quinta-feira, 7 de julho de 2016

A CABALA E OS ARCANOS O DEMÔNIO E A TORRE



 CAPÍTULO XV

XV O DIABO - AYIN - SENHOR DOS PORTAIS DA MATÉRIA 

FILHO DAS FORÇAS DO TEMPO

Árvore da Vida: Caminho de Tiphareth à Hod

Letra hebraica: Ayin ([) - Olho

Valor: 70

Signo: Capricórnio

Elemento: Terra do Éter

Personificação/Personagem Místico: Senhor dos Portais da Matéria; Filho das Forças do Tempo

O tridente simboliza os três estados que permitem a manifestação da matéria, força poderosa  rege a vida e a morte e nossa potencialidade de exercer a divindade em nós.

A grande tentação, o grande teste, quando somos desafiados a nos tornar conscientes da escolha da canalização de nossas energias, o livre arbítrio.

Escravidão / Alegria / Riso / uma Nova Inteligência /  
Órgão da Visão

Signo Capricórnio Planeta Saturno
Descritivo: Nas águas da vida está a representação de Geburah (a Lei).  No meio, Tiphon Bafometo aparece sustendo na sua mão esquerda o Bastão de poder e na sua mão direita uma Serpente que se eleva. A sua mão direita é masculina e a esquerda é feminina; os seus seios indicam a sua condição de andrógino. Com o avental cobre-se a “Sabedoria” e do próprio avental aparece a cauda. A sua cara é disforme devido aos erros ou pecados. Bafometo foi representado como o "Latão" que actualmente a humanidade enegreceu  devido à degeneração. Devemos branquear o latão, o Diabo, o qual é o treinador psicológico e o guardião das portas do Santuário para que unicamente entrem os escolhidos, os que puderam superar todas as provas impostas pelo Diabo. SIGNIFICADO ESOTÉRICO DO ARCANO – O arcano 15 do Tarôt representa o Bode de Mendez, Lúcifer, Tiphon Bafometo, o Diabo.  
O alquimista deve roubar o fogo ao Diabo".  Quando trabalhamos com o arcano A.Z.F. roubamos o fogo ao Diabo, assim convertemo-nos em deuses, assim resplandece a estrela-de-cinco-pontas. Os cornos terminam em seis pontas. O arcano 6 é o sexo, indicando que no sexo está a libertação pela castidade ou a escravidão do homem pela paixão. Existe uma diferença em relação ao arcano nº. 1 a mão direita está em cima e esquerda aponta para baixo. O mistério do Bafometo é a alquimia sexual com base na compreensão e na transmutação das energias criadoras. O Bafometo dos Templários deve ler-se de modo inverso: «Tem-o-h-p-ab», símbolo das palavras latinas: Templi omnium hominum pacis abbas. Isto significa: «o Pai do templo, Paz universal dos homens». O arcano 15 aparece depois do arcano 13 o qual é a morte do Eu, do ego, do mim próprio; e do arcano 14 que é a Temperança, castidade que surge depois da morte do ego. O arcano 15 é pois o andrógino divino que volta a resplandecer, é o latão branqueado. Sabemos que para além do corpo, dos afectos e da mente está o Logoi interior, divinal.  Indiscutivelmente isso que é o Inefável, isso que é o Real, projecta o seu próprio reflexo, a sua sombra particular dentro de nós próprios aqui e agora. Obviamente tal sombra, tal reflexo lógico, é o treinador psicológico, “Lúcifer”, o tentador. Cada um de nós tem o seu Lúcifer particular. No Egipto dos Faraós, o Sol do Meio-Dia, o Sagrado Sol Absoluto, sempre esteve simbolizado por Osíris, enquanto que a sua sombra, o seu reflexo, o seu Lúcifer encontra-se alegorizado por Tiphon. Nos sagrados templos do velho Egipto dos Faraós, quando o neófito estava prestes a sofrer as provas da iniciação, um Mestre aproximava-se dele e murmurava-lhe ao ouvido esta frase misteriosa: «lembra-te que Osíris é um deus negro». Evidentemente esta é a cor específica das trevas e das sombras montanhosas, é o Diabo a quem sempre se ofereceram rosas negras. É também a cor do Caos Primitivo onde todos os elementos e germens da vida se misturam e se confundem totalmente. O símbolo do elemento terra, da noite e da morte radical de todos esses agregados psíquicos que no seu conjunto constituem o mim próprio. Precisamos com a máxima e inadiável urgência branquear o Diabo e isto só é possível lutando contra nós próprios, dissolvendo todo esse conjunto de agregados psíquicos que constituem o "eu", o mim próprio. Somente morrendo em nós próprios podemos branquear o “latão” e contemplar o Sol da Meia-Noite (o Pai). Isto significa vencer as tentações e eliminar todos e cada um dos elementos inumanos que temos dentro de nós como: (Ira, Cobiça, Luxúria, Inveja, Orgulho, Preguiça, Gula, etc.)
O ginásio psicológico da existência humana sempre requereu um treinador. O divino Daimon, citado tantas vezes por Sócrates, a própria sombra do nosso Espírito individual, é o treinador psicológico mais extraordinário que cada um de nós carrega dentro de si; ele coloca-nos em tentações com o  propósito de nos treinar, de nos educar. Somente assim é possível que surjam na nossa psique as preciosas gemas das virtudes. Agora pergunto-me e pergunto-vos: onde está a maldade de Lúcifer? Os resultados são os que falam, se não há tentação, não há virtude; quanto mais fortes forem as tentações, maiores serão as virtudes, importante é não cair em tentação e por isso devemos suplicar ao Pai dizendo: «não me deixeis cair em tentação». Só mediante a luta, o contraste, a tentação e a rigorosa disciplina esotérica é possível fazer surgir em nós as flores da virtude. Lúcifer, como mentor e educador, torna-se, con certeza, insólito, inusitado e extraordinário.

