quinta-feira, 19 de maio de 2016

O Tarot e as Clavículas do Rei Salomão

Eliphas Levi em seu clássico Livro Dogmas e Rituais de Alta Magia faz profundos estudos sobre a relação do alfabeto hebraico e as Sephirats nesses estudos que eleva o Oráculo do Tarot à Livro Vivo de Conhecimento Sagrado.

Vamos citar o trecho da Introdução, ao qual se refere nosso tema de estudos proposto, e, à seguir, apresentar um resumo didático desta relação.

...Que é que se passa, pois, no mundo, e por que os padres e reis tremeram? Que poder secreto ameaça as tiaras e coroas? Eis aqui alguns loucos que correm de país em país, e que escondem, dizem eles, a
pedra filosofal sob os restos da sua miséria. Podem mudar a terra em ouro e falta-lhes asilo e pão! A
sua fronte é cingida por uma auréola de glória e um reflexo de ignomínia! Um achou a ciência
universal, e não sabe como morrer para escapar às torturas do seu triunfo: é o Majorcano Raimundo
Lullo. Outro cura com remédios fantásticos as doenças imaginárias e dá adiantadamente um
desmentido formal ao provérbio que estabelece a ineficácia de um cautério numa perna de pau: é o
maravilhoso Paracelso, sempre bêbado e sempre lúcido como os heróis de Rabelais. Aqui, é Guilherme Postello, que escreveu ingenuamente aos padres do concílio de Trento, porque achou a
doutrina absoluta, escondida desde o começo do mundo, e que ele demora em fazer-lhes participar. O concílio nem mesmo se inquieta do louco, não se digna condená-lo, e passa ao exame das graves
questões da graça eficaz e da graça suficiente. Aquele que vemos morrer pobre e abandonado é Cornélio Agrippa, o menos mágico de todos, e aquele que o vulgo se obstina em tomar pelo mais
feiticeiro, porque, às vezes, era satírico e mistificador. Que segredo, pois, todos estes homens levam
ao seu túmulo? Por que os admiram, sem os conhecer? E por que são eles iniciados nessas terríveis
ciências ocultas de que a Igreja e a sociedade têm medo? Por que sabem o que os outros homens
ignoram? Por que dissimulam o que cada qual tem desejo ardente de saber? Por que estão investidos
de um terrível e desconhecido poder? As ciências ocultas! A magia! Eis aí duas palavras que vos
dizem tudo o que podem vos fazer pensar ainda mais! De omni rescibili et quibusdam aliis.
Que era, pois, a magia? Qual era, pois, o poder destes homens tão perseguidos e tão altivos? Por que, se eram tão fortes, não foram vencedores dos seus inimigos? Por que, se eram insensatos e
fracos, lhes faziam a honra de os temer tanto? Existe uma magia, existe uma ciência oculta que seja
verdadeiramente um poder e que opere prodígios capazes de fazer concorrência aos milagres das
religiões autorizadas?
A estas duas perguntas principais responderemos com uma palavra e por um livro. O livro será a
justificação da palavra, e esta palavra ei-la: sim, existiu e existe ainda uma magia poderosa e real;
sim, tudo o que as lendas disseram era verdade; somente que aqui, e ao contrário do que de ordinário acontece, as exagerações populares não só estavam afastadas, como também abaixo da
verdade.
Sim, existe um segredo formidável, cuja revelação já derrubou um mundo, como o atestam as
tradições religiosas do Egito, resumidas simbolicamente por Moisés, no começo do Gênese. Este
segredo constitui a ciência fatal do bem e do mal, e o seu resultado, quando é divulgado, é a morte.
Moisés o representa sob a figura de uma árvore que está no centro do Paraíso terrestre, e que está
perto, e até ligada pelas suas raízes à árvore da vida; os quatro rios misteriosos têm a sua fonte ao pé
desta árvore, que é guardada pela espada de fogo e pelas quatro formas da esfinge bíblica, o
Querubim de Ezequiel... Aqui devo parar; temo já ter falado demais.
Sim, existe um dogma único, universal e imperecível, forte como a razão humana, simples como
tudo o que é grande, inteligível como tudo o que é universal e absolutamente verdadeiro, e este
dogma foi o pai de todos os outros.
Sim, existe uma ciência que confere ao homem prerrogativas em aparência sobre-humanas; ei-las tal
como as acho enumeradas num manuscrito hebreu do século XVI:
"Eis aqui, agora, quais são os privilégios e poderes daquele que tem na sua mão direita as clavículas
de Salomão e na esquerda o ramo de amendoeira florida:”.

Mandam em Toda a milícia celeste.
 Beth - Está acima de todas as aflições e de todos os temores.
Ghimel - Reina com o céu inteiro e se faz servir por todo o inferno.
 Daleth - Dispõe da sua saúde e da sua vida e pode também dispor das dos outros.

Aleph - Vê Deus face a face, sem morrer, e conversa familiarmente com o sete gênios que
Hê - Não pode ser surpreendido pelo infortúnio, nem atormentado pelos desastres, nem vencido
pelos inimigos.
 Vav - Sabe a razão do passado, do presente e do futuro.
 Zain - Tem o segredo da ressurreição dos mortos e a chave da imortalidade.

São estes os sete grandes privilégios. Eis os que seguem depois:
 Cheth - Achar a pedra filosofal.
 Teth - Ter a medicina universal.
Iod - Conhecer as leis do movimento perpétuo e poder demonstrar a quadratura do círculo.
Caph - Mudar em ouro não só todos os metais, mas também a própria terra, e até as imundícies
terra.
 Lamed - Dominar os animais mais ferozes, e saber dizer palavras que adormecem e encantam
serpentes.
Mem - Possuir a arte notória que dá a ciência universal.
Nun - Falar sabiamente sobre todas as coisas, sem preparação e sem estudo.

Eis aqui, enfim, os sete menores poderes do mago:
Samech - Conhecer à primeira vista e fundo da alma dos homens e os mistérios do coração das
mulheres.
Hain - Forçar, quando lhe apraz, a natureza a manifestar-se.
Phe - Prever todos os acontecimentos futuros que não dependam em um livre-arbítrio superior ou
de uma causa incompreensível.
Tsade - Dar de momento a todos as consolações mais eficazes e os conselhos mais salutares.
Coph - Triunfar das adversidades.
Resch - Dominar o amor e o ódio.
 Schin - Ter o segredo das riquezas, serem sempre seu senhor e nunca o escravo. Saber gozar
mesmo da pobreza e jamais cair na abjeção nem na miséria.
Thau - Acrescentaremos a estes setenários, que o sábio governa os elementos, faz cessar as
tempestades, cura os doentes, tocando-os, e ressuscita os mortos!

Mas há coisas que Salomão selou com o seu tríplice selo. Os iniciados sabem, basta. Quanto aos
outros, que riam, creiam, duvidem, ameacem ou tenham medo, que importa à ciência e que nos
importa? .....



Resumo proposto aplicado ao Tarot, lembrando que a ordem apresentada dos Arcanos Maiores por Eliphas Levi insere o O Louco como penúltima Lámina, aqui está aplicada na ordem convencional.

0 O LOUCO - O COMEÇO - ÁLEF - O Espírito Divino - ainda selado
I O MAGO - BETH - O Mago do Poder
II A SACERDOTISA - GIMEL - A Sacerdotisa da Estrela de Prata
III A IMPERATRIZ - DALETH - A Filha dos Poderosos
IV O IMPERADOR - HEH - Filho da Manhã, o principal entre os poderosos
V O PAPA - VAU - O Mago da Eternidade
VI OS ENAMORADOS- ZAIN - A Voz da Crianças, os oráculos dos deuses poderosos.
VII O CARRO - A CHETH - A Criança dos Poderes da Águas, O Senhor do Triunfo da Luz
VIII A JUSTIÇA - TETH - A Filha da Espada Flamejante
IX O EREMITA - YOD - O Mago da Voz Poderosa, O Profeta do Eterno
X A RODA da FORTUNA - KAPH - O Senhor das Forças da Vida
XI A FORÇA - LAMED - A Filha dos Senhores da Verdade: quem governa o equilíbrio
XII O PENDURADO - Mem - O INVERTIDO - O Espírito das Águas Poderosas
XIII A MORTE - A TRANSMUTAÇÃO - NUN - Filho dos Grandes Transformadores - Senhor dos Portais da Morte
XIV A TEMPERANÇA - SAMEKH - Filha dos Reconciliadores - Portadora da Vida
XV O DIABO - AYIN - Senhor dos Portais da Matéria; Filho das Forças Do Tempo
XVI A TORRE - PEH - Senhor das Hostes do Poderoso
XVII A ESTRELA - TZADDI - Filha do Firmamento - Habitante Entre As Águas
XVII A LUA - QOPH - Regente do Fluxo E Refluxo - Filhos dosPoderosos
XIX EL SOL - RESH - Senhor do Mundo
XX O JULGAMENTO - SHIN - Espírito Primário
XXI O MUNDO - TAU - A Grande Noite dos Tempos



0 O Louco - O Começo - Álef
Inspirem e Sintam as propriedades do Ar
Pensem no princípio de tudo, o selo Divino no ser humano
- Invocamos o Espírito Divino - ainda selado para inspirar nossos estudos:
Vê Deus face a face, sem morrer, e conversa familiarmente com os sete gênios que mandam em Toda a milícia celeste.

I O Mago - Beth - a flecha - O Mago do Poder
O propósito da Criação: uma morada para Deus neste mundo inferior
Mercúrio - Terra
Está acima detodas as aflições e de todos os temores.

II A Sacerdotisa - Gimel - ao arco - A Sacerdotisa da Estrela de Prata
Lua - Agua
A busca de recompensa e punição no contexto do mundo físico
Reina como céu inteiro e se faz servir por todo o inferno.

III A Imperatriz - Daleth - a porta - princípio feminino - A Filha dos Poderosos
Venus - Agua
Venus se conecta a signos da Terra Touro e do Ar Libra
A anulação do "eu" que acompanha qualquer mudança básica na orientação existencial de alguém
Dispõe dasuasaúdee dasuavida epodetambémdispor das dos outros.

IV O Imperador - Heh - Aspiração - Ideias - Filho da Manhã, o principal entre os Poderosos
Áries - Fogo
A capacidade de auto-expressão através do pensamento, palavra e ação.
Não pode ser surpreendido pelo infortúnio, nem atormentado pelos desastres, nem vencido pelos inimigos.

V O Papa - Vau - União e Serviço - Unidos para Servir - O Mago da Eternidade
Touro - Fogo
O poder de conectar e correlacionar todos os elementos dentro da Criação
Sabe a razão do passado, do presente e do futuro.

VI Os Enamorados - Zain - Deus é Amor - As Crianças da Voz, os oráculos dos deuses poderosos.
Signo: Gêmeos
Elemento: Ar
 O poder de "or chozer" (luz Divina refletida rumo ao Alto pela Criação) para ascender além de seu próprio ponto de origem
Tem o segredo da ressurreição dos mortos e a chave da imortalidade.

VII O Carro - a Cheth - a ordem o controle - A Criança dos Poderes das Águas, o Senhor do Triunfo da Luz
Signo: Câncer
Elemento: Água
A dialética de "ir e vir" entre a unidade absoluta de Deus e a aparente pluralidade da Criação
Achar a pedra filosofal

VIII A Justiça - Teth - A Filha da Espada Flamejante
Signo: Libra
Elemento: Ar do Éter
A "inversão," ou ocultamento, da benevolência de Deus neste mundo
Ter a medicina universal.

IX O Eremita - Yod - O Mago da Voz Poderosa, o Profeta do Eterno
Signo: Virgem
Elemento: Terra
A concentração do infinito dentro do finito.
Conheceras leis do movimento perpétuo e poder demonstrar a quadratura do círculo.

X A Roda da Fortuna - Kaph - O Senhor das Forças da Vida
Planeta: Júpiter
Elemento: Ar da Água
A capacidade de alguém realizar seu potencial.
Mudar em ouro não so todos os metais, mas também a própria terra, e até as imundícies terra.

XI A Força - Lamed - A Filha dos Senhores da Verdade: Quem governa o equilíbrio
Signo: Leão
Elemento: Fogo
A ânsia do coração para interiorizar o conhecimento.
Dominar os animais mais ferozes, e saber dizer palavras que adormecem e encantam serpentes.

XII O Pendurado - O Invertido  Mem - O Espírito das Águas Poderosas
Elemento: Água
O brotar da sabedoria na fonte do supraconsciente.
Possuir a arte notória que dá a ciência universal.

XIII A Morte - A Transmutação - Nun - Filho dos Grandes Transformadores - Senhor dos Portais da Morte
Signo: Escorpião
Elemento: Água
A queda do altruísmo até a autoconscientização
Falar sabiamente sobre todas as coisas, sem preparação e sem estudo.

XIV A Temperança - Samekh - Filha dos Reconciliadores - Portadora da Vida
Signo: Sagitário
Elemento: Fogo
A natureza cíclica da experiência, e a equanimidade que ela traz.
Conhecer à primeira vista e fundo da alma dos homens e os mistérios do coração das mulheres

XV O Diabo - Ayin - Manifestação das Ideias - Senhor dos Portais da Matéria; Filho das Forças do Tempo
Signo: Capricórnio
Elemento: Terra do Éter
A constante vigilância de Deus sobre todo elemento da Criação
Forçar, quando lhe apraz, a natureza a manifestar-se.

