quarta-feira, 1 de junho de 2016

O PAPA ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY



5 - O PAPA ASPECTOS DO DOGMA em ELIPHAS LEVI
O Pentagrama
GEBURAH - Ecce
Até agora expusemos o dogma mágico no que tem de mais árido e mais abstrato; aqui começam os
encantamentos; aqui podemos anunciar os prodígios e revelar as coisas ocultas.
O pentagrama exprime a dominação do Espírito sobre os elementos, e é por este signo que encadeamos os Silfos do ar, as salamandras do fogo, as Ondinas da água e os Gnomos da terra.
Armado deste signo e convenientemente disposto, podeis ver o infinito através daquela faculdade
que é como que o olho de vossa alma, e vós vos fareis servir por legiões de anjos e colunas de
demônios.



E, primeiramente, estabeleçamos princípios:
Não há mundo invisível, há somente vários graus de perfeição nos órgãos.
O corpo é a representação grosseira e como que a casca passageira da alma.
A alma pode perceber de si mesma e sem intermédio dos órgãos corporais, por meio da sua
sensibilidade e do seu diáfano, as coisas quer espirituais, quer corporais, que existem no universo.
Espiritual e corporal são palavras que somente exprimem os graus de tenuidade ou densidade da
substância. 
O que se chama, em nós, imaginação, não é mais que propriedade inerente à nossa alma de se
assimilar as imagens e os reflexos contidos na luz viva, que é o grande agente magnético.
Estas imagens e estes reflexos são revelações, quando a ciência intervém para nos revelar o seu
corpo ou a sua luz. O homem de gênio difere do sonhador e do louco somente nisto: as suas criações
são análogas à verdade, ao passo que a dos sonhadores e loucos são reflexos perdidos e imagens
desviadas.
Assim, para o sábio, imaginar é ver, como, para o mago, falar é criar.
Podem-se, pois, ver realmente e em verdade os demônios, as almas, etc., por meio da imaginação;
mas a imaginação do adepto é diáfana, ao passo que a do vulgo é opaca; a luz de verdade atravessa
uma como por janela esplêndida, e se refrata na outra como uma massa vítrea cheia de escórias e
corpos estranhos.
O que contribui mais para os erros do vulgo e as extravagâncias da loucura são os reflexos das
imaginações depravadas umas nas outras.
Mas o vidente sabe, com certeza, que as coisas imaginadas por ele são verdadeiras, e a experiência
sempre confirma as suas visões.
Dizemos, no Ritual, por que processo se adquire esta lucidez.
É por meio desta luz que os visionários extáticos se põem em comunicação com todos os mundos,
como isso acontecia tão frequentemente a Emanuel Swedenborg, que, não obstante, não era
perfeitamente lúcido, pois que não discernia os reflexos dos raios e misturava, às vezes, ilusões aos
seus mais admiráveis sonhos.
Dizemos sonhos, porque o sonho é o resultado de um êxtase natural e periódico que se chama sono.
Estar em êxtase é dormir; o sonambulismo magnético é uma reprodução do êxtase.
Os erros do sonambulismo são ocasionados pelos reflexos do diáfano das pessoas acordadas, e
principalmente do magnetizador.
O sonho é a visão produzida pela refração de um raio de verdade; a ilusão é a alucinação ocasionada
por uma reflexão.
A tentação de Santo Antonio, com seus pesadelos e monstros, representa a confusão dos reflexos
com os raios diretos. Enquanto a alma luta, ela é razoável; quando sucumbe a esta espécie de
embebedamento invasor, é louca.
Distinguir o raio direto e o separar do reflexo, tal é a obra do iniciado.
Agora, digamos alto que esta obra sempre foi realizada por alguns homens de “elite” no mundo; que
a revelação por intuição é, assim, permanente, e que não há barreira intransponível que separe as
almas, porque na natureza não há nem interrupções repentinas nem muralhas abruptas que possam separar os espíritos. Tudo é transição e matizes e, se supusermos a perfectibilidade, se não infinita,
ao menos indefinida das faculdades humanas, veremos que todo homem pode chegar a tudo ver, e,
por conseguinte, a tudo saber, ao menos num círculo que pode alargar indefinidamente.
Não há vácuo na natureza, tudo é povoado. Não há morte real na natureza, tudo está vivo.
