana, pensamento, amor e ação; na família, pai, mãe e filho. O ternário é o fim e a expressão e suprema do amor: dois se procuram só para ficarem
três.
Há três mundos inteligíveis, que correspondem uns aos outros pela analogia hierárquica: - o mundo
natural ou físico, o mundo espiritual ou metafísico, e o mundo divino ou religioso.
Deste princípio, resulta a hierarquia dos espíritos, divididos em três ordens e subdivididos nestas
três ordens, sempre pelo ternário.
Todas estas revelações são deduções lógicas das primeiras noções matemáticas do ente e do
número.
A unidade, para tornar-se ativa, deve multiplicar-se. Um princípio indivisível, imóvel e infecundo,
seria a unidade morta e incompreensível.
Se Deus só fosse um, nunca seria criador nem pai. Se fosse dois, haveria antagonismo ou divisão no infinito, e seria a partilha ou morte de todas as coisas possíveis; é, pois, três, para criar de si mesmo
e à sua imagem a multidão infinita dos entes e números.
Assim, ele é realmente único em si mesmo e tríplice na nossa concepção, o que no-lo faz ver também tríplice em si mesmo e único na nossa inteligência e no nosso amor.
Isto é um mistério para o crente e uma necessidade lógica para o iniciado nas ciências absolutas e
reais.
O Verbo manifestado pela vida é a realização ou a encarnação.
A vida do Verbo, realizando seu movimento cíclico, é a adaptação ou a redenção. Este tríplice
dogma foi conhecido em todos os santuários esclarecidos pela tradição dos sábios. Quereis vós
saber qual é a verdadeira religião? Procurai aquela que realiza mais na ordem divina; a que
humaniza Deus e diviniza o homem; a que conserva intacto o dogma do ternário, que encarna o
Verbo, fazendo ver e tocar Deus aos mais ignorantes: enfim, aquela cuja doutrina convém a todos e
pode adaptar-se a tudo; a religião que é hierarquia e cíclica, que tem, para as crianças, alegorias e
imagens; para os homens feitos, uma alta filosofia; sublimes esperanças e doces consolações, para
os velhos.
Os primeiros sábios que procuravam a causa das causas viram o bem e o mal no mundo;
observaram a sombra e a luz; compararam o inverno à primavera, a velhice à juventude, a vida à
morte, e disseram: - A causa primeira é benfeitora e rigorosa, ela vivifica e destrói.
- Há, pois, dois princípios contrários, um bom e um mau? – gritaram os discípulos de Manés.
- Não, os dois princípios do equilíbrio universal não são contrários, se bem que, em aparência, sejam opostos: porque é uma sabedoria única que opõe um ao outro.
O bem está à direita e o mal à esquerda; mas a bondade suprema está acima dos dois, e ela faz servir
o mal ao triunfo do bem, e o bem à reparação do mal.
O princípio de harmonia está na unidade, e é o que dá, em magia, tanto poder ao número impar:
Mas o mais perfeito dos números ímpares é três, porque é a trilogia da unidade.
No trigramas de Fo-Hi, o ternário superior de compõe de três yang ou figuras masculinas, porque, na idéia de Deus, considerado como princípio de fecundidade nos três mundos, não se poderia
admitir nada de passivo.
É também por isso que a trindade cristã não admite a personificação da mãe, que é implicitamente
enunciada na do filho. É também por isso que é contrário às leis da simbologia hierática e ortodoxa
personificar o Espírito Santo sob a figura de uma mulher.
A mulher sai do homem, como a natureza sai de Deus: por isso, o Cristo se eleva a si próprio ao céu
e assume a Virgem Mãe; dizemos a ascensão do Salvador e a assunção da mãe de Deus.
Deus, considerado como Pai, tem a natureza por filha.
Como Filho, tem a Virgem por mãe e a Igreja por esposa.
Como Espírito Santo, ele regenera e fecunda a humanidade.