XVI A Torre - Peh - Senhor das Hostes do Poderoso
Planeta: Marte
Elemento: Fogo
Comunicação oral do conhecimento.
Prever todos os acontecimentos futuros que não dependam em um livre-arbítrio superior ou de uma causa incompreensível.

XVII A Estrela - Tzaddi - Filha do Firmamento - Habitante entre as Águas
Signo: Aquário
Elemento: Ar
A fé dos justos
Dar de momentoa todos as consolações mais eficazes e os conselhos mais salutares.

XVIII A Lua - Qoph - Regente do Fluxo e Refluxo - Filhos dos Poderosos
Signo: Peixes
Elemento: Água
O paradoxo da santidade: a expropriação da força de vida Divina transcendente pelo reino material.
Triunfar das adversidades.

XIX El Sol - Resh - Senhor do Mundo
Planeta: Sol
Elemento: Fogo
A capacidade de iniciar o processo de aperfeiçoar a Criação.
Dominar o amor e o ódio.

XX O Julgamento - Shin - Espírito Primário
Elemento: Fogo
O mistério de como a inconstância de todas as coisas emana de uma Fonte eterna e invariável
Ter o segredo das riquezas, serem sempre seu senhor e nunca o escravo. Saber gozar mesmo da pobreza e jamais cair na abjeção nem na miséria

XXI O Mundo - Tau - A Grande Noite dos Tempos
Planeta: Saturno
Elemento: Éter
A impressão de que a fé na onipresença de Deus faz sobre experiência da realidade no supraconsciente da pessoa.
Acrescentaremos a estes setenários, que o sábio governa os elementos, faz cessar as tempestades, cura os doentes, tocando-os, e ressuscita os mortos!

etérico - se refere além do ar tudo que é volátil e se dissolve

éter - Fluido sutil, segundo os antigos, preenche os espaços situados além da atmosfera terrestre.
Fluido hipotético, imponderável, elástico, que se considerava como o agente de transmissão da luz e da eletricidade.


terça-feira, 17 de maio de 2016

A IMPERATRIZ ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY

A IMPERATRIZ abordada como Dogma por Eliphas Levi
O Triangulo de Salomão
PLENITUDO VOCIS – BINAH - PHYSIS
O verbo perfeito é o ternário, porque supõe um princípio inteligente, um princípio que fala e um princípio falado.
O absoluto, que se revela pela palavra, dá a esta palavra um sentido igual a si mesmo, e cria um terceiro sentido na inteligência desta palavra.
É assim que o sol se manifesta pela sua luz e prova esta manifestação ou a torna eficaz pelo seu calor.
O ternário está traçado no espaço pela ponta culminante do céu., o infinito em altura, que se une por outras linhas retas e divergentes ao oriente e ao ocidente.
Mas a esse triângulo visível, a razão compara um outro triângulo invisível, que ela afirma ser igual ao primeiro: é o que tem por cimo a profundeza e cuja base virada é paralela à linha horizontal que
vai do oriente ao ocidente.
Estes dois triângulos, reunidos numa só figura, que é a de uma estrela de seis raios, formam o signo
sagrado do selo de Salomão, a estrela brilhante do macrocosmo.

A idéia do infinito e do absoluto é expressa por este signo, que é o pantáculo, isto é, o mais simples
e o mais completo resumo da ciência de todas as coisas.A própria gramática atribui três pessoas ao verbo. A primeira é a que fala, a segunda é aquela a quem se fala, a terceira é aquela de quem se fala.
O princípio infinito, ao criar, fala de si mesmo a si mesmo.
Eis a explicação do ternário e a origem do dogma da Trindade.
O dogma mágico também é um em três e três em um.
O que está em cima assemelha-se ou é igual ao que está em baixo.
Assim, duas coisas que se assemelham e o verbo que exprime a sua semelhança, fazem três.
O ternário é o dogma universal.
Em magia, princípio, realização, adaptação; em alquimia, azoth, incorporação, transmutação; em
teologia, Deus, encarnação, redenção; na alma humana, pensamento, amor e ação; na família, pai, mãe e filho. O ternário é o fim e a expressão e suprema do amor: dois se procuram só para ficarem
três.
Há três mundos inteligíveis, que correspondem uns aos outros pela analogia hierárquica: - o mundo
natural ou físico, o mundo espiritual ou metafísico, e o mundo divino ou religioso.
Deste princípio, resulta a hierarquia dos espíritos, divididos em três ordens e subdivididos nestas
três ordens, sempre pelo ternário.
Todas estas revelações são deduções lógicas das primeiras noções matemáticas do ente e do
número.
A unidade, para tornar-se ativa, deve multiplicar-se. Um princípio indivisível, imóvel e infecundo,
seria a unidade morta e incompreensível.
Se Deus só fosse um, nunca seria criador nem pai. Se fosse dois, haveria antagonismo ou divisão no infinito, e seria a partilha ou morte de todas as coisas possíveis; é, pois, três, para criar de si mesmo
e à sua imagem a multidão infinita dos entes e números.
Assim, ele é realmente único em si mesmo e tríplice na nossa concepção, o que no-lo faz ver também tríplice em si mesmo e único na nossa inteligência e no nosso amor.
Isto é um mistério para o crente e uma necessidade lógica para o iniciado nas ciências absolutas e
reais.
O Verbo manifestado pela vida é a realização ou a encarnação.
A vida do Verbo, realizando seu movimento cíclico, é a adaptação ou a redenção. Este tríplice
dogma foi conhecido em todos os santuários esclarecidos pela tradição dos sábios. Quereis vós
saber qual é a verdadeira religião? Procurai aquela que realiza mais na ordem divina; a que
humaniza Deus e diviniza o homem; a que conserva intacto o dogma do ternário, que encarna o
Verbo, fazendo ver e tocar Deus aos mais ignorantes: enfim, aquela cuja doutrina convém a todos e
pode adaptar-se a tudo; a religião que é hierarquia e cíclica, que tem, para as crianças, alegorias e
imagens; para os homens feitos, uma alta filosofia; sublimes esperanças e doces consolações, para
os velhos.
Os primeiros sábios que procuravam a causa das causas viram o bem e o mal no mundo;
observaram a sombra e a luz; compararam o inverno à primavera, a velhice à juventude, a vida à
morte, e disseram: - A causa primeira é benfeitora e rigorosa, ela vivifica e destrói.
- Há, pois, dois princípios contrários, um bom e um mau? – gritaram os discípulos de Manés.
- Não, os dois princípios do equilíbrio universal não são contrários, se bem que, em aparência, sejam opostos: porque é uma sabedoria única que opõe um ao outro.
O bem está à direita e o mal à esquerda; mas a bondade suprema está acima dos dois, e ela faz servir
o mal ao triunfo do bem, e o bem à reparação do mal.
O princípio de harmonia está na unidade, e é o que dá, em magia, tanto poder ao número impar:
Mas o mais perfeito dos números ímpares é três, porque é a trilogia da unidade.
No trigramas de Fo-Hi, o ternário superior de compõe de três yang ou figuras masculinas, porque, na idéia de Deus, considerado como princípio de fecundidade nos três mundos, não se poderia
admitir nada de passivo.
É também por isso que a trindade cristã não admite a personificação da mãe, que é implicitamente
enunciada na do filho. É também por isso que é contrário às leis da simbologia hierática e ortodoxa
personificar o Espírito Santo sob a figura de uma mulher.
A mulher sai do homem, como a natureza sai de Deus: por isso, o Cristo se eleva a si próprio ao céu
e assume a Virgem Mãe; dizemos a ascensão do Salvador e a assunção da mãe de Deus.
Deus, considerado como Pai, tem a natureza por filha.
Como Filho, tem a Virgem por mãe e a Igreja por esposa.
Como Espírito Santo, ele regenera e fecunda a humanidade.
É assim que, nos trigramas de Fo-Hi, aos três yang superiores correspondem os três yin inferiores,
porque os trigramas de Fo-Hi são um pantáculo semelhante aos dois triângulos de Salomão, mas
como uma interpretação ternária dos seis pontos da estrela flamejante:
O dogma é tanto mais divino quanto mais verdadeiramente for humano, isto é, quanto resumir a mais alta razão da humanidade; por isso, o Mestre que chamamos o Homem-Deus se chamava a si
mesmo o Filho do homem.
A revelação é a expressão da crença admitida e formulada pela razão universal no verbo humano.
É por isso que se diz que, no Homem-Deus, a divindade é humana e a humanidade é divina.
Dizemos tudo isto filosoficamente e não teologicamente; e isto de modo algum toca no ensino da
Igreja, que condena e sempre deve condenar a magia.
Paracelso e Agrippa não elevaram altar contra altar e se submeteram à religião dominante no seu
tempo. Aos eleitos da ciência, as coisas da ciência, aos fiéis, as coisas da fé.
O imperador Juliano, no seu hino ao rei Sol, dá uma teoria do ternário, que é quase identicamente a
mesma que a do ilustre Swedenborg.
O sol do mundo divino é a luz infinita, espiritual e incriada; esta luz de verbaliza, se é permitido
falar assim, no mundo filosófico, e torna-se o foco das almas e da verdade; depois, ela se incorpora
e fica luz visível no sol do terceiro mundo, sol central dos nossos sóis, e do qual as estrelas fixas são
as faíscas sempre vivas.
Os cabalistas comparam o espírito a uma substância que fica fluida no meio divino e sob a
influência da luz essencial, mas cujo exterior se endurece como a cera exposta ao ar, nas regiões
mais frias do raciocínio ou das formas visíveis. Essas cascas ou envoltórios petrificados (diríamos
melhor, carnificados, se o termo fosse francês) são a causa do erro e do mal, que provêm do peso e
da dureza dos envoltórios anímicos. No livro de Zohar e no da revolução das almas, os espíritos
perversos, ou maus demônios, não são denominados de outro modo senão de cascas, cortices.
As cascas do mundo dos espíritos são transparentes, as do mundo material são opacas; os corpos são mais do que só cascas temporárias e de que as almas devem ser liberadas; mas os que nesta vida obedecem ao corpo, fazem para si um corpo interior ou uma casca fluídica, que fica sendo a sua
prisão e o seu suplício depois da morte, e até o momento em que chega a fundi-la no calor da luz
divina, aonde o seu peso lhe impede de subir; eles chegam aí só com esforços infinitos e o auxílio
dos justos que lhes dão a mão, e durante todo esse tempo são devorados pela atividade interior do espírito cativo, como que numa fornalha ardente. Os que chegam à fogueira da expiação aí se queimam como Hércules no monte Eta e se libertam, assim, do seu incômodo; mas a maioria tem
falta de coragem diante desta última prova, que lhe parece uma segunda morte, mais horrível do que
a primeira, e ficam assim, no inferno, que é eterno de direito e de fato, mas no qual as almas nunca
são precipitadas nem retidas contra sua vontade.
Os três mundos se correspondem mutuamente pelos trinta e dois caminhos de luz, que são os
degraus da escada santa; todo pensamento verdadeiro corresponde a uma graça divina no céu, e a
uma obra útil na terra. Toda graça de Deus suscita uma verdade e produz um ou vários atos, e
reciprocamente todo ato move nos céus uma verdade ou uma mentira, uma graça ou um castigo.
Quando um homem pronuncia o tetragrama, escrevem os cabalistas, os nove céus recebem um
abalo, e todos os espíritos gritam uns aos outros: “Quem, pois, perturba assim o reino do céu?"
Então, a terra revela ao primeiro céu os pecados do temerário que toma em vão o nome do eterno, e
o verbo acusador é transmitido de círculo em círculo, de estrela em estrela, de hierarquia em
hierarquia.
Toda palavra tem três sentidos, toda ação um tríplice valor, toda forma uma tríplice idéia, porque o
absoluto corresponde, de mundo em mundo, com suas formas. Toda determinação da vontade humana modifica a natureza, interessa a filosofia e se escreve no céu. Há, pois, duas fatalidades,
uma que resulta da vontade do incriado e de acordo com a sua sabedoria, e outra que resulta das
vontades criadas e de acordo com a necessidade das causas segundas, nas suas relações com a causa
primeira.