"Vedes esta estrela?" - dizia Napoleão ao cardeal Fresch. - "Não, Senhor" -"Pois bem, eu a vejo!”
E, certamente, ele a via.
É por isso que acusam os grandes homens de terem sido supersticiosos: é que eles viram o que o
vulgo não vê.
Os homens de gênio diferem dos simples videntes pela faculdade que possuem de fazer sentir aos
outros homens o que vêem e de se fazer crer por entusiasmo e simpatia.
São os médiuns do Verbo divino.
Digamos, agora, como se opera a visão. Todas as formas correspondem a idéias, e não há idéia que
não tenha sua forma própria e particular.
A luz primordial, veículo de todas as idéias, é a mãe de todas as formas, e transmite-as de emanação
em emanação, apenas diminuídas ou alteradas por causa da densidade dos meios.
As formas secundárias são reflexos que voltam ao foco da luz emanada.
As formas dos objetos, sendo uma modificação da luz, ficam na luz onde o reflexo as envia. Por
isso, a luz astral ou o fluido terrestre, que chamamos o grande agente mágico, está saturado de
imagens ou reflexos de toda espécie os quais a nossa alma pode evocar e submeter ao seu diáfano, como falam os cabalistas. Estas imagens sempre nos estão presentes e somente se acham apagadas
pelas impressões mais fortes da realidade durante a vigília, ou pelas preocupações do nosso
pensamento, que deixa a nossa imaginação desatenta ao panorama móvel da luz astral. Quando dormimos, este espetáculo se apresenta por si mesmo a nós, e é assim que se produzem os sonhos: sonhos incoerentes e vagos, se alguma vontade dominante não fica ativa no sono e não dá, mesmo contra a vontade da nossa inteligência, uma direção ao sonho, que, então, se transforma em visão.
O magnetismo animal não é nada mais do que um sono artificial produzido pela união, quer
voluntária, quer forçada, de duas almas, uma das quais está acordada, enquanto a outra dorme, isto
é, uma das quais dirige a outra na escolha dos reflexos para mudar os sonhos em visões e saber a
verdade por meio das imagens. Assim, as sonâmbulas não vão realmente aos lugares aonde o
magnetizador as manda; elas evocam as suas imagens na luz astral, e nada podem ver do que não
existe nesta luz.
A luz astral tem uma ação direta sobre os nervos, que são os condutores, na economia animal, e que
a levam ao cérebro; por isso, no estado de sonambulismo, pode-se ver pelos nervos, e sem mesmo
ter necessidade da luz irradiante, o fluido astral sendo uma luz latente, como a física reconheceu que
existe um calórico latente.
O magnetismo entre dois é, sem dúvida, uma descoberta maravilhosa; mas o magnetismo de um só,
dirigindo-se a si mesmo, ficando lúcido à vontade, é a perfeição da arte mágica; e o segredo desta
grande obra não está para ser achado: foi conhecido e praticado por um grande número de iniciados,
e principalmente pelo célebre Apolônio de Thyana, que deixou dele uma teoria, como veremos no
nosso Ritual.
O segredo da lucidez magnética e da direção dos fenômenos do magnetismo provém de duas coisas:
da harmonia das inteligências e da união perfeita das vontades numa direção possível e determinada
pela ciência; isto é, para o magnetismo operado entre diversos. O magnetismo solitário exige
preparações de que falamos no nosso primeiro capítulo, quando enumeramos e fizemos ver, em toda
a sua dificuldade, as qualidades exigidas para ser um verdadeiro adepto.
Esclareceremos cada vez mais este ponto importante e fundamental nos capítulos que vão seguir.
Este império da vontade sobre a luz astral, que é a alma física dos quatro elementos, é figurado em magia, pelo pentagrama, cuja figura colocamos no frontispício deste capítulo.
Assim, os espíritos elementais são submissos a este signo, quando é empregado com inteligência, e pode-se, colocando-o no círculo ou na mesa das evocações, fazê-los dóceis, o que, em magia se
chama prendê-los.
Expliquemos, em poucas palavras, esta maravilha. Todos os espíritos criados comunicam entre si
por sinais e aderem a um certo número de verdades expressas por certas formas determinadas.
A perfeição das formas aumenta em razão do desembaraço dos espíritos, e os que não estão presos pelas cadeias da matéria reconhecem, à primeira intuição, se um signo é a expressão de um poder
real ou de uma vontade temerária.