É assim que, nos trigramas de Fo-Hi, aos três yang superiores correspondem os três yin inferiores,
porque os trigramas de Fo-Hi são um pantáculo semelhante aos dois triângulos de Salomão, mas
como uma interpretação ternária dos seis pontos da estrela flamejante:
O dogma é tanto mais divino quanto mais verdadeiramente for humano, isto é, quanto resumir a mais alta razão da humanidade; por isso, o Mestre que chamamos o Homem-Deus se chamava a si
mesmo o Filho do homem.
A revelação é a expressão da crença admitida e formulada pela razão universal no verbo humano.
É por isso que se diz que, no Homem-Deus, a divindade é humana e a humanidade é divina.
Dizemos tudo isto filosoficamente e não teologicamente; e isto de modo algum toca no ensino da
Igreja, que condena e sempre deve condenar a magia.
Paracelso e Agrippa não elevaram altar contra altar e se submeteram à religião dominante no seu
tempo. Aos eleitos da ciência, as coisas da ciência, aos fiéis, as coisas da fé.
O imperador Juliano, no seu hino ao rei Sol, dá uma teoria do ternário, que é quase identicamente a
mesma que a do ilustre Swedenborg.
O sol do mundo divino é a luz infinita, espiritual e incriada; esta luz de verbaliza, se é permitido
falar assim, no mundo filosófico, e torna-se o foco das almas e da verdade; depois, ela se incorpora
e fica luz visível no sol do terceiro mundo, sol central dos nossos sóis, e do qual as estrelas fixas são
as faíscas sempre vivas.
Os cabalistas comparam o espírito a uma substância que fica fluida no meio divino e sob a
influência da luz essencial, mas cujo exterior se endurece como a cera exposta ao ar, nas regiões
mais frias do raciocínio ou das formas visíveis. Essas cascas ou envoltórios petrificados (diríamos
melhor, carnificados, se o termo fosse francês) são a causa do erro e do mal, que provêm do peso e
da dureza dos envoltórios anímicos. No livro de Zohar e no da revolução das almas, os espíritos
perversos, ou maus demônios, não são denominados de outro modo senão de cascas, cortices.
As cascas do mundo dos espíritos são transparentes, as do mundo material são opacas; os corpos são mais do que só cascas temporárias e de que as almas devem ser liberadas; mas os que nesta vida obedecem ao corpo, fazem para si um corpo interior ou uma casca fluídica, que fica sendo a sua
prisão e o seu suplício depois da morte, e até o momento em que chega a fundi-la no calor da luz
divina, aonde o seu peso lhe impede de subir; eles chegam aí só com esforços infinitos e o auxílio
dos justos que lhes dão a mão, e durante todo esse tempo são devorados pela atividade interior do espírito cativo, como que numa fornalha ardente. Os que chegam à fogueira da expiação aí se queimam como Hércules no monte Eta e se libertam, assim, do seu incômodo; mas a maioria tem
falta de coragem diante desta última prova, que lhe parece uma segunda morte, mais horrível do que
a primeira, e ficam assim, no inferno, que é eterno de direito e de fato, mas no qual as almas nunca
são precipitadas nem retidas contra sua vontade.
Os três mundos se correspondem mutuamente pelos trinta e dois caminhos de luz, que são os
degraus da escada santa; todo pensamento verdadeiro corresponde a uma graça divina no céu, e a
uma obra útil na terra. Toda graça de Deus suscita uma verdade e produz um ou vários atos, e
reciprocamente todo ato move nos céus uma verdade ou uma mentira, uma graça ou um castigo.
Quando um homem pronuncia o tetragrama, escrevem os cabalistas, os nove céus recebem um
abalo, e todos os espíritos gritam uns aos outros: “Quem, pois, perturba assim o reino do céu?"
Então, a terra revela ao primeiro céu os pecados do temerário que toma em vão o nome do eterno, e
o verbo acusador é transmitido de círculo em círculo, de estrela em estrela, de hierarquia em
hierarquia.