Existe na tentação luciférica uma didáctica insubstituível. Uma pedagogia portentosa, uma atração assombrosa, um incentivo inconfundível, uma instigação  oculta com propósitos divinos secretos; uma sedução, uma fascinação. Lúcifer-Prometeu é uno com o Logos Platônico, o ministro do Demiurgo Criador e resplandecente Senhor das Sete Mansões do Hades (Inferno), Sabbath e do Mundo Manifestado, a quem estão entregues a Espada e a Balança da Justiça Cósmica, uma vez que ele é indubitavelmente norma do peso, medida e número; o Horus, o Brahma, o Ahura-Mazda, etc., sempre inefável. Lúcifer (Lúci = luz, Fer = fogo)  é o Guardião da porta dos lumisiais para que não penetrem neles senão os ungidos que possuem o segredo de Hermes. Aqueles que maldizem temerariamente Lúcifer pronunciam-se contra o cósmico reflexo do Logos, anatematizam o Deus vivo manifestado na matéria e renegam a sempre  incompreensível Sabedoria revelando-se, de igual modo, nos contrários de Luz e Trevas, Semelhança, Parecença e Similitude; Sol e Sombra; Dia e Noite; lei dos contrários. O Diabo, o reflexo do nosso Logoi  interior foi a criatura mais excelsa antes de cairmos na geração animal. «branqueia o teu latão e queima os teus livros", repetem-nos todos os mestres da arte hermética. Aquele que branqueia o Diabo, fazendo-o voltar ao seu estado primigénio  e resplandecente; aquele que morre em si próprio aqui e agora, liberta o Prometeu agrilhoado, e este paga-lhe com acréscimos porque é um colosso com potestade sobre os Céus, sobre a Terra e sobre os Infernos. Lúcifer-Prometeu  integrado radicalmente com todas as partes do nosso “Ser”, faz de nós algo totalmente distinto, diferente, uma exótica criatura, um Arcanjo, uma potestade extraordinariamente divina.







CAPÍTULO XVI 
ARCANO Nº. 16 - A TORRE - FRAGILIDADE  

XVI A TORRE - PEH - SENHOR DAS HOSTES DO PODEROSO

Árvore da Vida: Caminho de Hod à Netzach

Letra hebraica: Peh (p) - Boca

Valor: 80 (800)

Planeta: Marte

Elemento: Fogo

Personificação/Personagem Místico: Senhor das Hostes do Poderoso

É chegado o momento de o homem conhecer o caminho do Templo Interno em seu coração.

Simbolizei a ruína dos templos de pedra a descoberta dos sacrifícios humanos que mancha de sangue os degraus de templos erguidos a divindade.


 Exercitando o Poder da Consciência rumo ao Despertar
Órgão Boca
Planeta Marte 
Descritivo – Nas águas da vida, está o Báculo do poder, o Bastão de autoridade e o Cilício (chicote) que representam a Fragilidade. De ambos os lados destes símbolos estão as duas serpentes, positiva e a negativa. Da parte superior desce o Raio da Justiça Cósmica destruindo a torre a que os cabalistas chamam a Torre de Babel. Duas personagens são precipitadas para o fundo do Abismo, uma à direita e outra à esquerda; ao caírem fazem o sinal da estrela flamejante invertida com os braços, as pernas e a cabeça para baixo, simbolizando a queda dos Bodhisatwas. A queda é pelo sexo, por derramarem o Vaso de Hermes. Há que distinguir uma queda de uma descida; o iniciado desce à Nona Esfera durante o trabalho na «forja» para destruir os seus defeitos das regiões inferiores, para  logo ascender aos céus; um céu ganho depois de cada inferno trabalhado. O iniciado cai quando derrama o sémen. SIGNIFICADO ESOTÉRICO DO ARCANO – O arcano nº. 16 é o da Torre Fulminada, esta é a Torre de Babel. São muitos os iniciados que se deixam cair. São muitas as torres fulminadas. Todo o iniciado que derrama o Vaso de Hermes cai inevitavelmente. A lenda dos Anjos caídos tem-se repetido e continuará eternamente a repetir-se. Atualmente vivem no mundo, muitos Deuses-caídos. Estes agora estão disfarçados com corpos de homens. É necessário despertar a Consciência  para não se cair no Abismo da perdição; atualmente existem muitos chefes de grupos esotéricos com a Consciência  profundamente adormecida.  “Cegos guias de cegos, rodarão todos para o Abismo». Essa é a lei. Os seres humanos vivem totalmente adormecidos. É preciso despertar a Consciência  para não andar às cegas.  Os cegos podem cair no Abismo. O arcano 16 é muito perigoso. Aqueles estudantes que praticam exercícios esotéricos sem trabalhar no arcano A.Z.F. (Arcano O Enforcado) são semelhantes ao homem que edifica a sua casa sobre a areia; a sua edificação cairá no Abismo; devemos edificar sobre a «Pedra Viva». Essa pedra é o sexo. Aquele que desenvolve os chacras tendo os corpos internos lunares rodará para o Abismo, o seu templo será a torre fulminada. Aquele que engendra os seus corpos crísticos com o arcano A.Z.F. e trabalha no desenvolvimento dos seus chacras converte-se num CristoVivente.  

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O TAROT E A CABALA - refletindo sobre O Louco / o Regresso


ARCANO XXII O REGRESSO Coroa da Vida.
Diz o “Apocalipse”: «Sê fiel até à morte e Eu te darei a Coroa da Vida».
As pessoas crêem que o “Caminho da Realização” A Gnosis Primitiva ensina três etapas pelas quais tem que passar todo aquele que trabalha na Forja Acesa de Vulcano: Purificação – Iluminação – Perfeição. 
A primeira faculdade que desenvolve o candidato é o grau de “Ouvinte”, a Clariaudiência, o ouvido oculto.
Aprendiz trilha aproximadamente 7 ano até que se inicie o processo de  a Iluminação.

Letra hebréia Aleph 
Value A (1)  
Significado  Touro cabalístico 
Aspecto da consciência Cultural  
Poder Super-consciência 
Astrologia Urano 
Elemento Ar 
Associado à respiração 
cor amarelo pálido




A COROA DA VIDA 
O Íntimo não é a Coroa da Vida. Esta tem profundidades e está para além do “Íntimo”. A Coroa da Vida é o nosso resplandecente Dragão de Sabedoria, o Cristo Interno. 
 
AS TRÊS PROFUNDIDADES
   A primeira profundidade é a origem da vida. A segunda, é a origem da palavra. A terceira é a origem da força sexual. Estas três profundidades do resplandecente Dragão de Sabedoria estão para além do Íntimo. Este deve procurar-se dentro das ignotas profundezas de nós mesmos.

O NÚMERO VINTE E DOIS (22)
As três profundidades do resplandecente Dragão de Sabedoria emanaram do “ponto matemático”; este é o Ain Soph, a “estrela atLómica interior que sempre nos tem sorrido”. A Santa Trindade emanou dessa Estrela Interior; as Três Profundidades regressarão e fundir-se-ão com essa Estrela Interior. O número 22, soma-se cabalisticamente do seguinte modo: 2 + 2 = 4.  O Santo Três emana da Estrela Interior. O “Três” mais a sua “Estrela Interior”, é o “Santo Quatro”, o misterioso Tetragrammaton; o Iod He Vau He. Compreenderemos agora porque o Arcano 22 é a Coroa da Vida. «Sê fiel até à morte e Eu te darei a Coroa da Vida».

