5 - OS ENAMORADOS ASPECTOS DO DOGMA em ELIPHAS LEVI
Selo de Salomão
O Equilíbrio Mágico
TIPHERETH - UNCUS
A inteligência suprema é necessariamente razoável. Deus, em filosofia, pode não ser mais do que
uma hipótese imposta pelo bom senso bom à razão humana. Personificar a razão absoluta é
determinar o ideal divino.
Necessidade, liberdade e razão, eis o grande do e supremo triângulo dos cabalistas, que chamam a
razão Kether, a necessidade Hocmah e a liberdade Binah, no seu primeiro ternário divino.
Fatalidade, vontade e poder, tal é o ternário mágico que, nas coisas humanas, corresponde ao
triângulo divino.
A fatalidade é o encadeamento inevitável dos efeitos e causas numa ordem, dada.
A vontade é a faculdade diretora das forças inteligentes para conciliar a liberdade das pessoas com a necessidade das coisas.
O poder é o sábio emprego da vontade, que faz servir a própria fatalidade à realização dos desejos
do sábio.
Quando Moisés fere a rocha, não cria a fonte de água; ele a revela ao povo, porque uma ciência
oculta lha revelou a ele próprio por meio da baqueta adivinhatória.
O mesmo acontece com todos os milagres da magia: existe uma lei, o vulgo a ignora, o iniciado
serve-se dela.
As leis ocultas são, muitas vezes, diametralmente opostas às leis comuns. Assim, por exemplo, o
vulgo crê na simpatia dos semelhantes e na guerra dos contrários; é a lei oposta que é verdadeira.
Diziam outrora: a natureza tem horror ao vácuo; era preciso dizer: a natureza é amante do vácuo, se
o vácuo não fosse, em física, a mais absurda das ficções.
O vulgo toma, habitualmente, em todas as coisas, a sombra pela realidade. Volta as costas à luz e se mira na obscuridade que projeta.
As forças da natureza estão à disposição daquele que lhes sabe resistir. Se sois tão senhor de vós
mesmo para nunca ficar bêbado, disponde do terrível e fatal poder do embebedamento. Se quiserdes
embebedar os outros, dai-lhes de beber à vontade, mas não bebais.
Dispõe do amor dos outros, quem é senhor do seu. Quereis possuir, não vos deis. O mundo está imantado da luz do sol, e estamos imantados da luz astral do mundo. O que se opera no corpo do
planeta se repete em nós. Há, em nós, três mundos análogos e hierárquicos, como na natureza
inteira.
O homem é o microcosmo ou pequeno mundo, e conforme o dogma das analogias, tudo o que está no grande mundo se reproduz no pequeno. Há, pois, em nós, três centros de atração e de projeção
fluídica: o cérebro, o coração ou o epigastro e o órgão genital. Cada um destes órgãos é único e duplo, isto é: nele se encontra a idéia do ternário. Cada um destes órgãos atrai de um lado e repele do outro. É por meio desses aparelhos que nós nos pomos em comunicação com o fluido universal, transmitido em nós pelo sistema nervoso. São Também estes três centros que são a sede da tríplice operação magnética, como explicaremos alhures.
Quando o mago chegou à lucidez, quer por intermédio de uma pitonisa ou sonâmbula, quer por seus
próprios esforços, comunica e dirige à vontade vibrações magnéticas em toda a massa da luz astral,
cujas correntes adivinha com o auxílio da baqueta mágica, que é uma baqueta adivinhatória
aperfeiçoada. Por meio destas vibrações, influi no sistema nervoso das pessoas submetidas à sua
ação, precipita ou suspende as correntes da vida, acalma ou atormenta, cura ou faz adoecer, mata,
enfim, ou ressuscita... Mas, aqui paramos, diante do sorriso da incredulidade. Deixemos-lhe o
triunfo fácil de negar o que não sabe.
Demonstraremos, mais tarde, que a morte é sempre precedida de um sono letárgico e só opera por
graus; que a ressurreição, em certos casos, é possível; que a letargia é uma morte real, mas não acabada, e que muitos mortos acabam de morrer depois do seu enterro. Mas não é disso que se trata
neste capítulo. Dizemos, pois, que uma vontade lúcida pode agir sobre a massa da luz astral, e, com
o concurso de outras vontades que absorve e arrasta, determinar grandes e irresistíveis correntes. Digamos também que a luz astral se condensa ou se rarifica, conforme as correntes a acumulam,
mais ou menos, em certos centros. Quando falta energia suficiente para alimentar a vida, causa
doenças de decomposição súbita, que fazem o desespero da medicina. O cólera-morbo, por
exemplo, não tem outra causa, e as colunas de animálculos observados os supostos por certos sábios
podem ser o efeito dele, antes que a causa. Era, pois, preciso tratar o cólera por insuflação, se, em tal tratamento, o operador não se expusesse a fazer com o paciente uma troca muito perigosa para o primeiro.
Todo esforço inteligente da vontade é uma projeção de fluido ou luz humana, e aqui importa
distinguir a luz humana da luz astral, e o magnetismo animal do magnetismo universal.
Servindo-nos da palavra fluido, empregamos uma expressão generalizada e procuramos fazer-nos
compreender por este meio; mas estamos longe de dizer que a luz latente seja um fluido. Tudo nos
levaria, pelo contrário, a preferir, na explicação deste ente fenomenal, o sistema das vibrações. Seja como for, esta luz, sendo o instrumento da vida, se fixa naturalmente em todos os centros vivos. Ela se prende ao centro dos planetas como ao coração do homem (e por coração entendemos, em magia,o grande simpático), mas se identifica à vida própria do ser que anima, e é por esta propriedade de assimilação simpática que ela se divide sem confusão. Assim, ela é terrestre nas suas relações com o globo da terra e exclusivamente humana nas suas relações com os homens.
É por isso que eletricidade, o calórico, a luz e a imantação produzidas pelos meios físicos
ordinários, não somente não produzem, mas, ao contrário, tendem a neutralizar os efeitos do magnetismo animal. A luz astral, subordinada a um mecanismo cego, e procedendo dos centros
dados de autotelia, é uma luz morta, e opera matematicamente, conforme os impulsos dados ou
conforme leis fatais; a luz humana, pelo contrário, só é fatal no ignorante que faz tentativas ao
acaso; no vidente, ela é subordinada à inteligência, submetida à imaginação e dependente da
vontade. É esta luz que, projetada sem cessar pela nossa vontade, forma o que Swedenborg chama
as atmosferas pessoais. O corpo absorve o que o rodeia e irradia sem cessar, projetando seus
miasmas e suas moléculas invisíveis; o mesmo acontece com o espírito, de modo que este
fenômeno, chamado por alguns místicos o respiro, tem realmente a influência que lhe é atribuída,
quer no físico, quer no moral. É realmente contagioso respirar o mesmo ar que os doentes, e achar
se no círculo de atração e expansão dos malvados.
Quando a atmosfera magnética de duas pessoas é de tal modo equilibrada que o atrativo de uma
aspira a expansão da outra, produz-se uma atração que se chama a simpatia; então, a imaginação,
evocando a ela todos os raios ou reflexos análogos ao que experimenta, se faz um poema de desejos que arrastam a vontade, e se as pessoas são de sexo diferente, produz-se nelas ou geralmente na mais fraca das duas um embebedamento completo de luz astral, que se chama a paixão
propriamente dita ou amor.
O amor é um dos grandes instrumentos do poder mágico; mas é formalmente interdito ao mago, ao
menos como embebedamento ou como paixão. Desgraçado do Sansão da Cabala, se deixar
adormecer por Dalila! O Hércules da ciência, que muda o seu cetro real contra o fuso de Omphale, sentirá logo as vinganças de Dejanira, e só lhe restará a fogueira do monte Eta para escapar ao
apertamento devorador da túnica de Nesso. O amor sexual é sempre uma ilusão, porque é o
resultado de uma miragem imaginária. A luz astral é o sedutor universal, figurado pela serpente do Gênese. Este agente sutil, sempre ativo, sempre luxuriante de seiva, sempre florido de sonhos sedutores e inebriantes imagens; esta força cega por si mesma e subordinada a todas as vontades,
quer para o bem, quer para o mal; este circulus sempre renascente de vida indômita que dá vertigem
aos imprudentes; este corpo ígneo; este éter impalpável e presente em toda parte; esta imensa esta
sedução da natureza, como defini-la inteiramente e como qualificar a sua ação? De algum modo indiferente por si mesma, ela serve para o bem como para o mal; ela leva a luz e propaga as trevas;
pode-se chamá-la igualmente Lúcifer e Lucífugo: é uma serpente, mas pode pertencer aos tormentos
do inferno como às oferendas de incenso prometidas ao céu. Para apoderar-se dela, é preciso, como
a mulher predestinada, pôr o pé sobre sua cabeça.
O que corresponde à mulher de cabalística, no mundo elementar, é a água, e o que corresponde à
serpente é o fogo. Para dominar a serpente, isto é, para dominar o círculo da luz astral, é preciso
chegar a pôr-se fora das suas correntes, isto é, isolar-se. É por isso que Apolônio de Thyana se
envolvia inteiramente num manto de lã fina, no qual punha os pés, e cuja ponta punha em cima da
cabeça; depois, arcava em semicírculo a sua coluna vertebral e fechava os olhos, após ter realizado
certos ritos de deviam ser passes magnéticos e palavras sacramentais, tem por fim fixar a
imaginação e determinar a ação da vontade. O manto de lã é de grande uso em magia, e é o veículo
ordinário dos feiticeiros que vão ao sabbat, o que prova que os feiticeiros não iam realmente ao
sabbat, mas sim que o sabbat vinha achar os feiticeiros isolados nos seus mantos e trazia ao seu
translúcido as imagens análogas às suas preocupações mágicas, misturadas com os reflexos de
todos os atos do mesmo gênero que se tinham realizado antes deles no mundo.
Esta corrente da vida universal é também figurada, nos dogmas religiosos, pelo fogo expiatório do
inferno. É o instrumento da iniciação, é o monstro a dominar, é o inimigo a vencer; é ela que envia
às nossas evocações e conjurações da goecia tantas larvas e fantasmas; é nela que se conservam
todas as formas cujo conjunto fantástico e fortuito povoa nossos pesadelos de tão abomináveis
monstros. Deixar-se arrastar para baixo por este rio que dá viravoltas é cair nos abismos da loucura, mais terríveis que os da morte: afastar as sombras deste caos e fazer-lhe dar formas perfeitas aos nossos pensamentos é ser homem de gênio, é criar, é ter triunfado do inferno!
A luz astral dirige os instintos animais e dá combate à inteligência do homem, que tende a perverter pelo luxo de seus reflexos e a mentira das suas imagens; ação fatal e necessária, que os espíritos elementares e as almas sofredoras dirigem e tornam mais funestas ainda, com suas vontades
inquietas, que procuram simpatias nas nossas fraquezas e nos tentam, menos para nos perder do que
para adquirir amigos.
Esse livro das consciências que, conforme o dogma cristão, deve ser manifestado no último dia, não
é outro senão a luz astral, na qual se conservam as impressões de todos os verbos, isto é, de todas as ações e de todas as formas. Os nossos atos modificam o nosso respiro magnético, de modo que um
vidente pode dizer, aproximando-se de uma pessoa pela primeira vez, se esta pessoa é inocente ou
culpada, e quais suas virtudes e seus crimes. Esta faculdade, que pertence à adivinhação, era
chamada, pelos místicos cristãos da Igreja primitiva, o discernimento dos espíritos.
As pessoas que renunciam ao império da razão e gostam de desviar sua vontade em perseguição dos
reflexos da luz astral, estão sujeitas a alternativas de furor e tristeza que fizeram imaginar todas as maravilhas da possessão do demônio; é verdade que, por meio destes reflexos, os espíritos impuros podem agir sobre tais almas, fazer delas instrumentos dóceis e mesmo habituar-se a atormentar o seu organismo, no qual vêm residir por obsessão ou embrionato. Estas palavras cabalísticas são
explicadas no livro hebreu da Revolução das Almas, de que nosso décimo terceiro capítulo conterá a
análise detalhada.
É, pois, extremamente perigoso divertir-se com os mistérios da magia; é, principalmente, temerário
praticar seus ritos por curiosidade, por ensaio e como que para tentar as forças superiores. Os curiosos que, sem serem adeptos, se preocupam de evocações ou magnetismo oculto, parecem
crianças que brincam com fogo perto de um barril de pólvora fulminante; serão, mais cedo ou mais
tarde, vítimas de alguma terrível explosão.