Toda palavra tem três sentidos, toda ação um tríplice valor, toda forma uma tríplice idéia, porque o
absoluto corresponde, de mundo em mundo, com suas formas. Toda determinação da vontade humana modifica a natureza, interessa a filosofia e se escreve no céu. Há, pois, duas fatalidades,
uma que resulta da vontade do incriado e de acordo com a sua sabedoria, e outra que resulta das
vontades criadas e de acordo com a necessidade das causas segundas, nas suas relações com a causa
primeira.

Nada, pois é indiferente na vida e as nossas determinações, aparentemente mais simples, provocam
muitas vezes uma série incalculável de bens ou de males, principalmente nas relações do nosso
diáfano com o grande agente mágico, como explicaremos alhures.
O ternário, sendo o princípio fundamental de toda a Cabala ou tradição sagrada de nossos
antepassados, teve de ser o dogma fundamental do cristianismo, de que explica o dualismo aparente pela intervenção de uma harmoniosa e onipotente unidade. O Cristo não escreveu o seu dogma, e só
o revelou em segredo ao seu discípulo favorito, único cabalista, e grande cabalista entre os
apóstolos. Por isso, o Apocalipse é o livro da gnose ou doutrina secreta dos primeiros cristãos,
doutrina cuja chave é indicada por um versículo secreto do Pater, que a Vulgata não traduz, e que
no rito grego (conservador das tradições de São João) só é permitido aos padres pronunciar. Este versículo, perfeitamente cabalístico, se acha no texto grego do evangelho conforme São Mateus e
em vários exemplares hebraicos. Ei-lo nestas duas línguas sagradas:
ןער וייד אּןי איר תבוּלמ ןוּא איר הבוּבג
ןוּא איר עה רטײקבילףױא גיבּײא ןמא
Διότι σου ειναι ή βασιλεία χαι ήδύναμις χαι ή δὸξα, εὶς
τοὺς αὶωνας. Άμήν.
A palavra sagrada Malkuthh, substituída por Kether, que é seu correspondente cabalístico, e a
balança de Geburah e Chesed, repetindo-se nos círculos ou céus que os gnósticos chamavam Eones,
dão, nesse versículo oculto, a chave de arco de todo o templo cristão. Os protestantes traduziram-no
e o conservaram no seu Novo Testamento, sem achar a sua alta e maravilhosa significação, que lhes
teria desvendado todos os mistérios do Apocalipse; mas é uma tradição na Igreja que a revelação
destes mistérios está reservada para últimos tempos.
Malkuthh, apoiado em Geburah e Chesed, é o templo de Salomão, tendo por colunas Jakin e Boaz.
É o dogma de adâmico, apoiado, de um lado, sobre a resignação de Abel, e, de outro, sobre o
trabalho e os remorsos de Caim; é o equilíbrio universal do ser, baseado sobre a demonstração da
alavanca universal, procurada inutilmente por Arquimedes. Um sábio que empregou todo o seu
talento para fazer-se obscuro e que morreu sem ter querido fazer-se compreender, tinha resolvido
esta suprema equação, achada por ele na Cabala, e temia antes de tudo que, exprimindo-se mais
claramente, pudessem saber a origem das suas descobertas. Ouvimos um dos seus discípulos e
admiradores indignar-se, talvez de boa fé, ouvindo chamá-lo de cabalista, e, entretanto, devemos
dizer, para a glória deste sábio, que as suas investigações abreviaram consideravelmente o nosso
trabalho sobre as ciências ocultas, e que a chave da alta Cabala, que acabamos de criar, foi
doutamente aplicada a uma reforma absoluta de todas as ciências nos livros de Hoené Wronski.
A virtude secreta dos Evangelhos está, pois, contida em três palavras e essas três palavras fundaram
três dogmas e três hierarquias. Toda ciência repousa sobre três princípios, como o silogismo sobre
três termos. Há também três classes distintas ou três classes originais e naturais entre homens, que
são todos chamados a subir da mais inferior à mais elevada. Os hebreus chamam estas séries ou
graus do progresso dos espíritos, Asiah, Jezirah e Briah. Os gnósticos, que eram os cabalistas
cristãos, chamavam-nas Hylé, Psiquê e Gnosis; o círculo supremo chamava-se, entre os hebreus,
Aziluth, e entre os gnósticos, Pleroma.