Nada, pois é indiferente na vida e as nossas determinações, aparentemente mais simples, provocam
muitas vezes uma série incalculável de bens ou de males, principalmente nas relações do nosso
diáfano com o grande agente mágico, como explicaremos alhures.
O ternário, sendo o princípio fundamental de toda a Cabala ou tradição sagrada de nossos
antepassados, teve de ser o dogma fundamental do cristianismo, de que explica o dualismo aparente pela intervenção de uma harmoniosa e onipotente unidade. O Cristo não escreveu o seu dogma, e só
o revelou em segredo ao seu discípulo favorito, único cabalista, e grande cabalista entre os
apóstolos. Por isso, o Apocalipse é o livro da gnose ou doutrina secreta dos primeiros cristãos,
doutrina cuja chave é indicada por um versículo secreto do Pater, que a Vulgata não traduz, e que
no rito grego (conservador das tradições de São João) só é permitido aos padres pronunciar. Este versículo, perfeitamente cabalístico, se acha no texto grego do evangelho conforme São Mateus e
em vários exemplares hebraicos. Ei-lo nestas duas línguas sagradas:
ןער וייד אּןי איר תבוּלמ ןוּא איר הבוּבג
ןוּא איר עה רטײקבילףױא גיבּײא ןמא
Διότι σου ειναι ή βασιλεία χαι ήδύναμις χαι ή δὸξα, εὶς
τοὺς αὶωνας. Άμήν.
A palavra sagrada Malkuthh, substituída por Kether, que é seu correspondente cabalístico, e a
balança de Geburah e Chesed, repetindo-se nos círculos ou céus que os gnósticos chamavam Eones,
dão, nesse versículo oculto, a chave de arco de todo o templo cristão. Os protestantes traduziram-no
e o conservaram no seu Novo Testamento, sem achar a sua alta e maravilhosa significação, que lhes
teria desvendado todos os mistérios do Apocalipse; mas é uma tradição na Igreja que a revelação
destes mistérios está reservada para últimos tempos.
Malkuthh, apoiado em Geburah e Chesed, é o templo de Salomão, tendo por colunas Jakin e Boaz.
É o dogma de adâmico, apoiado, de um lado, sobre a resignação de Abel, e, de outro, sobre o
trabalho e os remorsos de Caim; é o equilíbrio universal do ser, baseado sobre a demonstração da
alavanca universal, procurada inutilmente por Arquimedes. Um sábio que empregou todo o seu
talento para fazer-se obscuro e que morreu sem ter querido fazer-se compreender, tinha resolvido
esta suprema equação, achada por ele na Cabala, e temia antes de tudo que, exprimindo-se mais
claramente, pudessem saber a origem das suas descobertas. Ouvimos um dos seus discípulos e
admiradores indignar-se, talvez de boa fé, ouvindo chamá-lo de cabalista, e, entretanto, devemos
dizer, para a glória deste sábio, que as suas investigações abreviaram consideravelmente o nosso
trabalho sobre as ciências ocultas, e que a chave da alta Cabala, que acabamos de criar, foi
doutamente aplicada a uma reforma absoluta de todas as ciências nos livros de Hoené Wronski.
A virtude secreta dos Evangelhos está, pois, contida em três palavras e essas três palavras fundaram
três dogmas e três hierarquias. Toda ciência repousa sobre três princípios, como o silogismo sobre
três termos. Há também três classes distintas ou três classes originais e naturais entre homens, que
são todos chamados a subir da mais inferior à mais elevada. Os hebreus chamam estas séries ou
graus do progresso dos espíritos, Asiah, Jezirah e Briah. Os gnósticos, que eram os cabalistas
cristãos, chamavam-nas Hylé, Psiquê e Gnosis; o círculo supremo chamava-se, entre os hebreus,
Aziluth, e entre os gnósticos, Pleroma.
No tetragrama, o ternário, tomado no começo da palavra, exprime a copulação divina; tomado no
fim, exprime o feminino e a maternidade. Eva tem um nome de três letras, mas o Adão primitivo é
expresso pela única letra Jod, de modo que Jeová devia ser pronunciado Iéva. Isto nos leva ao
grande e supremo mistério da magia, expresso pelo quaternário.


A IMPERATRIZ abordada como Ritual por Eliphas Levi

CAPÍTULO III
O TRIÂNGULO DE PANTÁCULOS
O abade Trithemo, que foi, em magia, o mestre de Cornélio Agrippa, explica, na sua Estenografia, o segredo das conjurações e evocações de um modo muito filosófico e muito natural, mas, talvez por isso mesmo, muito simples e muito fácil.
Evocar um espírito, diz ele, é entrar no pensamento dominante desse espírito e, se nos elevarmos moralmente mais alto na mesma linha, arrastaremos esse espírito conosco e ele nos servirá; de outromodo, ele nos arrastará no seu círculo e nós o serviremos.
Conjurar é opor a um espírito isolado a resistência de uma corrente e de uma cadeia: cum jurare, jurar mutuamente, isto é, fazer ato de uma fé comum. Quanto mais esta fé tem entusiasmo e força, tanto mais a conjuração é eficaz. É por isso que o cristianismo nascente fazia calarem-se os oráculos: só ele possuía, então, a inspiração e a força. Mais tarde, quando São Pedro envelheceu, isto é, quando o mundo acreditou ter acusações legítimas a fazer ao papado, o espírito de profecia veio substituir os oráculos; e os Savanarola, Joaquim de Flora, os João Huss e tantos outros agitaram por sua vez os espíritos e traduziram em lamentos e ameaças as inquietações e revoltas secretas de todos os corações.
Podemos, pois, estar sós para evocar um espírito, mas para o conjurar é preciso falar em nome de
um círculo ou de uma associação; e é o que representa o círculo hieroglífico traçado ao redor do
mago, durante a operando, e do qual não deve sair, se não quiser perder, no mesmo instante, todo o
seu poder.
Examinemos claramente, aqui, a questão principal, a questão importante: são possíveis a evocação
real e a conjuração de um espírito, e esta possibilidade pode ser cientificamente demonstrada? À
primeira parte da questão pode-se responder, primeiramente, que todas as coisas cuja impossibilidade não é evidente podem e devem ser admitidas, provisoriamente, como possíveis. À
segunda parte, dizemos que, em virtude do grande dogma mágico da hierarquia e da analogia
universal, podemos demonstrar, cabalisticamente, a possibilidade das evocações reais; quanto à
realidade fenomenal do resultado das operações mágicas conscienciosamente realizadas, é uma
questão de experiência, e, como já dissemos, verificamos por nós mesmos esta realidade, e
poremos, por este Ritual, os nossos leitores em condições de renovar e confirmar as nossas
experiências.
Nada perece na natureza e tudo o que viveu continua a viver sempre sob formas novas; mas até as
formas anteriores não são destruídas, porque as achamos na nossa memória. Não vemos, em
imaginação, a criança que conhecemos e que agora é um velho? Até os traços que acreditamos
apagados na nossa lembrança não o estão realmente, porque uma circunstância fortuita os evoca e nô-los faz lembrar. Mas, como os vemos? Já dissemos que é na luz astral, que os transmite ao nosso
cérebro pelo mecanismo do aparelho nervoso.
De outro lado, todas as formas são proporcionais e analógicas à ideia que as determinou; são o
caráter natural, a assinatura desta ideia, como dizem os magistas, e desde que evocamos ativamente a idéia, a forma se realiza e se produz.
Schroepffer, o famoso iluminado de Leipzig, tinha lançado, pelas suas evocações, o terror em toda a
Alemanha, e a sua ousadia nas operações mágicas fora tão grande, que a sua reputação se lhe tornou
um fardo insuportável; depois deixou-se arrastar pela imensa corrente de alucinações que deixara
formar-se; as visões do outro mundo o desgostaram deste mundo, e ele suicidou-se.
Esta história deve deixar circunspetos os curiosos de magia cerimonial. Não violentamos
impunemente a natureza, e não jogamos sem perigo com forças desconhecidas e incalculáveis.
É por esta consideração que nós nos recusamos, e que nos recusaremos sempre, à vã curiosidade dos
que querem ver para crer; e responder-lhes-emos o que dizíamos a um personagem eminente da
Inglaterra, que nos ameaçava com a sua incredulidade: “Tendes perfeitamente o direito de não crer;
da nossa parte, não ficaremos, por isso, mais desanimados nem menos convencidos”.
Aos que viessem dizer-nos que realizaram, escrupulosamente e corajosamente, todos os ritos e que nada se produziu, diremos que farão bem de ficar nisso, e que é, talvez uma advertência da natureza que recusa para eles estas obras excêntricas, mas também que, se persistirem na sua curiosidade, só
tem de recomeçar.
O ternário, sendo a base do dogma mágico, deve necessariamente ser observado nas evocações; por
isso, é o número simbólico da realização e do efeito. A letra c é ordinariamente traçada nos
pantáculos cabalísticos que têm por objeto a realização de um desejo. Esta letra é também a marca do bode emissário na Cabala mística, e Saint-Martin observa que esta letra, intercalada no incomunicável tetragrama, fez dele o nome do Redentor dos homens: hw c h y.
É que os mistagogos da Idade Média representaram, quando, nas suas assembléias noturnas,
exibiam um bode simbólico, trazendo na cabeça, entre os dois chifres, um facho aceso. Este animal
monstruoso, cujas formas alegóricas e culto bizarro descreveremos no décimo quinto capítulo deste
Ritual, representava a natureza votada ao anátema, mas resgatada pelo sinal da cruz. Os ágapes gnósticos e as priapéias pagãs que se faziam em sua honra revelavam bastante as conseqüências
morais que os adeptos queriam tirar desta exibição. Tudo isso será explicado com os ritos, proibidos
e considerados, agora, como fabulosos, do grande Sabbat da magia negra.
No grande círculo das evocações, ordinariamente é traçado um triângulo, e é preciso observar bem
de que lado deve ser posto o seu cimo.. Supõe-se que o espírito vem do céu, o operador deve ficar
no cimo e colocar o altar das fumigações na base; deve-se subir do abismo, o operador ficará na
base e o fogareiro será colocado no cimo. Além disso, é preciso ter na fronte, no peito e na mão
direita o símbolo sagrado dos dois triângulos reunidos, formando a estrela de seus raios, cuja figura
reproduzimos, e que é conhecida, em magia, sob o nome de pantáculo ou selo de Salomão.
Independentemente destes signos, os antigos faziam uso, nas suas evocações, das combinações
místicas dos nomes divino que demos no dogma conforme os cabalistas hebreus. O triângulo
mágico dos teósofos pagãos é o célebre ABRACADABRA, ao qual atribuíam virtudes
extraordinárias, e que figuravam assim:
ABRACADABRA
ABRACADABR
ABRACADAB
ABRACADA
ABRACAD
ABRACA
ABRAC
ABRA
ABR
AB
A
Esta combinação de letras é uma chave do pentagrama. O A que começa é repetido cinco vezes e
reproduzido trinta vezes, o que dá os elementos e números destas duas figuras:
O A isolado representa a unidade do primeiro princípio ou do agente intelectual ou ativo. O O A
unido ao B representa a fecundação do binário pela unidade. O R é o sinal do ternário, porque
representa hieroglificamente a efusão que resulta da união dos dois princípios. O número 11 das
letras da palavra ajunta a unidade do iniciado ao denário de Pitágoras; e o número 66, total de todas
as letras adicionadas, forma cabalisticamente o número 12, que é o quadrado do ternário e, por
conseguinte, a quadratura mística do círculo. Notemos, de passagem, que o autor do Apocalipse,
esta clavícula da Cabala cristã, compôs o número da besta, isto é, a idolatria, acrescentando um 6 ao
duplo senário do Abracadabra: o que dá cabalisticamente 18, número assinado no Tarô como signo
hieroglífico da noite e dos profanos, a lua com as torres, o cão, o lobo e o caranguejo; número
misterioso e obscuro, cuja chave cabalística é o 9, o número da iniciação.
O cabalista sagrado diz expressamente a este respeito: “Que aquele que tem a inteligência (isto é, a
chave dos números cabalísticos) calcule o número da besta, porque é o número do homem, e este
número é 666”. É, com efeito, a década de Pitágoras multiplicada por si mesma e ajuntada à soma
do Pantáculo triangular de Abracadabra; é, pois, o resumo de toda a magia do mundo antigo, o
programa inteiro do gênio humano, que o gênio divino do Evangelho queria absorver ou suplantar.
Estas combinações hieroglíficas de letras e números pertencem à parte prática da Cabala, que, sob
este ponto de vista, se subdivide em gematria e temurah. Estes cálculos, que agora nos parecem
arbitrários ou sem interesse, pertenciam, então, ao simbolismo filosófico do Oriente e tinham a
maior importância no ensino das coisas sagradas emanadas das ciências ocultas. O alfabeto
cabalístico absoluto, que unia as ideias primárias às alegorias, as alegorias às letras e as letras aos números, era o que se chamava, então, as chaves de Salomão. Já vimos que estas chaves,
conservadas até nossos dias, mas completamente desconhecidas, outra coisa não são que o jogo do
Tarô, cujas alegorias antigas foram notadas e apreciadas pela primeira vez, nos tempos atuais, pelo
sábio arqueólogo Court de Gebelin.
O duplo triângulo de Salomão é explicado por São João de um modo notável. Há, diz ele, três
testemunhos no céu: o Pai, o Logos e o Espírito Santo, e três testemunhos na terra: o enxofre, a água
e o sangue. São João está, assim, de acordo com os mestres da filosofia hermética, que dão ao seu
enxofre o nome de éter, ao seu mercúrio o nome de água filosófica, e ao seu sal a qualificação de
sangue do dragão ou mênstruo da terra: o sangue ou o sal corresponde por oposição ao Pai, a água
azótica ou mercúrio ao Verbo ou Logos, e o enxofre ao Espírito Santo. Mas as coisas de alto
simbolismo só podem ser bem entendidas pelos verdadeiros filhos da ciência.
As combinações triangulares uniam-se, nas cerimônias mágicas, às repetições dos nomes por três
vezes, e com entonações diferentes.
A baqueta mágica era, muitas vezes, remontada por uma forquilha imantada, que Paracelso
substituía por um tridente, cuja figura damos abaixo.
O tridente de Paracelso é um pantáculo que exprime o resumo do ternário na unidade, que completa,
assim, o quaternário sagrado. Ele atribuía a esta figura todas as virtudes que os cabalistas hebreus
atribuem ao nome de Jeová, e as propriedades taumatúrgicas do Abracadabra dos hierofantes de
Alexandria. Reconheçamos, aqui, que é um pantáculo e, por conseguinte, um signo concreto e
absoluto de uma doutrina inteira que foi a de um círculo magnético imenso, tanto para os filósofos
antigos como para os adeptos da Idade Média. Dando-lhes, moderadamente, o seu valor primitivo
pela inteligência dos seus mistérios, não poderíamos restituir-lhe toda a sua virtude milagrosa e todo
o seu poder contra as doenças humanas?
As antigas feiticeiras, quando passavam, à noite, por uma encruzilhada de três caminhos, uivavam
três vezes, em honra à tríplice Hécate.
Todas estas figuras, todos estes atos análogos às figuras, todas estas disposições de números e
caracteres nada mais são, como já dissemos, senão instrumentos de educação para a vontade, cujos
hábitos fixam e determinam. Servem também para reunir conjuntamente, na ação, todas as forças da alma humana, e para aumentar a força criadora da imaginação. È a ginástica do pensamento que se
exercita na realização: por isso, o efeito destas práticas é infalível como a natureza, quando são
feitas com uma confiança absoluta e uma perseverança inabalável.
Com a fé, dizia o grande Mestre, transportar-se-iam árvores ao mar e se deslocariam montanhas.
Uma prática, mesmo insensata, mesmo supersticiosa, é eficaz, porque é uma realização da vontade. É por isso que uma oração é mais poderosa, se formos fazê-la na igreja, do que se a fizéssemos em
nossa casa, e que ela alcançará milagres se, para fazê-la num santuário milagroso, isto é,
magnetizado em grande corrente pela afluência dos visitantes, fizermos cem ou duzentas léguas,
pedindo esmolas com os pés descalços.
Riem-se da mulher pobre que se priva de alguns centavos de leite, de manhã, e que vai levar os
triângulos mágicos das capelas uma pequena vela, que deixa acesa. São os ignorantes que riem, e a
mulher pobre não paga muito caro o que compra, assim, de resignação e coragem. Os abastados
mostram bastante altivez para passar levantando os ombros; eles se insurgem contra as superstições com um barulho que faz estremecer o mundo; e que resulta disso? As casas dos abastados se
desmoronam, e os restos delas são vendidos aos fornecedores e compradores de quinquilharias, que
deixam gritar de boa vontade, em toda parte, que o seu reino acabou para sempre, contanto que
governem sempre.
As grandes religiões só tiveram a temer uma rival séria, e esta rival é a magia.
A magia produziu as associações ocultas, que trouxeram a revolução chamada Renascença; mas
aconteceu ao espírito humano, cego pelos loucos amores, realizar em todos os pontos a história alegórica do Hércules hebreu: desmoronando as colunas do tempo, sepultou-se a si mesmo debaixo
das ruínas.
As sociedades maçônicas não conhecem, agora, a alta razão dos seus símbolos mais do que os
rabinos compreendem o Sepher Yetzirah e o Zohar na escala ascendente dos três graus, com a
progressão transversal da direita para a esquerda e da esquerda para a direita do setenário
cabalístico.