Para isolar-se da luz astral, não basta rodear-se de pano de lã; é preciso ainda, e principalmente, ter imposto uma quietação absoluta ao seu espírito e ao seu coração, ter saído do domínio das paixões e estar seguro na perseverança dos atos espontâneos de uma vontade inflexível. É preciso também reiterar muitas vezes os atos desta vontade, como veremos na nossa introdução Ritual, a vontade fica certa de si mesma só por atos, como as religiões só têm império e duração pelas suas
cerimônias e seus ritos.
Existem substâncias inebriantes que, exaltando a sensibilidade nervosa, aumentam o poder e por das
representações e, por conseguinte, das seduções astrais; pelos mesmos meios, mas seguindo uma direção contrária, pode-se amedrontar e perturbar os espíritos. Estas substâncias, magnéticas por si mesmas e magnetizadas ainda pelos práticos, são o que se chamam filtros ou beberagens
encantadas. Mas não trataremos desta perigosa aplicação da magia envenenadora. Não existem
mais, é verdade, fogueiras para os feiticeiros, mas há sempre, e mais do que nunca, castigos para os malfeitores. Limitemo-nos, pois, a constatar, na ocasião, a realidade deste poder.
Para dispor da luz astral é preciso também compreender a sua dupla vibração e conhecer a balança das forças, que se chama o equilíbrio mágico, e que, em Cabala, se exprime pelo senário.
Este equilíbrio, considerado na sua causa primeira, é a vontade de Deus; no homem, é a liberdade,
na matéria, é o equilíbrio matemático.
O equilíbrio produz a estabilidade e a duração.
A liberdade produz a imortalidade do homem, e a vontade de Deus põe em ação as leis da razão
eterna.
O equilíbrio é rigoroso. Se for observada a lei, ele existe; se for violada, por mais levemente que
seja, ele não existe mais.
É por isso que nada é inútil ou perdido. Toda palavra e todo movimento são pró ou contra o equilíbrio, pró ou contra a verdade; porque o equilíbrio representa a verdade, que se compõe de pró
e do contra conciliados, ou, ao menos, mutuamente equilibrados.
Dizemos, na introdução do Ritual, como o equilíbrio mágico deve ser produzido, e por que ele é
necessário para o sucesso em todas as operações.
A onipotência é a liberdade mais absoluta. Ora, a liberdade absoluta não poderia existir sem um
equilíbrio perfeito. O equilíbrio mágico é, pois, uma das condições primárias do sucesso nas
operações da ciência, e deve-se procurá-lo até na química oculta, aprendendo a combinar os
contrários sem os neutralizar um por outro.
É pelo equilíbrio que se explica o grande e antigo mistério da existência e da necessidade relativa do mal.
Esta necessidade relativa dá, em magia negra, a medida do poder dos demônios ou espíritos
impuros, aos quais as virtudes que são praticadas na terra dão mais furor, e, em aparência, até mais força.
Nas épocas em que os santos e anjos fazem abertamente milagres, os feiticeiros e diabos fazem, por
sua vez, maravilhas e prodígios.
È a rivalidade que, muitas vezes, faz o sucesso; sempre se acha apoio no que resiste.
5 - OS ENAMORADOS ASPECTOS DO RITUAL em ELIPHAS LEVI
CAPÍTULO VI
O MÉDIUM E O MEDIADOR
Dissemos que para adquirir o poder mágico são necessárias duas coisas: desembaraçar a vontade de
toda servidão e exercê-la à dominação.
A vontade soberana é representada nos nossos símbolos pela mulher que esmaga a cabeça da
serpente, e pelo anjo radiante que reprime e contém o dragão embaixo do seu pé e da sua lança.
Declaremos aqui, sem rodeios, que o grande agente mágico, a dupla corrente de luz, o fogo vivo e
astral da terra, foi figurado pela serpente de cabeça de touro, de bode ou de cão, nas antigas
teogonias. É a dupla serpente do caduceu, é a antiga serpente do Gênese; mas é também a serpente
de zinco e Moisés, entrelaçada ao redor do tau, isto é, do ligham gerador; é também o bode o Sabbat
e o Baphomet dos Templários; é o Hyle dos Gnósticos; é a dupla cauda da serpente que forma as
pernas do galo solar dos Abraxas; é, enfim, o diabo do Sr. Eudes de Mirville, e é realmente a força
cega que as almas têm de vencer para libertar-se das cadeias da terra; porque, se a sua vontade as
não separar desta imantação fatal, serão absorvidas na corrente pela força que as produziu, e
voltarão ao fogo central e eterno.
Toda obra mágica consiste, pois, em desembaraçar-se dos anéis da antiga serpente, e depois pôr o pé
na cabeça dela e guiá-la aonde se quiser. “Eu te darei – diz ela, no mito evangélico – todos os reinos da terra se te ajoelhares e me adorares”. O iniciado deve responder-lhe: “Não me ajoelharei, e tu te arrastarás aos meus pés; nada me dará, mas servir-me-ei de ti e tomarei o que quiser: porque sou teu senhor e dominador!” Resposta que está compreendida, mas oculta, na que lhe fez o Salvador!
Já dissemos que o diabo não é uma pessoa. É uma força desviada, como, aliás, seu nome indica.
Uma corrente ódica ou magnética, formada por uma cadeia de vontades perversas, constitui este mau espírito, que o evangelho chama legião e, que precipita os porcos ao mar: nova alegoria do
arrastamento dos seres baixamente instintivos pelas forças cegas que pode por em movimento a má
vontade e o erro.
Podemos comparar este símbolo ao dos companheiros de Ulisses, transformados em porcos pela
maga Circe.
Ora, vede o que faz Ulisses para se preservar a si próprio e libertar seus companheiros: recusa o
copo da encantadora e lhe ordena com a espada. Circe é a natureza com todas as suas volúpias e
atrativos; para gozar dela, é preciso vencê-la: tal é o sentido da fábula homérica, porque os poemas de Homero, verdadeiros livros sagrados da antiga Helênia, contêm todos os mistérios das altas iniciações do Oriente.
O médium natural é, pois, a serpente, sempre ativa e sedutora das vontades preguiçosas, à qual é
preciso resistir sempre, dominando-a.
Um mago apaixonado, um mago guloso, um mago colérico, um mago preguiçoso são
monstruosidades impossíveis. O mago pensa e quer, nada ama com desejo, nada repele com paixão;
a palavra paixão representa um estado passivo, e o mago é sempre ativo e vitorioso. O mais difícil, nas altas ciências, é chegar à realização disto; por isso, quando o mago criou a si próprio, a grande obra está realizada, ao menos no seu instrumento e da sua causa.
O grande agente ou mediador natural da onipotência humana só pode ser subjugado e dirigido por
um mediador extranatural, que é uma vontade livre. Arquimedes pedia um ponto de apoio fora do
mundo para levantar o mundo. O ponto de apoio do mago é a pedra cúbica intelectual, a pedra
filosofal de Azoth isto é, o dogma da absoluta razão e das harmonias universais pela simpatia dos
contrários.
Um dos nossos escritores mais fecundos e menos fixos nas suas idéias, Eugênio Sue, compôs uma epopéia romanesca completa sobre uma individualidade que se esforça em se fazer odiosa e que se
torna interessante a seu pesar, tanto ele lhe dá força, paciência, ousadia, inteligência e gênio! Trata se de uma espécie de Sixto Quinto, pobre, sóbrio, sem ódio, que tem o mundo inteiro preso nas
malhas das suas combinações.
Este homem excita à vontade as paixões dos seus adversários, destrói-os uns pelos outros, chega
sempre aonde quer chegar, e isto sem alarde, sem brilho, sem charlatanismo. O seu fim é libertar o
mundo de uma sociedade que o autor do livro crê perigosa e perversa, e, para isso, nada lhe custa:
dorme em maus quartos, está mal vestido, alimenta-se como o último dos pobres, mas está sempre
atento à sua obra. O autor, para ficar na sua idéia, o representa pobre, sujo, feio, nojento ao tato, horrível à vista. Mas, se até este exterior é um meio de disfarçar a ação e de chegar mais
seguramente, não é a prova de uma coragem sublime?
Quando Rodin for papa, pensai vós que ficará ainda mal vestido e sujo? Eugênio Sue errou o seu
alvo; quer atacar o fanatismo e a superstição, e une-se à inteligência, à força, ao gênio, a todas as grandes virtudes humanas! Se houvesse muitos Rodins entre os jesuítas, até se houvesse um só, não daria muito grandes coisas ao partido contrário, apesar das brilhantes e incorretas defesas dos seus ilustres advogados.
Querer bem, querer longo tempo, querer sempre, tal é o segredo da força; e é este arcano mágico
que Tasso põe em ação na pessoa dos dois cavaleiros que vêm libertar Renato e destruir os
encantamentos de Armida. Resistem tão bem às ninfas mais encantadoras como os animais ferozes
mais terríveis; ficam sem desejos e sem temor, e chegam a seu fim.
Resulta disso que um verdadeiro mago é mais temível do que amável. Não discordo disso, e,
reconhecendo perfeitamente quanto são agradáveis as seduções da vida, fazendo justiça ao gênio
gracioso de Anacreonte e a toda a florescência juvenil da poesia dos amores, convido seriamente os
estimáveis amigos do prazer a considerar as altas ciências só como um objeto de curiosidade, mas a nunca se aproximar da trípode mágica: as grandes obras da ciência são mortais à volúpia.
O homem que se libertou da cadeia dos instintos perceberá primeiramente a sua onipotência pela
submissão dos animais. A história de Daniel na cova dos leões não é uma fábula, e mais de uma vez, durante as perseguições do cristianismo nascente, este fenômeno se renovou em presença de
todo o povo romano. Raramente um homem tem alguma coisa a recear de um animal do qual não
tem medo. As balas de Gerard, o matador de leões, são mágicas e inteligentes. Somente uma vez
correu um verdadeiro perigo: tinha deixado ir consigo um companheiro que teve medo, e então,
considerando este imprudente como perdido adiantadamente, teve medo também, mas pelo seu
companheiro.
Muitas pessoas dirão que é difícil e até impossível chegar a uma resolução semelhante, que a força
de vontade e a energia do caráter, são dons da natureza, etc. Não discordo disto, mas reconheço
também que o hábito pode refazer a natureza; a vontade pode ser aperfeiçoada pela educação e,
como disse, todo cerimonial mágico, semelhante, neste ponto, ao cerimonial religioso, só tem por
objetivo experimentar, exercitar e habituar, assim, a vontade à perseverança e à força. Quanto mais
as práticas são difíceis e humilhantes, tanto mais têm efeitos; agora deveis compreendê-lo.
Se até o presente foi impossível dirigir os fenômenos do magnetismo é que ainda não se achou
magnetizador iniciado e verdadeiramente livre. Quem pode, com efeito, vangloriar-se de o ser? E
não temos sempre de fazer novos esforços sobre nós mesmos? Todavia, é certo que a natureza
obedecerá ao sinal e à palavra daquele que se sentir assaz forte para não duvidar. Digo que a natureza obedecerá, não digo que ela se desmentirá ou perturbará a ordem das suas possibilidades.
As curas das doenças nervosas por uma palavra, um sopro ou um contato; as ressurreições em certos
casos; a resistência às vontades mais capazes de desarmar e derrubar os assassinos; até a faculdade
de se fazer invisível, perturbando a vista daqueles aos quais é importante escapar: tudo isto é um
efeito natural da projeção ou do afastamento da luz astral. É por isso que Valente ficou ofuscado e
aterrorizado, ao entrar no templo de Cesaréia, como outrora Heliodoro, fulminado por uma
demência súbita no templo de Jerusalém, acreditou ter sido enxovalhado e pisado por anjos.
É por isso que o almirante Coligny impôs respeito aos seus assassinos, e só pôde ser morto por um homem furioso que se lançou sobre ele, perdendo a razão. O que fazia Joana d’Arc sempre vitoriosa
era o prestígio da sua fé, a maravilhosidade da sua audácia; ela paralisava os braços que queriam
feri-la, e os ingleses puderam seriamente crê-la maga ou feiticeira. Ela era, com efeito, maga sem o saber, porque acreditava que agia de modo sobrenatural, ao passo que dispunha de uma força oculta, universal e sempre submissa às mesmas leis.
O magista magnetizador deve governar ao médium natural, e, por conseguinte, ao corpo astral que
faz comunicar a nossa alma com os nossos órgãos; pode dizer ao corpo material: - “Dormi!” e ao
corpo sideral: - “Sonhai!” Então as coisas visíveis mudam de aspecto como nas visões do haschich.
Cagliostro possuía, dizem, este poder, e ajudava a sua ação por fumigações e perfumes; mas o
verdadeiro poder magnético deve abster-se desses auxiliares mais ou menos venenosos para a razão
e nocivos à saúde. O Sr. Ragon, na sua sábia obra sobre a maçonaria oculta, dá a receita de uma
série de medicamentos próprios para exaltar o sonambulismo. É um conhecimento que, sem dúvida,
não é para ser rejeitado, mas de que os magistas prudentes devem abster-se de fazer uso.