No tetragrama, o ternário, tomado no começo da palavra, exprime a copulação divina; tomado no
fim, exprime o feminino e a maternidade. Eva tem um nome de três letras, mas o Adão primitivo é
expresso pela única letra Jod, de modo que Jeová devia ser pronunciado Iéva. Isto nos leva ao
grande e supremo mistério da magia, expresso pelo quaternário.


A IMPERATRIZ abordada como Ritual por Eliphas Levi

CAPÍTULO III
O TRIÂNGULO DE PANTÁCULOS
O abade Trithemo, que foi, em magia, o mestre de Cornélio Agrippa, explica, na sua Estenografia, o segredo das conjurações e evocações de um modo muito filosófico e muito natural, mas, talvez por isso mesmo, muito simples e muito fácil.
Evocar um espírito, diz ele, é entrar no pensamento dominante desse espírito e, se nos elevarmos moralmente mais alto na mesma linha, arrastaremos esse espírito conosco e ele nos servirá; de outromodo, ele nos arrastará no seu círculo e nós o serviremos.
Conjurar é opor a um espírito isolado a resistência de uma corrente e de uma cadeia: cum jurare, jurar mutuamente, isto é, fazer ato de uma fé comum. Quanto mais esta fé tem entusiasmo e força, tanto mais a conjuração é eficaz. É por isso que o cristianismo nascente fazia calarem-se os oráculos: só ele possuía, então, a inspiração e a força. Mais tarde, quando São Pedro envelheceu, isto é, quando o mundo acreditou ter acusações legítimas a fazer ao papado, o espírito de profecia veio substituir os oráculos; e os Savanarola, Joaquim de Flora, os João Huss e tantos outros agitaram por sua vez os espíritos e traduziram em lamentos e ameaças as inquietações e revoltas secretas de todos os corações.
Podemos, pois, estar sós para evocar um espírito, mas para o conjurar é preciso falar em nome de
um círculo ou de uma associação; e é o que representa o círculo hieroglífico traçado ao redor do
mago, durante a operando, e do qual não deve sair, se não quiser perder, no mesmo instante, todo o
seu poder.
Examinemos claramente, aqui, a questão principal, a questão importante: são possíveis a evocação
real e a conjuração de um espírito, e esta possibilidade pode ser cientificamente demonstrada? À
primeira parte da questão pode-se responder, primeiramente, que todas as coisas cuja impossibilidade não é evidente podem e devem ser admitidas, provisoriamente, como possíveis. À
segunda parte, dizemos que, em virtude do grande dogma mágico da hierarquia e da analogia
universal, podemos demonstrar, cabalisticamente, a possibilidade das evocações reais; quanto à
realidade fenomenal do resultado das operações mágicas conscienciosamente realizadas, é uma
questão de experiência, e, como já dissemos, verificamos por nós mesmos esta realidade, e
poremos, por este Ritual, os nossos leitores em condições de renovar e confirmar as nossas
experiências.
Nada perece na natureza e tudo o que viveu continua a viver sempre sob formas novas; mas até as
formas anteriores não são destruídas, porque as achamos na nossa memória. Não vemos, em
imaginação, a criança que conhecemos e que agora é um velho? Até os traços que acreditamos
apagados na nossa lembrança não o estão realmente, porque uma circunstância fortuita os evoca e nô-los faz lembrar. Mas, como os vemos? Já dissemos que é na luz astral, que os transmite ao nosso
cérebro pelo mecanismo do aparelho nervoso.
De outro lado, todas as formas são proporcionais e analógicas à ideia que as determinou; são o
caráter natural, a assinatura desta ideia, como dizem os magistas, e desde que evocamos ativamente a idéia, a forma se realiza e se produz.