O compasso do G.´.A.´. e o esquadro de Salomão vieram a ser o nível grosseiro e material do
jacobismo ininteligente, representado por um triângulo de aço: eis para o céu e para a terra.
Os adeptos profanadores, aos quais o iluminado Cazotte tinha predito uma sangrenta morte,
ultrapassaram, atualmente, o pecado de Adão: depois de ter colhido temerariamente os frutos da
árvore da ciência, de que não souberam alimentar-se, lançaram-nos aos animais e répteis da terra. Por isso, o reino da superstição começou e deve durar até o tempo em que a verdadeira religião se
reconstituir nas bases eternas da hierarquia de três graus e do tríplice poder que o ternário exerce
fatal ou providencialmente nos três mundos.

III.  A IMPERATRIZ   por Crowley
Esta carta é atribuída à letra Daleth, que significa porta e se refere ao planeta Vênus. A carta é, a julgar pela aparência, o complemento de O Imperador, mas suas atribuições são muito mais universais. 

Na Árvore da Vida, Daleth é o caminho que conduz de Chokmah a Binah, unindo o Pai à Mãe. Daleth é um dos três caminhos que estão completamente acima do Abismo. Há, ademais, o símbolo alquímico de Vênus, o único dos símbolos planetários que abrange todas as Sephiroth da Árvore da Vida. A doutrina implícita é que a fórmula fundamental do universo é o Amor ( o círculo toca as Sephiroth 1, 2, 4, 6, 5, 3; a cruz é formada por 6, 9, 10  e  7, 8).  
É impossível resumir os significados do símbolo da mulher por esta razão mesma, a saber, ela continuamente reaparece sob forma infinitamente variada. “A de muitos tronos, muitas disposições, muitas manhas, filha de Zeus.” 
Nesta carta, ela é mostrada em sua manifestação mais geral. Combina as qualidades espirituais mais elevadas com as materiais mais baixas. Por esta razão, ela está apta a representar uma das três formas alquímicas da energia, o Sal. O Sal é o princípio inativo da natureza, é matéria que precisa ser energizada pelo Enxofre para preservar o equilíbrio rotativo do universo. Os braços e o tronco da figura, por conseguinte, sugerem a forma do símbolo alquímico do Sal. Ela representa uma mulher com coroa e trajes imperiais sentada a um trono, cujas colunas de apoio sugerem chamas azuis torcidas, simbolizadoras de seu nascimento da água, o feminino, elemento fluido. Em sua mão direita ela segura o lótus de Ísis, o lótus representando o feminino ou  poder passivo; suas raízes estão na terra sob a água, ou na própria água, mas ele abre suas pétalas para o Sol cuja imagem é o bojo do cálice. É, portanto, uma forma viva do Cálice Sagrado (O Santo Graal) santificada pelo sangue do Sol. Empoleirados nas colunas de apoio em forma de chama de seu trono estão duas de suas aves mais sagradas, o pardal e a pomba. O ponto essencial deste simbolismo precisa ser buscado nos poemas de Catulo e Marcial. Há abelhas sobre seu manto e também dominós, circundados por linhas espirais contínuas. A significação é similar em  toda  parte.  
Em torno dela, como um cinto, se acha o zodíaco.  
Sob o trono há um piso coberto de tapeçaria bordada com flores-de-lis e peixes, os quais parecem estar adorando a rosa secreta, que é mostrada à base do trono. A significação destes símbolos já foi explicada. Nesta carta todos os símbolos são cognatos devido à simplicidade e pureza do emblema. Não há aqui nenhuma contradição; a oposição que parece existir é apenas a oposição necessária ao equilíbrio, o que é indicado pelas luas giratórias.  
A heráldica da Imperatriz é dupla: de um lado o pelicano da tradição alimentando seus filhotes do sangue de seu próprio coração, do outro, a águia branca do alquimista. 
Com referência ao pelicano, seu simbolismo total só estava disponível para iniciados do quinto grau da  O. T. O.. Em termos gerais, pode-se sugerir o significado identificando-se o próprio pelicano fêmea com a Grande Mãe e sua  prole, com a Filha na fórmula do Tetragrammaton. É porque a filha  é  a filha de sua mãe que ela pode ser guindada ao seu trono. Em outras palavras, há uma continuidade da vida, uma herança de sangue, que junta todas as formas da  natureza. Não há ruptura entre luz e trevas. Natura non facit saltum.* Se estas considerações fossem inteiramente entendidas, possibilitaria a reconciliação da  teoria quântica com as equações eletromagnéticas.  
* Em latim no original, A natureza não dá saltos (NT).  
A águia branca neste trunfo corresponde à águia vermelha da carta-consorte, O Imperador. Aqui é preciso trabalhar em sentido inverso, pois nestas cartas mais elevadas se acham os símbolos da perfeição; tanto a perfeição inicial da natureza quanto a perfeição final da arte; não apenas Ísis, mas também  Néftis. Consequentemente, as minúcias do trabalho pertencem a cartas subseqüentes, especialmente Atu VI  e Atu XIV.  
Ao fundo da carta está o arco ou porta, que é a interpretação da letra  Daleth. Esta carta, em síntese, pode ser denominada  Porta do Céu. Contudo, devido à  beleza do símbolo, devido à sua apresentação omniforme, o estudante que está deslumbrado por qualquer dada manifestação pode extraviar-se. Em  nenhuma outra carta é tão necessário desconsiderar as partes para se concentrar no todo.