HIROGLÍFICO 
O hieroglífico do Arcano 22 é a Coroa da Vida. Entre os quatro animais misteriosos da Alquimia Sexual e no meio da Coroa, vê-se a Verdade, representada por uma Mulher Desnuda, a qual tem na sua mão uma varinha, (o Sacerdote e a Sacerdotisa; a Alquimia Sexual). Somente trabalhando na “Forja Acesa de Vulcano”, podemos encarnar a “Verdade). 

A ARCA DA ALIANÇA 
A “Arca” tinha quatro querubins que se tocavam com as suas asas e se encontravam na atitude do homem e da mulher durante acto sexual. Dentro da “Arca” encontrava-se o Bastão florido de Aarão; a Taça ou Gomor, contendo o “Maná”; as Doze Tábuas da Lei e o “Maná” contido no “Gomor”; o número “Quatro” como resultado da adição do número 22.

A LOJA INTERIOR 
O primeiro dever de todo o gnóstico é assegurar-se de que a “Loja” está protegida.

No grau de “Aprendiz” concretiza-se a atenção de forma especial no Plano Astral. A “Loja Interna” deve ficar protegida; o corpo astral deve limpar-se das paixões animais e de toda a classe de desejos.

No segundo grau, A Loja Mental deve ficar protegida; os pensamentos terrenos devem ser arrojados fora do “Templo”. Na prática podemos observar que estudantes aparentemente muito sérios; quando se descuidaram, quando não souberam proteger a sua “Loja Interna”, foram invadidos por gente e doutrinas estranhas; muitas vezes continuaram a trabalhar na Forja Acesa de Vulcano, mas misturando métodos e sistemas tão distintos, que o resultado de tudo isso foi então uma verdadeira Babel, uma confusão bárbara que somente serviu para trazer a desordem à “Loja Interior” da Consciência . É necessário ter a “Loja Interior em perfeita ordem; a autentica Escola de Autoeducação Íntima. Estamos absolutamente convencidos de que somente existe uma só porta e um só caminho: na compreensão de nossa sexualidade e do êxtase da vida.




quinta-feira, 16 de junho de 2016

VII O CARRO por Eliphas Levi Crowlei e Paul Foster




VII O CARRO - A CHETH - A CRIANÇA DOS PODERES DAS ÁGUAS, O SENHOR DO TRIUNFO DA LUZ
Árvore da Vida: Caminho de Binah à Geburah
Letra hebraica: Cheth (j) - Cerca, RECIPIENTE
Cabala: estar receptivo à vontade divina
Valor: 8
Signo: Câncer
Planeta: Lua
Elemento: Água
Personificação/Personagem Místico: Criança dos Poderes das Águas; Senhor do Triunfo da Luz