A luz astral projeta-se pelo olhar, pela voz, pelos polegares e a palma da mão. A música é um
poderoso auxiliar da voz, e daí provem a palavra encantamento. Nenhum instrumento de música é
mais encantador que a voz humana, mas os sons longínquos do violino ou da harmônica podem aumentar o seu poder. Prepara-se assim o paciente que se quer submeter; depois, quando estiver
meio adormecido e como que envolto por este encanto, estende-se a mão para ele e ordena-se-lhe
dormir ou ver, e ele obedece contra a sua vontade. Se resistir, é preciso, olhando-o fixamente, pôr
um polegar na sua fronte entre os olhos, e o outro polegar no seu peito, tocando-o levemente com
um único e rápido contato; depois aspirar lentamente e expirar brandamente um sopro quente, e lhe
repetir em voz baixa: - Dormi ou Vede.
por Crowley
VI. OS AMANTES (OU OS IRMÃOS)
Esta carta e sua gêmea, XIV (Arte), são os mais obscuros e difíceis dos Atu. Cada um destes símbolos é em si mesmo duplo, de modo que os significados formam uma série divergente e a integração da carta só pode ser reconquistada mediante casamentos e identificações reiterados, e alguma forma de hermafroditismo.
E, no entanto, a atribuição é a essência da simplicidade. O Atu VI se refere a Gêmeos, regido por Mercúrio. A letra hebraica correspondente é Zain, que significa espada, e a estrutura da carta é portanto o arco de Espadas abaixo do qual o casamento real acontece.
A espada é primeiramente um engenho de divisão. No mundo intelectual - que é o mundo do naipe de Espadas - ela representa análise. Esta carta e o Atu XIV juntos compõem a máxima alquímica abrangente: Solve et coagula.
Esta carta é, por conseguinte, uma das mais fundamentais do Tarô. É a primeira carta na qual mais de uma figura aparece (o macaco de Thoth no Atu I é apenas uma sombra). Em sua forma original, foi a história da Criação.
Acrescemos aqui, em função de seu interesse histórico, a descrição desta carta em sua forma primitiva, o que é extraído de Liber 418.
“Há uma lenda assíria de uma mulher com um peixe e há também uma lenda de Eva e a Serpente, pois Caim era o filho de Eva e a Serpente, e não de Eva e Adão; e, portanto, quando ele assassinara seu irmão, que foi o primeiro assassino por ter sacrificado coisas vivas ao seu demônio, Caim recebeu a marca em sua fronte, que é a marca da Besta referida no Apocalipse e o sinal da iniciação.
“O derramamento de sangue é necessário pois Deus não ouviu os filhos de Eva até que o sangue fosse derramado. E isto é religião externa; mas Caim não falou a Deus nem recebeu a marca de iniciação sobre sua fronte, de sorte que fosse evitado por todos os homens, até que tivesse derramado sangue. E este sangue foi o sangue de seu irmão. Este é um mistério da sexta chave do Tarô, que não deve ser chamada de Os Amantes, mas sim Os Irmãos.
“No meio da carta posta-se Caim; em sua mão direita está o martelo de Thor com o qual ele assassinara seu irmão, e está todo tinto de seu sangue. Sua mão esquerda ele mantém aberta como um sinal de inocência. Sobre sua mão direita está sua mãe Eva, ao redor da qual a serpente se enrosca com seu capelo desdobrado atrás da cabeça dela, e sobre sua mão esquerda encontra-se uma figura um tanto semelhante a Kali indiana, mas muito mais sedutora. Todavia, eu sei que é Lilith. E acima dele está o Grande Sigillum da Seta, voltado para baixo, atingindo o coração da criança. Esta criança é também Abel. E o significado desta parte da carta é obscuro, mas este é o desenho correto da carta do Tarô; e esta é a fábula mágica correta da qual os escribas hebreus, que não eram iniciados completos, furtaram sua lenda da Queda e os eventos subseqüentes.”
É bastante significativo que quase toda sentença deste trecho parece inverter o significado da anterior. Isto é porque a reação é sempre igual e oposta à ação. Esta equação é, ou deveria ser, simultânea no mundo intelectual, onde não existe grande retardamento de tempo; a formulação de qualquer idéia cria sua contraditória quase no mesmo momento. A contraditória de qualquer proposição está implícita nela mesma. Isto é necessário para preservar o equilíbrio do universo. A teoria foi explicada na exposição sobre o Atu I, O Prestidigitador, mas faz-se mister que seja agora enfatizada a fim de se interpretar esta carta.
A chave é que a carta representa a Criação do Mundo. Os hierarcas mantinham este segredo como de transcendente importância. Conseqüentemente, os iniciados que publicaram o Tarô para uso durante o Aeon de Osíris substituíram a carta original acima descrita em The Vision and the Voice. Estavam interessados em criar um novo universo próprio; eles eram os pais da Ciência. Seus métodos de trabalho, agrupados sob o termo genérico de alquimia, jamais foram tornados públicos. O ponto interessante é que todos os desenvolvimentos da ciência moderna nos últimos cinqüenta anos têm proporcionado às pessoas inteligentes e instruídas a oportunidade de refletir que toda a tendência da ciência tem sido retornar aos objetivos e mutatis mutandis aos métodos alquímicos. O segredo observado pelos alquimistas tornou-se necessário devido ao poder de perseguição de Igrejas. Tão amargamente quanto os beatos intolerantes lutavam entre si, eles estavam igualmente preocupados em destruir a ciência infante, a qual, como reconheciam instintivamente, colocaria um fim na ignorância e na fé das quais dependiam o poder e a riqueza deles.
O assunto desta carta é a análise, seguida pela síntese. A primeira pergunta feita pela ciência é: “Do que são compostas as coisas ? “ Respondida esta pergunta, a seguinte pergunta é: “ Como iremos recombiná-las para o nosso máximo proveito ?” Isto resume toda a política do Tarô.
A figura encapuzada que ocupa o centro da carta é uma outra forma de O Eremita, o qual é elucidado na seqüência no Atu IX. Ele próprio é uma forma do deus Mercúrio descrito no Atu I; ele está rigorosamente encoberto, como para significar que a razão última das coisas está num domínio além da manifestação e do intelecto (como explicado alhures, apenas duas operações são, no final das contas, possíveis: análise e síntese). Ele está de pé no sinal do entrante, como se projetando as forças misteriosas da criação. Ao redor de seus braços se acha um rolo de pergaminho, indicativo da Palavra que é semelhante à essência e mensagem dele. Mas o sinal do entrante é também o sinal da bênção e da consagração, de maneira que sua ação nesta carta é a celebração do casamento hermético. Atrás dele estão as figuras de Eva, Lilith e Cupido. Este simbolismo foi incorporado para preservar em alguma medida a forma original da carta e mostrar sua origem, sua herança e sua continuidade com o passado. Na aljava de Cupido está inscrita a palavra Thelema que é a Palavra da Lei (ver Liber AL, cap. I, versículo 39). Suas setas são quanta de Vontade. É assim indicado que esta fórmula fundamental de operação mágica, análise e síntese persiste através dos Aeons.
Podemos passar agora a considerar o próprio casamento hermético.
Esta parte da carta é uma simplificação de o Casamento Químico de Christian Rosenkreutz, uma obra prima excessivamente extensa e prolixa para ser citada proveitosamente aqui. Mas a essência da análise é a gangorra contínua de idéias contraditórias. É um glifo da dualidade. As pessoas da realeza envolvidas são o rei negro ou mouro com uma coroa de ouro e a rainha branca com uma coroa de prata. Ele está acompanhado do leão vermelho, e ela da águia branca. Estes são símbolos dos princípios masculino e feminino na natureza; são, portanto, igualmente, em vários estágios da manifestação Sol e Lua, Fogo e Água, Ar e Terra. Em química eles se apresentam como ácido e álcali, ou (mais profundamente) metais e não-metais, tomando-se estas palavras em seu mais lato sentido filosófico a fim de incluir o hidrogênio por um lado e o oxigênio, por outro. Neste aspecto, a figura encapuzada representa o elemento protéico do carbono, a semente de toda a vida orgânica.
O simbolismo do masculino e o feminino é continuado ainda pelas armas do rei e da rainha. Ele porta a Lança Sagrada e ela, o Cálice Sagrado; as outras mãos deles estão unidas, como que consentindo com o casamento. Suas armas são apoiadas por crianças gêmeas, cujas posições estão trocadas, pois a criança branca não só oferece apoio ao cálice como também carrega rosas, enquanto que a criança negra, segurando a lança de seu pai, carrega também o porrete, um símbolo equivalente. Na base do conjunto está o resultado do casamento sob forma primitiva e pantomórfica: o ovo órfico alado. Este ovo representa a essência de toda essa vida sujeita a esta fórmula do masculino e feminino. Prossegue o simbolismo das serpentes com as quais o manto do rei está ornamentado, e das abelhas que adornam o manto da rainha. O ovo é cinza, misturando branco e preto, de modo a significar a cooperação das três Superiores da Árvore da Vida. A cor da serpente é púrpura, Mercúrio na escala da rainha. É a influência desse deus manifestada na natureza, enquanto que as asas têm cor carmesim, a cor (na escala do rei) de Binah, a Grande Mãe. Neste símbolo existe, portanto, um glifo completo do equilíbrio necessário ao começo da Grande Obra. Mas, no que concerne ao mistério final, isto é deixado sem solução. Perfeito é o plano para produzir a vida, porém a natureza desta vida é ocultada. É capaz de assumir qualquer forma possível, mas qual forma ? Isto depende das influências presentes na gestação.
A figura no ar apresenta certa dificuldade. A interpretação tradicional diz que se trata de Cupido, e não fica claro, a princípio, o que Cupido tem a ver com Gêmeos. Nenhuma luz é lançada sobre este ponto ao considerar-se a posição do caminho na Árvore da Vida, pois Gêmeos conduz de Binah a Tiphareth. E aí, conseqüentemente, se levanta toda a questão de Cupido. Os deuses romanos geralmente representam um aspecto mais material dos deuses gregos dos quais são derivados, neste caso, Eros. Eros é o filho de Afrodite e a tradição diverge quanto a seu pai ser Ares, Zeus ou Hermes, quer dizer, Marte, Júpiter ou Mercúrio. Sua aparência nesta carta sugere que Hermes seja o verdadeiro progenitor e este parecer é confirmado pelo fato de não ser em absoluto fácil distingui-lo da criança Mercúrio pois eles têm em comum o desregramento, a irresponsabilidade e o gosto por pregar peças. Mas nesta imagem existem características peculiares. Ele carrega um arco e flechas numa aljava dourada (é representado, por vezes, com uma tocha); tem asas douradas e está vendado. Daí pode parecer que ele representa a vontade inteligente (e, ao mesmo tempo, inconsciente) da alma de unir a si mesma com tudo e todos, como foi explicado na fórmula geral relativa à agonia da separação.
Não se atribui importância muito especial em figuras alquímicas ao Cupido. Contudo, num certo sentido, ele é a fonte de toda a ação, a libido para expressar zero como dois. De um outro ponto de vista, é possível considerá-lo como o aspecto intelectual da influência de Binah sobre Tiphareth pois (em uma tradição) o título da carta é “Os Crianças da Voz, o Oráculo dos Deuses Poderosos”. Deste ponto de vista, ele é um símbolo da inspiração, descendo sobre a figura encapuzada, que é, neste caso, um profeta que opera a união do rei e a rainha. Sua flecha representa a inteligência espiritual necessária nas operações alquímicas, mais do que a mera fome de executá-las. Por outro
lado, a flecha é peculiarmente um símbolo de direção, e é, portanto, apropriado colocar a palavra Thelema em letras gregas sobre a aljava. Deve-se também observar que a carta contraposta, Sagitário, * significa Aquele que porta a Flecha, ou o Arqueiro, uma figura que não aparece sob forma alguma no Atu XIV. Estas duas cartas são tão complementares que não podem ser estudadas isoladamente para completa interpretação.

SABEDORIA DO TAROT O objetivo deste local de encontro é divulgar o o conhecimento dos Arcanos Maiores do Tarot entre os buscadores do autoconhecimento, valorizando-o como ferramenta para alcançar este objetivo. Encontro com o eu interno, através da meditação orientada através da energização entre o consulente e o baralho, empregada no ato de embaralhar e na escolha da carta e/ou cartas, seja virtual, ou pelo baralho material.
quinta-feira, 2 de junho de 2016
quarta-feira, 1 de junho de 2016
O PAPA ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY
5 - O PAPA ASPECTOS DO DOGMA em ELIPHAS LEVI
O Pentagrama
GEBURAH - Ecce
Até agora expusemos o dogma mágico no que tem de mais árido e mais abstrato; aqui começam os
encantamentos; aqui podemos anunciar os prodígios e revelar as coisas ocultas.