A inteligência do sábio dá, pois, valor ao seu pantáculo, como a sua ciência dá peso à sua vontade, e
os espíritos compreendem imediatamente este poder.
Assim, com o pentagrama, pode-se forçar os espíritos a aparecerem em sonho, quer durante a
vigília, quer durante o sono, trazendo eles mesmos, diante do nosso diáfano, o seu reflexo, que
existe na luz astral, se viveram, ou um reflexo análogo ao seu verbo espiritual, se não viveram na
terra. Isto explica todas as visões e demonstra, principalmente, por que os mortos aparecem sempre
aos videntes, quer como eram na terra, quer como estão ainda no túmulo, nunca como estão numa
existência que escapa às percepções do nosso organismo atual.
As mulheres grávidas estão, mais que os outros, sob a influência da luz astral, que concorre para a
formação dos seus filhos, e que lhes apresenta, sem cessar, as reminiscências de formas de que está
cheia. É assim que as mulheres muito virtuosas enganam por semelhanças equívocas a malignidade
dos observadores. Elas imprimem, muitas vezes, ao fruto do seu casamento uma imagem que as comoveu em sonho, e é assim que as mesmas fisionomias se perpetuam, de século em século.
O uso cabalístico do pentagrama pode, pois, determinar a figura dos filhos a nascer, e uma mulher
iniciada pode dar a seu filho as feições de Nereu ou de Aquiles, como as de Luiz XIV ou de Napoleão. Nós indicamos no nosso Ritual o modo de o fazer.
O pentagrama é o que se chama, em Cabala, o signo do microcosmo, o signo cujo poder Goethe
exalta no belo monólogo do Fausto:
"Ah! como a esta vista todos meus sentidos estremeceram! Sinto a juvenil e santa volúpia da vida
ferver nos meus nervos e nas minhas veias. Será um Deus aquele que traçou este signo que acalma a
vertigem de minh’alma, enche de alegria meu pobre coração, e, numa impulsão misteriosa, desvenda ao redor de mim as forças da natureza? Sou um Deus? Tudo se torna tão claro para mim;
vejo, nestes simples traços, a natureza ativa se revelar à minh’alma. Agora, pela primeira vez,
reconheço a verdade desta palavra do sábio: - O mundo dos espíritos não está fechado! Teu sentido
está obtuso, teu coração está morto. Levanta-te! Banha, ó adepto da ciência, o teu peito, ainda
envolto de um véu terrestre, nos esplendores do dia nascente!" - (Fausto, 1 parte, cena 1).
Foi em 24 de Julho de 1854 que o autor deste livro, Eliphas Levi, fez em Londres a experiência da
evocação pelo pentagrama, depois de se ter preparado, para isso, por todas as cerimônias que estão
marcadas no Ritual. O sucesso desta experiência, cujas razões e detalhes damos no 13º capítulo do
Dogma e as Cerimônias no 13º capítulo do Ritual, estabelecem um novo fato patológico que os
homens de verdadeira ciência admitirão sem dificuldade. A experiência, reiterada até três vezes, deu
resultados verdadeiramente extraordinários, mas positivos e sem mistura alguma de alucinação.
Convidamos os incrédulos a fazerem um ensaio consciencioso e razoável, antes de levantar os
ombros e sorrir.
A figura do Pentagrama, aperfeiçoada conforme a ciência e que serviu ao autor para esta prova, é a
que está no começo deste capítulo e que não se acha tão completa nem nas clavículas de Salomão,
nem nos calendários mágicos de Tycho-Brahé e Duchenteau.
Observemos somente que o uso do pentagrama é muito perigoso para os operadores que não tem
completa e perfeita inteligência dele. A direção das pontas da estrela não é arbitrária, e pode mudar
o caráter de toda operação, como explicaremos no Ritual.
Paracelso, este inovador em magia, que sobrepujou todos os outros iniciados pelos sucessos de
realização obtidos por ele só, afirma que todas as figuras mágicas e todos os signos cabalísticos dos pantáculos aos quais os espíritos obedecem, se reduzem a dois, que são a síntese de todos os outros;
o signo do macrocosmo ou do selo de Salomão, cuja figura já demos e reproduzimos na página
seguinte, e o do microcosmo, ainda mais poderoso que o primeiro, isto é, o pentagrama, do qual dá,
na sua filosofia oculta, uma minuciosa descrição.