Dogmas e Rituais de Alta Magia
VII O CARRO por Eliphas Levi aspectos No volume Dogma
A Espada Flamejante
Netsah - Glaudius
O setenário é o número sagrado em todas as teogonias e em todos os símbolos, porque é composto do ternário e do quaternário. O número sete representa o poder mágico em toda a sua força; é o espírito protegido por tidas as potências elementares; é a alma servida pela natureza; é o sanctum regnum de que falam as Clavículas de Salomão, e que é representado, no Tarô, por um guerreiro coroado, trazendo um triângulo na sua couraça, e de pé, em cima de um cubo, ao qual estão atreladas duas esfinges, uma branca e outra preta, que puxam em sentido contrário e voltam a cabeça, olhando uma à outra. Este guerreiro está armado com uma espada flamejante, e tem, na outra mão, um cetro rematado por um triângulo e uma bola.
O cubo é a pedra filosofal. As esfinges são as duas forças do grande agente, correspondentes a Jakin e Bohas, que são as duas colunas do templo; a couraça é a ciência das coisas divinas, que faz o sábio invulnerável aos golpes humanos; o cetro é a baqueta mágica; a espada flamejante é o sinal da vitória sobre os vícios, que são em número de sete, como as virtudes; as idéias dessas virtudes e desses vícios eram figuradas, pelos antigos, pelos símbolos dos sete planetas então conhecidos.
Assim, a fé, esta aspiração ao infinito, esta nobre confiança em si mesmo, sustentada pela crença em todas as virtudes, a fé, que, nas naturezas fracas, pode degenerar em orgulho, era representada pelo Sol; a esperança, inimiga da avareza, pela Lua; caridade, oposta à luxúria, por Vênus, a brilhante estrela da manhã e da tarde; a força, superior à cólera, por Marte; a prudência, oposta à preguiça, por Mercúrio; a temperança, oposta à gula, por Saturno, a quem se dá uma pedra para comer ao invés de seus filhos; e a justiça, enfim, oposta à inveja, por Júpiter, vencedor dos Titãs. Tais são os símbolos
que a astrologia tira do culto helênico. Na Cabala dos Hebreus, o Sol representa o anjo de luz; a Lua, o anjo das aspirações e dos sonhos; Marte, o anjo exterminador; Vênus, o anjo dos amores; Mercúrio, o anjo civilizador; Júpiter, o anjo do poder; Saturno, o anjo das solidões. Chamam-nos também: Mikael, Gabriel, Samael, Anael, Rafael, Zacariel e Orifiel. Estas potências dominadoras das almas partilham a vida humana por períodos, que os astrólogos mediam sobre as revoluções dos planetas correspondentes.
Porém, não se deve confundir a astrologia cabalística com a astrologia judiciária. Explicaremos esta distinção. A infância é votada ao Sol, a adolescência à Lua, a juventude a Marte e Vênus, a virilidade a Mercúrio, a idade madura a Júpiter e a velhice a Saturno. Ora, a humanidade inteira vive sob leis de desenvolvimento análogas às da vida individual. É sobre esta base que Trithemo estabelece a sua clavícula profética dos sete espíritos de que falamos alhures, e por meio da qual se pode, seguindo as proporções analógicas dos acontecimentos sucessivos, predizer com certeza os grandes acontecimentos futuros, e fixar adiantadamente, de período em período, os destinos dos povos e do mundo.
São João, depositário da doutrina secreta do Cristo, consignou esta doutrina no livro cabalístico do Apocalipse, que ele representa fechado com sete selos. Acham-se aí os sete gênios das mitologias antigas, com as copas e espadas do Tarô. O dogma escondido sob estes emblemas é a pura Cabala, já perdida pelos fariseus, na época da volta do Salvador; os quadros que se sucedem nesta maravilhosa epopeia profética são tantos pantáculos que o ternário, o quaternário, o setenário e o duodenário são as chaves. As suas figuras hieroglíficas são análogas às do livro de Hermes ou da Gênese de Enoque, para nos servir de arriscado título que exprime somente a opinião pessoal do sábio Guilherme Postello.
O querubim ou touro simbólico que Moisés coloca à porta do mundo edênico, e que tem na mão uma espada flamejante, é uma esfinge, tendo um corpo de touro e uma cabeça humana; é a antiga esfinge assíria, de que o combate e a vitória de Mitra eram a análise hieroglífica. Esta esfinge armada representa a lei do mistério que vigia à porta da iniciação para desviar dela os profanos.
Voltaire, que nada sabia de tudo isso, riu muito de ver um boi armado de espada. Que teria ele dito se tivesse visitado as ruínas de Mênfis e Tebas, e que teria a responder aos seus insignificantes sarcasmos, tão apreciados em França, este eco dos séculos, que dorme nos sepulcros de Psammético e Ramsés?
O querubim de Moisés representa também o grande mistério mágico, de que o setenário exprime todos os elementos, sem, todavia, dar a sua última palavra. Este verbum inenarrabile dos sábios da escola de Alexandria, esta palavra que os cabalistas hebreus escrevem h w h y e traduzem por a tyr a r a, exprimindo, assim, a triplicidade do princípio secundário, o dualismo dos meios e a unidade tanto do primeiro princípio como do fim, depois também a aliança do ternário com o quaternário numa palavra composta de quatro letras, que formam sete, por meio de uma tríplice e uma dupla repetição; esta palavra se pronuncia Ararita.
A virtude do setenário é absoluta em magia, porque o número é decisivo em todas as coisas; por isso, as religiões o consagraram nos seus ritos. O sétimo ano, entre os Judeus, era jubilar; o sétimo dia é consagrado ao repouso e à prece, há sete sacramentos, etc.
As sete cores do prisma, as sete notas da música, correspondem também aos sete planetas dos antigos, isto é, às sete cordas da lira humana. O céu espiritual nunca mudou, e a astrologia ficou mais invariável que a astronomia. Os sete planetas, com efeito, não são mais do que símbolos hieroglíficos dos laços de nossas afeições. Fazer talismãs do Sol, da Lua ou de Saturno, é prender magneticamente a vontade a signos que correspondem aos principais poderes da alma; consagrar alguma coisa a Vênus ou a Mercúrio é magnetizar esta coisa numa intenção direta, quer de prazer,
quer de ciência ou proveito. Os metais, animais, plantas ou perfumes análogos são, nisso, nossos auxiliares. Os animais mágicos são: entre os pássaros, correspondentes ao mundo divino, o cisne, a coruja, o gavião, a pomba, a cegonha, a águia e a poupa; entre os peixes, correspondentes ao mundo espiritual ou científico, a foca, o celerus, o lúcio, o timalo, o mugem, o delfim, e a siba; entre os quadrúpedes, correspondentes ao mundo natural, o leão, o gato, o lobo, o bode, o macaco, o veado e a toupeira. O sangue, a gordura, o fígado e o fel destes animais servem para os encantamentos; o seu cérebro se combina com os perfumes dos planetas, e é reconhecido, pela prática dos antigos, que possuem virtudes magnéticas correspondentes às sete influências planetárias.
Os talismãs dos sete espíritos se fazem, quer em pedras preciosas, tais como o carbúnculo, o cristal, o diamante, a esmeralda, a ágata, a safira e o ônix, quer nos metais, como o ouro, a prata, o ferro, o cobre, o mercúrio fixo, o estanho e o chumbo. Os símbolos cabalísticos dos sete espíritos são: para o Sol, uma serpente, com cabeça do leão; para a Lua, um globo ocupado por dois crescentes; para Marte, um dragão mordendo o cabo de uma espada; para Vênus, um lingam; para Mercúrio, o caduceu hermético e o cinocéfalo; para Júpiter, o pentagrama flamejante nas garras ou no bico de uma águia; para Saturno, um velho coxo uma serpente enlaçada ao redor da pedra helíaca. Todos estes signos se acham nas pedras gravadas dos antigos, e particularmente nos talismãs das épocas gnósticas, conhecidos sob o nome de Abraxas. Na coleção dos talismãs de Paracelso, Júpiter é
representado por um padre com hábito eclesiástico, e no Tarô é figurado por um grande hierofante vestido com a tiara de três diamantes, tendo na mão a cruz de três braços, formando o triângulo mágico e representando, ao mesmo tempo, o cetro e a chave dos três mundos.
Resumindo tudo o que dissemos da união do ternário e do quaternário, teremos tudo o que nos restaria a dizer do setenário, esta grande e completa unidade mágica, composta de 4 e 3.