O pentagrama exprime a dominação do Espírito sobre os elementos, e é por este signo que encadeamos os Silfos do ar, as salamandras do fogo, as Ondinas da água e os Gnomos da terra.
Armado deste signo e convenientemente disposto, podeis ver o infinito através daquela faculdade
que é como que o olho de vossa alma, e vós vos fareis servir por legiões de anjos e colunas de
demônios.
Não há mundo invisível, há somente vários graus de perfeição nos órgãos.
O corpo é a representação grosseira e como que a casca passageira da alma.
A alma pode perceber de si mesma e sem intermédio dos órgãos corporais, por meio da sua
sensibilidade e do seu diáfano, as coisas quer espirituais, quer corporais, que existem no universo.
Espiritual e corporal são palavras que somente exprimem os graus de tenuidade ou densidade da
substância.
O que se chama, em nós, imaginação, não é mais que propriedade inerente à nossa alma de se
assimilar as imagens e os reflexos contidos na luz viva, que é o grande agente magnético.
Estas imagens e estes reflexos são revelações, quando a ciência intervém para nos revelar o seu
corpo ou a sua luz. O homem de gênio difere do sonhador e do louco somente nisto: as suas criações
são análogas à verdade, ao passo que a dos sonhadores e loucos são reflexos perdidos e imagens
desviadas.
Assim, para o sábio, imaginar é ver, como, para o mago, falar é criar.
Podem-se, pois, ver realmente e em verdade os demônios, as almas, etc., por meio da imaginação;
mas a imaginação do adepto é diáfana, ao passo que a do vulgo é opaca; a luz de verdade atravessa
uma como por janela esplêndida, e se refrata na outra como uma massa vítrea cheia de escórias e
corpos estranhos.
O que contribui mais para os erros do vulgo e as extravagâncias da loucura são os reflexos das
imaginações depravadas umas nas outras.
Mas o vidente sabe, com certeza, que as coisas imaginadas por ele são verdadeiras, e a experiência
sempre confirma as suas visões.
Dizemos, no Ritual, por que processo se adquire esta lucidez.
É por meio desta luz que os visionários extáticos se põem em comunicação com todos os mundos,
como isso acontecia tão frequentemente a Emanuel Swedenborg, que, não obstante, não era
perfeitamente lúcido, pois que não discernia os reflexos dos raios e misturava, às vezes, ilusões aos
seus mais admiráveis sonhos.
Dizemos sonhos, porque o sonho é o resultado de um êxtase natural e periódico que se chama sono.
Estar em êxtase é dormir; o sonambulismo magnético é uma reprodução do êxtase.
Os erros do sonambulismo são ocasionados pelos reflexos do diáfano das pessoas acordadas, e
principalmente do magnetizador.
O sonho é a visão produzida pela refração de um raio de verdade; a ilusão é a alucinação ocasionada
por uma reflexão.
A tentação de Santo Antonio, com seus pesadelos e monstros, representa a confusão dos reflexos
com os raios diretos. Enquanto a alma luta, ela é razoável; quando sucumbe a esta espécie de
embebedamento invasor, é louca.
Distinguir o raio direto e o separar do reflexo, tal é a obra do iniciado.
Agora, digamos alto que esta obra sempre foi realizada por alguns homens de “elite” no mundo; que
a revelação por intuição é, assim, permanente, e que não há barreira intransponível que separe as
almas, porque na natureza não há nem interrupções repentinas nem muralhas abruptas que possam separar os espíritos. Tudo é transição e matizes e, se supusermos a perfectibilidade, se não infinita,
ao menos indefinida das faculdades humanas, veremos que todo homem pode chegar a tudo ver, e,
por conseguinte, a tudo saber, ao menos num círculo que pode alargar indefinidamente.
Não há vácuo na natureza, tudo é povoado. Não há morte real na natureza, tudo está vivo.
"Vedes esta estrela?" - dizia Napoleão ao cardeal Fresch. - "Não, Senhor" -"Pois bem, eu a vejo!”
E, certamente, ele a via.
É por isso que acusam os grandes homens de terem sido supersticiosos: é que eles viram o que o
vulgo não vê.
Os homens de gênio diferem dos simples videntes pela faculdade que possuem de fazer sentir aos
outros homens o que vêem e de se fazer crer por entusiasmo e simpatia.
São os médiuns do Verbo divino.
Digamos, agora, como se opera a visão. Todas as formas correspondem a idéias, e não há idéia que
não tenha sua forma própria e particular.
A luz primordial, veículo de todas as idéias, é a mãe de todas as formas, e transmite-as de emanação
em emanação, apenas diminuídas ou alteradas por causa da densidade dos meios.
As formas secundárias são reflexos que voltam ao foco da luz emanada.
As formas dos objetos, sendo uma modificação da luz, ficam na luz onde o reflexo as envia. Por
isso, a luz astral ou o fluido terrestre, que chamamos o grande agente mágico, está saturado de
imagens ou reflexos de toda espécie os quais a nossa alma pode evocar e submeter ao seu diáfano, como falam os cabalistas. Estas imagens sempre nos estão presentes e somente se acham apagadas
pelas impressões mais fortes da realidade durante a vigília, ou pelas preocupações do nosso
pensamento, que deixa a nossa imaginação desatenta ao panorama móvel da luz astral. Quando dormimos, este espetáculo se apresenta por si mesmo a nós, e é assim que se produzem os sonhos: sonhos incoerentes e vagos, se alguma vontade dominante não fica ativa no sono e não dá, mesmo contra a vontade da nossa inteligência, uma direção ao sonho, que, então, se transforma em visão.
O magnetismo animal não é nada mais do que um sono artificial produzido pela união, quer
voluntária, quer forçada, de duas almas, uma das quais está acordada, enquanto a outra dorme, isto
é, uma das quais dirige a outra na escolha dos reflexos para mudar os sonhos em visões e saber a
verdade por meio das imagens. Assim, as sonâmbulas não vão realmente aos lugares aonde o
magnetizador as manda; elas evocam as suas imagens na luz astral, e nada podem ver do que não
existe nesta luz.
A luz astral tem uma ação direta sobre os nervos, que são os condutores, na economia animal, e que
a levam ao cérebro; por isso, no estado de sonambulismo, pode-se ver pelos nervos, e sem mesmo
ter necessidade da luz irradiante, o fluido astral sendo uma luz latente, como a física reconheceu que
existe um calórico latente.
O magnetismo entre dois é, sem dúvida, uma descoberta maravilhosa; mas o magnetismo de um só,
dirigindo-se a si mesmo, ficando lúcido à vontade, é a perfeição da arte mágica; e o segredo desta
grande obra não está para ser achado: foi conhecido e praticado por um grande número de iniciados,
e principalmente pelo célebre Apolônio de Thyana, que deixou dele uma teoria, como veremos no
nosso Ritual.
O segredo da lucidez magnética e da direção dos fenômenos do magnetismo provém de duas coisas:
da harmonia das inteligências e da união perfeita das vontades numa direção possível e determinada
pela ciência; isto é, para o magnetismo operado entre diversos. O magnetismo solitário exige
preparações de que falamos no nosso primeiro capítulo, quando enumeramos e fizemos ver, em toda
a sua dificuldade, as qualidades exigidas para ser um verdadeiro adepto.
Esclareceremos cada vez mais este ponto importante e fundamental nos capítulos que vão seguir.
Este império da vontade sobre a luz astral, que é a alma física dos quatro elementos, é figurado em magia, pelo pentagrama, cuja figura colocamos no frontispício deste capítulo.
Assim, os espíritos elementais são submissos a este signo, quando é empregado com inteligência, e pode-se, colocando-o no círculo ou na mesa das evocações, fazê-los dóceis, o que, em magia se
chama prendê-los.
Expliquemos, em poucas palavras, esta maravilha. Todos os espíritos criados comunicam entre si
por sinais e aderem a um certo número de verdades expressas por certas formas determinadas.
A perfeição das formas aumenta em razão do desembaraço dos espíritos, e os que não estão presos pelas cadeias da matéria reconhecem, à primeira intuição, se um signo é a expressão de um poder
real ou de uma vontade temerária.
A inteligência do sábio dá, pois, valor ao seu pantáculo, como a sua ciência dá peso à sua vontade, e
os espíritos compreendem imediatamente este poder.
Assim, com o pentagrama, pode-se forçar os espíritos a aparecerem em sonho, quer durante a
vigília, quer durante o sono, trazendo eles mesmos, diante do nosso diáfano, o seu reflexo, que
existe na luz astral, se viveram, ou um reflexo análogo ao seu verbo espiritual, se não viveram na
terra. Isto explica todas as visões e demonstra, principalmente, por que os mortos aparecem sempre
aos videntes, quer como eram na terra, quer como estão ainda no túmulo, nunca como estão numa
existência que escapa às percepções do nosso organismo atual.
As mulheres grávidas estão, mais que os outros, sob a influência da luz astral, que concorre para a
formação dos seus filhos, e que lhes apresenta, sem cessar, as reminiscências de formas de que está
cheia. É assim que as mulheres muito virtuosas enganam por semelhanças equívocas a malignidade
dos observadores. Elas imprimem, muitas vezes, ao fruto do seu casamento uma imagem que as comoveu em sonho, e é assim que as mesmas fisionomias se perpetuam, de século em século.
O uso cabalístico do pentagrama pode, pois, determinar a figura dos filhos a nascer, e uma mulher
iniciada pode dar a seu filho as feições de Nereu ou de Aquiles, como as de Luiz XIV ou de Napoleão. Nós indicamos no nosso Ritual o modo de o fazer.
O pentagrama é o que se chama, em Cabala, o signo do microcosmo, o signo cujo poder Goethe
exalta no belo monólogo do Fausto:
"Ah! como a esta vista todos meus sentidos estremeceram! Sinto a juvenil e santa volúpia da vida
ferver nos meus nervos e nas minhas veias. Será um Deus aquele que traçou este signo que acalma a
vertigem de minh’alma, enche de alegria meu pobre coração, e, numa impulsão misteriosa, desvenda ao redor de mim as forças da natureza? Sou um Deus? Tudo se torna tão claro para mim;
vejo, nestes simples traços, a natureza ativa se revelar à minh’alma. Agora, pela primeira vez,
reconheço a verdade desta palavra do sábio: - O mundo dos espíritos não está fechado! Teu sentido
está obtuso, teu coração está morto. Levanta-te! Banha, ó adepto da ciência, o teu peito, ainda
envolto de um véu terrestre, nos esplendores do dia nascente!" - (Fausto, 1 parte, cena 1).
Foi em 24 de Julho de 1854 que o autor deste livro, Eliphas Levi, fez em Londres a experiência da
evocação pelo pentagrama, depois de se ter preparado, para isso, por todas as cerimônias que estão
marcadas no Ritual. O sucesso desta experiência, cujas razões e detalhes damos no 13º capítulo do
Dogma e as Cerimônias no 13º capítulo do Ritual, estabelecem um novo fato patológico que os
homens de verdadeira ciência admitirão sem dificuldade. A experiência, reiterada até três vezes, deu
resultados verdadeiramente extraordinários, mas positivos e sem mistura alguma de alucinação.
Convidamos os incrédulos a fazerem um ensaio consciencioso e razoável, antes de levantar os
ombros e sorrir.
A figura do Pentagrama, aperfeiçoada conforme a ciência e que serviu ao autor para esta prova, é a
que está no começo deste capítulo e que não se acha tão completa nem nas clavículas de Salomão,
nem nos calendários mágicos de Tycho-Brahé e Duchenteau.
Observemos somente que o uso do pentagrama é muito perigoso para os operadores que não tem
completa e perfeita inteligência dele. A direção das pontas da estrela não é arbitrária, e pode mudar
o caráter de toda operação, como explicaremos no Ritual.
Paracelso, este inovador em magia, que sobrepujou todos os outros iniciados pelos sucessos de
realização obtidos por ele só, afirma que todas as figuras mágicas e todos os signos cabalísticos dos pantáculos aos quais os espíritos obedecem, se reduzem a dois, que são a síntese de todos os outros;
o signo do macrocosmo ou do selo de Salomão, cuja figura já demos e reproduzimos na página
seguinte, e o do microcosmo, ainda mais poderoso que o primeiro, isto é, o pentagrama, do qual dá,
na sua filosofia oculta, uma minuciosa descrição.