quinta-feira, 12 de maio de 2016

A SACERDOTISA ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY




SACERDOTISA ABORDADA COMO DOGMA - Eliphas Levi
As Colunas do Templo
CHOCMAH – DOMUS - GNOSIS
A ciência é a posse absoluta e completa da verdade.
Por isso, os sábios de todos os séculos tremeram diante desta palavra absoluta e terrível; tremeram
arrogar-se o primeiro privilégio da divindade, atribuindo a si a ciência, e se contentaram, em lugar do verbo saber, que exprime o conhecimento, e da palavra ciência, com a de gnosis, que exprime somente a ideia do conhecimento por intuição.
Que sabe, com efeito, o homem? Nada, e, entretanto, nada lhe é permitido ignorar.
Nada sabe, e é chamado a tudo conhecer.
Ora, o conhecimento supõe o binário. É preciso para o ente que conhece um objeto conhecido.
O binário é gerador da sociedade e da lei; é também o número da gnose. O binário é a unidade
multiplicando-se por si mesma para criar; e é por isso que os símbolos sagrados fazem sair Eva do
próprio peito de Adão.
Adão é o tetragrama humano, que se resume no iod misterioso, imagem do phallus cabalístico.
Ajuntai a este iod o nome ternário de Eva, e formareis o nome de Jeová, o tetragrama divino, que é
a palavra cabalística e mágica por excelência:
hwh y
que o sumo sacerdote, no templo pronunciava Jodcheva. É assim que a unidade, completa na
fecundidade do ternário, forma com ele o quaternário, que é a chave de todos os números, de todos
os movimentos e de todas as formas.
O quadrado, girando sobre si, produz o círculo que lhe é igual e está para a quadratura do círculo como o movimento circular de quatro ângulos iguais que giram ao redor de um mesmo ponto.
O que está em cima, diz Hermes, é igual ao que está em baixo: eis o binário servindo de medida à
unidade, e a relação de igualdade entre o alto e o baixo, eis que forma com eles o ternário.
O princípio criador é o phallus ideal; e o princípio criado é o cteis formal.
A inserção do phallus vertical no cteis horizontal forma o stauros dos gnósticos ou a cruz filosófica dos maçons. Assim, o cruzamento de dois produz quatro, que, movendo-se, determinam o círculo com todos os seus graus.
a é o homem; b é a mulher; 1 é o princípio; 2 é o verbo; A é o ativo; B é o passivo; a unidade é
Bohas; o binário é Jakin.
Nos trigramas de Fo-Hi, a unidade é o Yang; e o binário é o Yin.
Yang Yin Bohas e Jakin são os nomes das duas colunas simbólicas que estavam diante da porta principal do templo de cabalístico de Salomão.
Estas duas colunas explicam em Cabala todos os mistérios do antagonismo, quer natural, quer
político, quer religioso, explicam a luta geradora do homem e da mulher, porque, conforme a lei a
lei da natureza, a mulher deve resistir ao homem, e este deve atraí-la ou submete-la.
23
O princípio ativo busca o princípio passivo, o cheio é amante do vácuo. A goela da serpente atrai a sua cauda, e, girando sobre si mesma ela foge de si e persegue a si mesma.
A mulher é a criação do homem, e a criação universal é a mulher do primeiro princípio.
Quando o ente princípio se fez criador, erigiu um iod ou um phallus,e, para lhe dar lugar no cheio
da luz incriada, teve de cavar um cteis ou um fosso de profundidade igual à dimensão determinada
pelo seu desejo criador, e destinado por ele ao iod na luz irradiante.
Tal é a linguagem misteriosa dos cabalistas no Talmude, e, por causa da ignorância e da maldade do
vulgo, é-nos impossível explica-la ou simplifica-la mais.
Que é, pois, a criação? A casa do Verbo criador. Que é o cteis? É a casa do phallus.
Qual a natureza do princípio ativo? É espalhar. Qual é a natureza do princípio passivo? É reunir e
fecundar.
Que é o homem? É o iniciador, o que destrói, cultiva e semeia. Que é a mulher? É a formadora, a
que reúne, rega e ceifa.
O homem faz a guerra, e a mulher procura a paz; o homem destrói para criar, a mulher edifica para
conservar; o homem é a revolução, a mulher é a conciliação; homem é o pai de Caim, a mulher é a
mãe de Abel.
Que é a sabedoria? É a conciliação e a união dos dois princípios, é a docilidade de Abel dirigindo a energia de Caim, é o homem segundo as doces inspirações da mulher, é a depravação vencida pelo
legítimo casamento, é a energia revolucionária abrandada e dominada pelas doçuras da ordem e da
paz, é o orgulho submetido ao amor, é a ciência reconhecendo as inspirações da fé.
Então, a ciência humana torna-se sábia, porque ela é modesta, e se submete à infalibilidade da razão universal, ensinada pelo amor ou pela caridade universal. Ela pode tomar o nome de Gnose, porque, ao menos, conhece o que ainda não se pode vangloriar de saber perfeitamente.
A unidade só pode manifestar-se pelo binário; a própria unidade e a idéia da unidade já fazem dois.
A unidade do macrocosmo revela-se pelas duas pontas opostas dos dois triângulos.
A unidade humana completa-se pela direita e pela esquerda. O homem primitivo é andrógino. Todos
os órgãos do corpo humano são dispostos por dois, exceto o nariz, a língua, o umbigo e o iod
cabalístico.
A divindade, una na sua essência, tem duas condições essenciais por bases fundamentais do ser: a
necessidade e a liberdade.
As leis da razão suprema são necessárias em Deus e regulam a liberdade, que é necessariamente
razoável e sábia.
Para fazer visível a luz, Deus somente supôs a sombra.
Para manifestar a verdade, fez possível a dúvida.
A sombra é a repulsão da luz, e a possibilidade do erro é necessária para a manifestação temporal da verdade.
Se o escudo de Satã não parasse a lança de Mikael, a força do anjo vai se perderia no vácuo ou
deveria manifestar-se por uma destruição infinita dirigida de cima para baixo.
E se o pé de Mikael não retivesse Satã na sua ascensão, Satã iria destronar Deus, ou antes se perder nos abismos da altura.
Satã é, pois, necessário a Mikael como o pedestal à estátua, e Mikael é necessário a Satã como o
freio à locomotiva.
Na dinâmica analógica e universal, só há apoio no que resiste.
Por isso o universo é balanceado por duas forças que o mantêm em equilíbrio: a força que atrai e a
que repele. Estas duas forças existem em física, filosofia e religião. Elas produzem, em física, o
equilíbrio, em filosofia, a crítica; e em religião, a revelação progressiva. Os antidos representaram este mistério pela luta de Eros e Anteros, pelo combate de Jacó com o anjo, pelo equilíbrio da montanha de ouro, que conservam ligadas com a serpente simbólica da Índia, de um lado os deuses e do outro os demônios.
É também figurado pelo caduceu de Hermanubis, pelo dois querubins da arca, pelas duas esfinges
do carro de Osíris, pelos dois serafins, o branco e o preto.
A sua realidade científica é demonstrada pelos fenômenos da polaridade e pela lei universal das
simpatias ou antipatias.
Os discípulos ininteligentes de Zoroastro divinizaram o binário, sem referi-lo à unidade, separando, assim, as colunas do templo e querendo dividir Deus. O binário em Deus só existe pelo ternário. Se concebeis o absoluto como dois, é preciso imediatamente concebe-lo como três, para achar o princípio unitário.
É por isso que os elementos materiais análogos aos elementos divinos se concebem como quatro, explicam-se como dois e, finalmente, só existem como três.
A revelação é o binário; todo verbo é duplo ou supõe dois.
A moral que resulta da revelação é fundada sobre o antagonismo, que é a conseqüência do binário. O espírito e a forma se atraem e se repelem como a idéia e o sinal, como a verdade e a ficção. A
razão suprema necessita do dogma para se comunicar às inteligências finitas, e o dogma, passando
do domínio das idéias ao das formas, se faz participar dos dois mundos, e tem, necessariamente dois
sentidos que falam sucessivamente ou ao mesmo tempo, quer ao espírito, quer à carne.
Por isso, no domínio moral há duas forças: uma que tenta e outra que reprime e que expia. Estas
duas forças são figuradas nos mitos do Gênese pelos personagens típicos de Caim e Abel.
Abel oprime Caim por sua superioridade moral; Caim para libertar-se, imortaliza seu irmão matando-o, e fica vítima do seu próprio crime. Caim não pôde deixar viver Abel e o sangue de Abel
não deixa mais Caim dormir.
No Evangelho, o tipo de Caim é substituído pelo do Filho pródigo, a quem seu pai perdoa tudo, porque ele volta depois de ter sofrido muito.
Em Deus, há misericórdia e justiça; ele faz justiça aos justos e misericórdia aos pecadores.
Na alma do mundo, que é o agente universal, há uma corrente de amor e uma corrente de cólera.
Este fluido ambiente e que penetra em todas as coisas; este raio destacado da coroa do sol e fixado
pelo peso da atmosfera e pela força de atração central; este corpo do Espírito Santo que chamamos o
agente universal, e que os antigos representavam sob a figura da serpente que morde a sua cada; este éter elétrico e magnético, este calórico vital e luminoso, é figurado nos antigos monumentos pela
cintura de Isis, que se volve e resolve em laço de amor ao redor dos dois pólos, e pela serpente que morde a sua cauda, emblema da prudência e de Saturno.
O movimento e a vida consistem na tensão extrema das duas forças.
Prouve a Deus, dizia o Mestre, que fôsseis totalmente frio ou totalmente quente!
Com efeito, um grande culpado é mais vivo que um homem fraco e morno, e a sua volta à virtude
será em razão direta da energia dos seus desvios.
A mulher que deve esmagar a cabeça da serpente é a inteligência, que sempre vence a corrente das
forças cegas. É, dizem os cabalistas, a virgem do mar, cujos pés úmidos o dragão infernal vem lamber com sua língua de fogo, que se adormece de volúpia.
Tais são os mistérios hieráticos do binário. Mas existe um, o último de todos, que não deve ser
revelado: a razão disso está, conforme Hermes Trismegisto, na ininteligência do vulgo, que daria às
necessidades da ciência toda a capacidade imortal de uma cega fatalidade. É preciso conter o vulgo,
diz ele ainda, pelo temor do desconhecido; e o Cristo dizia também: “Não lanceis vossas pérolas aos
porcos, para que eles não as pisem, e voltando-se contra vós, não vos devorem”. A árvore da ciência
do bem e do mal, cujos frutos dão a morte, é a imagem deste segredo hierático do binário. Este
segredo, com efeito, se for divulgado, só pode ser mal compreendido, e concluir-se daí a negação
ímpia do livre arbítrio, que é o princípio moral da vida. Está, pois, na essência das coisas que a
revelação deste segredo dá a morte, e, entretanto, este não é ainda o grande arcano da magia: mas o segredo do binário conduz ao do quaternário, ou antes procede dele e se resolve pelo ternário, que
contém a palavra do enigma da esfinge tal como tinha de ser resolvido para salvar a vida, expiar o
crime involuntário e assegurar o reino de Édipo.
No livro hieroglífico de Hermes, que é também denominado o livro de Thot, o binário é
representado quer por uma grande sacerdotisa tendo os chifres de Ísis, a cabeça coberta, um livro
aberto, que oculta pela metade com seu manto;ou pela mulher soberana, a deusa Juno dos Gregos, tendo uma das mãos elevada para o céu e a outra abaixada para a terra, como se formulasse, por este
gesto, o dogma único e dualista que é a base da magia e que inicia os maravilhosos símbolos da
Tábua de Esmeralda de Hermes.

No Apocalipse de São João, trata-se de dois testemunhos ou mártires, aos quais a tradição profética
dá o nome de Elias e Enoque: Elias, o homem da fé, do zelo e do milagre; Enoque, o mesmo que os
Egípcios chamaram Hermes, e que os Fenícios honravam como Cadmo, o autor do alfabeto sagrado
e da chave universal das iniciações ao Verbo, o pai da Cabala, aquele, dizem as santas alegorias, que não morreu como os outros homens, mas que foi arrebatado ao céu para voltar no fim dos tempos.
Diziam, mais ou menos, a mesma coisa do próprio São João, que achou e explicou, no seu
Apocalipse, os símbolos do verbo de Enoque. Esta ressurreição de São João e Enoque, esperada nos
fins dos séculos de ignorância, será o renovamento das suas doutrinas pela inteligência das chaves
cabalísticas que abrem o templo da unidade e da filosofia universal, por muito tempo oculta e
reservada somente a eleitos que o mundo fazia morrer.
Mas dissemos que a reprodução da unidade pelo binário conduz forçosamente à noção e ao dogma
do ternário, e chegamos, enfim, a este grande número, que é a plenitude e o verbo perfeito da
unidade.