VII O CARRO por Eliphas Levi aspectos 
No volume Rituais
  O SETENÁRIO DOS TALISMÃS
As cerimônias, as vestimentas, os perfumes, os caracteres e as figuras, sendo, como dissemos, necessários para empregar a imaginação na educação da vontade, o sucesso das obras mágicas depende da fiel observação de todos os ritos. Estes ritos, como dissemos, nada têm de fantástico ou arbitrário; eles nos foram transmitidos pela antiguidade e subsistem sempre pelas leis essenciais da realização analógica e da relação que existe necessariamente entre as ideias e as formas. Depois de ter passo vários anos a consultar e comparar todos os engrimanços e todos os rituais mágicos mais autênticos, chegamos, não sem trabalho, a reconstituir o cerimonial da magia universal e primitiva.
Os únicos livros sérios que vimos sobre esse assunto são manuscritos e traçados em caracteres de convenção, que deciframos com o auxílio da poligrafia de Trithemo; outros estão inteiramente nos hieróglifos e símbolos de que são ornados e disfarçam a verdade das suas imagens sob as ficções supersticiosas de um texto mistificador. Tal é, por exemplo, o Enchiridion do Papa Leão III, que nunca foi impresso com suas gravuras e que refizemos para nosso uso particular conforme um
antigo manuscrito.
Os rituais conhecidos sob o nome de Clavículas de Salomão existem em grande número. Vários foram impressos, outros foram copiados com grande cuidado. Existe um belo exemplar, muito elegantemente caligrafado, na Biblioteca Imperial; é ornado com pantáculos e caracteres que, na maior parte, se acham nos calendários  mágicos de Tycho- Brahe e de Duchenteaux.
Existem, enfim, clavículas e engrimanços impressos que são mistificações e especulações vergonhosas de baixa livraria. O livro tão conhecido e tão proibido pelos nossos pais, sob o nome de Pequeno Alberto, pertence, por um lado inteiro da sua redação, a esta última categoria e só tem de sério alguns cálculos tirados de Paracelso e algumas figuras de talismãs.
Quando se trata de realização e de ritual, Paracelso é, em magia, uma imponente autoridade. Ninguém realizou maiores obras do que as suas, e, por isso mesmo, ele esconde o poder das cerimônias, e ensina, somente na filosofia oculta, a existência do agente magnético da onipotência da vontade; resume também, toda a ciência dos caracteres em dois signos, que são as estrelas macro e microcósmicas. Era dizer bastante para os adeptos e importava não iniciar o vulgo. Paracelso não ensinava, pois, o ritual, mas o praticava e sua prática era uma sucessão de milagres.
Dissemos que importância tem, em magia, o ternário e o quaternário. Da sua reunião se compõe o grande número religioso e cabalístico que representa a síntese universal e que constitui o setenário sagrado.
O mundo, conforme a crença dos antigos, é governado por sete causas segundas, como as chama Trithemo: secundae, e são as forças universais designadas por Moisés são o nome plural de Elohim, os deuses. Estas forças, análogas e contrárias umas às outras, produzem o equilíbrio pelos seus contrastes e regulam o movimento das esferas. Os hebreus as chamam os sete grandes arcanjos e lhes dão os nomes de Mikael, Gabriel, Rafael, Anael, Samael, Zadkiel e Oriphiel. Os gnósticos cristãos chamam os quatro últimos: Uriel, Baraquiel, Sealtiel e Jehudiel. Os outros povos atribuíram a estes espíritos o governo dos sete planetas principais, e lhes deram os nomes das suas grandes divindades. 
Todos acreditaram na sua influência relativa, e a astronomia lhes dividiu o céu e lhes atribuiu sucessivamente o governo dos sete dias da semana.
Tal é a razão das diversas cerimônias da semana mágica e do culto setenário dos planetas.
Já observamos, aqui, que os planetas são signos, e não outra coisa; eles têm a influência que a fé universal lhes atribui, porque são mais realmente astros do espírito humano do que estrelas do céu.
O sol, que a magia antiga sempre considerou como fixo, só podia ser um planeta para o vulgo; por isso, representa, na semana, o dia do descanso, que chamamos, não sei por que, Domingo, e que os antigos chamavam dia do sol.
Os sete planetas mágicos correspondem às sete cores do prisma e às sete notas da oitava musical; representam também as sete virtudes e, por oposição, os sete vícios, da moral cristã.
Os sete sacramentos referem-se, igualmente, a este grande setenário. O batismo, que consagra o elemento da água, refere-se à Lua; a penitência rigorosa está sob os auspícios de Samael, o anjo de Marte; a confirmação, que dá o espírito de inteligência e comunica ao verdadeiro crente o Dom das línguas, está sob os auspícios de Rafael, o anjo de Mercúrio; a eucaristia substitui a realização sacramental de Deus feito homem, ao império de Júpiter; o casamento é consagrado pelo anjo Anael, o gênio purificador de Vênus; a extrema-unção é a salvaguarda dos doentes próximos a cair sob a foice de Saturno, e a ordem, que consagra o sacerdócio de luz, está mais especialmente marcada por caracteres do sol. Quase todas estas analogias foram notadas pelo sábio Dupuis, que concluiu, daí, a falsidade de todas as religiões, em vez de reconhecer a santidade e perpetuidade de
um dogma único, sempre reproduzido no simbolismo das sucessivas formas religiosas. Não entendeu a revelação permanente transmitida ao gênio do homem pelas harmonias da natureza, e só viu uma série de erros nesta cadeia de imagens engenhosas e eternas verdades.
As obras mágicas são também em número de sete:
1ª) obras de luz e riqueza, sob os auspícios do Sol;
2ª) obras de adivinhação e mistérios, sob a invocação da Lua;
3ª) obras de habilidade, ciência e eloqüência, sob a proteção de Mercúrio;
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4ª) obras de cólera e castigo, consagradas a Marte;
5ª) obras de amor, favorecidas por Vênus;
6ª) obras de ambição e política, sob os auspícios de Júpiter;
7ª) obras de maldição e morte, sob o patrimônio de Saturno.
No simbolismo teológico, o Sol representa o Verbo de Verdade; a Lua representa a própria religião; 