Se perguntarem como um signo pode ter tanto poder sobre os espíritos elementais, perguntaremos,
por nossa vez: por que o mundo cristão se prosternou diante do sinal da cruz? O sinal por si mesmo
nada é, e só tem força pelo dogma de que é resumo e verbo. Ora, um signo que resume, exprimindo
as, todas as forças ocultas da natureza, um signo que sempre manifestou aos espíritos elementares e
outros um poder superior à sua natureza, naturalmente os enche de respeito e temor e os força a
obedecer, pelo império da ciência e da vontade sobre a ignorância e a fraqueza.
É também pelo pentagrama que se medem as proporções exatas do grande e único athanor
necessário à confecção da pedra filosofal e à realização da grande obra. O alambique mais perfeito
que possa elaborar a quintessência é conforme esta figura, e a própria quintessência é figurada pelo signo do pentagrama.
5 - O PAPA ASPECTOS DO RITUAL em ELIPHAS LEVI
CAPÍTULO V
O PENTAGRAMA FLAMEJANTE
Chegamos à explicação e à consagração do santo e misterioso pentagrama.
Que o ignorante e o supersticioso fechem o livro aqui: pois só verão nele trevas ou ficarão
escandalizados.
O pentagrama, que é chamado, nas escolas gnósticas, a estrela flamejante, é o sinal da onipotência e
da autocracia intelectuais.
É a estrela dos magos; é o sinal do Verbo feito carne; e, conforme a direção dos seus raios, este
símbolo absoluto em magia representa o bem ou o mal, a ordem ou a desordem, o cordeiro de
Ormuz e de São João, ou o bode maldito de Mendes.
É a iniciação ou a profanação; é Lúcifer ou Vésper, a estrela da manhã ou da tarde.
É Maria ou Lilith; é a vitória ou a morte, é a luz ou à noite.
O pentagrama elevando ao ar duas das suas pontas representa Satã ou o bode do Sabbat, e representa o Salvador quando eleva ao ar um só dos seus raios.
O pentagrama é a figura do corpo humano com quatro membros e uma ponta única que deve
representar a cabeça.
Uma figura humana com a cabeça para baixo representa naturalmente um demônio, isto é,a
subversão intelectual, a desordem ou a loucura.
Ora, se a magia é uma realidade, se esta ciência oculta é a lei verdadeira dos três mundos, este signo
absoluto, este signo tão antigo como a história e até mais que a história, deve exercer, com efeito,
uma influência incalculável sobre os espíritos desembaraçados dos seus envoltórios materiais.
O signo do pentagrama chama-se também o signo do microcosmo, e representa o que os cabalistas
do livro de Zohar chamam o microprósopo.
A interpretação completa do pentagrama é a chave dos dois mundos. É a filosofia e a ciência natural
absolutas.
O signo do pentagrama deve ser composto dos sete metais ou, ao menos, ser traçado em ouro puro
no mármore branco.
Pode-se também desenhá-lo, com vermelhão, numa pele de cordeiro sem defeitos e sem manchas,
símbolo de integridade e luz.
O mármore deve ser virgem, isto é, nunca ter servido a outro uso; a pele de carneiro deve ser
preparada sob os auspícios do sol.
O carneiro deve ter sido degolado no tempo da Páscoa, com uma faca nova, e a pele deve ter sido
salgada com o sal consagrado pelas operações mágicas.
A negligência de uma única destas cerimônias difíceis e, em aparência, arbitrárias, faz abortar todo
o sucesso das grandes obras da ciência.
Consagramos o pentagrama com os quatro elementos; sopramos cinco vezes sobre a figura mágica;
e aspergimo-lo com a água consagrada; secamo-lo com a fumaça dos cinco perfumes, que são o
incenso, a mirra, os aloés, o enxofre e a cânfora, aos quais podemos ajuntar um pouco de resina
branca e âmbar-pardo; sopramos cinco vezes, pronunciando o nome dos cinco gênios, que são:
Gabriel, Rafael, Anael, Samael e Orifiel; depois pomos o pantáculo no chão, alternativamente ao
norte, ao sul, ao oriente, ao ocidente e no centro a cruz astronômica e pronunciamos, uma após
outra, as letras do tetragrama sagrado; depois dizemos, em voz baixa, os nomes de Aleph e do Thau
misterioso, reunidos no nome cabalístico de Azoth.
O pentagrama deve ser colocado no altar dos perfumes e sobre a trípode das evocações. O operador
deve também trazer consigo a figura com a do macrocosmo, isto é, a da estrela de seus raios,
composta de dois triângulos cruzados e superpostos.
A Lâmpada, a Baqueta, a Espada e a Foice
Quando evocamos um espírito de luz, é preciso virar a cabeça da estrela, isto é, uma das suas pontas
para a trípode da evocação, e as duas pontas inferiores do lado do altar dos perfumes. É o contrário se se tratar de um espírito das trevas; mas então é preciso que o operador tenha o cuidado de
conservar a ponta da baqueta ou da espada sobre a cabeça do pentagrama.
Dissemos que os signos são o verbo ativo da vontade. Ora, a vontade deve dar seu verbo completo
para transformá-lo em ação; e uma única negligência, representando uma palavra ociosa ou uma
dúvida, imprime em toda a operação o cunho da mentira e da importância, e volta contra o operador
todas as forças gastas em vão.
É, pois, preciso abster-se absolutamente das cerimônias mágicas, ou realizar escrupulosa e
exatamente todas!
O pentagrama traçado, em linhas luminosas, no vidro, por meio da máquina elétrica, exerce também
uma grande influência sobre os espíritos e aterroriza os fantasmas.
Os antigos magos traçavam o signo do pentagrama no batente da sua porta, para impedir aos maus
espíritos de entrar e aos bons de sair. Este constrangimento resulta da direção dos raios da estrela.
Duas pontas para fora, afastavam os maus espíritos; duas pontas para dentro, os retinha prisioneiros; uma só ponta para dentro, cativava os bons espíritos.
Todas estas teorias mágicas, baseadas no dogma único de Hermes e nas induções analógicas da
ciência, sempre foram confirmadas pelas visões dos extáticos e pelas convulsões dos catalépticos,
ditos possessos dos espíritos.
O G no qual os franco-maçons colocam no meio da estrela flamejante significa Gnosis e Geração,
duas palavras sagradas da antiga Cabala. Quer dizer também Grande Arquiteto, porque o
pentagrama, de qualquer lado que o olhemos, representa um A.
Dispondo-o de modo que duas das suas pontas estejam em cima e uma só ponta embaixo, podemos
ver nele os chifres, as orelhas e a barba do bode hierático de Mendes e torna-se o signo das
evocações infernais.
A estrela alegórica dos magos não é outra coisa senão o misterioso pentagrama; e estes três reis,
filhos de Zoroastro, guiados pela estrela flamejante ao berço do Deus microcósmico, seriam
suficientes para provar as origens inteiramente cabalísticas e verdadeiramente mágicas do dogma
cristão. Um destes reis é branco, outro é preto e o terceiro é moreno. O branco oferece ouro,
símbolo da vida e da luz; o preto oferece mirra, imagem da morte e da noite; o moreno apresenta o
incenso, emblema da divindade do dogma conciliador dos dois princípios; depois, voltam a seu país
por um outro caminho, para mostrar que um culto novo é simplesmente um novo caminho, para
levar a humanidade à religião única. A do ternário sagrado e do irradiante pentagrama, o único
catolicismo eterno.
No Apocalipse, São João vê esta mesma estrela cair do céu na terra. Ela se chama, então, absíntio ou
amargura, e todas as águas ficam amargas. É uma imagem clara da materialização do dogma que
produz fanatismo e as amarguras das controvérsias. É ao próprio cristianismo que podemos, então,
dirigir estas palavras de Isaías: “Como caíste do céu, estrela brilhante, que eras tão esplêndida em
tua manhã?”
Mas o pentagrama, profanado pelos homens, brilha sempre sem sombra na mão direita do Verbo de
verdade, e a voz inspiradora promete àquele que vencer dar-lhe a posse da estrela da manhã;
reabilitação solene prometida ao astro de Lúcifer.
Como vemos, todos os mistérios da magia, todos os símbolos da Gnosis, todas as figuras do ocultismo, todas as chaves cabalísticas da profecia, se resumem no signo do pentagrama, que
Paracelso proclama o maior e mais poderoso de todos os signos.
Será para se admirar, depois disso, da confiança dos magistas e da influência real exercida por este
signo sobre os espíritos de todas as hierarquias? Os que desprezam o sinal da cruz tremem ao
aspecto da estrela do microcosmo. O mago, pelo contrário, quando sente enfraquecer-se a sua
vontade, leva os olhos para o símbolo, toma-o na mão direita e sente-se armado da onipotência
intelectual, contanto que seja verdadeiramente um rei digno de ser guiado pela estrela ao berço da realização divina; contanto que saiba, que ouse, que queira, e que se cale; contanto que conheça o
emprego do pantáculo, do copo, da baqueta e da espada; enfim, contanto que os olhares intrépidos
de sua alma correspondam a este dois olhos que a ponta superior do nosso pentagrama lhe apresenta
sempre abertos.
V. O HIEROFANTE - por Crowley
Esta carta se refere à letra Vau, que significa prego, sendo que nove pregos aparecem no alto da carta, os quais servem para fixar o oriel atrás da principal figura da carta.
A carta é referida a Touro, de sorte que o trono do Hierofante é circundando por elefantes, que participam da natureza de Touro, estando o Hierofante realmente sentado sobre um touro. Ao redor dele estão as quatro bestas ou Kerubs, uma em cada canto da carta, visto que estes são os guardiões de todo santuário. Mas a principal referência é ao arcano particular que constitui o negócio maior, o essencial, de todo trabalho mágico: a união do microcosmo ao macrocosmo. Conseqüentemente, o oriel é diáfano. Diante do manifestador do Mistério há um hexagrama representando o macrocosmo e no centro deste um pentagrama, contendo e representando uma criança do sexo masculino dançando. Isto simboliza a lei do novo Aeon da criança Hórus, o qual suplantou o Aeon do deus que morre, que governou o mundo por dois mil anos. Também diante do Hierofante está a mulher com a espada à cintura, que representa a Mulher Escarlate na hierarquia do novo Aeon. Este simbolismo é adicionalmente efetivado no oriel, onde, por trás da cobertura fálica de cabeça, a rosa de cinco pétalas desabrocha.
O simbolismo da serpente e da pomba faz alusão a este versículo de O Livro da Lei (cap. I, v. 57) : “... pois existe amor e amor. Existe a pomba, e existe a serpente.”
Este símbolo reaparece no trunfo de número XVI.
O fundo da carta toda é o azul escuro da noite estrelada de Nuit, de cujo útero nascem todos os fenômenos.
Touro, o signo do zodíaco representado por esta carta, é ele mesmo o Kerub-Touro, ou seja, a Terra sob sua forma mais forte e mais equilibrada.
O regente desse signo é Vênus, que é representado pela mulher em pé diante do hierofante.
No capítulo III de O Livro da Lei, versículo xi, se lê:
“Que a mulher seja cingida com uma espada diante de mim”. Esta mulher representa Vênus como ela agora está neste novo Aeon, não mais o mero veículo de seu correlativo masculino, mas armada e militante.
Neste signo a Lua é “exaltada”; sua influência é representada não só pela mulher como também pelos nove pregos.
É impossível na atualidade explicar esta carta na sua inteireza pois somente o curso dos eventos poderá mostrar como a nova corrente de iniciação funcionará.
É o Aeon de Hórus, da criança. Embora o rosto do Hierofante pareça benigno e sorridente e a própria criança pareça alegre com desregrada inocência, é difícil negar que na expressão do iniciador há algo misterioso, mesmo sinistro. Ele parece estar gozando uma piada muito secreta às custas de alguém. Há um aspecto distintamente sádico nesta carta, e naturalmente, considerando-se que ela provém da lenda de Pasiphae, o protótipo de todas as lendas dos deuses-Discos. Estas ainda persistem em religiões como o saivismo e (depois de múltiplas degradações) no próprio cristianismo.
O simbolismo do bastão é peculiar; os três anéis entrelaçados que o encimam podem ser tomados como representativos dos três Aeons de Ísis, Osíris e Hórus com suas fórmulas mágicas que se entrosam. O anel superior está marcado de escarlate para Hórus, os dois inferiores de verde para Ísis e amarelo pálido para Osíris, respectivamente. Todos estes estão baseados no azul escuro, a cor de Saturno, O Senhor do Tempo, pois o ritmo do Hierofante é tal, que ele se move apenas a intervalos de 2.000 anos.
quarta-feira, 25 de maio de 2016
O IMPERADOR ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY
O Tetragrama
GEBURAH CHESED - PORTALIBRORUM - ELEMENTA
Há, na natureza, duas forças que produzem um equilíbrio, e os três são simplesmente uma única lei.