Schroepffer, o famoso iluminado de Leipzig, tinha lançado, pelas suas evocações, o terror em toda a
Alemanha, e a sua ousadia nas operações mágicas fora tão grande, que a sua reputação se lhe tornou
um fardo insuportável; depois deixou-se arrastar pela imensa corrente de alucinações que deixara
formar-se; as visões do outro mundo o desgostaram deste mundo, e ele suicidou-se.
Esta história deve deixar circunspetos os curiosos de magia cerimonial. Não violentamos
impunemente a natureza, e não jogamos sem perigo com forças desconhecidas e incalculáveis.
É por esta consideração que nós nos recusamos, e que nos recusaremos sempre, à vã curiosidade dos
que querem ver para crer; e responder-lhes-emos o que dizíamos a um personagem eminente da
Inglaterra, que nos ameaçava com a sua incredulidade: “Tendes perfeitamente o direito de não crer;
da nossa parte, não ficaremos, por isso, mais desanimados nem menos convencidos”.
Aos que viessem dizer-nos que realizaram, escrupulosamente e corajosamente, todos os ritos e que nada se produziu, diremos que farão bem de ficar nisso, e que é, talvez uma advertência da natureza que recusa para eles estas obras excêntricas, mas também que, se persistirem na sua curiosidade, só
tem de recomeçar.
O ternário, sendo a base do dogma mágico, deve necessariamente ser observado nas evocações; por
isso, é o número simbólico da realização e do efeito. A letra c é ordinariamente traçada nos
pantáculos cabalísticos que têm por objeto a realização de um desejo. Esta letra é também a marca do bode emissário na Cabala mística, e Saint-Martin observa que esta letra, intercalada no incomunicável tetragrama, fez dele o nome do Redentor dos homens: hw c h y.
É que os mistagogos da Idade Média representaram, quando, nas suas assembléias noturnas,
exibiam um bode simbólico, trazendo na cabeça, entre os dois chifres, um facho aceso. Este animal
monstruoso, cujas formas alegóricas e culto bizarro descreveremos no décimo quinto capítulo deste
Ritual, representava a natureza votada ao anátema, mas resgatada pelo sinal da cruz. Os ágapes gnósticos e as priapéias pagãs que se faziam em sua honra revelavam bastante as conseqüências
morais que os adeptos queriam tirar desta exibição. Tudo isso será explicado com os ritos, proibidos
e considerados, agora, como fabulosos, do grande Sabbat da magia negra.
No grande círculo das evocações, ordinariamente é traçado um triângulo, e é preciso observar bem
de que lado deve ser posto o seu cimo.. Supõe-se que o espírito vem do céu, o operador deve ficar
no cimo e colocar o altar das fumigações na base; deve-se subir do abismo, o operador ficará na
base e o fogareiro será colocado no cimo. Além disso, é preciso ter na fronte, no peito e na mão
direita o símbolo sagrado dos dois triângulos reunidos, formando a estrela de seus raios, cuja figura
reproduzimos, e que é conhecida, em magia, sob o nome de pantáculo ou selo de Salomão.
Independentemente destes signos, os antigos faziam uso, nas suas evocações, das combinações
místicas dos nomes divino que demos no dogma conforme os cabalistas hebreus. O triângulo
mágico dos teósofos pagãos é o célebre ABRACADABRA, ao qual atribuíam virtudes
extraordinárias, e que figuravam assim:
ABRACADABRA
ABRACADABR
ABRACADAB
ABRACADA
ABRACAD
ABRACA
ABRAC
ABRA
ABR
AB
A
Esta combinação de letras é uma chave do pentagrama. O A que começa é repetido cinco vezes e
reproduzido trinta vezes, o que dá os elementos e números destas duas figuras:
O A isolado representa a unidade do primeiro princípio ou do agente intelectual ou ativo. O O A
unido ao B representa a fecundação do binário pela unidade. O R é o sinal do ternário, porque
representa hieroglificamente a efusão que resulta da união dos dois princípios. O número 11 das
letras da palavra ajunta a unidade do iniciado ao denário de Pitágoras; e o número 66, total de todas
as letras adicionadas, forma cabalisticamente o número 12, que é o quadrado do ternário e, por
conseguinte, a quadratura mística do círculo. Notemos, de passagem, que o autor do Apocalipse,
esta clavícula da Cabala cristã, compôs o número da besta, isto é, a idolatria, acrescentando um 6 ao
duplo senário do Abracadabra: o que dá cabalisticamente 18, número assinado no Tarô como signo
hieroglífico da noite e dos profanos, a lua com as torres, o cão, o lobo e o caranguejo; número
misterioso e obscuro, cuja chave cabalística é o 9, o número da iniciação.