Mercúrio, a interpretação e a ciência dos mistérios; Marte, a justiça; Vênus, a misericórdia e o amor;
Júpiter, o Salvador ressuscitado e glorioso; Saturno, Deus Pai, ou o Jeová de Moisés. No corpo humano, o Sol é análogo ao coração, o Lua ao cérebro, Júpiter, à mão direita, Saturno, a mão esquerda, Marte, ao pé esquerdo, Vênus, ao pé direito, Mercúrio, às partes sexuais, o que faz representar, às vezes, o gênio deste planeta sob uma figura andrógina. Na face humana, o Sol domina a fronte; Júpiter, no olho direito; Saturno no olho esquerdo; a Lua reina entre os dois olhos, à raiz do nariz, de que Marte e Vênus governam as duas asas; Mercúrio, enfim, exerce sua influência sobre a boca e o queixo.
Estas noções formavam, entre os antigos, a ciência oculta da fisionomia, descoberta, depois,
imperfeitamente por Lavater.
O mago que quer proceder às obras de luz, deve operar no Domingo, de meia-noite até oito horas da manhã, ou das três horas da tarde até dez horas da noite. Estará vestido com uma roupa de púrpura, com uma tiara e braceletes de ouro. O altar dos perfumes e a trípode do fogo sagrado serão rodeados de grinaldas de loureiro, heliotrópios e girassóis: os perfumes serão o cinamomo, o incenso macho, o açafrão e o sândalo vermelho; o anel será de ouro com um crisólito ou rubi; os tapetes serão de peles de leões; os leques serão de penas de gavião.
Na segunda-feira, vestirá uma roupa branca ornada de fios de prata, com um tríplice colar de
pérolas, cristais e selenitas; a tiara será coberta de sede amarela, com caracteres de prata, formando, em hebraico, o monograma de Gabriel, tal como o encontramos na filosofia oculta de Agrippa: os perfumes serão sândalo branco, cânfora, âmbar, aloés e semente de pepino pulverizada; as grinaldas serão de artemísia, selenotrópio e ranúnculo amarelo. Evitará as armações, os vestuários ou os objetos de cor preta, e não poderá ter consigo outro metal a não ser a prata.
Na terça-feira, dia das operações de cólera, a roupa será cor de fogo, ferrugem ou sangue, com uma cintura e braceletes de aço; a tiara será circundada de ferro,e a pessoa não se servirá da baqueta, mas
somente do estilete mágico e da espada; as grinaldas serão de absinto e arruda, e terá no dedo um anel de aço, com uma ametista por pedra preciosa.
Na quarta-feira, dia favorável à alta ciência, a roupa será verde, ou de um pano de reflexos de diferentes cores; o colar será de pérolas de vidro oco, contendo mercúrio; os perfumes serão o benjoim, a noz-moscada e o estoraque; as flores, o narciso, o lírio, a mercurial, a fumária e a mangerona; a pedra preciosa será a ágata.
Na quinta-feira, dia das grandes obras religiosas e políticas, a roupa será escarlate, e a pessoa terá na fronte uma lâmina de estanho com o caráter do espírito de Júpiter e estas três palavras: Giarar, Bethor, Samgabiel; os perfumes serão o incenso, o âmbar pardo, o bálsamo, o grão de paraíso, a noz-moscada e o açafrão; o anel será ornado de uma esmeralda ou safira; as grinaldas e coroas serão de carvalho, álamo, figueira e romeira.
Na sexta-feira, dia das operações morosas, a roupa será de azul-marinho, as armações serão verdes e cor-de-rosa; os ornamentos, de cobre polido; as coroas serão de violetas; as grinaldas, de rosas, mirtos e oliveiras; o anel será ornado de uma turquesa; o lápis-lazúli e o berilo servirão para a tiara e os ornatos; os leques serão de penas de cisne, e o operador terá sobre o peito um talismã de cobre com o caráter de Anael e estas palavras: Aveeva Vadelilith.
No sábado, dia das obras fúnebres, a roupa será preta ou escura, com caracteres bordados à seda de cor alaranjada; a pessoa trará ao pescoço uma medalha de chumbo com o caráter de Saturno e estas palavras: Almalec, Aphiel, Zarahiel; os perfumes serão o diagrídio, a escamônea, o alúmen, o enxofre e a assa-fétida; o anel terá uma pedra de ônix; as grinaldas serão de freixo, cipreste e heléboro preto; no ônix do anel será gravado, com a pinça consagrada e nas horas de Saturno, uma dupla cabeça de Jano. Tais são as antigas magnificências do culto secreto dos magos.
É com um semelhante aparelho que os grandes magos da Idade Média procediam à consagração cotidiana dos pantáculos e talismãs relativos aos sete gênios. Já dissemos que um pantáculo é um caráter sintético que resume todo o dogma mágico numa destas concepções especiais. É, pois, a verdadeira expressão de um pensamento e de uma vontade completa; é a assinatura de um espírito.
A consagração cerimonial deste signo une a ele, mais fortemente ainda, a intenção do operador, e estabelece entre ele e o pantáculo uma verdadeira cadeia magnética. Os pantáculos podem ser indiferentemente traçados no pergaminho virgem, no papel ou nos metais.
É chamado talismã uma peça de metal, contendo quer pantáculos, quer caracteres, e tendo recebido uma consagração especial para uma intenção determinada. Gaffarel, numa sábia obra sobre as antiguidades mágicas, demonstrou, pela ciência, o poder real dos talismãs e a confiança na sua virtude está, aliás, de tal modo na natureza, que de boa vontade conservamos a lembrança dos que amamos, com a persuasão de que estas relíquias nos preservarão do perigo e deverão fazer-nos mais felizes. Fazemos os talismãs com os sete metais cabalísticos, e gravamos neles, nos dias e horas
favoráveis, os sinais desejados e determinados. As figuras dos sete planetas, com seus quadrados mágicos, se acham no Pequeno Alberto, conforme Paracelso, e é um dos raros lugares sérios destelivro de magia vulgar. É preciso notar que Paracelso substitui a figura de Júpiter pela de um sacerdote, substituição que não é sem uma intenção misteriosa bem determinada. 
Mas as figuras alegóricas e mitológicas dos sete espíritos tornaram-se muito clássicas e vulgares nos nossos dias para que possamos gravá-las com êxito nos talismãs; é preciso recorrer a signos mais sábios e mais expressivos. O pentagrama deve ser sempre gravado num dos lados do talismã com um círculo para
o Sol, um crescente para a Lua, um caduceu alado para Mercúrio, uma espada para Marte, uma letra
G para Vênus, uma coroa para Júpiter e uma foicinha para Saturno. O outro lado do talismã deve trazer i signo de Salomão, isto é, a estrela de seus raios feita de dois triângulos superpostos; e, no centro, deve ser posta uma figura humana para os talismãs do Sol, um copo para os da Lua, uma cabeça de cão para os de Mercúrio, uma cabeça de águia para os de Júpiter, uma cabeça de leão para os de Marte, uma pomba para os de Vênus, uma cabeça de touro ou de bode para Saturno. 
A pessoa ajuntar-lhes-á os nomes dos sete anjos, quer em hebraico em árabe ou em caracteres mágicos semelhantes aos dos alfabetos de Trithemo. 
Os dois triângulos de Salomão podem ser substituídos pela dupla cruz das rodas de Ezequiel, que encontramos num grande número de pantáculos antigos, e que é, como fizemos observar no nosso Dogma, a chave dos trigramas de Fo-Hi.
Podemos também empregar as pedras preciosas para os amuletos e talismãs; mas todos os objetos deste gênero, quer sejam de metal, quer de pedras, devem ser envolvidos com cuidado em saquinhos de seda da cor análoga ao espírito do planeta, perfumados com os perfumes do dia correspondente e preservados de todos os olhares e contatos impuros.
Assim, os pantáculos e talismãs do Sol não devem ser vistos nem tocados pelas pessoas disformes ou pelas mulheres de maus costumes; os da Lua são profanados pelos olhares e pelas mãos dos homens depravados e das mulheres que estão com regras; os de Mercúrio perdem a sua virtude se forem vistos por padres assalariados; os de Marte devem ser ocultos aos poltrões; os de Vênus, aos homens depravados e aos que fizeram votos de celibato; os de Júpiter, aos ímpios; e os de Saturno, às virgens e crianças, não porque os olhares ou contatos destes últimos possam ser impuros, mas porque o talismã lhes traria infelicidade e perderia, assim, toda a sua força.
As cruzes de honra e outras decorações deste gênero são verdadeiros talismãs, que aumentam o valor ou o mérito pessoal. As distribuições solenes que se fazem delas são as suas consagrações. A opinião pública pode dar-lhes uma prodigiosa força. Não notaram muito a influência recíproca dos sinais sobre as idéias e das idéias sobre os sinais; não é menos verdade que a obra revolucionária inteira dos tempos modernos, por exemplo, foi resumida simbolicamente pela substituição napoleônica da estrela de honra à cruz de São Luis. É o pentagrama substituído ao lábaro, é a reabilitação do símbolo da luz, é a ressurreição maçônica de Adonhiram. Dizem que Napoleão acreditava na sua estrela, e, se pudessem fazer-lhe dizer o que entendia por esta estrela, teriam sabido que era o seu gênio: devia, pois, adotar por sinal o pentagrama, símbolo da soberania humana pela iniciativa inteligente. O grande soldado de revolução sabia pouco: mas adivinhava quase tudo; por isso, foi o maior mago instintivo e prático dos tempos modernos. O mundo ainda está cheio dos seus milagres e o povo dos sertões nunca acreditará que ele tenha morrido.
Os objetos bentos e indulgenciados, tocados por santas imagens ou por pessoas veneráveis, os rosários vindos da Palestina, os agnus Dei feitos de cera da vela de Páscoa, e os restos anuais do santo crisma, os escapulários, as medalhas, são verdadeiros talismãs. Uma destas medalhas tornou se popular atualmente e até os que não têm religião alguma colocam-na no peito dos filhos.Também suas figuras são tão perfeitamente cabalísticas que esta medalha é verdadeiramente umduplo e maravilhoso pantáculo. De um lado, vemos a grande iniciadora, a mãe celeste do Zohar, a Ísis do Egito, a Vênus Urânia dos platônicos, sobre a Maria do cristianismo, de pé sobre o mundo e pondo um pé sobre a cabeça da serpente mágica. Estende ambas as mãos de modo a fazerem um triângulo cujo cimo é a cabeça da mulher; suas mãos estão abertas e irradiantes, o que faz delas um duplo pentagrama, cujos raios se dirigem todos para a terra, o que representa, evidentemente, a libertação da inteligência pelo trabalho. Do outro lado, vemos o duplo Tau dos hierofantes, o Lingham de duplo Cteis ou de tríplice Phallus, suportado, com entrelaçamento e dupla inserção, pelo M cabalístico e maçônico, que representa o esquadro entre as duas colunas Jakin e Bohas; em cima, estão colocados, num mesmo nível, dois corações amantes e sofredores e, ao redor, doze
pentagramas. Todos vos dirão que os que trazem esta medalha não lhe atribuem esta significação; ela, porém, não deixa de ser, por isso mesmo, mais perfeitamente mágica, tendo um duplo sentido, e, por conseguinte, uma dupla virtude. A extática sobre cujas revelações este talismã foi gravado, o tinha visto já existente e perfeito na luz astral, o que demonstra, mais uma vez, a íntima conexão das idéias e dos sinais, e dá uma nova sanção ao simbolismo da magia universal.
Quanto mais pusermos importância e solenidade na confecção dos talismãs e pantáculos, tanto mais adquirem virtude, como deve ser entendido conforme a evidência dos princípios que estabelecemos. Esta consagração deve ser feita nos dias especiais que marcamos, como o aparato cujos detalhes demos. A pessoa os consagra pelos quatro elementos exorcizados, depois de ter conjurado os espíritos das trevas pela conjuração dos quatro; depois toma o pantáculo na sua mão e diz, derramando nele algumas gotas de água lustral:
“In nomine Elohim et perspiritum aquárum vivéntium, sis mihi in signum lucis et sacraméntum
voluntátis”.
Aproximando-o da fumaça dos perfumes diz: “Per serpéntum oenum sub quo serpéntes ignei, sis mihi, etc.”.Soprando sete vezes no pantáculo ou no talismã, diz:“Perfirmaméntum et spiritum vocis, sis mihi, etc.”.
Enfim, colocando nele triangularmente alguns grãos de terra purificada ou de sal, é preciso dizer: 
“In sale térrae et per virtútem vitae aeternae, sis mihi, etc.”.