SACERDOTISA ABORDADA COMO RITUAL - Eliphas Levi
CAPÍTULO II
O EQUILÍBRIO MÁGICO
O equilíbrio é a resultante de duas forças.
Se as duas forças são absolutamente e sempre iguais, o equilíbrio será a imobilidade, e, por
conseguinte, a negação da vida. O movimento é o resultado de uma preponderância alternada.
O impulso dado a um dos pratos de uma balança determina necessariamente o movimento do outro.
Os contrários agem, assim, sobre os contrários, em toda a natureza, por correspondência e por
conexão analógica.
A vida inteira compõe-se de uma aspiração e de um sopro; a criação é a suposição de uma sombra
para servir de limite à luz, de um vácuo para servir de espaço à plenitude do ente, de um princípio
passivo fecundado para apoiar e realizar a força do princípio ativo gerador.
Toda a natureza é bissexual, e o movimento que produz as aparências da morte e da vida é uma
contínua geração.
Deus ama o vácuo que fez para encher; a ciência ama a ignorância que alumia; a força ama a
fraqueza que sustenta; o bem ama o mal aparente que o glorifica; o dia é apaixonado pela noite e a
persegue sem cessar, girando ao redor do mundo; o amor é, ao mesmo tempo, uma sede e uma
plenitude que tem necessidade de expansão. Aquele que dá recebe, e aquele que recebe dá; o
movimento é uma troca perpétua.
Conhecer a lei desta troca, saber a proporção alternativa ou simultânea destas forças é possuir os
primeiros princípios do grande arcano mágico, que constitui a verdadeira divindade humana.
Cientificamente, podemos apreciar as diversas manifestações do movimento universal pelos
fenômenos elétricos ou magnéticos. Os aparelhos elétricos revelam principalmente, material e
positivamente, as afinidades e antipatias de certas substâncias. A união do cobre com o zinco, a
ação de todos os metais na pilha galvânica, são revelações perpétuas e irrecusáveis. Que os físicos
procurem e descubram; os cabalistas explicarão as descobertas da ciência.
O corpo humano está submetido, como a terra, a uma dupla lei: atrai e irradia; está imantado com
um magnetismo andrógino e reage sobre as duas potências da alma, a intelectual e a sensitiva, em
razão inversa, mas proporcional, das preponderâncias alternadas dos dois sexos no seu organismo
físico.
A arte do magnetizador está inteiramente no conhecimento e no emprego desta lei. Polarizar a ação
e dar ao agente uma força bissexual e alternada é o meio ainda desconhecido e vãmente procurado
de dirigir à vontade os fenômenos do magnetismo; mas é preciso um tato muito exercitado e uma
grande exatidão nos movimentos interiores para não confundir os sinais de aspiração magnética com os da expiração; é preciso também conhecer perfeitamente a anatomia oculta e o temperamento especial das pessoas sobre as quais se age.
O que traz maior obstáculo à direção do magnetismo é a má fé ou má vontade dos pacientes. As
mulheres, principalmente, que são essencialmente e sempre comediantes, as mulheres que gostam
de se impressionar, impressionado os outros e que são as primeiras que se enganam, quando
representam o seu melodrama nervoso, as mulheres são a verdadeira magia negra do magnetismo.
Por isso, será impossível a magnetizadores não iniciados nos supremos arcanos e não assistidos com
as luzes da Cabala, dominar este elemento refratário e fugidio. Para ser senhor da mulher é preciso
distraí-la e enganá-la habilmente, deixando-lhe supor que é ela que vos engana. Este conselho, que
aqui damos especialmente aos médicos magnetizadores, talvez pudesse ter também sua utilidade e
sua aplicação na política conjugal.
O homem pode produzir à vontade dois sopros, um quente e outro frio; pode, igualmente, projetar à
vontade a luz ativa ou a luz passiva; mas é preciso que adquira a consciência desta força pelo hábito de pensar nela. Um mesmo gesto da mão pode, alternativamente, expirar e aspirar o que, por conveniência, chamamos fluido; e o próprio magnetizador será advertido do resultado da sua
intenção por uma sensação alternativa de calor e frio na mão, ou nas duas mãos, se operar com as
duas mãos ao mesmo tempo, sensação que o paciente deverá sentir ao mesmo tempo, mas em
sentido contrário, isto é, com uma alternativa totalmente oposta.
O pentagrama, ou signo do microcosmo, representa, entre outros mistérios mágicos, a dupla simpatia das extremidades humanas entre si e a circulação da luz astral no corpo humano. Assim,
figurando um homem na estrela do pentagrama, como podemos ver na filosofia oculta de Agrippa,
deve-se notar que a cabeça corresponde, em simpatia masculina, com o pé direito e em simpatia
feminina com o pé esquerdo; que a mão direita corresponde, do mesmo modo, com a mão e o pé esquerdos, e a mão esquerda, reciprocamente: o que é preciso observar nos passes magnéticos, se
quisermos chegar a dominar o organismo inteiro e a prender todos os membros pelas suas próprias
cadeias de analogia e de simpatia natural.
Este conhecimento é necessário para o uso do pentagrama, nas conjurações dos espíritos e
evocações das formas errantes na luz astral, chamadas vulgarmente necromancia, como
explicaremos no quinto capítulo deste Ritual; mas é bom observar, aqui, que toda ação provoca uma
reação, e que, magnetizando ou influenciando magicamente os outros, estabelecemos deles para nós
uma corrente de influência contrária, mas análoga, que pode submeter-nos a eles em vez de os
submeter a nós, como muitas vezes acontece nas operações que têm por objeto a simpatia e o amor.
É por isso que é essencial defendermo-nos, ao mesmo tempo em que atacamos, a fim de não
aspirarmos com a esquerda, ao mesmo tempo em que sopramos com a direita.
O andrógino mágico traz escrito, no braço direito: solve, e, no braço esquerdo: coagula, o que
corresponde à figura simbólica dos trabalhadores do segundo templo, que numa das mãos tinham a
espada e na outra a régua. Ao mesmo tempo em que se constrói é preciso defender a sua obra,
dispersando os inimigos: a natureza nada mais faz, quando destrói ao mesmo tempo em que
regenera. Ora, conforme a alegoria do calendário mágico de Duchenteau, o homem, isto é, o
iniciado, é o macaco da natureza, que o conserva preso, mas também o faz agir incessantemente em
imitações dos processos e das obras da sua divina senhora e do seu imperecível modelo.
O emprego alternado das forças contrárias, o quente depois do frio, a afabilidade depois da
severidade, o amor depois da cólera, etc., é o segredo do movimento perpétuo e do prolongamento
do poder; é o que instintivamente sentem as namoradeiras, que fazem passar seus adoradores da
esperança ao temor e da alegria à tristeza. Agir sempre no mesmo sentido e do mesmo modo é
sobrecarregar um único prato da balança, e disso logo resultará a destruição absoluta do equilíbrio.
A perpetuidade das carícias engendra logo a saciedade, o desgosto e a antipatia, do mesmo modo
que uma frialdade e uma severidade constante afasta e desanima aos poucos a afeição. Em alquimia,
um fogo é sempre o mesmo e continuamente ardente, calcina a matéria-prima e faz, às vezes,
rebentar o vaso hermético: é preciso substituir, em intervalos regulados, pelo calor do fogo ou da cal
ou do adubo mineral. É assim que é preciso, em magia, temperar as obras de cólera ou de rigor por
operações de benevolência e de amor, e que, se o operador conservar a tensão da sua vontade
sempre no mesmo sentido e da mesma forma, resultará disso uma grande fadiga para ele e logo uma
espécie de impotência moral.
O mago não deve, pois, viver exclusivamente no seu laboratório, entre seu Athanor, seus elixires e
seus pantáculos. Por mais devorador que seja o olhar desta Circe, que chamamos a força oculta, é
preciso saber apresentar-lhes a propósito a espada de Ulisses e afastar a tempo, dos nossos lábios, o
copo que ela nos apresenta. Sempre uma operação mágica deve ser seguida de um repouso igual à
sua duração e de uma distração análoga, mas contrária ao seu objeto. Lutar continuamente contra a
natureza para dominá-la e vencê-la é expor a sua razão e a sua vida. Paracelso ousou fazê-lo, e, não
obstante, até nesta luta, empregava forças equilibradas e substituída a embriaguez pela fadiga
corporal, e a fadiga corporal por um novo trabalho da inteligência. Por isso, Paracelso era um
homem de inspiração e de milagres; mas gastou a sua vida nesta atividade devoradora, ou antes,
fatigou e rasgou rapidamente a sua vestimenta porque os homens semelhantes a Paracelso podem
usar e abusar, sem nada temer; sabem muito bem que não poderiam morrer, assim como não devem
envelhecer neste mundo.
Nada predispõe mais à alegria do que a dor e nada está mais perto da dor do que a alegria. Por isso,
o operador ignorante fica admirado de chegar sempre a resultados contrários aos que se propõe,
porque não sabe nem cruzar nem alternar sua ação; quer enfeitiçar seu inimigo, e torna a si próprio
infeliz e doente; quer fazer-se amar, e apaixona-se miseravelmente por mulheres que zombam dele;
quer fazer ouro, e gasta seus últimos haveres: o seu suplício é eternamente o de Tântalo, a água se
retira sempre, quando quer beber.
Os antigos, nos seus símbolos e nas suas operações mágicas multiplicavam os signos do binário,
para não esquecerem a sua lei, que é a do equilíbrio. Nas suas evocações, sempre construíram dois
altares diferentes e imolavam duas vítimas, uma branca e outra negra; o operador ou a operadora,
tendo numa das mãos a espada e na outra a baqueta, devia ter um pé calçado e outro descalço.
Todavia, como o binário seria a imobilidade e a morte sem o motor equilibrante, só podiam ser um
ou três, nas obras de magia; e quando um homem e uma mulher tomavam parte na cerimônia, o
operador devia ser uma virgem, um andrógino ou uma criança.
Perguntar-me-ão se a bizarria destes ritos é arbitrária e se ela tem por fim exercitar a vontade,
multiplicando a seu bel-prazer as dificuldades da obra mágica. Responderei que, em magia, nada há
de arbitrário, porque tudo é regulado e determinado adiantadamente pelo dogma único e universal
de Hermes, o da analogia nos três mundos. Todo signo corresponde a uma idéia e tem a forma
especial de uma idéia; todo ato exprime uma vontade correspondente a um pensamento e formula as
analogias desse pensamento e dessa vontade. Os ritos são determinados adiantadamente pela própria
ciência. O ignorante, que não sabe o seu tríplice poder, sofre a sua fascinação misteriosa; o sábio os
entende e faz deles o instrumento da sua vontade; mas, quando são realizados com exatidão e fé,
nunca fiam sem efeito.
Todos os instrumentos mágicos devem ser duplos; é preciso ter duas espadas, duas baquetas, dois
copos, dois fogareiros, dois pantáculos e duas lâmpadas; trazer duas vestimentas superpostas e de
cores contrárias, como ainda o praticam os padres católicos; é preciso não ter consigo nenhum metal
ou ter dois. As coroas de loureiro, arruda, artemísia ou verbena devem ser igualmente duplas; nas evocações, guarda-se uma das coroas e queima-se a outra, observando como augúrio o ruído que faz
ao queimar e as ondulações da fumaça que produz.
Esta observância não é vã, porque, na obra mágica, todos os instrumentos da arte são magnetizados
pelo operador; o ar está carregado dos seus perfumes, o fogo consagrado por ele está submetido à
sua vontade, as forças da natureza parecem ouvi-lo e responder-lhe; lê em todas as formas as
modificações e os complementos do seu pensamento. É então que vê a água turvar-se e como que ferver por si mesma, o fogo dar grande luz ou se extinguir, as folhas das grinaldas agitarem-se, a
baqueta mágica mover-se por si mesma, e que ouve passar, no ar, vozes estranhas e desconhecidas.
Foi em semelhantes evocações que Juliano viu aparecerem os fantasmas muito amados dos seus
deuses decaídos e, contra sua vontade, espantou-se da decrepitude e palidez deles.
Sei que o cristianismo suprimiu para sempre a magia cerimonial e proscreve severamente as
evocações e os sacrifícios do mundo antigo: por isso, a nossa intenção não é dar-lhes uma nova
razão de ser, vindo revelar, depois de tantos séculos, os seus antigos mistérios. As nossas
experiências, até nesta ordem de fatos, foram investigações sábias e nada mais. Constatamos fatos
para apreciar causas, e nunca tivemos a pretensão de renovar ritos para sempre destruídos.
A ortodoxia israelita, esta religião tão racional, tão divina e tão pouco conhecida, não reprova
menos que o cristianismo os mistérios da magia cerimonial. Até para a tribo de Levi, o exercício da
alta magia, devia ser considerado como uma usurpação do sacerdócio, e é a mesma razão que fará
proscrever, por todos os meios oficiais, a magia operadora, adivinhatória e milagrosa.
Mostrar o natural do maravilhoso e produzi-lo à vontade é destruir para o vulgo a prova conclusiva
dos milagres que cada religião reivindica como sua propriedade exclusiva e seu argumento
definitivo.
Respeito às religiões estabelecidas, mas há também lugar para a ciência. Não estamos mais, graças a Deus, no tempo dos inquisidores e das fogueiras; não se assassinam mais infelizes sábios, pela
crença de alguns fanáticos alienados ou de algumas moças histéricas. Aliás, seja entendido que
fizemos estudos curiosos, e não uma propaganda impossível, insensata. Os que nos criticarem de
ousarmos chamar-nos magos, nada têm a temer de um tal exemplo, e é mais que provável que nunca
se tornarão feiticeiros.

 por Crowley

II.  A ALTA SACERDOTISA 
Esta carta se refere à letra Gimel, que significa camelo (o simbolismo do camelo é elucidado na seqüência).  
A referência da carta é à Lua. A Lua (sendo o símbolo feminino geral, o símbolo da segunda ordem correspondendo ao Sol como o yoni corresponde ao lingam) é universal e vai do mais alto ao mais baixo. Trata-se de um símbolo que reaparecerá  frequentemente nestes hieróglifos. Mas nos primeiros trunfos a concorrência é com a natureza abaixo do Abismo; A Alta Sacerdotisa é a primeira carta que liga a Tríade Superior com a Héxade, e seu caminho, como é mostrado no diagrama, produz uma conexão direta entre o Pai em seu aspecto mais elevado e o Filho em sua manifestação mais perfeita. Este caminho está em equilíbrio exato no Pilar do Meio. Há aqui, portanto, a mais pura e mais exaltada concepção da Lua (no outro extremo da escala está o Atu XVIII, q. v.).  
A carta representa a forma mais espiritual de Ísis, a virgem eterna, a Ártemis dos gregos. Ela está trajada tão-somente do véu brilhante de luz. É importante para a alta iniciação considerar a Luz não como a perfeita manifestação do Espírito Eterno, mas, preferivelmente, como o véu que oculta este Espírito. Ela assim o faz sumamente efetiva devido ao seu brilho incomparavelmente deslumbrante. *  Assim ela é luz e o corpo de luz. Ela é a verdade atrás do véu de luz. Ela é a alma de luz. Sobre os joelhos dela está o arco de Ártemis, que é também um instrumento musical pois ela é caçadora e caça por encantamento. 
Agora que se considere esta ideia como a partir de detrás do Véu de Luz, o terceiro Véu do nada original. Esta luz é o mênstruo da manifestação, a deusa Nuit, a possibilidade da Forma. Esta manifestação primeira e maximamente espiritual do feminino toma para si um correlativo masculino ao formular em si mesma qualquer ponto geométrico a partir do qual se contempla a possibilidade. Esta deusa virginal é então potencialmente a deusa da fertilidade. Ela é a idéia por trás de toda a forma; logo que a influência da tríade desce abaixo do Abismo ocorre a conclusão da idéia concreta.  
* A tradição das melhores escolas do misticismo hindu possui um paralelismo preciso. O obstáculo final à Iluminação plena é exatamente esta Visão de Efulgência Amorfa.  
Os capítulos seguintes, de The Book of  Lies (falsely so-called), ** pode auxiliar o estudante a compreender essa doutrina por meio de meditação:  
** O Livro das Mentiras (falsamente assim chamado) (NT).    
DIABOS DE PÓ  
No Vento da mente, nasce a turbulência chamada Eu. Ele rompe; inunda os pensamentos estéreis. Toda vida é sufocada. Este deserto é o Abismo onde está o Universo. As Estrelas    são apenas cardos nesta aridez. Contudo, este deserto é apenas um lugar amaldiçoado num    mundo de glória. Agora e novamente, Viajantes cruzam o deserto; eles vêm do    Grande Mar, e para o Grande Mar eles vão. Enquanto caminham, eles derramam água; um dia eles irrigarão o    deserto, até que floresça.
Vê! cinco pegadas de um Camelo! V.V.V.V.V. 
No fundo da carta, há figuras nascentes, cristais, sementes, simbolizando o início da vida. No meio, está o Camelo que é mencionado no capítulo cotado acima. Nesta carta, está a ligação entre os mundos arquetípico e criativo. 
Considerou-se este caminho, até aqui, pelo fato de ele descer direto da Coroa; mas para o Aspirante, ou melhor, para o Adepto que já está em Tipharet, tendo alcançado o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, este é o caminho que leva para cima; e esta carta, em um sistema chamada de “A Princesa da Estrela Prateada”, simboliza o pensamento (melhor: a radiância inteligível) do Anjo. Em resumo, este é um símbolo da mais alta iniciação. Mas é uma condição da iniciação que suas chaves sejam comunicadas, por aqueles que as possuem, para todos os verdadeiros aspirantes. Esta carta é, portanto, um glifo muito peculiar do trabalho da A∴A∴ Uma idéia dessa fórmula é dada neste outro capítulo do Livro das Mentiras: 
A OSTRA 
Os Irmãos da Α∴Α∴são um com a Mãe da Criança. (4) Os Muitos são adoráveis ao Um, como o Um o é para os Muitos. Este é o     Amor Destes; criação-parto é a Glória do Um; coito-dissolução é a Glória     de Muitos. O Todo, assim combinado com Estes, é Glória. Nada está além da Glória.  O Homem delicia-se ao unir-se com a Mulher; a Mulher em parir uma     Criança. Os Irmãos da Α∴Α∴são Mulheres: os Aspirantes à Α∴Α∴são     Homens.  
É importante refletir que esta carta é inteiramente feminina, inteiramente virginal pois representa a influência e o meio de manifestação (ou, de baixo, de obtenção) em si mesma. Representa possibilidade em seu segundo estágio sem qualquer começo de consumação.  
Cumpre observar, em particular, que as três letras consecutivas, Gimel, Daleth e Hé (Atu II, III, XVII) exibem o símbolo feminino (Yin) sob três formas compondo a Deusa Triuna. Esta trindade é imediatamente seguida pelos três Pais correspondentes e complementares, Vau, Tzaddi, Yod (Atu IV, V, IX). Os trunfos 0 e I são hermafroditas. Os catorze trunfos restantes representam estas Quintessências Primordiais do Ser em conjunção, função ou manifestação. 