O cabalista sagrado diz expressamente a este respeito: “Que aquele que tem a inteligência (isto é, a
chave dos números cabalísticos) calcule o número da besta, porque é o número do homem, e este
número é 666”. É, com efeito, a década de Pitágoras multiplicada por si mesma e ajuntada à soma
do Pantáculo triangular de Abracadabra; é, pois, o resumo de toda a magia do mundo antigo, o
programa inteiro do gênio humano, que o gênio divino do Evangelho queria absorver ou suplantar.
Estas combinações hieroglíficas de letras e números pertencem à parte prática da Cabala, que, sob
este ponto de vista, se subdivide em gematria e temurah. Estes cálculos, que agora nos parecem
arbitrários ou sem interesse, pertenciam, então, ao simbolismo filosófico do Oriente e tinham a
maior importância no ensino das coisas sagradas emanadas das ciências ocultas. O alfabeto
cabalístico absoluto, que unia as ideias primárias às alegorias, as alegorias às letras e as letras aos números, era o que se chamava, então, as chaves de Salomão. Já vimos que estas chaves,
conservadas até nossos dias, mas completamente desconhecidas, outra coisa não são que o jogo do
Tarô, cujas alegorias antigas foram notadas e apreciadas pela primeira vez, nos tempos atuais, pelo
sábio arqueólogo Court de Gebelin.
O duplo triângulo de Salomão é explicado por São João de um modo notável. Há, diz ele, três
testemunhos no céu: o Pai, o Logos e o Espírito Santo, e três testemunhos na terra: o enxofre, a água
e o sangue. São João está, assim, de acordo com os mestres da filosofia hermética, que dão ao seu
enxofre o nome de éter, ao seu mercúrio o nome de água filosófica, e ao seu sal a qualificação de
sangue do dragão ou mênstruo da terra: o sangue ou o sal corresponde por oposição ao Pai, a água
azótica ou mercúrio ao Verbo ou Logos, e o enxofre ao Espírito Santo. Mas as coisas de alto
simbolismo só podem ser bem entendidas pelos verdadeiros filhos da ciência.
As combinações triangulares uniam-se, nas cerimônias mágicas, às repetições dos nomes por três
vezes, e com entonações diferentes.
A baqueta mágica era, muitas vezes, remontada por uma forquilha imantada, que Paracelso
substituía por um tridente, cuja figura damos abaixo.
O tridente de Paracelso é um pantáculo que exprime o resumo do ternário na unidade, que completa,
assim, o quaternário sagrado. Ele atribuía a esta figura todas as virtudes que os cabalistas hebreus
atribuem ao nome de Jeová, e as propriedades taumatúrgicas do Abracadabra dos hierofantes de
Alexandria. Reconheçamos, aqui, que é um pantáculo e, por conseguinte, um signo concreto e
absoluto de uma doutrina inteira que foi a de um círculo magnético imenso, tanto para os filósofos
antigos como para os adeptos da Idade Média. Dando-lhes, moderadamente, o seu valor primitivo
pela inteligência dos seus mistérios, não poderíamos restituir-lhe toda a sua virtude milagrosa e todo
o seu poder contra as doenças humanas?
As antigas feiticeiras, quando passavam, à noite, por uma encruzilhada de três caminhos, uivavam
três vezes, em honra à tríplice Hécate.