Depois, deve fazer a conjuração dos sete, do seguinte modo: lança-se alternativamente o fogo sagrado uma pastilha dos sete perfumes e se diz:
“Em nome de Mikael, que Jeová te mande e te afaste daqui, Chavajoth!”. “Em nome de Gabriel, que Adonai te mande e te afaste daqui, Belial!”.
“Em nome de Rafael, desaparece diante de Elchim, Sachabiel!”.
“Por Samael Zebaoth, e em nome de Elohim Ghibor, afasta-te Adrameleck!”.
“Por Zacariel e Sachiel Melek, obedece a Elvah, Samgabiel!”.
“Pelo nome divino e humano de Schaddai, e pelo signo do pentagrama que tenho em minha mão direita, em nome do anjo Anael, pelo poder de Adão e Eva, que são Jotchavah, retira-te, Lilith; deixa-nos em paz, Nahemah!”.
“Pelos santos Elohim e os nomes dos gênios Cassiel, Sehaltiel, Aphiel e Zarahiel, sob o mando, de Oriphiel, afasta-te de nós, Moloch! Não te daremos nossos filhos devorares”.
No que diz respeito aos instrumentos mágicos, os principais são: a baqueta, a espada, a lâmpada, o copo, o altar e a trípode. Nas operações da alta e divina magia, a pessoa serve-se da lâmpada, da baqueta e do copo; nas obras de mais negra, substitui a baqueta pela espada e a lâmpada pela candeia de Cardan. 
Explicaremos esta diferença no artigo especial da magia negra.
Voltemos à descrição e a consagração dos instrumentos.
A baqueta mágica, que não devemos confundir com a simples baqueta adivinhatória, nem com a forquilha dos necromantes ou o tridente de Paracelso; a verdadeira e absoluta baqueta mágica deve ser de um único galho, perfeitamente direito, de amendoeira ou aveleira, cortado num só golpe com a serpe mágica ou a foicinha de ouro, antes do levantar do sol e no momento em que a árvore está próximo a florescer. É preciso perfurá-la em toda sua extensão, sem rachá-la ou quebrá-la, e introduzir nela uma vara de ferro imantada que ocupe todo o seu comprimento; depois adaptar-se a uma das suas extremidades um prisma poliedro, cortado triangularmente, e à outra ponta uma figura semelhante de resina preta. No meio da baqueta, a pessoa colocará dois anéis, um de cobre vermelho, e o outro de zinco; depois a baqueta será dourada do lado da resina e prateada do lado do prisma até os anéis do meio, devendo ser coberta de seda, exclusivamente, até as extremidades. 
No anel de cobre é preciso gravar estes caracteres: וּרישׂ מיל חשרקה e no anel de zinco: h m l c k l m h. A consagração da baqueta deve durar sete dias, começando na lua nova, e deve ser feita por um iniciado que possua os grandes arcanos e que tenha também uma baqueta consagrada. É a transmissão do sacerdócio mágico, e esta transmissão nunca cessou, desde as tenebrosas origens da alta ciência. A baqueta e os outros instrumentos, mas principalmente a baqueta, devem ser guardados com cuidado, e sob pretexto algum o magista deve deixar os profanos verem-nos ou tocá los; aliás, perderiam toda a sua virtude.