Se perguntarem como um signo pode ter tanto poder sobre os espíritos elementais, perguntaremos,
por nossa vez: por que o mundo cristão se prosternou diante do sinal da cruz? O sinal por si mesmo
nada é, e só tem força pelo dogma de que é resumo e verbo. Ora, um signo que resume, exprimindo
as, todas as forças ocultas da natureza, um signo que sempre manifestou aos espíritos elementares e
outros um poder superior à sua natureza, naturalmente os enche de respeito e temor e os força a
obedecer, pelo império da ciência e da vontade sobre a ignorância e a fraqueza.
É também pelo pentagrama que se medem as proporções exatas do grande e único athanor
necessário à confecção da pedra filosofal e à realização da grande obra. O alambique mais perfeito
que possa elaborar a quintessência é conforme esta figura, e a própria quintessência é figurada pelo signo do pentagrama.


5 - O PAPA ASPECTOS DO RITUAL em ELIPHAS LEVI
CAPÍTULO V

O PENTAGRAMA FLAMEJANTE
Chegamos à explicação e à consagração do santo e misterioso pentagrama.
Que o ignorante e o supersticioso fechem o livro aqui: pois só verão nele trevas ou ficarão
escandalizados.
O pentagrama, que é chamado, nas escolas gnósticas, a estrela flamejante, é o sinal da onipotência e
da autocracia intelectuais.
É a estrela dos magos; é o sinal do Verbo feito carne; e, conforme a direção dos seus raios, este
símbolo absoluto em magia representa o bem ou o mal, a ordem ou a desordem, o cordeiro de
Ormuz e de São João, ou o bode maldito de Mendes.
É a iniciação ou a profanação; é Lúcifer ou Vésper, a estrela da manhã ou da tarde.
É Maria ou Lilith; é a vitória ou a morte, é a luz ou à noite.
O pentagrama elevando ao ar duas das suas pontas representa Satã ou o bode do Sabbat, e representa o Salvador quando eleva ao ar um só dos seus raios.
O pentagrama é a figura do corpo humano com quatro membros e uma ponta única que deve
representar a cabeça.
Uma figura humana com a cabeça para baixo representa naturalmente um demônio, isto é,a
subversão intelectual, a desordem ou a loucura.
Ora, se a magia é uma realidade, se esta ciência oculta é a lei verdadeira dos três mundos, este signo
absoluto, este signo tão antigo como a história e até mais que a história, deve exercer, com efeito,
uma influência incalculável sobre os espíritos desembaraçados dos seus envoltórios materiais.
O signo do pentagrama chama-se também o signo do microcosmo, e representa o que os cabalistas
do livro de Zohar chamam o microprósopo.
A interpretação completa do pentagrama é a chave dos dois mundos. É a filosofia e a ciência natural
absolutas.
O signo do pentagrama deve ser composto dos sete metais ou, ao menos, ser traçado em ouro puro
no mármore branco.
Pode-se também desenhá-lo, com vermelhão, numa pele de cordeiro sem defeitos e sem manchas,
símbolo de integridade e luz.
O mármore deve ser virgem, isto é, nunca ter servido a outro uso; a pele de carneiro deve ser
preparada sob os auspícios do sol.
O carneiro deve ter sido degolado no tempo da Páscoa, com uma faca nova, e a pele deve ter sido
salgada com o sal consagrado pelas operações mágicas.
A negligência de uma única destas cerimônias difíceis e, em aparência, arbitrárias, faz abortar todo
o sucesso das grandes obras da ciência.
Consagramos o pentagrama com os quatro elementos; sopramos cinco vezes sobre a figura mágica;
e aspergimo-lo com a água consagrada; secamo-lo com a fumaça dos cinco perfumes, que são o
incenso, a mirra, os aloés, o enxofre e a cânfora, aos quais podemos ajuntar um pouco de resina
branca e âmbar-pardo; sopramos cinco vezes, pronunciando o nome dos cinco gênios, que são:
Gabriel, Rafael, Anael, Samael e Orifiel; depois pomos o pantáculo no chão, alternativamente ao
norte, ao sul, ao oriente, ao ocidente e no centro a cruz astronômica e pronunciamos, uma após
outra, as letras do tetragrama sagrado; depois dizemos, em voz baixa, os nomes de Aleph e do Thau
misterioso, reunidos no nome cabalístico de Azoth.