Eis o ternário resumindo-se na unidade, e, ajuntando a ideia à unidade à do ternário, chega-se ao quaternário, primeiro número quadrado e perfeito, fonte de todas as combinações numéricas e princípio de todas as formas.
Afirmação, negação, discussão, solução, tais são as quatro operações filosóficas do espírito humano.
A discussão concilia a negação com a afirmação, fazendo-as necessárias uma à outra. É assim que o ternário filosófico, produzindo-se do binário antagônico se completa pelo quaternário, base quadrada de toda verdade. Em Deus, conforme o dogma consagrado, há três pessoas, e estas três
pessoas são um só Deus. Três e um, dão a ideia de quatro, porque a unidade é necessária para explicar os três.
Por isso, em quase todas as línguas, o nome de Deus é de quatro letras, e, em hebreu, estas quatro letras fazem três, porque há uma delas que se repete duas vezes: a que exprime o Verbo e a criação o Verbo.
Duas afirmações tornam possíveis ou necessárias duas negações correspondentes. O ente é
significado, o nada não o é. A afirmação, como Verbo, e cada uma destas afirmações corresponde à
negação do seu contrário.
É assim que, conforme o dizer dos cabalistas, o nome do demônio ou do mal se compõe das letras
invertidas do próprio nome de Deus ou do bem.
Este mal é o reflexo perdido ou a miragem imperfeita da luz na sombra.
Mas tudo o que existe, quer em bem, quer em mal, quer na luz, quer na sombra, existe e se revela
pelo quaternário.
A afirmação da unidade supõe o número quatro, se esta afirmação volta à unidade como num círculo vicioso. Por isso, o ternário, como já observamos, se explica pelo binário e se resolve pelo quaternário, que é a unidade quadrada dos números pares e a base quadrangular do cubo, unidade de
construção, de solidez e de medida.
O tetragrama cabalístico: Jodhéva, exprime Deus na humanidade e a humanidade em Deus. Os
quatro pontos cardeais astronômicos são, relativamente a nós, o sim e o não da luz: o oriente e o
ocidente, e o sim e o não do calor: o sul e o norte.
O que está na natureza visível revela, como já o sabemos, conforme o dogma único da Cabala, o
que está no domínio da natureza invisível, ou das causas segundas, todas proporcionais e análogas
às manifestações da causa primeira.
Por isso, esta causa primeira sempre se revelou pela cruz: a cruz, esta unidade composta de dois, que se dividem um ao outro, para formar quatro; a cruz, esta chave dos mistérios da Índia e do
Egito, o Tau dos patriarcas, o signo divino de Osíris, o Stauros dos gnósticos, a chave de arco do
templo, o símbolo da maçonaria oculta; a cruz, este ponto central da junção dos ângulos retos de
dois triângulos infinitos; a cruz que, na língua nacional, parece ser a raiz primitiva e o substantivo
fundamental do verbo crer e do verbo crescer, reunindo, assim, as idéias de ciência, religião e
progresso.
O grande agente mágico se revela por quatro espécies de fenômenos, e foi classificado, pelas
experiências das ciências profanas sob quatro nomes: calórico, luz, eletricidade, magnetismo.
Deram-lhe também os nomes de tetragrama, inri, azoth, éter, od, fluido magnético, alma da terra,
serpente, lúcifer, etc.
O grande agente mágico é a quarta emanação da vida-princípio de que o sol é a terceira forma (ver
os iniciados da escola de Alexandria e o dogma de Hermes Trismegisto).
De modo que o olho do mundo (como o chamavam os antigos) é a miragem do reflexo de Deus e a
alma da terra é um olhar permanente do sol que a terra recebe e guarda por impregnação.
A lua concorre para esta impregnação da terra, repelindo para ela uma imagem solar durante a noite,
de sorte que Hermes teve razão de dizer, falando do grande agente: “O sol é seu pai, a lua é sua
mãe”. Depois, acrescenta: "O vento o trouxe no seu ventre, porque a atmosfera é o recipiente e como que o cadinho dos raios solares, por meio dos quais se forma esta imagem viva do sol que penetra a terra inteira, vivifica-a, fecunda-a e determina tudo o que se produz na sua superfície, por
seus eflúvios e suas correntes contínuas, análogas às do próprio sol”.
Este agente solar é vivente por duas forças contrárias: uma força de atração e uma forma de
projeção, o que faz Hermes dizer que ele sempre sobe e desce.
A força de atração se fixa sempre no centro dos corpos, e a forma de projeção nos seus contornos ou
na sua superfície.
É por esta dupla força que tudo é criado e tudo subsiste.
Seu movimento é um enrolamento e um desenrolamento sucessivos e indefinidos, ou antes
simultâneos e perpétuos, por espirais de movimentos contrários que nunca se encontram.
É o mesmo movimento que o sol, que atrai e repele, ao mesmo tempo, todos os astros do seu
sistema.
Conhecer o movimento deste sol terrestre, de modo a poder aproveitar das suas correntes e dirigi
las, é ter realizado a grande obra, e é ser senhor do mundo.
Armado de uma tal força, podeis vos fazer adorar e o vulgo vos julgará Deus.
O segredo absoluto desta direção foi possuído por alguns homens, e pode ainda ser achado. É o
grande arcano mágico; depende de um axioma incomunicável e de um instrumento que é o grande e
único athanor dos hermetistas do mais alto grau.
O axioma incomunicável está contido cabalisticamente nas quatro letras do tetragrama, dispostas do
modo como está representado na página seguinte, nas letras das palavras Azoth e Inri, escritas
cabalisticamente, e no monograma do Cristo, tal como estava bordado no lábaro, e que o cabalista
Postello interpreta pela palavra Rota, da qual os adeptos formaram o seu Tarô ou Tarot, repetindo
duas vezes a primeira letra, para indicar o círculo e fazer compreender que a palavra está invertida.
Toda a ciência mágica consiste no conhecimento deste segredo. Conhecê-lo e ousar servir-se dele é
a onipotência humana; mas revelá-lo a um profano é perdê-lo; revelá-lo até a um discípulo é abdicar
em favor desse discípulo, que, a partir desse momento, tem direito de vida e morte sobre o seu
iniciador (fá-lo no ponto de vista mágico), e o matará certamente, temendo a si próprio a morte.
(Isto nada tem de comum com os atos qualificados de assassinato em legislação criminal, desde que
a filosofia prática, que serve de base e ponto de partida às nossas leis não admite os fatos de
enfeitiçamento e influências ocultas).
Nós entramos, aqui, em revelações estranhas, e nos preparamos para todas as incredulidades e todos
os desprezos do fanatismo incrédulo; porque a religião de voltariana tem também seus fanáticos,
muito embora contra a vontade das grandes sombras que devem amuar-se, agora, de um modo
lastimoso, nas carneiras do Pantheon, enquanto catolicismo, sempre forte com suas práticas e seu
prestígio, canta o ofício sobre suas cabeças.
A palavra perfeita, aquela que é adequada ao pensamento que exprime, contém sempre virtualmente
ou supõe um quaternário: a idéia e suas três formas necessárias e correlativas, depois também a
imagem da coisa expressa com os três termos do juízo que a qualifica. Quando digo: “O ente
existe", afirmo implicitamente que o nada não existe.
Uma altura, uma largura que a altura divide geometricamente em dois, e uma profundidade separada
da altura pela intersecção da largura, eis o quaternário natural composto de duas linhas que se
cruzam. Há também, na natureza, quatro movimentos produzidos por duas forças que se sustêm
uma à outra por sua tendência contrária. Ora, a lei que rege os corpos é análoga e proporcional
àquela que governa os espíritos, e a que governa os espíritos é a própria manifestação do segredo de
Deus, isto é, do mistério da criação. Suponde um relógio de duas molas paralelas, com uma
endentação que as faça mover em sentido contrário, de modo que, uma afrouxando-se, aperte a
outra: assim, o relógio se dará corda por si mesmo, e tereis achado o movimento perpétuo. Esta
endentação deve ser para dois fins e de grande precisão. Será impossível de se achar? Não o cremos.
Mas quando um homem a tiver descoberto, este homem poderá compreender, por analogia, todos os
segredos da natureza: o progresso em razão direta da resistência.
O movimento absoluto da vida é, assim, o resultado perpétuo de duas tendências contrárias que
nunca são opostas. Quando uma das duas parece ceder à outra, é uma mola que recebe corda, e
podeis esperar uma reação de que é muito possível prever o momento e determinar o caráter; é
assim que, na época do maio fervor do cristianismo, o reino do Anticristo foi conhecido e predito.
Mas o Anticristo preparará e determinará a nova vinda e o triunfo definitivo do Homem-Deus.
Ainda isto é uma conclusão rigorosa e cabalística contida nas premissas evangélicas.
Assim, a profecia cristã contém uma quádrupla revelação:
1ª - a queda do mundo antigo e o triunfo do Evangelho sob a primeira vinda;
2ª - grande apostasia e vinda de Anticristo;
3ª -queda do Anticristo e volta às idéias cristãs;
4ª - triunfo definitivo do Evangelho ou segunda vinda, designada sob o nome de juízo final.
Esta quádrupla profecia contém, como se pode ver, duas afirmações e duas negações, a idéia de duas
ruínas ou mortes universais e de dois renascimentos; porque a toda idéia que aparece no horizonte social se pode assinar, sem temor de erro, um oriente e um ocidente, um zênite e um nadir. É assim
que a cruz filosófica é a chave da profecia, e que se podem abrir todas as portas de ciência com o
pantáculo de Ezequiel, cujo centro é uma estrela formada pelo cruzamento de duas cruzes.
A vida humana também não é formada destas quatro fases ou transformações sucessivas:
nascimento, vida, morte, imortalidade? E notai que a imortalidade da alma, necessitada como
complemento do quaternário, é cabalisticamente provada pela analogia, que é o dogma único da
religião verdadeiramente universal, como é a chave da ciência e a lei inviolável da natureza.
A morte, com efeito, não pode ser um fim absoluto, do mesmo modo que o nascimento não é um
começo real. O nascimento prova a preexistência do ente humano, pois que nada se produz do nada,
e a morte prova a imortalidade, porque o ente não pode cessar de existir, do mesmo modo que o
nada não pode cessar de não existir. Ente e nada são duas idéias absolutamente inconciliáveis, com
esta diferença: que a idéia do nada (idéia inteiramente negativa) sai da própria idéia do ente, de que
o nada nem mesmo pode ser compreendido como uma negação absoluta, ao passo que a idéia do
ente nem mesmo pode ser aproximada do nada, e ainda menos sair dele.
Dizer que o mundo saiu do nada é proferir um monstruoso absurdo. Tudo o que existe procede do
que existia; por conseguinte, tudo que existe nunca poderá não existir mais. A sucessão das formas é
produzida pelas alternativas do movimento: são fenômenos da vida que se substituem uns aos
outros, sem de destruírem. Tudo muda, porém nada perece. O sol não está morto quando desaparece
no horizonte; até as formas mais móveis são imortais e sempre substituem na permanência da sua
razão de ser, que é a combinação da luz com os poderes agregativos das moléculas da substância
prima. Por isso, elas se conservam no fluido astral, e podem ser evocadas e reproduzidas conforme a
vontade do sábio, como o veremos ao tratar da Segunda vista e da evocação das lembranças na
necromancia e noutras operações mágicas.
Voltaremos a tratar do grande agente mágico no quarto capítulo do Ritual, onde acabaremos de
indicar os caracteres do grande arcano e os meios de prender este formidável poder.
Digamos, aqui, duas palavras dos quatro elementos mágicos e dos espíritos elementares.
Os elementos mágicos são: em alquimia, o sal, o mercúrio, o enxofre, e o azoth; em Cabala, o
macrocosmo, o microcosmo e as duas mães; em hieróglifos, o homem, o águia, o leão e o touro; em
física antiga, conforme os termos e as ideias vulgares, o ar, a água, a terra e o fogo.
Em magia, sabe-se que a água não é a água ordinária; que o fogo não é simplesmente fogo, etc.
Estas expressões ocultam um sentido mais elevado. A ciência moderna decompôs os quatro
elementos dos antigos e encontrou neles muitos corpos considerados simples. O que é simples é a substância prima e propriamente dita; só há, pois, um elemento material e este elemento se
manifesta sempre pelo quaternário, nas suas formas. Conservaremos, pois, a sábia distinção das
aparências elementares, admitida pelos antigos, e reconheceremos o ar, o fogo, a terra e a água pelos
quatro elementos positivos e visíveis da magia.