Todas estas figuras, todos estes atos análogos às figuras, todas estas disposições de números e
caracteres nada mais são, como já dissemos, senão instrumentos de educação para a vontade, cujos
hábitos fixam e determinam. Servem também para reunir conjuntamente, na ação, todas as forças da alma humana, e para aumentar a força criadora da imaginação. È a ginástica do pensamento que se
exercita na realização: por isso, o efeito destas práticas é infalível como a natureza, quando são
feitas com uma confiança absoluta e uma perseverança inabalável.
Com a fé, dizia o grande Mestre, transportar-se-iam árvores ao mar e se deslocariam montanhas.
Uma prática, mesmo insensata, mesmo supersticiosa, é eficaz, porque é uma realização da vontade. É por isso que uma oração é mais poderosa, se formos fazê-la na igreja, do que se a fizéssemos em
nossa casa, e que ela alcançará milagres se, para fazê-la num santuário milagroso, isto é,
magnetizado em grande corrente pela afluência dos visitantes, fizermos cem ou duzentas léguas,
pedindo esmolas com os pés descalços.
Riem-se da mulher pobre que se priva de alguns centavos de leite, de manhã, e que vai levar os
triângulos mágicos das capelas uma pequena vela, que deixa acesa. São os ignorantes que riem, e a
mulher pobre não paga muito caro o que compra, assim, de resignação e coragem. Os abastados
mostram bastante altivez para passar levantando os ombros; eles se insurgem contra as superstições com um barulho que faz estremecer o mundo; e que resulta disso? As casas dos abastados se
desmoronam, e os restos delas são vendidos aos fornecedores e compradores de quinquilharias, que
deixam gritar de boa vontade, em toda parte, que o seu reino acabou para sempre, contanto que
governem sempre.
As grandes religiões só tiveram a temer uma rival séria, e esta rival é a magia.
A magia produziu as associações ocultas, que trouxeram a revolução chamada Renascença; mas
aconteceu ao espírito humano, cego pelos loucos amores, realizar em todos os pontos a história alegórica do Hércules hebreu: desmoronando as colunas do tempo, sepultou-se a si mesmo debaixo
das ruínas.
As sociedades maçônicas não conhecem, agora, a alta razão dos seus símbolos mais do que os
rabinos compreendem o Sepher Yetzirah e o Zohar na escala ascendente dos três graus, com a
progressão transversal da direita para a esquerda e da esquerda para a direita do setenário
cabalístico.

O compasso do G.´.A.´. e o esquadro de Salomão vieram a ser o nível grosseiro e material do
jacobismo ininteligente, representado por um triângulo de aço: eis para o céu e para a terra.
Os adeptos profanadores, aos quais o iluminado Cazotte tinha predito uma sangrenta morte,
ultrapassaram, atualmente, o pecado de Adão: depois de ter colhido temerariamente os frutos da
árvore da ciência, de que não souberam alimentar-se, lançaram-nos aos animais e répteis da terra. Por isso, o reino da superstição começou e deve durar até o tempo em que a verdadeira religião se
reconstituir nas bases eternas da hierarquia de três graus e do tríplice poder que o ternário exerce
fatal ou providencialmente nos três mundos.

III.  A IMPERATRIZ   por Crowley
Esta carta é atribuída à letra Daleth, que significa porta e se refere ao planeta Vênus. A carta é, a julgar pela aparência, o complemento de O Imperador, mas suas atribuições são muito mais universais. 

Na Árvore da Vida, Daleth é o caminho que conduz de Chokmah a Binah, unindo o Pai à Mãe. Daleth é um dos três caminhos que estão completamente acima do Abismo. Há, ademais, o símbolo alquímico de Vênus, o único dos símbolos planetários que abrange todas as Sephiroth da Árvore da Vida. A doutrina implícita é que a fórmula fundamental do universo é o Amor ( o círculo toca as Sephiroth 1, 2, 4, 6, 5, 3; a cruz é formada por 6, 9, 10  e  7, 8).  