O pentagrama deve ser colocado no altar dos perfumes e sobre a trípode das evocações. O operador
deve também trazer consigo a figura com a do macrocosmo, isto é, a da estrela de seus raios,
composta de dois triângulos cruzados e superpostos.

INSTRUMENTOS MÁGICOS
A Lâmpada, a Baqueta, a Espada e a Foice
Quando evocamos um espírito de luz, é preciso virar a cabeça da estrela, isto é, uma das suas pontas
para a trípode da evocação, e as duas pontas inferiores do lado do altar dos perfumes. É o contrário se se tratar de um espírito das trevas; mas então é preciso que o operador tenha o cuidado de
conservar a ponta da baqueta ou da espada sobre a cabeça do pentagrama.
Dissemos que os signos são o verbo ativo da vontade. Ora, a vontade deve dar seu verbo completo
para transformá-lo em ação; e uma única negligência, representando uma palavra ociosa ou uma
dúvida, imprime em toda a operação o cunho da mentira e da importância, e volta contra o operador
todas as forças gastas em vão.
É, pois, preciso abster-se absolutamente das cerimônias mágicas, ou realizar escrupulosa e
exatamente todas!
O pentagrama traçado, em linhas luminosas, no vidro, por meio da máquina elétrica, exerce também
uma grande influência sobre os espíritos e aterroriza os fantasmas.
Os antigos magos traçavam o signo do pentagrama no batente da sua porta, para impedir aos maus
espíritos de entrar e aos bons de sair. Este constrangimento resulta da direção dos raios da estrela.
Duas pontas para fora, afastavam os maus espíritos; duas pontas para dentro, os retinha prisioneiros; uma só ponta para dentro, cativava os bons espíritos.
Todas estas teorias mágicas, baseadas no dogma único de Hermes e nas induções analógicas da
ciência, sempre foram confirmadas pelas visões dos extáticos e pelas convulsões dos catalépticos,
ditos possessos dos espíritos.
O G no qual os franco-maçons colocam no meio da estrela flamejante significa Gnosis e Geração,
duas palavras sagradas da antiga Cabala. Quer dizer também Grande Arquiteto, porque o
pentagrama, de qualquer lado que o olhemos, representa um A.
Dispondo-o de modo que duas das suas pontas estejam em cima e uma só ponta embaixo, podemos
ver nele os chifres, as orelhas e a barba do bode hierático de Mendes e torna-se o signo das
evocações infernais.
A estrela alegórica dos magos não é outra coisa senão o misterioso pentagrama; e estes três reis,
filhos de Zoroastro, guiados pela estrela flamejante ao berço do Deus microcósmico, seriam
suficientes para provar as origens inteiramente cabalísticas e verdadeiramente mágicas do dogma
cristão. Um destes reis é branco, outro é preto e o terceiro é moreno. O branco oferece ouro,
símbolo da vida e da luz; o preto oferece mirra, imagem da morte e da noite; o moreno apresenta o
incenso, emblema da divindade do dogma conciliador dos dois princípios; depois, voltam a seu país
por um outro caminho, para mostrar que um culto novo é simplesmente um novo caminho, para
levar a humanidade à religião única. A do ternário sagrado e do irradiante pentagrama, o único
catolicismo eterno.
No Apocalipse, São João vê esta mesma estrela cair do céu na terra. Ela se chama, então, absíntio ou
amargura, e todas as águas ficam amargas. É uma imagem clara da materialização do dogma que
produz fanatismo e as amarguras das controvérsias. É ao próprio cristianismo que podemos, então,
dirigir estas palavras de Isaías: “Como caíste do céu, estrela brilhante, que eras tão esplêndida em
tua manhã?”
Mas o pentagrama, profanado pelos homens, brilha sempre sem sombra na mão direita do Verbo de
verdade, e a voz inspiradora promete àquele que vencer dar-lhe a posse da estrela da manhã;
reabilitação solene prometida ao astro de Lúcifer.
Como vemos, todos os mistérios da magia, todos os símbolos da Gnosis, todas as figuras do ocultismo, todas as chaves cabalísticas da profecia, se resumem no signo do pentagrama, que
Paracelso proclama o maior e mais poderoso de todos os signos.