O sutil e o espesso, o dissolvente rápido e o dissolvente lento, ou os instrumentos do calor e do frio,
formam, em física oculta, os dois princípios positivos e os dois princípios negativos do quaternário,
e devem ser figurados assim:
O Azoth
A Águia
O Ar
O Enxofre A Água
O Fogo O Homem
O Leão O Mercúrio
O Sal
O Touro
A Terra
O ar e a terra representam, assim, o princípio masculino, o fogo e a água se referem ao princípio
feminino, pois que a cruz filosófica dos pantáculos é, como já dissemos, um hieróglifo primitivo e
elementar do lingham dos ginosofistas.
A estas quatro formas elementares correspondem as quatro idéias filosóficas seguintes:
O Espírito
A Matéria
O Movimento
O Repouso
A ciência inteira, com efeito, está na inteligência destas quatro coisas, que a alquimia reduzia a três:
O Absoluto
O Fixo
O Volátil
e que a Cabala refere à própria idéia de Deus, que é razão absoluta, necessidade e liberdade, tríplice
noção expressa nos livros ocultos dos Hebreus.
Sob os nomes de Kether, Hocmah e Binah para o mundo divino, de Tiphereth, Hesed e Geburah no
mundo moral, e, enfim, de Yesod, Hod e Netsah no mundo físico, que, com o mundo moral, está
contido na idéia do reino ou Malkuth, explicaremos, no décimo capítulo deste livro, esta teogonia,
tão racional quanto sublime.
Ora, os espíritos criados, sendo chamados à emancipação pela prova, são colocados, desde o seu
nascimento, entre estas quatro forças, duas positivas e duas negativas, e são postos em condições de
afirmar ou negar o bem, de escolher a vida ou a morte. Achar o ponto fixo, isto é, o centro moral da
cruz, é o primeiro problema que lhe é dado para resolverem; a sua primeira conquista deve ser a da
sua própria liberdade.
Começam, pois, por ser arrastados uns ao norte, outros ao sul; uns à direita, outros à esquerda, e,
enquanto não são livres, não podem ter o uso da razão, nem se encarnarão a não ser em formas
animais. Estes espíritos não emancipados, escravos dos quatro elementos, são o que os cabalistas
chamam os demônios elementares, e povoam os elementos que correspondem ao seu estado de
servidão. Existem, pois, realmente silfos, ondinas, gnomos e salamandras, uns errantes e procurando
encarnarem-se, outros encarnados e vivendo na terra. Estes são os homens viciosos e imperfeitos.
Voltaremos a este assunto no décimo quinto capítulo, que trata dos encantamentos e dos demônios.
É também uma tradição de física oculta que fez ser admitida, pelos antigos, a existência das quatro idades do mundo; somente que não se dizia ao vulgo que essas quatro idades deviam ser sucessivas,
como as quatro estações do ano e renovar-se também. Assim, a idade de ouro passou e ainda está para vir. Mas isto se refere ao espírito de profecia, e falaremos disso no capítulo nono, que trata do
iniciado e do vidente.
Ajuntaremos, agora, a unidade ao quaternário, e teremos conjunta e separadamente as idéias da síntese e da análise divinas, o deus dos iniciados e dos profanos. Aqui o dogma se populariza e
torna-se menos abstrato; o grande hierofante intervém.
A CONJURAÇÃO DOS QUATRO
As quatro formas elementais separam e especificam, por uma espécie de esboço, os espíritos criados que o movimento universal desembaraça do fogo central. Em toda parte, o espírito elabora e fecunda a matéria pela vida; toda matéria é animada; o pensamento e a alma estão em toda parte.
Apoderando-se do pensamento, que produz as diversas formas, a pessoa se torna senhora das formas e as faz servir ao seu uso.
A luz astral está saturada de almas, que desprende na geração incessante dos seres. As almas têm vontades imperfeitas que podem ser dominadas e empregadas por vontades mais poderosas; então formam, então, grandes correntes invisíveis e podem ocasionar ou determinar grandes comoções elementares.
Os fenômenos observados nos processos de magia, e, muito recentemente, pelo Senhor Eudes de Mirville, não têm outras causas.
Os espíritos elementais são como as crianças: atormentam mais os que se ocupam deles, a não ser que sejam dominados por uma elevada razão e uma grande severidade.
São estes espíritos que designamos sob o nome de elementos ocultos. São eles, muitas vezes, que
determinam para nós os sonhos inquietantes ou bizarros; são eles que produzem os movimentos da
baqueta adivinhatória e os golpes dados nas paredes ou nos móveis; mas nunca podem manifestar outro pensamento que não seja o nosso, e se não pensamos, nos falam com toda a incoerência dos
sonhos.
Reproduzem indiferentemente o bem e o mal, porque não têm livre-arbítrio e, por conseguinte, não
têm responsabilidade; mostram-se aos extáticos e sonâmbulos sob formas incompletas e fugitivas. É
o que deu lugar aos pesadelos de Santo Antonio e, muito provavelmente, às visões de Swedenborg;
não são condenados nem culpados; são curiosos e inocentes. Podemos usar ou abusar deles como dos animais e das crianças. Por isso, o magista que emprega o seu concurso assume sobre si uma
responsabilidade terrível, porque deverá expiar todo o mal que lhes fizer praticar, e a grandeza dos
seus tormentos será proporcionada à extensão do poder que tiver exercido por meio deles.
Para dominar os espíritos elementais e tornar-se, assim, rei dos elementos ocultos, é preciso ter
primeiramente sofrido as quatro provas das antigas iniciações e, como estas iniciações não existem
mais, é necessário substituí-las por ações análogas, como: expor-se, sem temor, num incêndio;
atravessa um abismo sobre um tronco de árvore ou sobre uma tábua; subir ao cimo de uma
montanha durante um tempestade; passar a nado uma cascata ou redemoinho perigoso. O homem
que tem medo da água nunca reinará sobre as ondinas; aquele que teme o fogo nada pode ordenar às
salamandras; enquanto podemos sentir vertigem é preciso deixarmos em paz os silfos e não irritarmos os gnomos, porque os espíritos inferiores só obedecem a um poder que lhes provamos,
mostrando-nos seus senhores até no seu próprio elemento.
Quando tivermos adquirido, pela ousadia e o exercício, este poder incontestável, é preciso
impormos aos elementos o verbo da nossa vontade, por consagrações especiais do ar, do fogo, da
água e da terra, e é este o começo indispensável de todas as operações mágicas.
Exorcizamos o ar, soprando para os quatro pontos cardeais dizendo:
Spiritus deiferebátur súper áquas, et inspirávit in fáciem hóminis spiráculum vitae. Sit Michael dux
meus, et Sabtabiel sérvus meus in luce et per lucem.
Fiat verbum hálitus meus; et imperábo spiritibus áeris hujus, et refroenábo équos solis voluntáte
cordis méis, et cogitatóne mentis meae et nutu óculi déxtri
Exorciso ígitur te, creatúra deris, Pentagrámmaton et in nómine Tetragrámmaton, in quibus sunt
volúntas firma et fides recta. Sela Fiat.
Que assim seja.
Recita-se, em seguida, a oração dos silfos, depois de ter traçado no ar o seu signo com uma pena de
águia.
ORAÇÃO DOS SILFOS
“Espírito de sabedoria, cujo sopro dá e retoma a forma de todas as coisas; tu, diante de quem a vida
dos seres é uma sombra que muda a um vapor que passa; tu, que sobres às nuvens e que caminhas
nas asas dos ventos; tu, que expiras, e os espaços sem fim são povoados; tu, que aspiras, e tudo o
que de tivem a ti volta: movimento sem fim na estabilidade eterna, sê eternamente bendito. Nós te
louvamos e te bendizemos no império móvel da luz criada, das sombras, dos reflexos e das imagens,
e aspiramos incessantemente à tua imutável e imperecível claridade. Deixa penetrar até nós o raio
da tua inteligência e o calor do teu amor: então o que é móvel ficará fixo, a sombra será um corpo, o
espírito do ar será uma alma, o sonho será um pensamento. E nós não seremos mais arrastados pela
tempestade, porém seguraremos as rédeas dos cavalos alados da manhã e dirigiremos o curso dos
ventos da tarde, para voarmos diante de ti. Ó espírito dos espíritos, ó alma eterna das almas, ó sopro
imperecível de vida, ó suspiro criador, ó boca que aspiras e expiras a existência de todos os entes,
no fluxo e refluxo da tua eterna palavra, que é o oceano divino do movimento e da verdade.
Amém”.
Exorcizamos a água pela imposição das mãos, pelo sopro e pela palavra, misturando-lhe o sal
consagrado com um pouco de cinza que fica na caixinha de perfumes. O aspersório se faz com
ramos de verbena, pervinca, salsa, hortelã, valeriana, freixo e manjericão, ligados por um fio tirado
das colunas do leito de uma virgem, com um cabo de amendoeiro que ainda não tenha dado frutos, e
no qual gravareis, com a pinça mágica, os caracteres dos sete espíritos. Benzereis e consagrareis
separadamente o sal e a cinza dos perfumes, dizendo:
SOBRE O SAL
In isto sale sit sapiéntia, et ómne corruptióne sérvet mentes nostras et corpora nostra, per
Hochmael et in virtúte Ruach-Hochmael, recédant ab isto phantásmata hylae ut sit sal coeléstis, sal
térrae et térra salis, ut nutriéturbos tritúrans et áddat spei nostrae córnua tauri volántis. Amen”.
SOBRE A CINZA
“Revértátur cinis adfóntem aquárium vivéntium, e fiat térra fructificans, et germinet árborem vitae
per tria nómina, quae sunt Netsah et Yesod, in principio et in fine, per Alpha et Omega qui sunt in
spiritu AZOTH. Amen”.
MISTURANDO A ÁGUA, O SAL E A CINZA
“In sale sapientiae aeternae, et in áqua regeneratiónis, et cínere germinante térram novam, ómnia
fíant per Elohim, Gabriel, Raphael et Uriel, in saecula et aeónas. Amen”.
EXORCISMO DA ÁGUA
“Fiat firmaméntum in médio aquárium et sepáret áquas ab aquis, quae supérius sicut inférius, et
quae inférius sicut quae supérius, ad perpetránda mirácula rei uníus. Sol ejus pater est, luna máter
et ventus hanc gestávit in útero suo, ascéndit a térra ad coelum et rúrsus a coelo in térram
descéndit. Exórciso te, creatúra áquae, ut sis mihi spéculum Dei vivi in opéribus ejus, etfons vitae,
et ablútio peccatórum. Amen”.
ORAÇÃO DAS ONDINAS
“Rei terrível do mar, vós que tendes as chaves das cataratas do céu e que encerrais as águas
subterrâneas nas cavernas da terra; rei do dilúvio e das chuvas da primavera, a vós que abris as
nascentes dos rios e das fontes, a vós que ordenais à umidade, que é como que o sangue da terra, de
tornar-se seiva das plantas, nós vos adoramos e vos invocamos. A nós, vossas móveis e variáveis
criaturas, falai-nos nas grandes comoções do mar, e tremeremos diante de vós; falai-nos também no
murmúrio de límpidas águas, e desejaremos o vosso amor. Ó imensidade na qual vão perder-se
todos os rios do ser, que sempre renascem em vós! Ó oceano das perfeições infinitas! Altura que
vos mirais na profundidade; profundidade que exalais na altura, levai-nos à verdadeira vida pela
inteligência e pelo amor! Levai-nos à imortalidade pelo sacrifício, a fim de que sejamos
considerados dignos de vos oferecer, um dia, a água, o sangue e as lágrimas, para remissão dos
erros. Amém”.
Exorcizamos o fogo, pondo nele sal, incenso, resina branca, cânfora e enxofre, e pronunciando três
vezes os três nomes dos gênios do fogo: Michael, rei do sol e do raio; Samael, rei dos vulcões, e
Anael, príncipe da luz astral; depois recitando a oração das salamandras.
Oração das Salamandras
“Imortal, eterno, inefável e incriado pai de todas as coisas, que és levado no carro sem cessar
rodante dos mundos que giram sempre; dominador das imensidades etéreas, onde está ereto o trono
do teu poder, e cima do qual teus olhos formidáveis descobrem tudo e teus belos e santos ouvidos
escutam tudo, atende aos teus filhos, que amaste desde o nascimento dos séculos; porque a tua
dourada, grande e eterna majestade resplandeça acima do mundo e do céu das estrelas; estás elevado
acima delas, ó fogo faiscante; aí, tu te acendes e te conservas a ti mesmo pelo teu próprio esplendor,
e saem da tua essência regatos inesgotáveis de luz, que nutrem teu espírito infinito. Este espírito
infinito alimenta todas as coisas e faz este tesouro inesgotável de substância sempre pronta à
geração que elabora e que se apropria das formas de que a impregnaste desde o princípio. Deste
espírito tiram também sua origem estes reis mui santos que estão ao redor do teu trono e que
compõem a tua corte, ó pai universal! Ó único! Ó pai dos felizes mortais e imortais.