quinta-feira, 5 de maio de 2016

O MAGO ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEI E CROWLEY



O Mago - Beth - a flecha - O Mago do Poder
O propósito da Criação: uma morada para Deus neste mundo inferior
Mercúrio - Terra
Está acima detodas as aflições e de todos os temores.
DOGMA

O RECIPIENDÁRIO
DISCIPLINA – ENSOPH - KETHER
Quando um filósofo tomou para base de uma nova revelação da sabedoria humana este raciocínio:
“Penso, logo existo”, ele mudou de algum modo e à sua vontade, conforme a revelação cristã, a
noção antiga do Ente supremo. Moisés faz dizer ao Ente dos entes: “Eu sou quem sou”. Descartes
faz dizer ao Ente dos entes: “Eu sou aquele que pensa”, e como pensar é falar interiormente, o
homem de Descartes pode dizer como o Deus de São João Evangelista: “Eu sou aquele em quem
está e por quem se manifesta o Verbo”. In principio erat verbum.
Que é um princípio? É uma base de palavra, é uma razão de ser do verbo. A essência do verbo está
no princípio: o princípio é o que é; a inteligência é um princípio que fala.
Que é a luz intelectual? É a palavra. Que é a revelação? É a palavra; o ente é o princípio, a palavra é
o meio e a plenitude ou o desenvolvimento, e a perfeição do ente é o fim: falar é criar.
Porém, dizer: "Eu penso, logo existo", é concluir da conseqüência ao princípio, e recentes
contradições levantadas por um grande escritor provaram suficientemente a imperfeição filosófica
deste método. Eu sou, logo existe alguma coisa, nos parece uma base mais primitiva e mais simples
da filosofia experimental.
Eu sou, logo o ente existe. Ego sum qui sum: eis aí a revelação primária de Deus no homem e do
homem no mundo, e é também o primeiro axioma da filosofia oculta.

RITUAL
A maioria dos rituais mágicos conhecidos são mistificações ou enigmas, e vamos rasgar, pela
primeira vez, depois de tantos séculos, o véu do santuário oculto. Revelar a santidade dos mistérios
é remediar a sua profanação. Tal é o pensamento que sustenta a nossa coragem e nos faz afrontar
todos os perigos desta obra, a mais ousada talvez que tenha sido dado ao espírito humano conceber
e realizar.
As operações mágicas são o exercício de um poder natural, mas superior às forças ordinárias da
natureza. São o resultado de uma ciência e de um hábito, que exaltam a vontade humana acima dos
seus limites habituais.
O sobrenatural é simplesmente o natural extraordinário ou natural exaltado: um milagre é um
fenômeno que impressiona a multidão, porque é inesperado; o maravilhoso e o que admira são
efeitos que surpreendem os que ignoram suas causas ou lhes atribuem causas não proporcionais a
semelhantes resultados. Só há milagres para os ignorantes; mas como não existe ciência absoluta
entre os homens, o milagre ainda pode existir, e existe para todos.
Comecemos por dizer que cremos em todos os milagres, porque estamos convencidos e certos, até
pela nossa própria experiência, da sua inteira probabilidade.
Existem os que não explicamos, mas que nem por isso deixamos de considerar como explicáveis.
De o mais ao menos e do menos ao mais, as consequências são identicamente as mesmas e as
proporções progressivamente rigorosas.
Mas, para fazer milagres, é preciso estar fora das condições comuns da humanidade; é preciso estar
ou abstraído pela sabedoria, ou exaltou pela loucura, acima de todas as paixões, ou fora das paixões,
pelo êxtase ou frenesi. Tal é a primeira e mais indispensável das preparações do operador.
Assim, por uma lei providencial ou fatal, o mago só pode exercer a onipotência na razão inversa do
seu interesse material; o alquimista faz tanto mais ouro, quanto mais se resigna às privações e
estima a pobreza, protetora dos segredos da grande obra.
Só o adepto de coração sem paixão disporá do amor ou ódio daqueles que quiser fazer de
instrumentos da sua ciência: o mito do Gênese é eternamente verdadeiro, e Deus só permite que se
aproximem da árvore da ciência os homens tão abstinentes e tão fortes para não cobiçar os frutos.
Vós, pois, que procurais na magia o meio de satisfazer vossas paixões, parai nesse caminho funesto;
só achareis nele a loucura ou a morte. É o que exprimiam outrora por esta tradição vulgar: que o
diabo acabava, mais cedo ou mais tarde, por torcer o pescoço dos feiticeiros.
O magista deve, pois, ser impassível, sóbrio e casto, desinteressado, impenetrável e inacessível a
toda espécie de preconceitos ou terror. Deve ser sem defeitos corporais e estar à prova de todas as
contradições e de todos os sofrimentos. A primeira e mais importante das obras mágicas é chegar a
esta rara superioridade.
Dissemos que o êxtase apaixonado pode produzir os mesmos resultados que a superioridade absoluta, e isto é verdade no que diz respeito ao sucesso, mas não no que se refere ao governo das
operações mágicas.
A paixão projeta com força a luz vital e imprime movimentos imprevistos no agente universal: mas
não pode reter tão facilmente como lançou, e o seu destino é, então, semelhante ao de Hipólito
arrastado pelos seus próprios cavalos, ou ao de Phalaris experimentando o próprio instrumento de
suplícios que inventara para outros.
A vontade humana realizada pela ação é semelhante à bala de canhão que nunca recua diante do
obstáculo. Ela o atravessa, ou entra e perde-se nele, quando é lançada com violência; mas, se
caminhar com paciência e perseverança, nunca se perde, e é como a onda que sempre volta e acaba
por corroer o ferro.
O homem pode ser modificado pelo hábito, que, conforme o provérbio, nele se torna uma segunda natureza. Por meio uma ginástica perseverante e graduada, as forças e a agilidade do corpo se desenvolvem ou se criam numa proporção que admira. O mesmo se dá com as forças da alma.
Quereis vós reinar sobre vós mesmos e os outros? Aprendei a querer.
Como se pode aprender a querer? Aqui está o primeiro arcano da iniciação mágica, e é para fazer
compreender a própria essência deste arcano que os antigos, depositários da arte sacerdotal
rodeavam os acessos do santuário de tantos terrores e prestígios. Só davam crédito a uma vontade, quando tinha dado suas provas, e tinham razão. A força só pode afirmar-se por vitórias.
A preguiça e o esquecimento são os inimigos da vontade, e é por isso que todas as religiões
multiplicaram as práticas e tornaram minucioso e difícil o seu culto. Quanto mais a pessoa se
preocupa por uma idéia, tanto mais adquire força no sentido dessa idéia.
As mães mão preferem os filhos que lhes causaram mais dores e lhes custaram mais cuidados? Por
isso, a força das religiões está inteiramente na inflexível vontade dos que a praticam. Enquanto
houver um fiel crente do santo sacrifício da missa, haverá um padre para dizê-la, e enquanto houver
um padre que reze todos os dias o seu breviário, haverá um papa no mundo.
As práticas mais insignificantes em aparência e mais estranhas em si mesmas, ao fim que nos
propomos, levam, não obstante, a esse fim pela educação e o exercício da vontade. Um camponês
que se levantasse todas as manhãs, às duas ou três horas, e que fosse bem longe colher, todos os
dias, um ramo da mesma erva, antes do levantar do sol, poderia, levando consigo a erva, operar um
grande número de prodígios. Esta erva seria o sinal da sua vontade e tornar-se-ia, para esta própria vontade, tudo o que ele quisesse que se tornasse no interesse dos seus desejos.
Para poder é preciso crer que se pode, e esta fé deve traduzir-se imediatamente em atos. Quando
uma criança diz: “Não posso”, sua mãe lhe responde: “experimenta”. A fé nem mesmo experimenta;
ela começa com a certeza de acabar, e trabalha com calma, como tendo a onipotência às suas ordens
e a eternidade diante de si.
Vós, pois, que vos apresentais diante da ciência dos magos, que lhes pedis? Ousai formular vosso
desejo, seja qual for, depois ponde-vos imediatamente à obra, e não cesseis mais de agir no mesmo
sentido e para o mesmo fim; o que quereis será feito, e já está começado para vós e por vós.
Sixto V, apascentando suas ovelhas, tinha dito: “Quero ser papa”.
Sois pedinte e quereis fazer ouro: ponde-vos à obra e não cesseis mais. Eu vos prometo, em nome
da ciência, todos os tesouros de Flamel e Raimundo Lullo.
Que é preciso fazer primeiramente? – É preciso crer que podeis, e, depois, agir. – Agir como? –
Levantar-vos todos os dias à mesma hora e cedo; lavar-vos, em qualquer estação, antes do dia, numa
fonte; nunca trazer roupas sujas, e, para isso, lavá-las vós mesmos, se for preciso; exercer-vos às
privações voluntárias, para melhor suportar as involuntárias; depois impor silêncio a todo desejo
que não seja o da realização da grande obra. – Como? Lavando-me todos os dias, numa fonte, farei
ouro? – Trabalhareis para fazê-lo. – É uma zombaria! – Não, é um arcano. – Como posso servir-me
de um arcano que não sei compreender? – Crede e fazei; compreendereis depois.
Uma pessoa me disse um dia: - Queria ser um fervoroso católico, mas sou um volteriano. Quanto
não daria para ter a fé! – Pois bem, lhe respondi, não digais mais: Queria; dizei: Quero, e fazeis as
obras da fé; eu vos asseguro que acreditareis. Vós sois voltaireano, dizeis, e entre os diferentes
modos de entender a fé, o dos jesuítas vos é o mais antipático, e vos parece, entretanto, o mais
desejável e forte... Fazei, e recomeçai, sem vos desanimar, os exercícios de Santo Inácio, e ficareis
crentes como um jesuíta. O resultado é infalível, e, se então tiverdes a ingenuidade de crer que é um
milagre, vós já vos enganais, crendo-vos voltaireano.
Um preguiçoso nunca será mago. A magia é um exercício de todas as horas e de todos os instantes. É preciso que o operador das grandes obras seja senhor absoluto de si mesmo; que saiba vencer as
atrações do prazer, o apetite e o sono; que seja insensível ao sucesso como à afronta. A sua vida
deve ser uma vontade dirigida por um pensamento e servida pela natureza inteira, que terá
subordinada ao espírito nos seus próprios órgãos e por simpatia em todas as forças universais que
lhe são correspondentes.
Todas as faculdades e todos os sentidos devem tomar parte na obra, e nada no sacerdote de Hermes
tem direito de estar ocioso; é preciso formular a inteligência por signos e resumi-la por caracteres ou
pantáculos; é preciso determinar a vontade por palavras e realizar as palavras por atos; é preciso
traduzir a idéia mágica em luz para os olhos, em harmonia para os ouvidos, em perfumes para o
olfato, em sabores para a boca, e em formas para o tato; é preciso, numa palavra, que o operador realize na sua vida inteira o que quer realizar fora de si no mundo; é preciso que se torne um imã
para atrair a coisa desejada; e, quando estiver suficientemente imantado, saiba que a coisa virá sem
que ele pense por si mesma.
É importante que o mago saiba os segredos da ciência; mas pode conhecê-los por intuição e sem os
ter aprendido. Os solitários que vivem na contemplação habitual da natureza, adivinham, muitas
vezes, as suas harmonias e são mais instruídos, no seu simples bom senso, do que os doutores, cujo
sentido natural é falseado pelo sofismas das escolas. Os verdadeiros magos práticos se acham quase
sempre no sertão e são, muitas vezes, pessoas sem instrução ou simples pastores.
Existem também certas organizações físicas mais dispostas do que outras às revelações do mundo
oculto; existem naturezas sensitivas e simpáticas às quais a intuição na luz astral é, por assim dizer,
inata; certos desgostos e doenças podem modificar o sistema nervoso, e fazer dele, sem o concurso
da vontade, um aparelho de adivinhação mais ou menos perfeito; mas estes fenômenos são
excepcionais, e geralmente o poder mágico deve e pode ser adquirido pela perseverança e o
trabalho.
Existem também substâncias que produzem êxtase e dispõem ao sono magnético; existem as que
põem ao serviço da imaginação todos os reflexos mais vivos e coloridos da luz elementar; mas o
uso dessas substâncias é perigoso, porque, em geral, produzem a estupefação e a embriaguez.
Todavia, empregamo-las, mas em proporções rigorosamente calculadas e em circunstâncias
excepcionais.
Aquele que quer entregar-se seriamente às obras mágicas, depois de ter firmado o seu espírito
contra qualquer perigo de alucinação e temor, deve purificar-se, exterior e interiormente, durante
quarenta dias. O número quarenta é sagrado, e até a sua figura é mágica. Em algarismos árabes,
compõem-se do círculo, imagem do infinito, e do 4, que resume o ternário pela unidade. Em
algarismos romanos, dispostos do modo seguinte, representa o signo do dogma fundamental de
Hermes e o caráter do selo de Salomão:
A purificação do mago deve consistir na abstinência das voluptuosidades brutais, num regime
vegetariano e brando, na supressão dos licores fortes e na regularidade das horas de sono. Esta
preparação foi indicada e representada, em todos os cultos, por um tempo de penitência e privações que precede as festas simbólicas da renovação da vida.
É preciso, como já dissemos, observar, para o exterior, a limpeza mais escrupulosa: o mais pobre
pode achar água nas fontes. É preciso também lavar ou mandar lavar com cuidado as roupas, os
móveis e os vasos que se usam. Toda sujidade atesta uma negligência, e, em magia, a negligência é
mortal.
É preciso purificar o ar, ao levantar-se e deitar-se, com um perfume composto de seiva de louro, sal,
cânfora, resina branca e enxofre, e recitar, ao mesmo tempo, as quatro palavras sagradas, voltando
se para as quatro partes do mundo.
Não devemos falar a ninguém das obras que realizamos; e, como dissemos bastante no Dogma, o
mistério é a condição rigorosa e indispensável de todas as operações da ciência. É preciso desviar os
curiosos, alegando outras ocupações e investigações, como experiências químicas para resultados
industriais, prescrições higiênicas, a investigação de alguns segredos naturais, etc.; mas a palavra
proibida de magia nunca deve ser pronunciada.
O mago deve isolar-se, no começo, e mostrar-se muito difícil em relações, para concentrar em si a
sua força e escolher os pontos de contato; mas quanto mais for selvagem e inacessível nos primeiros
tempos, tanto mais vê-lo-ão, mais tarde, rodeado e popular, quando tiver imantado a sua cadeia e
escolhido o seu lugar numa corrente de idéias de luz.
Uma vida trabalhosa e pobre é de tal modo favorável à iniciação pela prática, que os maiores
mestres a procuraram, até quando podiam dispor das riquezas do mundo. É então que Satã, isto é, o
espírito de ignorância, que ri, duvida e odeia a ciência, porque a teme, vem tentar o futuro senhor do
mundo, dizendo-lhe: “Se és o filho de Deus, faz com que estas pedras se tornem pães”. As pessoas
de dinheiro procuram, então, humilhar o príncipe da ciência, obstando, desapreciando ou
explorando miseravelmente o seu trabalho; partem em dez pedaços, para que estenda a mão dez
vezes, o pedaço de pão de que parece ter necessidade. O mago nem mesmo se digna sorrir desta
inépcia, e prossegue na sua obra com acalma.
É preciso evitar, tanto quanto possível, a vista das coisas horrendas e das pessoas feias; não comer em casa de pessoas que não se estimam, evitar todos os excessos e viver do mudo mais uniforme e
organizado.
Ter o maior respeito por si mesmo e considerar-se como um soberano desconhecido que assim faz
para reconquistar a sua coroa. Ser dócil e digno com todos; mas, nas relações sociais, nunca deixar se absorver e retirar-se dos círculos em que não haja nenhuma iniciativa.
Podemos, enfim, e mesmo devemos fazer as obrigações e praticar os ritos do culto a que
pertencemos. Ora, de todos os cultos, o mais mágico é aquele que realiza mais milagres, que apoia,
nas mais sábias razões, os mais inconcebíveis mistérios, que tem luzes iguais às suas sombras, que
populariza os milagres e encarna Deus nos homens pela fé. Esta religião sempre existiu, e sempre
houve no mundo, sob diversos: é a religião única e dominante. Agora, ela tem, entre os povos da
terra, três formas em aparência hostis umas às outras, que se reunirão logo numa única para
constituir uma Igreja universal. Quero falar da ortodoxia russa, do catolicismo romano e de uma
última transfiguração da religião de Buda.
Cremos ter feito compreender bem, pelo que precede, que a nossa magia é oposta à dos goécios e
necromantes. A nossa magia é, ao mesmo tempo, uma ciência e uma religião absoluta, que deve não
destruir e absorver todas as opiniões e todos os cultos, mas regenerá-los e dirigi-los, reconstituindo
o círculo dos iniciados, e dando, assim, às massas cegas, condutores sábios e clarividentes.
Vivemos num século em que não há nada para destruir; mas tudo está para refazer, porque tudo está destruído. – Refazer o quê? O passado? –Não se refaz o passado. – Reconstruir o quê? Um templo e um trono? - Para que, se os antigos caíram? – É como se dissésseis: A minha casa acaba de cair de
velhice; para que serve construir uma outra? – Mas a casa que ides construir será semelhante à que
caiu? – Não; aquela que caiu era velha, e esta será nova. – Mas, enfim, será sempre uma casa? –
Que queríeis, pois, que fosse?