Será para se admirar, depois disso, da confiança dos magistas e da influência real exercida por este
signo sobre os espíritos de todas as hierarquias? Os que desprezam o sinal da cruz tremem ao
aspecto da estrela do microcosmo. O mago, pelo contrário, quando sente enfraquecer-se a sua
vontade, leva os olhos para o símbolo, toma-o na mão direita e sente-se armado da onipotência
intelectual, contanto que seja verdadeiramente um rei digno de ser guiado pela estrela ao berço da realização divina; contanto que saiba, que ouse, que queira, e que se cale; contanto que conheça o
emprego do pantáculo, do copo, da baqueta e da espada; enfim, contanto que os olhares intrépidos
de sua alma correspondam a este dois olhos que a ponta superior do nosso pentagrama lhe apresenta
sempre abertos.



V.  O HIEROFANTE  - por Crowley
Esta carta se refere à letra Vau, que significa prego, sendo que nove pregos aparecem no alto da carta, os quais servem para fixar o oriel atrás da principal figura da carta.  
A carta é referida a Touro, de sorte que o trono do Hierofante é circundando por elefantes, que participam da natureza de Touro, estando o Hierofante realmente sentado sobre um touro. Ao redor dele estão as quatro bestas ou  Kerubs, uma em cada canto da carta, visto que estes são os guardiões de todo santuário. Mas a principal referência é ao arcano particular que constitui o negócio maior, o essencial, de todo trabalho mágico: a união do microcosmo ao macrocosmo. Conseqüentemente, o oriel é diáfano. Diante do manifestador do Mistério há um hexagrama representando o macrocosmo e no centro deste um pentagrama, contendo e representando uma criança do sexo masculino dançando. Isto simboliza a lei do novo Aeon da criança Hórus, o qual suplantou o Aeon do deus que morre, que governou o mundo por dois mil anos. Também diante do Hierofante está a mulher com a espada à cintura, que representa a Mulher Escarlate na  hierarquia do novo Aeon. Este simbolismo é adicionalmente efetivado no oriel, onde, por trás da cobertura fálica de cabeça, a rosa de cinco pétalas desabrocha.  
O simbolismo da serpente e da pomba faz alusão a este versículo de O Livro da Lei (cap. I, v. 57) : “... pois existe amor e amor. Existe a pomba, e existe a serpente.” 
Este símbolo reaparece no trunfo de número XVI.  
O fundo da carta toda é o azul escuro da noite estrelada de Nuit, de cujo útero nascem todos os fenômenos.  
Touro, o signo do zodíaco representado por esta carta, é ele mesmo o Kerub-Touro, ou seja, a Terra sob sua forma mais forte e mais equilibrada. 
O regente desse signo é Vênus, que é representado pela mulher em pé diante do hierofante.  
No capítulo III de O Livro da Lei, versículo xi, se lê:  
“Que a mulher seja cingida com uma espada diante de mim”. Esta mulher representa Vênus como ela agora está neste novo Aeon, não mais o mero veículo de seu correlativo masculino, mas armada e militante.  
Neste signo a Lua é “exaltada”; sua influência é representada não só pela mulher como também pelos nove pregos.  
É impossível na atualidade explicar esta carta na sua inteireza pois somente o curso dos eventos poderá mostrar como a nova corrente de iniciação funcionará.  
É o Aeon de Hórus, da criança. Embora o rosto do Hierofante pareça benigno e sorridente e a própria criança pareça alegre com desregrada inocência, é difícil negar que na expressão do iniciador  há algo misterioso, mesmo sinistro. Ele parece estar gozando uma piada muito secreta às custas de alguém. Há um aspecto distintamente sádico nesta carta, e naturalmente, considerando-se que ela provém da lenda de Pasiphae, o protótipo de todas as lendas dos deuses-Discos. Estas ainda persistem em religiões como o  saivismo  e (depois de múltiplas degradações)  no próprio cristianismo. 
O simbolismo do bastão é peculiar; os três anéis entrelaçados que o encimam podem ser tomados como representativos dos três Aeons de Ísis, Osíris e Hórus com suas fórmulas mágicas que se entrosam. O anel superior está marcado de escarlate para Hórus, os dois inferiores de verde para Ísis e amarelo pálido para Osíris, respectivamente. Todos estes estão baseados no azul escuro, a cor de Saturno, O Senhor do Tempo, pois o ritmo do Hierofante é tal, que ele se move apenas a intervalos de 2.000 anos. 



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