É impossível resumir os significados do símbolo da mulher por esta razão mesma, a saber, ela continuamente reaparece sob forma infinitamente variada. “A de muitos tronos, muitas disposições, muitas manhas, filha de Zeus.” 
Nesta carta, ela é mostrada em sua manifestação mais geral. Combina as qualidades espirituais mais elevadas com as materiais mais baixas. Por esta razão, ela está apta a representar uma das três formas alquímicas da energia, o Sal. O Sal é o princípio inativo da natureza, é matéria que precisa ser energizada pelo Enxofre para preservar o equilíbrio rotativo do universo. Os braços e o tronco da figura, por conseguinte, sugerem a forma do símbolo alquímico do Sal. Ela representa uma mulher com coroa e trajes imperiais sentada a um trono, cujas colunas de apoio sugerem chamas azuis torcidas, simbolizadoras de seu nascimento da água, o feminino, elemento fluido. Em sua mão direita ela segura o lótus de Ísis, o lótus representando o feminino ou  poder passivo; suas raízes estão na terra sob a água, ou na própria água, mas ele abre suas pétalas para o Sol cuja imagem é o bojo do cálice. É, portanto, uma forma viva do Cálice Sagrado (O Santo Graal) santificada pelo sangue do Sol. Empoleirados nas colunas de apoio em forma de chama de seu trono estão duas de suas aves mais sagradas, o pardal e a pomba. O ponto essencial deste simbolismo precisa ser buscado nos poemas de Catulo e Marcial. Há abelhas sobre seu manto e também dominós, circundados por linhas espirais contínuas. A significação é similar em  toda  parte.  
Em torno dela, como um cinto, se acha o zodíaco.  
Sob o trono há um piso coberto de tapeçaria bordada com flores-de-lis e peixes, os quais parecem estar adorando a rosa secreta, que é mostrada à base do trono. A significação destes símbolos já foi explicada. Nesta carta todos os símbolos são cognatos devido à simplicidade e pureza do emblema. Não há aqui nenhuma contradição; a oposição que parece existir é apenas a oposição necessária ao equilíbrio, o que é indicado pelas luas giratórias.  
A heráldica da Imperatriz é dupla: de um lado o pelicano da tradição alimentando seus filhotes do sangue de seu próprio coração, do outro, a águia branca do alquimista. 
Com referência ao pelicano, seu simbolismo total só estava disponível para iniciados do quinto grau da  O. T. O.. Em termos gerais, pode-se sugerir o significado identificando-se o próprio pelicano fêmea com a Grande Mãe e sua  prole, com a Filha na fórmula do Tetragrammaton. É porque a filha  é  a filha de sua mãe que ela pode ser guindada ao seu trono. Em outras palavras, há uma continuidade da vida, uma herança de sangue, que junta todas as formas da  natureza. Não há ruptura entre luz e trevas. Natura non facit saltum.* Se estas considerações fossem inteiramente entendidas, possibilitaria a reconciliação da  teoria quântica com as equações eletromagnéticas.  
* Em latim no original, A natureza não dá saltos (NT).  
A águia branca neste trunfo corresponde à águia vermelha da carta-consorte, O Imperador. Aqui é preciso trabalhar em sentido inverso, pois nestas cartas mais elevadas se acham os símbolos da perfeição; tanto a perfeição inicial da natureza quanto a perfeição final da arte; não apenas Ísis, mas também  Néftis. Consequentemente, as minúcias do trabalho pertencem a cartas subseqüentes, especialmente Atu VI  e Atu XIV.  
Ao fundo da carta está o arco ou porta, que é a interpretação da letra  Daleth. Esta carta, em síntese, pode ser denominada  Porta do Céu. Contudo, devido à  beleza do símbolo, devido à sua apresentação omniforme, o estudante que está deslumbrado por qualquer dada manifestação pode extraviar-se. Em  nenhuma outra carta é tão necessário desconsiderar as partes para se concentrar no todo.