O MAGO por Crowley
I.  O PRESTIDIGITADOR * 
* Ainda neste mesmo ensaio e na própria carta por ele mesmo concebida, Crowley optará pelo título “O Mago”, em lugar de  “O Prestidigitador” (NT).  
Esta carta se refere à letra  Beth, que significa casa, e é atribuída ao planeta  Mercúrio.
As ideias ligadas a este símbolo são tão complexas e tão multifárias que parece melhor vincular a esta descrição geral certos documentos que sustentam diferentes aspectos desta carta. O todo formará então uma base adequada para a interpretação plena da carta mediante estudo, meditação e uso.  
O título francês desta carta no baralho medieval é Le Bateleur, o portador do bâton. ** Mercúrio é preeminentemente o portador do bastão: energia emitida.
Esta carta representa, portanto, a Sabedoria, a Vontade, a Palavra, o Logos pelos quais os mundos foram criados (ver o Evangelho segundo São João, capítulo I). Representa a Vontade. Em suma, ele é o Filho, a manifestação em ato da ideia do Pai. Ele é o correlativo masculino d’A Alta Sacerdotisa. Que não haja confusão aqui por conta da doutrina fundamental do Sol e a Lua como a Segunda Harmonia para o lingam e o yoni, pois, como se perceberá na citação de The Paris Working, *** (ver apêndice) o criativo Mercúrio tem a natureza do Sol. Entretanto, Mercúrio é o caminho conduzindo de Kether a Binah, a Compreensão e assim ele é o mensageiro dos deuses, representando precisamente esse lingam, a Palavra de criação cujo discurso é silêncio.  
** Variante: Le Pagad, de origem desconhecida. Sugestões de possíveis origens:               (1) PChD, terror (esp. pânico), um título de Geburah; também coxa, isto é, membro viril; por analogia                     com o árabe, PAChD, causador de terror: valor  93 !! 
              (2) Pagode, um memorial fálico: similar e igualmente apropriado.  *** A Operação de Paris (NT).  
Mercúrio, contudo, representa ação em todas as formas e fases. Ele é a base fluídica de toda transmissão de atividade e na teoria dinâmica do universo é, ele mesmo, a substância do universo. Ele é, na linguagem da moderna física, aquela carga elétrica que é a primeira manifestação do anel de dez ideias indefiníveis, como explicado anteriormente. Ele é assim criação contínua.  
Logicamente também, sendo a Palavra, ele é a lei da razão ou da necessidade ou acaso, que é o significado secreto da Palavra, que é a essência da Palavra e a condição de seu pronunciamento. Sendo assim, e especialmente porque ele é dualidade, ele representa tanto  verdade quanto  falsidade, tanto sabedoria quanto loucura. Sendo o inesperado, ele desestabelece qualquer idéia estabelecida e portanto é enganador. Ele não tem consciência, sendo criativo. Se não consegue atingir seus fins através de meios limpos, ele usa meios sujos. As lendas do jovem Mercúrio são portanto lendas da astúcia. Ele não pode ser compreendido porque ele é a Vontade Inconsciente. Sua posição na Árvore da Vida mostra a terceira Sephira, Binah (Compreensão) como ainda por ser formulada; ainda menos a falsa Sephira, Da’ath, conhecimento.  
Do exposto acima parecerá que esta carta é a segunda emanação da Coroa, e portanto, num certo sentido, a forma adulta da primeira emanação, O Louco, cuja letra é Aleph, a unidade. Estas idéias são tão sutis e tão tênues nestes planos exaltados do pensamento que a definição é impossível. Na verdade, não é sequer desejável, porque é da natureza dessas idéias fluírem  uma para a outra. Tudo que se pode fazer é dizer que qualquer dado hieróglifo representa uma ligeira insistência sobre alguma forma particular de uma idéia pantomorfa. Nesta carta, a ênfase é sobre o caráter criativo e dualístico do caminho de Beth.  
Na carta tradicional, o disfarce é o de um prestidigitador.  
Esta representação do Prestidigitador é uma das mais grosseiras e menos satisfatórias do baralho medieval. Ele é usualmente representado com uma cobertura de cabeça de forma semelhante ao sinal do infinito em matemática (mostrado minuciosamente na carta chamada dois de Discos). Segura um bastão com uma saliência arredondada em cada extremidade, o que se ligava provavelmente à polaridade dupla da eletricidade; mas é também o bastão oco de Prometeu que traz fogo do céu. Sobre uma mesa ou altar, atrás do qual ele está de pé, estão as três outras armas elementares. 
“Com a baqueta, Ele cria.   Com a Taça, Ele preserva.   Com a Adaga, Ele destrói.   Com a Moeda, Ele redime.                                         Liber Magi  vv. 7-10.
” 
A carta que apresentamos aqui foi desenhada principalmente com base na tradição grecoegípcia, pois a compreensão dessa idéia foi certamente mais avançada quando essas filosofias modificaram-se reciprocamente do que em outra parte em qualquer época.  
A concepção hindu de Mercúrio, Hanuman, o deus-macaco, é abominavelmente degradada. Nenhum dos aspectos mais elevados do símbolo é encontrado em seu culto. A meta de seus adeptos parece principalmente ter sido a produção de uma encarnação temporária do deus enviando as mulheres da tribo todo ano ao interior da selva. Tampouco localizamos qualquer lenda de alguma profundidade ou espiritualidade. Hanuman é seguramente pouco mais que o macaco de Thoth. 

A principal característica de Tahuti ou Thoth, o Mercúrio egípcio, é em primeiro lugar ter a cabeça da íbis. A íbis é o símbolo da concentração porque se supunha que esta ave permanecia continuamente sobre uma perna, imóvel. Trata-se muito evidentemente de um símbolo do espírito meditativo. Pode ter havido também alguma referência ao mistério central do Aeon de Osíris, o segredo guardado tão cuidadosamente do profano, que a intervenção do macho era necessária para a produção de filhos. Nesta forma de Thoth, ele é visto portando o bastão da fênix, simbolizando ressurreição mediante o processo generativo. Em sua mão esquerda está  Ankh, que representa uma correia de sandália, ou seja, o meio de progresso através dos mundos, que é a marca distintiva da divindade. Mas, por sua forma, este Ankh (crux ansata) é realmente uma outra forma da Rosacruz, não sendo este fato talvez tal acidente como  modernos egiptólogos, preocupados com sua tentada refutação da escola fálica de arqueologia, nos fariam supor.  
A outra forma de Thoth o representa primariamente como Sabedoria e Palavra. Ele segura na mão direita o estilo, na esquerda o papiro. Ele é o mensageiro dos deuses; transmite a vontade deles por meio de hieróglifos inteligíveis ao iniciado e registra os atos deles. Mas foi notado desde tempos remotos que o uso do discurso, ou escrita significou a introdução da ambigüidade na melhor das hipóteses e da falsidade na pior; representaram, portanto, Thoth seguido por um macaco, o cinocéfalo, cuja função era distorcer a Palavra do deus, arremedar, simular e ludibriar. Na linguagem filosófica, pode-se dizer: a manifestação implica na ilusão. Esta doutrina é encontrada  na filosofia hindu, onde o aspecto do Tahuti de que estamos falando é chamado de Maya. Esta doutrina também é encontrada na imagem central e típica da escola Mahayana do budismo (realmente idêntica à doutrina de Shiva e Shakti). Uma  visão dessa imagem será achada no documento intitulado  O Senhor da  
A presente carta se empenha em representar todas as concepções acima expostas. E, contudo, nenhuma imagem verdadeira é possível de modo algum pois, primeiro, todas as imagens são necessariamente falsas como tais, e segundo, sendo o movimento perpétuo e sua taxa aquela do limite, c, o grau de velocidade de luz, qualquer êxtase contradiz a idéia da carta: esta figura é, portanto, dificilmente mais do que apontamentos mnemônicos. Muitas das idéias expressas no desenho estão bem expostas nos extratos de  The Paris Working (ver  Apêndice).