O modo de transmitindo da baqueta é um dos arcanos da ciência que nunca é permitido revelar.  comprimento da baqueta mágica não deve exceder o do braço do operador. O mago só deve servir-se dela quando está só e até nem deve tocá-la sem necessidade. Diversos magos antigos faziam-na somente do comprimento do antebraço e a escondiam dentro de longas mangas, mostrando ao público somente a simples baqueta adivinhatória, ou algum cetro alegórico, feito de marfim ou ébano, conforme a natureza das obras.
O cardeal Richelieu, que ambicionava todos os poderes, procurou durante a sua vida inteira, sem poder encontrar, a transmissão da baqueta. O seu cabalista Gaffarel só lhe pôde dar a espada e os talismãs; este foi, talvez, o motivo secreto do seu ódio contra Urbano Grandier, que sabia alguma coisa das fraquezas do cardeal. As entrevistas secretas e prolongadas de Laubardemont com o infeliz padre, algumas horas antes de seu último suplício, e as palavras de um amigo e confidente deste, quando ia à morte: “Senhor, sois um homem hábil, não vos percais”, dão muito que pensar a este respeito.
A baqueta mágica é o Verendum do mago; nem mesmo deve falar dela de um modo claro e exato; ninguém deve vangloriar-se de possuí-la, e só deve ser transmitida a sua consagração sob as condições de uma discrição e uma confiança absolutas.
A espada é menos oculta, e eis como é preciso fazê-la: Deve ser se aço puro, com um punho de cobre, feito em forma de cruz com três gomos, como é representada no Enchiridion de Leão III, ou tendo por guarda dois crescentes, como a nossa figura.
No nó central da guarda, que deve ser revestido de uma placa de ouro, é preciso gravar, de um lado, o signo do macrocosmo e, do outro, o do microcosmo. No punho é preciso gravar o monograma hebraico de Mikael, tal como o vemos em Agrippa, e, na lâmina, de um lado, estes caracteres: h b m b y m h w h y f y l y a k e, do outro, o monograma do Lábaro de Constantino, seguido destas palavras: Vince in hoc, Deo duce, ferro comite. (Ver, para a autenticidade e exatidão destas figuras, as melhores edições antigas do Enchiridion).

A consagração da espada deve ser feita num domingo, às horas do Sol, sob a invocação de Mikael.
A pessoa porá a lâmina da espada num fogo de loureiro e cipreste; depois enxugará e polirá a lâmina com as cinzas do fogo sagrado, molhadas com o sangue de poupa ou de serpente e dirá: Sis mihi gládius Michaelis, in virtute Elohim Sabaoth, fúgiant a te spiritus tenebrárum et reptília terrae; depois a perfumará com os perfumes do Sol e a guardará na seda com ramos de verbena, que devem ser queimados no sétimo dia.
A lâmpada mágica deve ser feita de quatro metais: o ouro, a prata, o zinco e o ferro. O pé será de ferro, o nó de zinco, o copo de prata, o triângulo do meio de ouro. Ela terá dois braços compostos de três metais torcidos conjuntamente, de modo a deixar, contudo, um tríplice conduto para o óleo. Terá nove mechas, três no meio e três em cada braço (ver a figura). No pé, deve ser gravado o selo de Hermes e, em cima o Andrógino de duas cabeças de Khunrath. A moldura inferior do pé representará uma serpente que morde a cauda.
No copo ou recipiente do óleo deve ser gravado o signo de Salomão. A esta lâmpada se adaptarão
dois globos: um, ornado de pinturas transparentes, representando os sete gênios; o outro, maior e duplo, podendo conter em quatro compartimentos, entre dois vidros, a água tingida de diversas cores. Tudo será contido numa coluna de madeira que gire sobre si mesma e possa deixar escapar à vontade os raios da lâmpada, que será dirigida para a fumaça do altar, no momento das invocações.
Esta lâmpada é de grande valor para ajudar as operações intuitivas das imaginações lentas e para criar, diante das pessoas magnetizadas, formas de uma realidade espantosa, que, sendo multiplicadas pelos espelhos, aumentarão imediatamente e mudarão numa só sala imensa e cheia de almas visíveis o gabinete do operador; a embriaguez dos perfumes e a exaltação das invocações transformarão logo esta fantasmagoria num sonho real; reconheceremos as pessoas que já nos foram conhecidas; os fantasmas falarão; depois, se fecharmos a coluna da lâmpada, duplicando o fogo dos perfumes, produzir-se-á alguma coisa extraordinária e inesperada.



O CARRO POR CROWLEY

VII. A CARRUAGEM 
O Atu VII se refere ao signo zodiacal  Câncer, o signo para dentro do qual o Sol se move no solstício de verão. ** 
** Note-se que Cheth  -  Cheth 8 -  Yod 10  -  Tau 400  totalizam o valor 418. Este é um dos números-chaves mais importantes de Liber AL. É o número da palavra do Aeon, ABRAHADABRA, a chave da Grande Obra ( ver  The Equinox of  the Gods, pg. ... e também The Temple of Solomon the King). Um volume completo poderia, e deveria, ser escrito tão-só acerca desta  palavra.  
Câncer é o signo cardeal do elemento água, ***e representa a primeira investida incisiva desse elemento. Câncer também representa o caminho que conduz da grande Mãe Binah a Geburah, sendo assim a influência das Superiores através do Véu da Água (que é sangue) sobre a energia do homem, assim inspirando-a. Corresponde, desta maneira, a O Hierofante, que do outro lado da Árvore da Vida, traz para baixo o fogo de Chokmah (ver diagrama).  
*** Daí o dia de São João Batista e os vários cerimoniais ligados à água.  
O desenho da carta aqui apresentada foi muito influenciado pelo trunfo retratado por Éliphas Lévi. O dossel da Carruagem é o azul de céu noturno de Binah. As colunas são as quatro colunas do universo, o regímen de Tetragrammaton. As rodas escarlates representam a energia original de Geburah produtora do movimento giratório.  
Essa carruagem é puxada por quatro esfinges compostas dos quatro Kerubs, o touro, o leão, a águia e o homem. Em cada esfinge estes elementos estão permutados, de maneira que o todo representa os dezesseis sub-elementos.  
O auriga está trajado com a armadura cor de âmbar apropriada ao signo. Está mais entronizado na carruagem do que o conduzindo porque todo o sistema de progressão é perfeitamente equilibrado. Sua única função é portar o Cálice Sagrado.  
Acima de sua armadura estão dez Estrelas de Assiah, a herança de rocio celestial de sua mãe.  
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Como cimeira do elmo ele tem o caranguejo apropriado ao signo. A viseira de seu elmo está abaixada pois nenhum homem pode olhar seu rosto e viver. Por razão idêntica, nenhuma parte de seu corpo está exposta.  
Câncer é a casa da Lua. Há assim certas analogias entre esta carta e a da Alta Sacerdotisa. Mas, também, Júpiter é exaltado em Câncer e neste caso lembra-se da carta chamada  Fortuna (Atu X) atribuída a Júpiter.  
O traço central e mais importante da carta é seu centro -  o Cálice Sagrado. É de ametista pura da cor de Júpiter, mas sua forma sugere a lua cheia e o Grande Mar de Binah.  
No centro do Cálice Sagrado está o sangue radiante, de que se infere a vida espiritual; luz nas trevas. Estes raios, ademais, giram, enfatizando o elemento jupiteriano no símbolo.