“Criaste, em particular, potências que são maravilhosamente semelhantes ao teu eterno pensamento
e à tua essência adorável; tu as estabeleceste superiores aos anjos, que anunciam ao mundo as tuas
vontades; enfim, nos criaste na terceira ordem no nosso império elementar. Aqui, o nosso contínuo
exercício é louvar e adorar os teus desejos; aqui, ardemos incessantemente aspirando a possuir-te. Ó
pai! Ó mãe! Ó mais terna das mães! Ó arquétipo admirável da maternidade e do puro amor! Ó filho,
flor dos filhos! Ó forma de todas as formas, alma, espírito, harmonia e número de todas as coisas!
Amém”.
Exorcizamos a terra pela aspersão da água, pelo enxofre e pelo fogo, com os perfumes próprios para
cada dia, e proferimos a oração dos gnomos.
ORAÇÃO DOS GNOMOS
“Rei invisível, que tomastes a terra para apoio e que cavastes os seus abismo para enchê-los com a
vossa onipotência; vós, cujo nome faz tremerem as abóbadas do mundo, vós que fazeis correr os
sete metais nas veias das pedras, monarca das sete luzes, remunerador dos operários subterrâneos,
levai-nos ao ar desejável e ao reino da claridade. Velamos e trabalhamos sem descanso, procuramos
e esperamos, pelas doze pedras da cidade santa, pelos talismãs que estão escondidos, pelo cravo de
ímã que atravessa o centro do mundo. Senhor, Senhor, Senhor, tende piedade dos que sofrem,
desabafai os nossos peitos, desembaraçai e elevai as nossas cabeças, engrandecei-nos. Ó
estabilidade e movimento, ó dia envolto de noite, ó obscuridade coberta de luz! Ó senhor, que nunca
retendes convosco o salário dos vossos trabalhadores! Ó brancura Argentina, ó esplendor dourado!
ó coroa de diamantes vivos e melodiosos! Vós que levais o céu no vosso dedo, com um anel de
safira, vós que escondeis em baixo da terra, o reino das pedrarias, a semente maravilhosa das
estrelas, vivei, reinai e sede o eterno dispensador das riquezas de que nos fizestes guardas. Amém”.
É preciso observar que o reino especial dos gnomos é ao norte, o das salamandras ao sul, o dos
silfos ao oriente e o das ondinas ao ocidente. Eles influem sobre os quatro temperamentos do
homem, isto é, os gnomos sobre os melancólicos, as salamandras sobre os sangüíneos, as ondinas
sobre os fleumáticos e os silfos sobre os biliosos. Os seus signos são: os hieróglifos do touro para os
gnomos, e os governamos com a espada; do leão para as salamandras, e os dirigimos com a baqueta
bifurcada ou o tridente mágico; da águia para os silfos, e os mandamos com os santos pantáculos;
enfim, do aquário para as ondinas, e as evocamos com o copo de libações. Os seus soberanos
respectivos são: Gob para os gnomos, Djîn para as salamandras, Paralda para os silfos e Nicksa para
as ondinas.
Quando um espírito elemental vem atormentar ou ao menos inquietar os habitantes deste mundo, é
preciso conjurá-lo pelo ar, pela água, pelo fogo e pela terra, soprando, aspergindo, queimando
perfumes e traçando no chão a estrela de Salomão e o pentagrama sagrado. Estas figuras devem ser
perfeitamente regulares e feitas, quer com carvão do fogo consagrado, quer com um caniço,
molhado em tinta de diversas cores, misturadas com ímã pulverizado. Depois, tendo na mão o
pantáculo de Salomão e tomando, cada qual por sua vez, a espada, a baqueta e o copo, pronunciaremos nestes termos em voz alta a conjuração dos quatro:
“Caput mórtuum imperet tibi Dóminus per vivum et devótum serpentem”.
“Cherub, imperet tibi Dóminus per Adam Iotchavah”!
“Quila érrans, imperet tibi Dóminus per alas Tauri. Serpens, imperet tibi”.
“Dóminus tetrámmaton per ángelum et leónem”! “Michael, Gabriel, Raphael, Anael”!
“FLÚAT ÚDOR perspiritum ELOHIM”.
“MÁNEAT TERRA per Adam IOT-CHAVAH”.
“FIAT FIRMAMÉNTUM per IAHUVEHU-ZEBAOTH”.
“FIAT JUDÍCIUM per ígnem in virtude MICHAEL”.
“Anjo de olhos mortos, obedece, ou escorre-te com está água santa”.
“Touro alado, trabalha ou volta à terra, se não queres que te aguilhoe com esta espada”.
“Águia acorrentada, obedece a este signo, ou retira-te diante deste sopro”. “Serpente móvel, arrasta-te a meus pés ou sê atormentada pelo fogo sagrado e evapora-te com os
perfumes que queimo nele”.
“Que a água volte à água; que o fogo queime; que o ar circule; que a terra caia na terra, que a
virtude do pentagrama, que é a estrela da manhã, e em nome do tetragrama, que está escrito no
centro da cruz luminosa. Amém”.
O sinal da cruz adotado pelos cristãos não lhes pertence exclusivamente. É também cabalístico e
representa as oposições e o equilíbrio quaternário dos elementos. Vemos, pelo versículo oculto do
Pater que assinalamos no nosso Dogma, que, primitivamente, havia duas maneiras de o fazer ou, ao
menos, duas fórmulas bem diferentes para o caracterizar; uma reservada aos padres e iniciados; a
outra oferecida aos neófitos e profanos. Assim, por exemplo, o iniciado, levando a mão à sua testa,
dizia:
A ti; depois acrescentava: pertencem; e continuava, levando a mão ao peito: o reino; depois, ao
ombro esquerdo: a justiça; ao ombro direito: e a misericórdia. Depois ajuntava as duas mãos,
acrescentando: nos ciclos geradores. Tibi sunt Malchut et Geburah et Chesed per aeonas. Sinal da
cruz absoluta e magnificamente cabalístico, que as profanações do gnosticismo fizeram a Igreja
militante e oficial perder completamente.
Este sinal, feito deste modo, deve preceder e terminar a conjuração dos quatro.
Para dominar e submeter os espíritos elementais é preciso nunca se abandonar aos defeitos que os
caracterizam. Assim, nunca um espírito leviano e caprichoso governará os silfos. Nunca uma
natureza débil, fria e inconstante será senhora das ondinas; a cólera irrita aas salamandras e a
grosseria cupida faz dos que domina joguetes dos gnomos.
Porém, é preciso ser pronto e ativo como os silfos; flexível e atento às imagens como as ondinas;
enérgico e forte como as salamandras, laborioso e paciente, como os gnomos; numa palavra, é preciso vencê-los nas suas forças, sem nunca se deixar subjugar pelas suas fraquezas. Quando
estiver bem firme nesta disposição, o mundo inteiro estará a serviço do sábio operador. Ele passará
durante a tempestade, e a chuva não tocará na sua cabeça; o vento nem mesmo desarranjará uma
dobra do seu vestuário; atravessará o fogo sem ser queimado; caminhará sobre a água, e verá os
diamantes através da espessura da terra. Estas promessas, que podem parecer hiperbólicas, são-no somente na inteligência do vulgo, porque, se o sábio não faz material e exatamente as coisas que
estas palavras exprimem, fará outras muito maiores e mais admiráveis. Todavia é indubitável que
podemos, pela vontade, dirigir os elementos numa certa medida, e mudar ou fazer parar realmente
os seus efeitos.
Por que, por exemplo, se foi verificado que pessoas, no estado de êxtase, perdem momentaneamente o seu peso, não se poderia andar ou deslizar sobre a água? Os convulsionários de Saint-Medard não
sentiam nem o fogo nem o ferro, e solicitavam, como alívio, os golpes mais violentos e as torturas
mais incríveis. As estranhas ascensões e o equilíbrio prodigioso de certos sonâmbulos, não são uma
revelação destas forças ocultas da natureza? Mas vivemos num século em que ninguém tem coragem de confessar os milagres de que é testemunha, e se alguém vem dizer: “Vi ou fiz por mim
mesmo as coisas que vos conto”, dir-lhe-ão: “Quereis divertir-vos à nossa custa, ou estais doente”.
É melhor calar-se e agir.
Os metais correspondentes às quatro formas elementais são o ouro e a prata para o ar, o mercúrio
para a água, o ferro e o cobre para o fogo, e o chumbo para a terra. Compõem-se com eles talismãs
relativos às forças que representam e aos efeitos que nos propusermos obter delas.
A adivinhação pelas quatro formas elementares, que chamamos aeromancia, hidromancia, piromancia e geomancia, se faz de diversas maneiras, a quais dependem todas da vontade e do
translúcido ou da imaginação do operador.
Com efeito, os quatro elementos são simplesmente instrumentos para ajudar a segunda vista.
A segunda vista é a faculdade de ver na luz astral.
Esta segunda vista é natural como a primeira vista ou vista sensível e ordinária; porém, ela só pode
operar-se pela abstração dos sentidos. Os sonâmbulos e extáticos gozam naturalmente da segunda
vista; mas esta vista é mais lúcida quando a abstração é mais completa.
A abstração produz-se pela embriaguez astral, isto é, por uma superabundância de luz que satura
completamente e, por conseguinte, deixa inerte o instrumento nervoso.
Os temperamentos sanguíneos são mais dispostos a aeromancia, os biliosos a piromania, os
pituitosos a hidromancia, e os melancólicos a geomancia.
A aeromancia confirma-se pela oniromancia ou adivinhação por sonhos; supre-se a piromania pelo
magnetismo, a hidromancia pela cristalomancia, e a geomancia pela cartomancia. São transposições
e aperfeiçoamentos de métodos.
Mas a adivinhação, de qualquer modo que a operemos, é perigosa ou, ao menos, inútil, porque
desanima a vontade e embaraça, por conseguinte, a liberdade e fatiga o sistema nervoso.
Esta carta é atribuída à letra Tzaddi e se refere ao signo de Áries no zodíaco. Este signo é regido por Marte e aí o Sol é exaltado. Este signo é assim uma combinação de energia em sua forma mais material com a ideia de autoridade. O sinal TZ ou TS sugere isso na forma original, onomatopaica da linguagem. É derivado de raízes do sânscrito significando cabeça e idade e é encontrado hoje em palavras como Caesar, Tsar, Sirdar, Senate, Senior, Signor, Señor, Seigneur.
A carta representa uma figura masculina coroada, de vestes e insígnias da dignidade imperial. Está sentado no trono cujos remates de coluna são as cabeças do carneiro selvagem do Himalaia, já que Áries significa carneiro. Aos seus pés, deitado com a cabeça levantada está o cordeiro com o estandarte para confirmar essa atribuição no plano inferior, pois o carneiro, por natureza, é um animal selvagem e corajoso se solitário em sítios solitários, enquanto que quando domesticado e forçado a repousar em pastos verdes, é reduzido a um animal dócil, covarde, gregário e suculento. Esta é a teoria do governo.
O Imperador é também uma das mais importantes cartas alquímicas, constituindo com o Atu II e III a tríade: Enxofre, Mercúrio, Sal. Seus braços e cabeça formam um triângulo ereto; abaixo, as pernas cruzadas representam a cruz. Esta figura é o símbolo alquímico do Enxofre (ver Atu X ). O Enxofre é a energia ígnea masculina do universo, o Rajas da filosofia hindu. Esta é a energia criativa ágil, a iniciativa de todo o Ser. O poder do Imperador é uma generalização do poder paterno, daí tais símbolos como a abelha e a flor-de-lis, exibidos nesta carta. Com referência à qualidade desse poder, é forçoso notar que ele representa atividade súbita, violenta, porém não pertinente. Se persistir tempo
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demais, queima e destrói. Trata-se de energia distinta da energia criativa de Aleph e Beth: esta carta está abaixo do Abismo.
O Imperador porta um cetro (encimado pela cabeça de um carneiro pelas razões já expostas) e uma esfera encimada por uma cruz de Malta, que significa que sua energia atingiu uma emissão bem sucedida, que seu governo foi estabelecido.
Há ainda um outro símbolo importante. Seu escudo representa a águia bicéfala coroada por uma disco carmesim. Isto representa a tintura vermelha do alquimista, da natureza do ouro, como a águia branca mostrada no Atu III pertence à sua consorte, a Imperatriz, e é lunar, de prata.
Deve-se finalmente observar que a luz branca que desce sobre ele indica a posição desta carta na Árvore da Vida. A autoridade do Imperador provém de Chokmah, a sabedoria criativa, a Palavra, e é exercida sobre Tiphareth, o homem organizado.
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